sábado, setembro 23, 2006

A verve libertina de Natal

Fabulosa Nathália...

Não faltou à estreante escritora os mimos, a pompa e o requinte que seus pares locais primaram em oferecer, tendo aterrisado, no seu regresso às terras potiguares, sob a condução de um editor de prestígio no meio cultural do estado, Abimael Silva, publisher do Sebo Vermelho. O invólucro com que foi obsequiada sua obra de estréia tem as características, pode-se dizer, de uma edição de luxo, trazendo na capa ilustração de Gustav Klimt, sendo as poesias, a cada página, adornadas com ilustrações de Andre Derain, Berthomme Saint-André, Boucher, Picasso, Pierre Louys e Rops, denotando, em tudo, um primoroso processamento, sendo sua apresentação, no lançamento, resultado de uma operação de traços barrocos.
Frustrou, contudo, a cobiçada – e mesmo perseguida – poeta todos aqueles que foram ao lançamento, na sua maioria homens, pois Nathália não compareceu ao extraordinário evento. "Segundo informações de Ricardo Ruiz, agitador cultural que veio do Rio de Janeiro, Nathália sofrera um assalto na véspera, estava hospitalizada e não pudera embarcar, seguindo recomendações médicas", contou a crônica que assinalou o acontecimento.
O erotismo contundente, categórico, que marca seu estilo, faz de Nathália de Sousa uma corajosa escritora, a defender, numa inspiração voluptuosa, um modo de ser que raras mulheres adotaram entre nós, entre elas divas do porte de uma Marize Castro, uma Hilda Hilst, uma Adélia Prado, ou a portuguesa Mariana Alcoforado.
Sua poesia chega, muito a propósito, qual um lenitivo, num momento de horror vivido por seus conterrâneos, molestados pela oratória indecente e a visão de imagens obscenas e constrangedoras das figuras chulas e imorais de candidatos toscos, pela imposição dos programas eleitorais.
Com seu canto lascivo, sua escrita sensual, Nathália, pelo menos, presenteia os norte-rio-grandenses, ao trazer o sexo, seja na volúpia da gratuidade, seja nos inesperados de nossos recônditos desejos, ou na forma elaborada de sua verve, que exalta o ardor e a satisfação plena, para o centro do palco. E empurra para as coxias, para os porões, para o inferno dos espectadores, aqueles que todos desejamos em lugar escondido das vistas do público, onde só eles dominam os atos ilícitos e anti-éticos, a parte escabrosa de nossa vida pública, as vergonhas de nosso viver republicano.
Viva a sexualidade sem peias de Nathália de Sousa.

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