domingo, outubro 21, 2007

Gestores e atitudes

LICEU DAS ARTES
Tempo ruim para os artistas potiguares
Paulo Augusto
Editor do Encartes
A falta de atitude – o que denota fragilidade da capacidade de mando, autoridade, energia e firmeza – por parte de dois órgãos federais de ensino – a Universidade federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o CEFET/RN – Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte – mergulha num dilema os que vivem e dependem de uma solução em torno do drama que vive o prédio histórico localizado na avenida Rio Branco – patrimônio histórico do Estado – onde funcionou a antiga Escola Industrial, e que foi ocupado, em seguida, pela TV Universitária (TV-U), pertencente à UFRN.
Desde 1982, quando a TV-U passou a ter novo endereço, no Campus Universitário, o espaço vem sendo ocupado por legiões de artistas que, posteriormente, criaram a Associação República das Artes, hoje formada por cerca de 28 grupos que reúnem gente de teatro, circo, literatura, fotografia, música e artesanato, entre outros, que se mantêm a duras penas no prédio, hoje em grande parte deteriorado.
Com o argumento de que deseja atender "políticas de inclusão social do Governo Federal", o CEFET/RN, em sua proposta, argumenta que teria a intenção de fazer funcionar no prédio um Centro de Formação Profissional, disponibilizando cursos de formação para jovens e trabalhadores em geral.
Enquanto a UFRN e o CEFET/RN aparentemente medem forças, na encenação de uma briga tediosa, que vem se tornando insuportável e lamentável – pois só revela a ausência de uma política cultural vigorosa voltada para o segmento estudantil e para a própria comunidade potiguar – no intuito de resolver quem ficará com o gerenciamento do imóvel histórico, a comunidade de artistas domiciliados no prédio providencia campanhas, abaixo-assinados e passeatas e assina manifestos, procurando sensibilizar o conjunto da sociedade a fim de agregar reforço na luta pela manutenção de sua cidadela.
Na semana passada, um conjunto de servidores de todos os setores da UFRN tornou pública uma decisão consensual, dando início a uma manifestação estratégica, dentro do que conceituam como "Movimento em Defesa da Arte e da Cultura no Rio Grande do Norte" (veja abaixo), em solidariedade aos artistas instalados no edifício.
Enquanto isto, tal qual um agremiação teatral ambulante, pobre e de má qualidade, aparentemente formado por atores amadores, os dois órgãos federais continuam sua encenação caipira, com a UFRN solicitando a desocupação do prédio observando a proposta de cessão da antiga construção ao CEFET/RN.

Tempo ruim para os artistas potiguares

Entrando na briga mambembe, numa tentativa de solucionar o impasse, o Ministério Público Federal dera um prazo até o final de setembro para que a UFRN providenciasse a recuperação do imóvel, mas nada foi feito.
No dia 20 de setembro, a única proposta seria apreciada pelo Conselho de Administração (Consad), mas o encontro foi gorado, não havendo até agora qualquer acordo.
Instalados no prédio desde 1999, os membros do Grupo de Teatro Artes e Traquinagens tiveram que afastar todas as ziquiziras, desde então, a fim de que ali permanecessem trabalhando pesado, acumulando naquele local alegrias e tristezas, sendo onde ostentam uma carreira de prêmios e honrarias, que só alimenta o seu amor-próprio.
No bojo desse drama, palavra que configura "qualquer peça de caráter grave ou patético que representa ações da vida comum", os 230 artistas que compõem a República das Artes, entidade registrada há quatro anos como associação e que mantém viva a cultura potiguar em um local que ecoa nostalgia e abandono, fazem as vezes de marceneiros, eletricistas, encanadores e pedreiros, irmanados nos esforços para consertar e manter o prédio, sem permitir que o imóvel e seus sonhos possam desabar, uma vez que, de acordo com fiscais da UFRN, o prédio pode cair a qualquer momento.
Em desuso, no aspecto oficial, há mais de 20 anos, o prédio abriga desde então as mais significativas expressões de vida, com o desenvolvimento de atividades de teatro, dança, circo, poesia, literatura, fotografia e música. Com seu trabalho, os artistas pretendem sensibilizar a UFRN sobre a importância que tem o espaço, hoje sustentáculo das artes e dos artistas de Natal e do Rio Grande do Norte, segundo o fotógrafo Lenilton Lima.
Foto: Grupo de Teatro Artes e Traquinagens, residente no prédio desde 1999, e que tem dezenas de prêmios e tributos dentro e fora do estado, pelo trabalho desenvolvido neste período.

República das Artes

MANIFESTO
Em Defesa da Arte e da Cultura no RN: Liceu das Artes

Na resistência pela manutenção do importante prédio, hoje em ruínas e aparentemente abandonado, localizado na avenida Rio Branco, no Centro Histórico de Natal, como abrigo e oficina para os artistas ali domiciliados, um conjunto de servidores da UFRN deu início a um movimento intitulado Movimento em Defesa da Arte e da Cultura no Rio Grande do Norte. O documento que o justifica, com original de 8 de outubro, foi divulgado e repassado maciçamente pela Internet, tendo adquirido a adesão de centenas de assinaturas. No documento, os seus autores explicam suas pretensões. Diz o texto:
"O objetivo principal desse movimento é defender a criação do Liceu das Artes no prédio onde funcionou durante muitos anos a Escola Técnica Industrial do Rio Grande do Norte e que atualmente encontra-se sob a responsabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A grande imprensa do Rio Grande do Norte tem divulgado nas últimas semanas a polêmica envolvendo a destinação para o referido prédio. De um lado a UFRN, afirmando que não tem condições financeiras para a reforma do prédio e, conseqüentemente abre mão da sua posse para o CEFET-RN que pretende destiná-lo a ser uma escola técnica. Os dois objetivos parecem muito frágeis se comparados com a idéia inicial da própria UFRN, de implantar ali um Centro de Arte e Cultura, denominado Liceu das Artes.
Entre as principais razões que podem ser destacadas para que ali seja instalado o Liceu das Artes, podemos citar:
1. Está ancorada teoricamente em uma concepção de Universidade, cujo fulcro é o estabelecimento do diálogo entre a cultura científica e a cultura humanística. A tendência atual, sob os mais diversos discursos, tem sido dedicar ênfase bem maior às áreas técnico-científicas do que àquelas artístico-socioculturais. Isto tem causado um desequilíbrio cujas conseqüências prejudiciais ao patrimônio imaterial já se fazem notar. A criação do Liceu das Artes será um aliado fundamental no restabelecimento de um salutar equilíbrio entre essas culturas.
2. Estas idéias estão presentes no PDI e em vários documentos da UFRN.
3. Está fundamentada, igualmente, na firme convicção de que a UFRN deve ampliar a sua inserção no espaço público, contribuindo para democratizar a educação e a cultura. Sem que isso aconteça, ela não tem como se legitimar perante a sociedade que a mantém.4. De igual modo, a proposta está alicerçada no entendimento de que uma Universidade pública, ao mesmo tempo em que deve estar em sintonia com as fronteiras do conhecimento, deve, da mesma forma, se envolver sobre os problemas do seu meio social.
5. A idéia foi fruto de intensos debates quando da constituição de uma Comissão Institucional de Cultura, cujos integrantes eram professores da mais elevada qualificação e representativos do que vida acadêmica tem de melhor.

República das Artes

MANIFESTO
Em Defesa da Arte e da Cultura no RN: Liceu das Artes
6. Dessa comissão, não surgiu apenas a idéia do Liceu das Artes (um centro cultural, conforme existe em outras universidades, uma ampla área de extensão universitária,um projeto integrado à revitalização do centro histórico, como está acontecendo nos grandes centros urbanos do Brasil e do mundo, uma contribuição efetiva à preservação da memória histórica da cidade), mas,também, emergiu daí o projeto de revitalização e integração dos museus da UFRN e os primeiros estudos para redimensionar outros espaços da Universidade como o Centro de Convivência e o Anfiteatro, na entrada do Campus.
7. O projeto arquitetônico e conceitual do Liceu foi elaborado; a comissão visitou vários museus em outros Estados e propôs uma intervenção inicial no Museu Câmara Cascudo.
8. Nesse sentido, foi realizado um Encontro Nacional de Museus Universitários na UFRN e, em seguida, teve início o processo de intervenção no referido Museu.
9. Para tanto, a UFRN contou com a consultoria de Raul Lody, um dos mais importantes museológos do país. Com a sua assessoria foi apresentado um projeto à Fundação Vitae, que financiou a restauração e equipamento da reserva técnica do Museu.
10. Este projeto estava em franco desenvolvimento, mas, infelizmente, está paralisado há mais de quatro anos. Assim como, a idéia do Liceu das Artes foi relegada, sendo sempre considerada uma coisa supérflua e cara. Cabe a nós fazermos agora uma opção: sepultar uma idéia nobre ou rever paradigmas e revigorar/atualizar o projeto buscando viabilizá-lo, credenciando-o junto às leis de incentivo à cultura, articulá-lo com o CEFET para tal fim e incluí-lo em parcerias com o Governo do Estado e a Prefeitura de Natal, que acaba de realizar um seminário sobre a revitalização da Cidade Alta. Certamente, um projeto do porte do Liceu, guarda muito interesse com o ideal cultural e preservacionista que se observa atualmente na Prefeitura do Natal e que se espera que continue existindo de modo crescente nas gestões futuras.
O Movimento que se inicia vem trazer ao público em geral uma proposta que esperamos seja encampada pela UFRN e pelo CEFET-RN. Os anseios e votos dos potiguares são para que as duas mais importantes instituições públicas federais de ensino superior do Rio Grande do Norte se unam em defesa da arte e da cultura neste Estado e que procurem parceiros na iniciativa privada e nos três níveis de governo para implantar e manter o Liceu das Artes. Este será um importante presente que estas instituições darão ao Rio Grande do Norte, com grandes implicações para as gerações de hoje e de amanhã e para fomentar uma contribuição meritória deste estado no enriquecimento cultural do país e do mundo.
Nesse sentido vimos convidar a sociedade brasileira e particularmente as pessoas ligadas às áreas da arte e da cultura do RN para que se associem a este movimento em prol da Arte e da Cultura do Rio Grande do Norte.
Natal, 08 de Outubro de 2007". (Seguem-se as assinaturas.)

Anistia no Rio Grande do Norte

EVENTO DOS ANISTIADOS
Por uma memória para os brasileiros
Lei de Anistia Estadual, abertura dos Arquivos do DOPS/RN e Memória História serão alguns dos temas enfocados durante o Evento pela Anistia, que terá lugar na próxima sexta-feira, dia 26, no Plenário da Assembléia Legislativa, no período das 9h às 15h.
Promovido pela Associação Norte-rio-grandense de Anistiados Políticos (rua Vigário Bartolomeu, 635, 2º andar, sala 209, Cidade Alta), o evento conta com o apoio e a colaboração de entidades como o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Sindprevs/RN.
De acordo com o pesquisador, escritor e ex-preso político Mery Medeiros da Silva, presidente da Associação Norte-rio-grandense de Anistiados Políticos a entidade consiste numa sociedade civil organizada cujo objetivo é a defesa dos direitos daqueles que sofreram torturas, perseguições e cerceamento das liberdades durante a ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964 e a preservação da memória histórica dos que lutaram pela instauração da democracia.
A entidade existe há quase três anos e conseguiu algumas vitórias, como o reconhecimento de vários potiguares como beneficiários da Lei de Anistia Política promulgada em agosto de 1979.
Sobre os temas do encontro da sexta-feira, que contará com a participação de personalidades dos estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará, diz Mery Medeiros:
"A lei estadual é uma lei de anistia que existe em vários estados brasileiros. Mas aqui a tramitação dela foi realizada de forma incorreta. Ela partiu do Legislativo para o Executivo, quando seu percurso deve ser do Executivo para o Legislativo. De cima para baixo. Ou seja, através de uma mensagem governamental. Essa lei, de autoria da deputada Márcia Maia, é uma boa lei, mas, como foi feita de forma incorreta, foi vetada, por ser inconstitucional. Nós queremos que essa lei seja reeditada, através da governadora", explica Mery Medeiros.
Sobre a abertura dos Arquivos do DOPS/RN, ele esclarece: "Trata-se de abrir para a sociedade do Rio Grande do Norte o nome das pessoas que foram perseguidas, que morreram, que desapareceram. para dar aos parentes dos mortos e desaparecidas uma satisfação e aos mortos pelo menos um enterro digno. E para sabermos onde foram essas pessoas, qual o destino dessas pessoas que foram perseguidas. É um tema puramente político. Abrir para a sociedade, para os estudantes, para a universidade, os arquivos do DOPS."

Anistia no Rio Grande do Norte

EVENTO DOS ANISTIADOS
Congregando cerca de 150 pessoas que foram perseguidas pelo regime militar no RN, a Associação Norte-rio-grandense de Anistiados Políticos, também pretende cultuar a memória histórica. "É contar essa história para a universidade, para o jovem, para a sociedade, o que foi o período negro de 64, do golpe militar. É fazer um projeto de memória histórica, para discutir com a sociedade. O encontro é aberto a todos, à sociedade, à universidade, aos estudantes de história, aos jovens, aos intelectuais, aos jornalistas. E aos cidadãos, porque isto é um ato de cidadania."
Mery Medeiros tem como opinião que "é absolutamente necessário promover a memória à qual todo brasileiro e toda brasileira tem direito". E enfatiza: "Como foi feito – por exemplo – com os restos mortais do estudante potiguar Emmanoel Bezerra, morto e desaparecido durante a ditadura, que encontravam-se em uma cova rasa em São Paulo e que com o esforço do Grupo Tortura Nunca Mais, do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular e o apoio da então prefeita paulistana Luiza Erundina, foram trazidos para Natal. O que nós, os democratas brasileiros, queremos é que a memória das barbáries do passado seja não apenas preservada, mas promovida, valorizada e constitua um dos fundamentos de uma verdadeira ordem democrática."

Anistia no Rio Grande do Norte

A Lei da Anistia
Nilmário Miranda
Especial para o RADAR POTIGUAR
"Quando a Lei da Anistia foi promulgada, havia mais de 300 mil pessoas vinculadas voluntária ou involuntariamente ao Serviço Nacional de Informações (SNI), apenas para delatar. Cerca de 15 mil trabalhadores perderam seus empregos por perseguição política, mais de mil sindicatos sofreram intervenção, 774 parlamentares tiveram seus mandatos cassados, quase 15 mil brasileiros foram exilados ou expulsos de seu país, enquanto aproximadamente, duas centenas perderam a própria cidadania. Há mais números: 424 pessoas perderam a vida, por ação direta ou indireta da ditadura.
A luta pela anistia partiu de um grupo de mulheres e transformou-se num movimento que alcançou um imenso sentimento nacional. O brasileiro tanto quis que ela acabou vindo, forçada pela sociedade e contra a vontade dos militares, que aproveitaram o momento para - usando de artifícios - anistiar a si mesmos e alcançar a impunidade dos muitos crimes cometidos: crimes de corrupção, assassinatos políticos, censura, cassações e derrogação de partidos construídos pelo nosso povo, de direita ou de esquerda, não importa.
A anistia foi comemorada pelo nosso povo! Eram mais de 100 brasileiros presos, alguns deles condenados a ficar o resto de suas vidas encarcerados. A sociedade começou a admirá-los e a querer que fossem libertados. A anistia foi portanto, a grande vitória que possibilitou abrir as portas dos cárceres, recuperar os direitos políticos dos cassados e dos que estavam na clandestinidade, trazendo de volta mais de 10 mil brasileiros que estavam no exterior, recebidos de forma festiva.
Foi realmente um dos momentos mais belos das páginas de lutas do povo brasileiro. Na época, o país inteiro acreditou que aquele movimento era possível: uma vitória arrancada da ditadura. Entretanto, ali não se percebeu o mal que apenas se verificaria com o passar do tempo. Injustiças que ficaram para trás como, por exemplo, a impunidade dos crimes cometidos contra os mortos e desaparecidos. Também a não punição dos torturadores e assassinos foi definitiva para a perpetuação da impunidade que hoje tanto nos atormenta face à iniquidade.
Não sei se há possibilidade desse quadro ser revertido, ou seja, a punição legal dos torturadores. No entanto, a punição moral, com certeza é possível. Já existem leis no Rio Grande do Sul e no Paraná que indenizam torturados pelo governo ou órgãos do governo. Para que seja indenizada, a pessoa precisa provar que foi torturada, o local em que se deu a tortura, datas e testemunhas. Os torturadores achavam que, com a auto-anistia iriam apagar a história do país. Enganaram-se. Podem até não pagar pelos seus crimes, mas estão sofrendo as conseqüências morais.
Um exemplo ilustrativo é o caso Marighela. Era um líder extraordinário do povo brasileiro assassinado pelo governo militar. Daqui a alguns anos, ninguém lembrará quem o matou, mas todos vão saber quem foi Marighela. Fica para a história seu exemplo positivo de idealismo e de luta, uma pessoa altruísta que deu sua vida por um sonho de justiça e igualdade. Mariguela derrotou seus assassinos.
A história vai condenar aqueles que torturaram e mataram. O todo-poderoso general João Batista Figueiredo, que condicionou a anistia à impunidade criminosa da ditadura, viveu seus últimos dias amargurado, melancólico e isolado. Já as pessoas que morreram durante a ditadura, lutando contra o arbítrio e as injustiças nacionais entrarão definitivamente nos livros escolares por seus feitos heróicos, já retratados em comoventes filmes, livros, poemas e canções.

Anistia no Rio Grande do Norte

A Lei da Anistia
Nilmário Miranda
Especial para o RADAR POTIGUAR
Parte II
Importa muito a verdade histórica. E a melhor maneira de celebrar a vitória desses brasileiros é rememorá-los, difundir seus ideais e divulgar a história de suas vidas. Todos aqueles que lutaram ao longo dos tempos por causas justas hão de ser carinhosamente celebrados por nosso povo. É o que permanecerá, o que de fato se leva da vida: a honradez, a dignidade, os sentimentos superiores.
Quanto aos potiguares que participaram ativamente dos movimentos sócio-políticos na época da ditadura militar, lembro que o Rio Grande do Norte é uma terra com muita tradição de luta. Não foi por acaso que aqui, em 1935, na Insurreição Comunista, chegou-se a constituir, por alguns dias, um governo popular. Depois da redemocratização, em 1945, o estado teve grande participação na militância social, popular e democrática. Quando aconteceu o golpe militar em 1964, havia em Natal um governo democrático e popular. O prefeito Djalma Maranhão foi forçado a abandonar o estado do Rio Grande do Norte para continuar lutando por seus ideais. Assim foram tantos outros. Quando não podiam lutar aqui, lutavam em outro lugar.
O Rio Grande do Norte é hoje um estado vanguardista na luta pelos direitos humanos e culturais do nosso povo. Em todos os cantos do estado encontra-se uma motivada militância dos filhos desta terra. E essa boa tradição vai se perpetuando de geração em geração.
Nesse sentido, este livro exerce um papel nessa tradição. Na necessidade de rememorar lutadores, preservar-lhes a memória e difundir seus ideais. No fato de se possibilitar às novas gerações conhecer um pouco do que a história oficial tentou esconder. Saber que perto delas, em suas cidades, em seu estado, muitas histórias de generosidade e heroísmo ainda faltam ser contadas. Este livro conta algumas delas, regata a história de alguns militantes que viveram, resistiram e testemunharam na luta por um Brasil melhor. Um Brasil que para ser melhor precisa ter a marca da anistia. (Nilmário Miranda, 54, foi preso político durante três anos e um mês, libertado em 1975. Ex-deputado estadual em Minas Gerais (1986-1980) e deputado federal duas vezes pelo PT. Ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara; candidato derrotado ao governo de Minas nas últimas eleições.)

Macau Bandalha

MUSEU JOSÉ ELVIRO
Um manifesto pela memória de Macau

Acontecimentos funestos se sucedem em Macau, rica e expressiva cidade do litoral — Região Salineira — do Rio Grande do Norte, sem que a Polícia ou o Ministério Público tomem alguma providência, deixando atônita e desesperançada a população, composta na sua maioria por trabalhadores honestos e, a essa altura, completamente desanimados com a idéia de melhores dias.
Quando não chegam a público as já rotineiras ações de improbidade administrativa de seus administradores, que há mais de duas décadas se especializaram no saque ao patrimônio público do município, envolvendo desde prefeitos a vereadores, são notícias de depredação de seu patrimônio histórico e artístico.
Depois do arrombamento e roubo dos equipamentos do Teatro Municipal Hianto de Almeida, que contou com recursos federais para sua abertura, agora foi a vez do Museu José Elviro (Foto), que nunca mereceu uma devida atenção do Poder Público em Macau.
O município sempre trouxe orgulho para o Rio Grande do Norte, seja por suas riquezas naturais, seja pela apresentação, ao longo dos anos, do trabalho de personalidades que marcaram época no Estado nas mais diversas atividades, como o Monsenhor Joaquim Honório da Silveira, responsável pela paróquia de Macau de dezembro de 1902 a agosto de 1913 e de dezembro de 1939 a novembro de 1966, o advogado João Sena, o museólogo João de Aquino Silva, o advogado Ivo Ferreira dos Santos, o ex-deputado Floriano Bezerra, o jornalista Vicente Serejo, o poeta Gilberto Avelino (radicado em Macau, mas nascido na cidade do Assu), o artista plástico João Vicente Barbalho, o poeta Alfredo Neves (mineiro de Teófilo Otoni, radicado em Macau), o artista plástico e fotógrafo Getúlio Moura, o escritor e poeta Benito Maia Barros, o produtor cultural João Eudes Gomes, gerente da Rádio Solidariedade, Sebastião Maia (Tião Maia) e o advogado e poeta Horácio Paiva, entre muitos outros.
No momento, assiste-se a uma depredação trazida a público por José Antônio Aquino, o filho de João de Aquino da Silva, nascido em Assu e radicado em Macau, onde dedicou 55 anos de sua vida à formação de uma Casa de Memória para Macau, a que batizou de José Elviro, nome de seu pai, um ex-operário de salinas. O filho, José Antônio Aquino, divulga para todo o Rio Grande do Norte dois relatos acerca da depredação que vem sofrendo o Museu José Elviro, nem bem João de Aquino faleceu, aos 85 anos, depois de cuidar do museu, desde sua inauguração, em 5 de novembro de 1952, com uma exposição de arte sacra, até o ano passado, quando deixou a instituição com um acervo de 5.208 peças.
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (HGRN), a Fundação José Augusto, assim como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) poderiam se pronunciar, em torno do vandalismo que atinge a cultura de Macau, sem que haja um movimento de contenção dessas forças perniciosas que só prejuízos trazem para o município.
Vamos aos textos enviados. O primeiro é de José Antônio Aquino:
"Prezados Senhores,
É com imensa tristeza que estamos mais uma vez comunicando um ato de vandalismo contra o Museu José Elviro, em Macau.
Desde o dia 02/06 até hoje o Patrimônio Histórico do Museu foi depredado por quatro (04) vezes, sendo que no último final de semana (06/10), ao invadir o prédio algumas peças foram furtadas, vários documentos e livros extraviados.
É lastimável sabermos que apesar de ter-se registrado quatro ocorrências junto à Polícia Civil, infelizmente, tais casos continuam a ocorrer.
É-nos lamentável perceber que apesar de estar mantendo a história de Macau e região há 55 anos, o mesmo continua a perecer sem que as autoridades tomem qualquer providência para dar uma estrutura digna a esta importante Casa de Cultura Macauense.
Solicitamos à População que ao perceber a tentativa de venda de peças do Museu extraídas (rádios, máquina fotográfica, louças) façam a denúncia, de modo a conseguirmos recuperar as peças.
Em tempo, o Museu completará no próximo dia 05/11, 55 anos de prestação de serviços à População Macauense."

Macau Bandalha

Um manifesto pela memória de Macau
Gilson Barbosa, 34 anos, nascido em Macau, sempre foi tratado como um filho pelo fundador do Museu José Elviro, João de Aquino. Tomando conta do museu desde 1996, Gilson Barbosa, um ex-gari, ex-coveiro e ex-zelador de cemitério, chegou a transformar-se praticamente no único museólogo em atividade da cidade, ostentando diplomas dos cursos de capacitação sobre turismo e museologia. Em 1997, ao participar de uma pesquisa sobre o imaginário do barroco brasileiro coordenada por Hélio Oliveira, museólogo da Fundação José Augusto, Gilson visitou Olinda, Cabedelo, Recife e João Pessoa. Foi freqüentador assíduo ainda de vários cursos oferecidos pela equipe do Museu Câmara Cascudo, em Natal. Atualmente, Gilson Barbosa ainda apresenta as credenciais de monitor turístico do município e se orgulha de ser agente multiplicador do programa "Meu Negócio é Turismo", do Sebrae.
O texto de Gilson Barbosa, sobre a ocorrência que aflige o Museu José Elviro, relata o seguinte:
"Mais uma vez
Às dez hora e dezesseis, do domingo, 7 de outubro (07-10-07), recebi uma ligação telefônica da sra. Auxiliadora, filha do sr. João de Aquino da Silva, quando nos encontrávamos minha esposa e eu, na praia de Camapum. Mas nesse momento não consegui falar com a mesma, pois o celular estava fora de área. Às 12h51, já em casa, é que consegui retornar a ligação e fiquei informado que Beta, outra filha do sr. João de Aquino, tinha sido informada por um senhor conhecido pelo nome de José, que o portão de ferro da parte dos fundos do museu tinha sido arrombado.
Às 13h30h, eu, Gilson, chego no museu e me deparo com mais uma ação dos vândalos. Desta vez foi arrancado o portão que dá suporte de tranca da porta traseira do prédio, deixando, com isso, um buraco de mais ou menos de 40cm na parede, por onde entrou (ou entraram) o(s) gatuno(s).
Eles levaram dois rádios (am/fm) da marca "motor rádio", um pequeno de cor preta e um maior de duas cores (verde claro e cinza), dos quais só o pequeno estava funcionando (só localizava a rádio Salinas-Macau), os quais pertenceram à residência do sr: João de Aquino. Também foi furtada uma máquina fotográfica da marca "Navaca I f3-5', de cor creme claro, que pertenceu a Máximo Costa da Silva (neto de Pedro Pipoca); uma bacia de plástico (média) de cor verde, que era usada para lavar as mãos também foi furtada. Foi observado que dois armários foram abertos e mexidos: os mesmos contêm livros e documentos diversos (não levaram nada). Mexeram em louças de porcelanas, que estavam numa estante(usada para este fim), mas não levaram nenhuma, pois deixaram algumas por sobre a exposição das algemas que foram usadas para prender os escravos. Mexeram ainda numa caixa contendo livros diversos, os quais foram jogados no chão, e a caixa de fora do museu.
Sendo esse fato registrado em menos de cinco meses: o primeiro em 22 de Junho de 2007: Natureza - furto, aproximadamente 50m de cabo de energia (cobre). O segundo, dia 02 de julho de 2007: Natureza - danos ao patrimônio público, foi observado que uma parte do museu havia sido destelhada e que aparentemente nada foi furtado. Terceiro: dia 16 de julho de 2007. Natureza - danos materiais, destelharam mais ou menos nove telhas e entraram no interior do museu e mexeram num armário, onde existem quadros religiosos. Nada foi roubado. E o quarto fato foi esse, acima apresentado. Gilson Barbosa. Responsável pelo Museu José Elviro."

quinta-feira, outubro 11, 2007

Chico Antônio como sopro inspirador

Paulo Augusto
Editor do RADAR POTIGUAR

Os artistas potiguares podem ter na história do coquista Francisco Antônio Moreira (1904-1993), nascido em Cortes, distrito rural de Pedro Velho, município da região agreste do Estado do Rio Grande do Norte, o famoso Chico Antônio descoberto pelo escritor e musicólogo paulista Mário de Andrade em 1929, uma das referências mais fortes e um símbolo de reação e contra-ataque ao comodismo e à alienação, à subalternidade e à cooptação.
Embora a história do cantador de Pedro Velho tenha definitivamente sido embalada num envoltório de apadrinhamento, abono ou favorecimento, já que foi descoberto e preservado por ter sido tocado pelo Midas da cultura bandeirante, sua experiência, assemelhada a outros eventos de igual teor registrados ao longo da nossa história, pode servir para despertar, conscientizar e estimular nossas mais novas expressões artísticas, na ausência de políticas públicas voltadas para o setor, a darem "a volta por cima", inventando ou retomando seu lugar de direito, nas nossas ribaltas.
Essa sugestão pode ser acalentada após a leitura do livro "O Canto Sedutor de Chico Antônio" (Edufrn, 2001), da historiadora e antropóloga natalense Gilmara Benevides Costa, que mergulhou na vida e obra de Chico Antonio, produzindo um saber inédito, que serve de reforço para as novas gerações de criadores e produtores culturais, a fim de se orientarem enquanto empreendedores.
No caso do coquista, que trabalhava como agricultor no engenho Bom Jardim, propriedade da família do então deputado estadual e crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima (1902-1988), foi preciso a intervenção de seu patrão, em janeiro de 1929 – quando ambos tinham idades aproximadas e um profundo interesse em comum: a música –, que serviu de mediador cultural, promovendo a realização de um "evento histórico", como descreve Gilmara Benevides.
Antonio Bento iria provocar o encontro do embolador de cocos com o musicólogo Mário de Andrade (1893-1945). Seria a partir deste encontro que Chico Antônio ficaria conhecido como o coquista "descoberto" por Mário de Andrade, tendo o musicólogo o consagrado de forma definitiva, ao citá-lo em suas pesquisas nos livros "Os Cocos", "Vida de Cantador", "O Turista Aprendiz", "Danças Dramáticas" e "Melodias do Boi e Outras Peças". (Foto de Chico Antonio feita por Mário de Andrade em janeiro de 1929.)

Chico Antônio como sopro inspirador

"Chico Antônio foi muito importante, não apenas por ter sido descoberto por Mário de Andrade. Muita gente usa esse ‘argumento de autoridade’ para dizer porquê Chico Antônio era importante. Ele era importante, apesar de Mário de Andrade. E por isto Mário foi lá. Porque Mário de Andrade era um Midas da cultura brasileira, onde ele botava a mão, resplandecia. Então, principalmente depois que ele (Mário) morreu, muitas pessoas foram ver que ele tinha muita propriedade sobre aquilo de que ele falava. E até antes, porque ele foi um grande batalhador na questão do patrimônio nacional. Só que ele morreu bem desgostoso em relação a isso. Ele morreu com muitas críticas em relação aos governantes e de como o patrimônio tinha sido, tem sido tratado. Estava sendo tratado naquele momento", nota Gilmara.
A historiadora acrescenta: "Eu acho que a gente já tem um grande avanço, hoje, porque o patrimônio, e principalmente as instituições como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já foram mais engessadas. Com esse atual governo, eu vejo que existe uma linha de buscar o que existe em relação ao patrimônio que é muito próxima ao que o Mário imaginava e que foi seguido também pelo Rodrigo de Melo Franco, que foi o sucessor de Mário de Andrade, e principalmente pelo Aloísio Magalhães, que deu uma renovada no que tinha sido feito, colocando a cultura como se fosse uma propriedade da comunidade. Isso é o que tem sido pregado hoje. Que foi a mudança pregada pelo Aloísio Magalhães, naquela década, de 79 para 82."
A afirmação de Gilmara é referendada pelo escritor e cineasta Eduardo Escorel, que esteve no Rio Grande do Norte na década de 80, em busca do paradeiro de Chico Antonio, ao registrar em seus escritos:
"O encontro entre Mário de Andrade e Chico Antônio é comparado ao encontro de duas esferas da sociedade distintas, duas classes sociais opostas, dois universos culturais que se encontram na ‘missão’ de tornar híbrida a cultura brasileira através da consagração do ‘saber local’ inserido numa ‘memória nacional’: "um encontro carregado de emoção entre um mestre erudito e um mestre popular. Um, sulista, outro, nordestino ambos de estatura elevada, muito acima da média de seus conterrâneos. Todos dois com a capacidade de despertar paixões."
Gilmara aproveita essa passagem, para esclarecer a presença do cineasta, e principalmente das razões que motivaram sua vinda ao Estado: "Na década de 80, o cineasta Eduardo Escorel veio aqui e fez um levantamento. Aliás, em 1982 veio um grupo do Rio de Janeiro, da Funarte, fazer um projeto, chamado Estrada Nova, em que eles ensinavam às crianças o que hoje a gente chama de ‘protagonismo’ local. Era mostrar às crianças aquele patrimônio, aquela personalidade que eles têm lá, para cultuar e valorizar aquele músico local, com toda a sua história de vida. E o Escorel – não no mesmo projeto, mas aproveitando esse ensejo – veio e fez um filme, ‘Chico Antonio, o herói com caráter’. Nesse filme, ele tem uma entrevista com o Chico Antonio. Existe também uma entrevista com Chico Antonio no programa Memória Viva, realizada pelo jornalista Carlos Lyra. Veio também a coordenadora do projeto, Leila Coelho Frota, que também fez o jornalzinho da Funarte, o Estrada Nova, que também fala nesse filme."

Chico Antônio como sopro inspirador

Em termos de políticas públicas para a valorização do artista local, Gilmara insiste na importância de organismos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que disseminou as idéias do seu ex-presidente, Aloísio Magalhães (1927-1982), no sentido de esclarecer o verdadeiro valor dos criadores e produtores culturais.
"Desde janeiro de 1929, Chico Antônio e Antônio Bento não mais se viram pessoalmente: em 1982, a notícia da ‘redescoberta’ de Chico Antônio por Deífilo Gurgel foi um dos assuntos da conversa informal em torno de uma mesa de bar na Avenida Atlântica, onde estavam presentes Aloísio Magalhães, Carlos Augusto Calil e Eduardo Escorel."
Ela explica que, dez anos antes, "Aloísio Magalhães ocupara diversos cargos na área cultural do governo federal, procurando introduzir uma política de valorização das referências culturais brasileiras partindo da necessidade de preservação da memória e dos bens culturais, conseguindo converter suas idéias em diretrizes políticas para obter recursos que viabilizariam projetos de resgate e preservação da memória nacional. A contribuição dada por Aloísio Magalhães colocou no cenário cultural brasileiro categorias opostas que convivem na pluralidade da cultura brasileira como ‘nacional’ e ‘estrangeiro’; ‘nação’ e ‘região’; ‘passado’ e ‘futuro’; ‘tradição’ e ‘modernidade’; ‘popular’ e ‘erudito’; ‘história’ e ‘memória’; ‘unidade’ e ‘diversidade’. Eu sempre acredito no que o Aloísio Magalhães tinha como orientação: as pessoas é que sabem o que é importante para elas, que lugar é importante para elas. Quem é que realmente canta, que elas gostem que vão lá. Mas o poder público - que também são pessoas - que têm interesse político, mas que também são pessoas, se prestarem atenção a essas necessidades, eu acredito que eles saem ganhando muito mais do que eles imaginam. Conversando aqui com um rapaz lá de São Luís do Maranhão, ele dizia que lá a questão da elite era tão forte, da oligarquia, era tão forte, que eles não conseguiam transitar na ambiência cultural. E foi preciso mudar todo o governo e toda a ideologia dos grupos políticos, para que colocassem pessoas realmente interessadas no que as pessoas têm produzido. E não ficarem atreladas a toda aquela oligarquia que já existia. Eu acredito que, com o passar do tempo, esses grupos vão sendo substituídos."

Chico Antônio como sopro inspirador

A pesquisadora, que lançará ainda este mês um novo livro, "Hélio Galvão, o saber como herança", resultado do aprofundamento de suas pesquisas, já que se encantou pelo coco e pelo coco de zambê, que Hélio Galvão, escritor, imortal e ex-presidente da Fundação José Augusto, estudava, acredita que a situação dos artistas e expressões artísticas locais possa melhorar gradualmente, citando o exemplo do que vê em Mossoró, assim como novos cenários que verifica em Natal.
"Eu acredito que tem sido melhor. Ainda é muito pequeno, principalmente aqui no RN, em relação a estados como Pernambuco e Bahia, e também a estados menores, como a Paraíba. A Paraíba já tem até planejamentos bem mais avançados que nós. Por aqui, essa atenção que Mossoró tem dado à questão de Lampião, eu acho incrivelmente inteligente, porque, independente das pessoas criticarem o fato de eles se apoiarem num ponto da história deles, eles têm esse ponto. E eles têm mesmo de falar sobre isso. A abolição da escravatura, a questão da mulher, do voto feminino lá, a memória de Lampião. Eles estão no caminho certo. Como historiadora e antropóloga, eu vejo que eles, no RN, estão no caminho certo."
Aproveita, então, para dar um alerta sobre os novos espaços que surgem em Natal, a fim de que os grupos possam se expressar.
"O que eu tenho visto em Natal, o que acho ótimo - já que a gente é a capital - é o que tem acontecido ali na Ribeira, que é essa renovação do espaço – e eu espero que quebre o sentimento de elitização de um grupo em relação a outro; e não-marginalização de um grupo em relação a outro - que a gente vê que aqui é muito forte isto. Talvez porque aqui nossos negros e nossos índios não são suficientemente organizados em movimentos. Não sei o que é isso, que a gente nega o tempo todo que esses grupos existem. E quando você anda na rua, todos nós temos caras de preto e de índio também. Então, o que acontece? Eu estou vendo um avanço muito grande em Natal. Nesse espaço em torno do largo do Teatro Alberto Maranhão. Está ficando muito bonito. E eu acredito que é um espaço que vá convidar as pessoas a circularem mais, a se preparar a questão de preencher o espaço físico. O espaço histórico e cultural da cidade. Vai ter um museu ali. E já se planeja fazer um corredor cultural daqui da Cidade Alta. E também em relação à Zona Norte e a Parnamirim. Eu acredito que a Zona Norte tem que cuidar de si mesma. Agora vai ter um shopping lá, e vão levar cinema etc. Tem o Espaço Chico Miséria, mantido pela Capitania das Artes. Eu espero que a população, os grupos, nós, nos organizemos mais para cobrar isto do poder público. E ao mesmo tempo que nós comecemos a ocupar esses espaços. Por concurso, ou sei lá o quê. Mas comecemos a preencher esses espaços."

segunda-feira, outubro 08, 2007

Senado: negócios de família

Renan investiga os
negócios de filho de Agripino
Blog do Josias de Souza
"Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO) não são os únicos adversários políticos que Renan Calheiros (PMDB-AL) está espionando. O presidente do Senado coleciona informações contra outros senadores. Um de seus principais alvos é José Agripino Maia (RN), líder do DEM. Renan vasculha os negócios do filho de Agripino, o deputado federal Felipe Maia (DEM-RN).
Felipe adquiriu há cerca de seis anos uma empresa que presta serviços, mediante concessão, à BR Distribuidora, um dos braços da Petrobras. A empresa se chama Comav. Transporta o combustível que abastece as aeronaves que decolam dos aeroportos de Natal e Mossoró, ambos no Rio Grande do Norte.
Entre quatro paredes, Renan diz ter "uma bomba" contra Agripino. Afirma que, se necessário, não hesitará em detoná-la. A estratégia do presidente do Senado é a de demonstrar, segundo diz reservadamente, que seus pares "não têm autoridade moral" para questioná-lo.
O blog ouviu Agripino Maia. O líder do DEM reagiu com indignação. "Ele [Renan] que faça a investigação que bem entender. No caso de Felipe, vai dar com os burros n’água. Ele está procurando qualquer coisa para atingir aqueles que julga serem os seus algozes. A qualquer preço. Acho bom que essas coisas apareçam. Que venha logo às claras. Que o Renan diga o que tem, desembucha. Onde está o pecado da Comav? Diga logo. Não fique com insinuações vagabundas".
O filho de Agripino Maia é sócio majoritário da Comav. Detém 80% do capital social da empresa. Seu sócio, Sinval Moreira Dias, controla os outros 20%. Quando os dois compraram a empresa, ela já prestava serviços à Petrobras.
Sob a nova administração, o primeiro contrato com a BR Distribuidora foi assinado em fevereiro de 2001, ainda durante o governo tucano de FHC. Na gestão Lula, o contrato foi renovado duas vezes –em 2004 e, há poucos dias, em 2007.
"Se Renan está insinuando que meu filho foi beneficiado no governo Fernando Henrique, eu digo que isso é uma balela. Se a empresa dele não prestasse um bom serviço, por que o contrato foi renovado no governo Lula?", questiona Agripino Maia. "Será que o atual governo tem alguma razão para beneficiar a empresa de meu filho? É óbvio que não".
A descoberta de que Renan perscruta os negócios de Felipe Maia surge nas pegadas da revelação de que o senador despachou para Goiânia, há duas semanas, um assessor de seu gabinete, Francisco Escórcio, com a missão de espionar Demóstenes Torres e Marcoini Perillo (aqui e aqui). DEM e PSDB acenam com a hipótese de protocolar na Mesa do Senado mais uma representação contra Renan, a quarta.
Os dois partidos aguardam pela manifestação do presidente do Senado. Renan manteve-se calado durante todo o final de semana. Seu plano de espionagem veio a público a contragosto. A intenção do senador era a de acumular dados, para usá-los mais adiante, quando fosse necessário constranger os adversários."
Escrito por Josias de Souza às 01h55