terça-feira, outubro 31, 2006

Wilma vence em nova realidade

Com a vitória da governadora Wilma de Faria (PSB), que garantiu sua reeleição com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua candidatura, ficando com 52,38% dos votos válidos, ou 824.101 votos frente ao seu oponente, o senador Garibaldi Alves, do PMDB, que conseguiu 47,62%, ou 749.172 votos, o Estado do Rio Grande do Norte passa a exibir uma situação muito nova, que aponta para o declínio das duas forças políticas oligárquicas tradicionais (Alves e Maia).
Vale ressaltar que o candidato peemedebista foi eleito governador por dois mandatos e senador por duas vezes, além de ter sido prefeito de Natal. A vitória de Wilma de Faria representa uma conquista importante – uma vez que ela derrotou um dos políticos mais poderosos do Estado potiguar, que em toda sua carreira pública nunca havia contabilizado uma perda.
"Dessa forma, percebe-se a afirmação de uma liderança que tem um componente oligárquico, familiar, mas que tem também um componente partidário, que o diferencia um pouco dos grupos oligárquicos tradicionais. E abre-se um campo de possibilidades para a ação política de novas forças políticas e novas lideranças."

As oligarquias perdem força

A análise é do cientista político João Emanuel Evangelista, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que falou com exclusividade para o Blog RADAR POTIGUAR, estendendo seus comentários acerca da atuação da governadora, enquanto liderança em ascensão e, de outro lado, a decadência que ele verifica, ao longo do tempo, das forças tradicionais.
Sobre a atuação do senador Garibaldi Alves Filho nos dois turnos dessa eleição, João Emanuel Evangelista, que é coordenador do Programa de Pós-Graduação na UFRN, vê um erro estratégico cometido pelo ex-governador, que comandou a economia do Estado em dois mandatos, como figura de proa da oligarquia Alves, cujo desempenho deixou evidenciar a decadência do mandonismo oligárquico no estado potiguar.

Erro de Garibaldi: aliar-se ao PFL

"Na performance de Garibaldi, vê-se que ele cometeu um erro estratégico", explica Evangelista. "Ele valorizou excessivamente o PFL, deu a vice-governadoria ao PFL, deu a vaga de senador para o PFL, e quebrou a aliança com o ex-governador Geraldo Melo. Então, esse foi um erro capital, que explica, em grande medida, essa derrota de Garibaldi numa eleição que se iniciou como absolutamente certa da sua vitória. Eu diria com isso que, confirmado o quadro na vitória eleitoral de Wilma, esse resultado vai ter uma implicação muito imediata: o enfraquecimento muito contundente do PFL e da liderança do senador José Agripino. Isso num quadro também paradoxal. Porque, pela primeira vez, José Agripino se projeta como liderança nacional, durante o governo Lula, sendo a principal voz de oposição ao governo Lula. Só que ele faz isso descolado do quadro político do Estado, onde ele está enfraquecido. E agora, com a derrota no segundo turno, esse enfraquecimento vai ser cada vez mais evidente. Esse enfraquecimento do PFL, inclusive, se materializa no fato de que o PFL tinha dois deputados federais, e agora só tem um, que é exatamente o filho de José Agripino, o Felipe Maia. Mas na verdade, Felipe não é uma força nova. É uma continuidade do "maísmo" no Estado. E a conseqüência imediata disso é também o enfraquecimento do PMDB. Um enfraquecimento do grupo Alves que, com a morte de Aluízio Alves, já tinha sofrido um revés forte. Porque Aluízio, apesar da situação precária de saúde, ainda era a voz, ainda era a última palavra a ser dada no grupo Alves. E, mesmo assim, ele não conseguia evitar o racha que houve, com a saída de Carlos Eduardo e Agnelo para apoiarem Wilma. Agora, Agnelo fez um movimento de reaproximação com Garibaldi, mas o grupo Alves provavelmente vai sofrer um processo de fragmentação. Esse processo de fragmentação do grupo, me parece que, com a derrota de Garibaldi, vai continuar se acentuando."

A origem do processo

De acordo com João Evangelista, o resultado das eleições, tanto no primeiro quanto no segundo turno, indica alterações importantes que o Estado vinha sofrendo no quadro político, especialmente quando se soma a esse resultado um processo anterior, que começa mais ou menos no final dos anos 90, conforme o professor.
"Por essa época, o Estado deixa de viver uma situação de bipolaridade política entre dois grupos tradicionais de origem com características familiares e oligárquicas, dando seqüência a uma disputa que começa no final dos anos 60 entre o aluizismo e o dinartismo. Essa bipolaridade tem continuidade com o aluizismo versus o maísmo e, gradativamente, esse quadro vai se tornando mais complexo, por várias razões, das quais eu gostaria de destacar algumas. Natal, a partir dos últimos 20 anos, sofreu um processo muito acentuado de urbanização. E a urbanização traz junto o surgimento de uma sociedade civil mais ou menos autônoma, em relação ao aparelho de Estado. E isto criou um espaço para o surgimento de lideranças políticas de esquerda, mais vinculadas à sociedade civil e mais vinculadas ao movimento sindical. Sendo um exemplo do surgimento desse tipo de liderança o da deputada Fátima Bezerra." (Foto)

Perfil de Wilma de Faria

"Juntamente com isto, ou nesse meio tempo, Wilma de Faria vai começando a consolidar uma liderança pessoal em Natal. E ela faz isto num movimento partidário. A partir da Constituinte de 86, ela vai, mesmo eleita pelo PDS, que era o partido ligado ao regime autoritário, ditatorial, militar, ela vai tendo um deslocamento político na votação da Constituinte, se aliando com as teses que a esquerda defendia na Constituinte. Esse movimento, que poderia, aparentemente, ser um movimento oportunista, ou ocasional, terminou sendo um movimento de conseqüências muito mais duradouras. Logo depois disso, ela ingressa no PDT, depois se filia ao PSB, e se mantém no PSB há, praticamente, desde o início dos anos 2000."
Emanuel Evangelista faz um parêntese para apresentar um rápido perfil da governadora, como ente político, destacando suas origens, sua evolução e suas principais características, enquanto liderança ascendente.
"Wilma é uma pessoa oriunda de um grupo oligárquico. Tem ligações familiares com Dinarte Mariz, com o dinartismo. É casada, ao mesmo tempo, com um integrante da família Maia. E ela, pelos cargos que ocupou, quando ainda primeira-dama, e depois como secretária de Trabalho e Bem-Estar Social, no governo de José Agripino Maia, termina criando uma liderança muito grande, uma ligação muito forte com os bairros populares em Natal. Principalmente os conjuntos populares e os bairros periféricos. E é essa a base a partir da qual Wilma vai sedimentar uma liderança em Natal, na prefeitura. Gradativamente, ela vai fazendo um jogo pendular. Vai afirmando a liderança dela, ao mesmo tempo em que rompe os laços matrimoniais com o ex-governador Lavoisier Maia. Na política, ela se alia, preferencialmente, com o grupo Maia, mas na medida em que ela vai se sentindo suficientemente forte na política, já quando os Alves assumem o poder, com Garibaldi, ela começa a ter um movimento pendular, entre o grupo Alves, do PMDB, e o grupo Maia, do PFL, comandando pelo senador José Agripino."

RN: Declínio das forças tradicionais

Para comentar sobre o declínio das lideranças tradicionais, João Evangelista enfatiza o crescimento da própria capital, que se torna uma Região Metropolitana, absorvendo o grosso da população do Estado, a criar novas e urgentes demandas, desvinculando-se, gradativamente, do comportamento altamente dependente de senhores a quem dar satisfações ou justificativas.
"De tal modo que, nesse quadro, você tem um declínio das lideranças tradicionais. O PMDB e o PFL há muito tempo não são mais forças hegemônicas em Natal. Há muito tempo eles não disputam mais a prefeitura, passam a ser forças coadjuvantes. E se passa a ter duas forças emergentes em Natal: o PT, através da liderança de Fátima Bezerra, e o PSB, através da liderança da atual governadora Wilma de Faria. E ela, num movimento pendular, vai fortalecendo a sua liderança até exatamente chegar e ganhar o governo do Estado. Com isto tudo, eu quero mostrar que essa relação de bipolaridade foi alterada. E essa disputa de eleições agora confirma um pouco isso. Wilma teve a capacidade de montar uma aliança com diversos partidos de esquerda. Mantém a aliança – e ela tem essa característica meio camaleônica de transitar entre a esquerda e os grupos políticos tradicionais. Ela solda uma aliança, portanto, muito ampla, ideológica e politicamente. Enquanto isso, do outro lado, para combater a liderança ascendente de Wilma, os dois grupos decadentes em Natal – o PMDB e o PFL – se articulam e formam uma chapa numa engenharia política que, a meu ver, foi equivocada. Porque eu acho que Garibaldi era uma força; todas as pessoas que acompanham política no RN avaliavam que Garibaldi tinha chances praticamente certas de voltar ao governo do Estado."
Nem tudo são flores, contudo, segundo João Emanuel Evangelista, para a governadora que, como uma liderança em processo de evolução, apresenta arestas a serem podadas, por já terem mesmo criado problemas para a nova liderança.
"Por outro lado, enquanto se tem uma acentuação da liderança de Wilma, ao mesmo tempo, contudo, se verifica uma certa dificuldade que a governadora tem de criar quadros politicamente competentes, deixando um espaço para o surgimento de novas lideranças. Quer dizer, um dos traços da gestão, ou da ação política da governadora, é ser uma personalidade muito forte e centralizadora. E ela não consegue criar quadros que tenham competência política e técnica simultaneamente. Que pudessem inclusive consolidar o projeto político dela, enquanto projeto político de um grupo mais amplo, que não fosse apenas um grupo centrado em torno da figura dela. Ou em torno dela, da filha, e agora de Lavoisier Maia, que volta a ser, passa a ser um ator coadjuvante da liderança de Wilma."

Oligarcas no PT?

Para explicar a provável filiação tanto de Wilma de Faria quanto de Carlos Eduardo Alves ao PT, oriundos ambos de estruturas oligarcas, na atualidade se chegando a um partido de massas, cuja origem remete às lutas dos trabalhadores, João Evangelista recorre a explicações acerca das probabilidades da política, como uma arena onde se verifica a atuação do imponderável.
"Eu diria que uma parte da política pode ser associada à metáfora do jogo. Mas nem tudo na política é jogo. A política também é a afirmação de projetos. Algumas vezes projetos políticos com conteúdo ideológico. Muitas vezes a política é o espaço da representação de interesses contraditórios que existem na sociedade. E, por exemplo, quando se observa o caso do prefeito Carlos Eduardo Alves, os indícios são de que há uma aproximação política e ideológica muito sólida com o PT. Quer dizer, qual o destino do prefeito? É difícil afirmar, mas os movimentos do prefeito apontam numa aproximação, que não é uma aproximação casuística, ou conjuntural, com o PT. Ele poderá inclusive ingressar no PT. E poderá, inclusive, ser uma base de sustentação para uma reafirmação das lideranças alternativas dentro do PT. E aí concorrendo com Wilma, porque também as pessoas que acompanham a política sabem que as relações do prefeito com a governadora nem sempre são muito harmoniosas."

segunda-feira, outubro 30, 2006

Voto de confiança nos reeleitos

Após as urnas falarem, é hora de dar
novo voto de confiança nos reeleitos

Marcos Aurélio de Sá
Jornal de Hoje, - Terça-feira,
31 de outubro de 2006.

"Encerrado mais um processo eleitoral e definidos — pelo voto livre — os escolhidos para governar a República e os Estados, cabe ao conjunto da sociedade brasileira respeitar e honrar as decisões soberanas da maioria e, a partir daí, unir-se aos esforços dos futuros governantes (reconduzidos ou eleitos pela primeira vez) para ajudá-los na tarefa de promover o bem comum.
"O exercício da oposição não deve nem pode, neste instante, se render ao radicalismo e à intolerância, mesmo os vitoriosos das urnas sendo nossos adversários e tendo sido por nós combatidos antes do pleito, por não concordarmos com seu ideário ou com sua forma de fazer política.
"E se contribuímos com nosso voto para conduzir uma coligação partidária ou uma personalidade política ao poder, é bom que nos sintamos eticamente obrigados a colaborar para que os governantes acertem e para que suas ações se reflitam positivamente sobre a sociedade, mesmo que esta cobrança nunca nos seja feita. (Foto: Evaristo Sá - AFP)

Voto de confiança nos reeleitos

"Mesmo na condição de correligionários e simpatizantes das figuras públicas alçadas ao exercício dos cargos governamentais, ainda assim não devemos jamais renunciar ao poder de formular-lhes críticas, sempre que isto seja necessário para a correção de rumos das suas ações administrativas.
"Sabemos que, por grave deficiência da nossa formação política, na maioria das vezes os que se encontram nos cargos de chefia do Estado são refratários à crítica, mesmo às chamadas críticas construtivas. Esta é uma das razões pelas quais tanta gente se esquiva da tarefa "perigosa" de abrir os olhos dos governantes para seus eventuais erros. E, assim, a maioria das pessoas prefere se distanciar dos problemas que dizem respeito ao interesse público para não passar pelo risco de se indispor com os poderosos.
"Já o eleitorado oposicionista, atiçado pelas lideranças naturalmente interessadas em preparar o caminho para o rápido desgaste dos ora eleitos (a fim de tomar-lhes o lugar na próxima eleição), tende a ser mais cáustico nas críticas, injusto mesmo, quando o ideal seria a avaliação e o julgamento sem preconceitos, à base do equilíbrio e da razoabilidade.
"Vale a pena pois, neste momento pós-eleitoral, por exemplo, reconhecer pelo menos alguns méritos nas ações tanto do presidente Lula quanto da governadora Wilma de Faria, ambos agora reconduzidos pelo povo a novos mandatos."

Voto de confiança nos reeleitos

"O presidente está conseguindo, nos seus primeiros quatro anos de governo, manter a economia em posição de equilíbrio, evitando a volta da inflação e proporcionando, inquestionavelmente, uma revolução no perverso quadro da distribuição de renda em nossa sociedade, mesmo que para tanto tenho optado pela prática de um assistencialismo exacerbado, um arrocho fiscal sem precedentes e uma política de juros estratosféricos, práticas que impediram o país de acompanhar o ritmo de desenvolvimento econômico das nações emergentes, entre outros defeitos.
"A governadora também optou pelo assistencialismo, angariando por esse caminho um forte vínculo de simpatia com as camadas mais pobres da sociedade, o qual lhe valeu avalanches de votos nos dois turnos da eleição recém-concluída. Mas, inegavelmente, também realizou programas administrativos de importância para o futuro do Estado, tais como a ampliação das adutoras para abastecer de água potável muitas cidades do semi-árido, a implantação e recuperação de estradas asfaltadas, a expansão da Universidade Estadual, além de outras obras infra-estruturais que não podem passar despercebidas.
"Fiquemos, portanto, atentos ao desenrolar das ações políticas e administrativas desses dois personagens principais do nosso universo federal e estadual. Que nossas críticas futuras tenham por objetivo sincero contribuir para a correção de rumos e para o maior rendimento das suas obras.
"Sejamos radicais e intransigentes apenas quando suas ações — se for o caso — burlarem as leis, colocarem em perigo a ordem pública ou trouxerem prejuízos reais para a sociedade, o que esperamos não aconteça."
(Editorial: "Após as urnas falarem, é hora de dar novo voto de confiança nos reeleitos", Marcos Aurélio de Sá, Jornal de Hoje - Segunda-feira, 30 de outubro de 2006.)

Bola demais

Carlos Heitor Cony
"Torço pelo Brasil, avante companheiros, ao tremular do nosso pendão, que, com o perdão da palavra, foi bravamente defendido pelo Glauber Rocha, há tempos, em Veneza. Nunca me importei com os filmes dele, ele é mais importante do que a sua obra. Com a intuição demoníaca do cangaceiro, a ingenuidade gostosa do caboclo, naquele distante ano, Glauber disse grandes verdades em Veneza: que não há mais lutas de classe, capitalismo contra socialismo, ideologia contra ideologia. A luta é apenas entre o mundo rico e o pobre. Taí. Concordo. Neste jogo, também, está faltando a bola, ou há bola demais.
Se vivo fosse, Glauber clamaria mais uma vez contra o conflito entre pobres e ricos, dando como exemplo mais recente a vitória de Lula sobre Alckmin.
Mais da metade do povo brasileiro vive na pobreza e não tomou conhecimento da corrupção do governo Lula, de suas falhas administrativas e éticas. (Editorial Rio de Janeiro, "Bola demais", Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006.) (Foto)

Oligarquias, novas e velhas

Editorial da Folha de São Paulo
A DERROTA da senadora Roseana Sarney (PFL) para o pedetista Jackson Lago no Maranhão foi o resultado mais surpreendente deste segundo turno nas eleições para governos estaduais. A surpresa não se deu propriamente pelo que diziam as pesquisas na véspera (já se apontava empate técnico), mas pelo processo de deterioração da vantagem da ex-governadora desde a votação de 1º de outubro.
É simbólico o significado do malogro eleitoral do grupo do ex-presidente José Sarney no Estado em que, durante décadas, dominou a política local. O resultado vem associar-se à derrota da corrente liderada pelo senador Antonio Carlos Magalhães, esta já no primeiro turno, na Bahia.
O enfraquecimento das chamadas oligarquias regionais decorre da modernização política; é saudável, numa democracia, que a alternância no poder desça dos postulados teóricos para a prática e se torne uma realidade de dimensão nacional.
É precipitado, no entanto, afirmar que resultados eleitorais pontuais representam uma espécie de emancipação política do Brasil. A ressalva não vale apenas porque existe a hipótese, plausível, de as forças tradicionais se reorganizarem e voltarem a tornar-se hegemônicas em suas regiões. Contra esse argumento, há uma resposta convincente: o fato de os grupos tradicionais terem de se rearticular e buscar novos métodos de conquistar o poder é um meio de eles próprios se modernizarem, o que é positivo.
O maior entrave à emancipação da política é social. Muitos dos que se arvoram em algozes de oligarcas não fizeram nada qualitativamente diverso para angariar suas vitórias. Apenas instalaram máquinas mais eficientes que as tradicionais. O Bolsa Família e os verdadeiros feudos eleitorais montados por petistas nas franjas populosas da Grande São Paulo o provam. (Editorial da Folha de São Paulo, São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006.) (Foto)

domingo, outubro 29, 2006

Miséria incentivada

Cassiano Arruda Câmara

Antes de reconhecido o resultado das urnas soberanas, é possível fazer um balanço da campanha eleitoral que se arrastou ao longo de 74 dias – em dois turnos –, envolvendo toda a sociedade norte-rio-grandense, que termina tendo de optar entre duas propostas principais formuladas por quem vai governar o nosso Rio Grande do Norte nos próximos quatro anos, ambas representativas do exemplo clássico do Estado assistencialista:
1 – Aumentar a Bolsa-família em 20%
2 – Aumentar a Bolsa-família em 50% e reduzir o preço da conta de luz para quem consome até 150 Kw/ mês, com a isenção do ICMS.
Registre-se – registro que vale tanto para uma quanto para outra proposta – que a última Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio realizada pelo IBGE registrou um aumento no número de famílias vivendo na miséria absoluta no nosso estado, nos três últimos anos. (Ilustração: "A volta a condição de pedinte" (mural de David Siqueiros, Foto)

Miséria incentivada

Em 2003, o IBGE classificou 30.873 famílias norte-rio-grandenses em “miséria absoluta”. Três anos depois, esse número subiu para 32.762 famílias de miseráveis no nível absoluto.
Resumo da triste ópera que estamos vivendo: a miséria absoluta aumento 6.12% nos últimos três anos no Rio Grande do Norte.
Pela visão do futuro governador – exposta em sua principal proposta repetida na propaganda na televisão e no rádio – tal situação não será modificada. Pelo contrário, deve aumentar, uma vez que as propostas comuns não combatem a causa, mas o efeito da miséria.
Afinal, existe um estímulo dado pelo governo para quem provar ser miserável. Um aumento de 20 a 50%, sem a necessidade que se demonstre algum esforço para sair desta triste situação (um modelo que preservou Lula, apesar da proximidade da maior rede de escândalos que já rondaram um presidente na história deste país). (Cassiano Arruda Câmara, Coluna Roda Viva, O Poti / Diário de Natal, domingo, 29.10.06.) (Foto)

Educação: Propostas aos Políticos

Carta aos candidatos
pede prioridade ao ensino
(Jornal de Hoje, Sábado e Domingo,
28 e 29 de outubro de 2006.)
Demonstrando preocupação com o futuro da educação no Rio Grande do Norte, o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) encaminhou para os assessores de Wilma de Faria e de Garibaldi Alves Filho uma carta contendo alguns pontos considerados de fundamental importância dentro dessa área e que merecem ser avaliados pelos dois candidatos a vaga de Governador do Estado.
De acordo com Eleika Bezerra, coordenadora do IDE, a carta foi motivada pelas sucessivas avaliações negativas recebidas pelo Estado e pelo Brasil no que diz respeito ao ensino básico da escola pública, principal preocupação da ONG. "O IDE tem como missão propor e encaminhar ações que ajudem a melhorar a educação pública básica, que atualmente não está nada bem. Hoje, nós estamos em 72º lugar no ranking da Unesco. Essa má colocação se deve ao ensino básico", declarou Eleika.
A professora comentou ainda que a escola pública está perdendo sua função de agente educador. "Está havendo um atropelo e as instituições de ensino público estão fazendo outras missões, mas não fazem a principal, que é educar. Todos os políticos dizem que o ensino é prioridade, mas a gente observa que isso não passa de promessa de campanha e que não passa dos discursos", finalizou Eleika Bezerra. (Foto)

Edicação: Propostas aos Políticos

A seguir, alguns trechos da carta elaborada por profissionais membros do IDE:
Financiamento - "Investir prioritariamente na educação básica e garantir uma melhor distribuição e utilização dos recursos financeiros. A Constituição Federal estabelece, como responsabilidade prioritária dos Estados, o ensino fundamental e médio. Aproximadamente, 90% dos alunos deste ensino, no Brasil e no Rio Grande do Norte, estão em escolas públicas. Assim, é inadmissível que ele seja, em termos de recursos orçamentários, negligenciado em detrimento de ou-tras prioridades."
Continuidade - "Aprovar o Plano Estadual de Educação enquanto política de Estado e assegurar a continuidade das ações administrativass e pedagógicas que apresentam bons resultados. A descontinuidade, uma constante em todas as instâncias - da administração central à sala de aula - é um dos maiores males da nossa educação. A política educacional não pode ser atrelada a simples mudanças de governo."
Profissionais da Educação - "Todos os profissionais da educação devem ser criteriosamente selecionados pelos seus méritos e, permanentemente, capacitados e avaliados, tendo como condições primordiais para o exercício da profissão a competência, o compromisso e a ética. Impõe-se, urgentemente, a disponibilidade de pessoal para o funcionamento re-gular das unidades de ensino. Considera-se importante a efetiva implantação do Plano de Cargos dos Profissionais da Educação para a melhoria da educação básica escolar do Rio Grande do Norte."
Infra-estrutura - "Assegurar o conforto ambiental do espaço físico escolar e a disponibilidade de equipamentos adequados, atuali-zados e em bom estado de conservação."
Participação - "A sociedade precisa se mobilizar em torno da educação, entender o seu caráter prioritário e sua condição para o desenvolvimento econômico e social do país. Para isso, dentre ou-tras medidas, é necessário: que o Conselho Estadual de Educação tenha uma maior representatividade da educação pública; incentivar as famílias e a comunidade a participarem das decisões educacionais; instrumentalizar a sociedade, muni-la de meios que lhe dêem voz; criar ouvidorias e trabalhar com instituições que defendem a qualidade da educação básica - Organizações não Go-vernamentais, Conselhos Escolares, Ministério Público, associações comunitárias."
Calendário Escolar - "Cumprimento do mínimo exigido por lei. Há levantamentos que comprovam o não cumprimento do calendário. Urge que antes de se efetivar o aumento da carga horária diária do aluno na escola, cumpra-se o mínimo que a Lei de Diretrizes e Bases já define."
Resgate do Atheneu - "Recuperar e tratar diferentemente uma instituição que é referência na história do Rio Grande do Norte. É inadmissível a situação em que se encontra essa instituição centenária. É preciso transformá-la em um instituto de excelência em educação que faça jus aos seus 172 anos de fundação". (Jornal de Hoje, Ano IX - Nº 2678 - Sábado e Domingo, 28 e 29 de outubro de 2006.)

quinta-feira, outubro 26, 2006

Democracia digital

Maria Inês Dolci
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Os blogs e as trocas comunitárias
de e-mails são, para os consumidores,
forças ainda pouco exploradas
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"JOVENS DE antigamente -e muitas, até hoje- costumavam registrar suas alegrias e tristezas em um caderninho ou livreto, o diário, que era fechado a sete chaves, para que suas confissões não fossem lidas por abelhudos, em casa ou na escola.
A tecnologia da informação, com a internet, os computadores de alta capacidade de processamento, os softwares avançados e a banda larga (ainda que com muitas falhas) mudaram esse hábito. Hoje, proliferam os diários digitais, os blogs, em que as pessoas registram de opiniões sobre política, futebol e música a temas específicos, como defesa do consumidor -sem a intenção de fazer propaganda em causa própria, juro!, direito, jornalismo, automóveis etc.
Rapidamente, um tema ganha relevância, e até repercussão nacional ou mundial, ao ser divulgado e comentado em um blog. Mas blogs e as trocas comunitárias de e-mails são, para os consumidores, forças ainda pouco exploradas. Porque não há como as empresas não se manifestarem sobre e-mails que se propagam on-line, atestando problemas em produtos ou serviços.
Da mesma forma, os blogs são veículos excelentes para discutir segurança veicular, liberdade para os testes comparativos de produtos e de serviços, estatuto do torcedor, tarifas bancárias, dificuldade para cancelar um contrato de telefone celular ou de banda larga. Blogs de defesa do consumidor são olhos e ouvidos atentos às benesses pré-eleitorais, aos crimes contra os direitos de quem adquire produtos e serviços, públicos ou privados."

Democracia digital

"São as ágoras digitais, em que, a exemplo dos primórdios da democracia na Grécia, se discute de tudo, abertamente. Lamentavelmente, o clima de confronto político que se instaurou no Brasil, nos últimos anos, propiciou o surgimento de uma "tropa de vigilantes partidários", que acompanha todas as manifestações do pensamento na internet, refutando com raiva, violência e deselegância comentários baseados em fatos.
Quem tem um blog com alguma repercussão sabe exatamente a que me refiro. Essa é uma subutilização dos diários, pois as discussões de temas que interessam ao eleitor, ao contribuinte, ao consumidor são esteios de sua cidadania. Tratá-los como uma briga entre seguidores de seitas políticas é lastimável, uma perda de tempo e de oportunidade.
Temos não só que participar dos debates dos blogs, intensificando a cobrança de nossos direitos de consumidores, como estimular a criação de outros espaços como os que já existem (hoje, principalmente, vinculados aos grandes jornais). E cobrar das empresas às quais emprestamos nossa fidelidade de compra que se exponham também com blogs - estima-se, hoje, que dezenas de milhares de companhias, em todo o mundo, tenham diários digitais.

Críticas, sugestões, dúvidas e elogios - por que não?- chegam on-line a quem de direito, publicamente, o que é muito mais eficaz. A liberdade de expressão é o melhor antídoto à tentação, às vezes confessada em jantares íntimos, de restringir a democracia. Ponto para a tecnologia e para seus usuários."
(Maria Inês Dolci, Folha de São Paulo, São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006.) Consulte o site de Maria Inês Dolci, aqui.

Servidão voluntária

Maria Sylvia Carvalho Franco
FSP, São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

MILÊNIOS TECEM a fortuna desse oxímoro, indigitando atos vis: covardia do guerreiro, violência do demagogo, malefícios do tirano, blandícia da massa. Na Renascença, essa figura foi evocada em leque, embora incautos a atribuam "pela primeira vez" a La Boétie. Meio século antes, Erasmo recolheu-a no bestiário que satiriza a apologia da ignorância e o malogro do arbítrio. A abelha, irrefletida, próxima à natureza, é insuperável ao construir edifícios e repúblicas. O cavalo, afim ao homem, mimetiza-o e partilha sua inteligência, sentimentos e miséria: na ânsia de vencer, ambos se esfalfam, batalham, forcejam e, por fim, golpeados, comem pó. A ele, mil suplícios: freio, espora, chibata, rédea, toda a tragédia de uma servidão aceita voluntariamente. Existências ínfimas -de mosca, peixe, rã, esponja-, porém livres, são melhores. Quem, dotado de força, discernimento e arte, deixou-se escravizar, anuiu à pior sina.
No crivo do intertexto, a República. Nela, a erosão democrática acentua o corte entre ricos e pobres, põe delinqüentes em cargo público, gera gula política, violência, mentira, demagogia, perjúrio, garrulice, boato, lisonja, soberba e corrupção. Findo o processo, a liberdade converte-se em tirania: a insegurança clama pela figura do protetor do povo, o Um solitário, que, sentindo-se ameaçado, recorre à guarda do corpo, força armada. Nesses regimes, invertem-se os valores: a vergonha é dita loucura, e a prudência, covardia; ordem e comedimento viram rusticidade e avareza; o pródigo torna-se magnânimo, e o covarde, destemido. Aguda ironia distorce o respeito à lei e à autoridade que a garante, transfigurando-o negativamente em servidão voluntária.

Servidão voluntária

De te fabula narratur. Reitores de universidades federais vergam-se ao poder que sucateou suas instituições enquanto, à larga, privatizava a educação via Prouni. Sindicatos ficam surdos à prometida "flexibilização" dos direitos trabalhistas e ao projeto de reduzir o "rombo" da Previdência. Em meio a simulacros de democracia e crimes políticos, serviços de inteligência se instalam em partidos, propõe-se estatuto de ministério à Polícia Federal. Vicejam tubérculos da ditadura? Intelectuais fogem à crítica: silentes na maré baixa, tagarelam na preamar, absolvendo o ultraje da República. A que aspiram: cargos oficiais, verbas, monopólio nas agências financiadoras?
Tratando-se de trair a fé e o patrimônio públicos, não há desculpa para pessoas cujo ofício é pensar e em cuja prática é ingente a consciência moral
.
Como explicar que um país de 180 milhões "pôde ser surpreendido e jogado, sem resistência, na servidão" por alguns cavalheiros das finanças e seu preposto?
(Maria Sylvia Carvalho Franco, FSP, São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006.)

terça-feira, outubro 24, 2006

Como somos roubados!

Como somos roubados!
Por Jorge Serrão
(Edição de Artigos de

Domingo do Alerta Total)

"Os brasileiros não precisariam pagar Imposto de Renda. O Brasil perde, por dia, até US$ 750 milhões de dólares apenas com os impostos que são sonegados ou subfaturados (mal cobrados, por causa de jogadas contábeis) na exportação de vários minerais. M"ultiplicando-se tal valor por 25 dias úteis, nosso País arrecadaria, por mês, mais de US$ 18 bilhões de dólares que atualmente nos são surrupiados pelos controladores internacionais do comércio de commodities.
"Basta que o leão da Super Receita Federal fosse agressivo com os exploradores das riquezas do Brasil, e o Tesouro Nacional teria dinheiro para jogar pelo ladrão – e não para doar aos ladrões. Mas o leão faz o jogo dos gatunos e sonegadores porque nosso País (ainda) não exerce sua soberania e auto-determinação. Além disso, somos governados pelo crime organizado. O conceito é bem claro e objetivo. Crime Organizado é a associação, para fins delitivos, entre criminosos de toda a espécie, a classe política e os três poderes do Estado, para roubar a nação. (Foto)

Como somos roubados!

"Voltemos aos números da sonegação criminosa. No ano passado, com todo o esforço de arrecadação, a Super Receita arrecadou R$ 35 bilhões com o Imposto de Renda da Pessoa Física (que é o nome bacana dado ao imposto sobre o salário da classe média). Na verdade, por aqui, não se tributa, como deveria, nem a rende e muito menos o patrimônio de quem tem para pagar imposto. Penaliza-se o brasileiro comum, trabalhador ou empresário, que é obrigado a trabalhar e produzir durante cinco meses, apenas para pagar tributos. Nosso bolso sofre com impostos, taxas e contribuições que nos são covardemente cobrados. E o governo ainda tem a cara de pau de comemorar, mensalmente, recordes na arrecadação.
"Fazendo a conta do dólar cotado a R$ 2,10 (em média), se o leão mordesse os sonegadores apenas das exportações do setor mineral, o Brasil teria, por mês, uma arrecadação extra de até R$ 38 bilhões de reais. O volume sonegado por mês (só com minérios, não leva em conta as outras escandalosas sonegações de impostos) seria bem maior que toda a arrecadação anual do Imposto de Renda dos assalariados durante um ano todo. Ou seja, por ano, o Brasil teria uma receita extra de até R$ 456 bilhões. O valor equivale à fração de um quarto do que nossa economia produz em um ano. Nosso PIB (Produto Interno Bruto) está calculado em quase R$ 2 trilhões.

Como somos roubados!

"De acordo com esses números, se o leão do fisco não fosse um felino conivente com outros gatunos que nos assaltam, o Brasil teria dinheiro sobrando para investir, pagar suas dívidas e ter um dos maiores crescimentos econômicos do planeta terra. Afinal, aqui estão as maiores riquezas naturais do planeta. Mas o governo não colabora com os brasileiros, e ainda toma o pouco dinheiro que a gente consegue ganhar trabalhando. E ainda faz o jogo do crime organizado pelos controladores econômicos que nossa ignorância, falta de cidadania ou conivência nos deixam explorar.
"Para piorar ainda mais a situação, o governo federal (em final de mandato, mas de olho no outro) tem a cara de pau de preparar a licitação para a venda de 331 áreas de exploração mineral. São jazidas de níquel, carvão, zinco, diamante, ouro, cobre, turfa e terras raras (matéria-prima para a indústria eletroeletrônica). O negócio de compra e venda de minerais brasileiros é controlado pela London Metal Exchange (LME) da City de Londres. Banqueiros e investidores transnacionais querem dominar, ainda mais, o rico setor mineral brasileiro comprando as áreas que o governo daqui quer praticamente doar. Além de não sobrar impostos dos controladores, o governo ainda trabalha para lhes proporcionar mais lucros com a venda dos direitos minerários do Brasil.

Como somos roubados!

"Para entornar de vez o caldo, e deixar o cidadão-eleitor-contribuinte ainda mais com cara de otário, o Serviço Federal de Processamento de Dados da Super Receita ainda comete uma super mancada com 105 mil contribuintes. Todos ficaram sem restituição, até novembro, do quinto lote do Imposto de Renda da Pessoa Física. O jeito vai ser recorrer à Justiça, lenta e pouco justa com quem realmente precisa dela. O professor Sacha Calmon, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Direito Financeiro, adverte que os prejudicados devem entrar com ação judicial contra o Governo.
"O professor Calmon lembra que a promessa de restituição é um compromisso jurídico que não foi cumprido. Por isso, a falha tem de ser paga com juros e correção. E se ficar provado que houve dano material ou moral, porque a pessoa não conseguiu honrar um compromisso, por exemplo, cabe uma indenização. O professor Calmon lembra que o imposto de renda é um empréstimo que a população faz de graça ao governo. Paga mais do que não deveria, por isso há restituição. O professor destaca que, na hora de atacar o bolso do contribuinte, a Receita funciona. Mas na hora de ressarcir é desleal. O professor Calmon defende que o Ministério Público deveria entrar com processo cível, pois a ação individual do contribuinte seria lenta e cara.
"No fim dessa estória toda, como diria o saudoso cronista esportivo João Saldanha, "quem reclama já perdeu". Mas se os cidadãos lesados e roubados ficarem calados, a derrota fica ainda maior. Ou dizemos não, definitivamente, ao governo do crime organizado, ou nem vamos mais para o espaço – já que o presidente George Bush baixou um decreto garantindo o monopólio dos Estados Unidos da América na exploração especial. Do jeito que a coisa vai, privatizam o inferno, e deixam o pobre diabo desempregado. E Deus que o sustente com um bolsa família."
Jorge Serrão é jornalista, radialista e publicitário, especialista em Administração Pública e Assuntos Estratégicos. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total [http://alertatotal.blogspot.com]. Veja aqui.

Piranhagem sai cara para Município

Câmeras para filmar prostituição em
Ponta Negra custarão R$ 47 mil mensais

"Ainda não estão em funcionamento, no chamado corredor turístico da praia de Ponta Negra, as câmeras de vídeo que a Secretaria Municipal de Turismo prometeu instalar logo após uma série de matérias veiculadas no Jornal da Globo, da Rede Globo, em março deste ano, sobre o sexo-turismo na área. As câmeras têm o objetivo de monitorar a violência e a exploração sexual em Ponta Negra. O secretário municipal de Turismo, Fernando Bezerril, informou ontem que as câmeras deverão estar em pleno funcionamento em até 15 dias.
Segundo Bezerril, uma empresa de Recife (PE) será responsável pela instalação, trabalho que custará R$ 47 mil mensais, incluindo assistência técnica durante o funcionamento". (JH 1ª Edição, Terça-feira, 24.10.06,
Cidade, pág. 11.)
(Foto)

Dia do Funcionário Público

Servidores criticam as perdas
salariais e exigem implantação
de Plano de Cargos
No próximo sábado, 28, o
Dia do Servidor Público será comemorado

Várias categorias de servidores públicos municipais, estaduais e federais do RN informam que não têm muito o que comemorar no próximo dia 28, sábado, quando se comemora o Dia do Servidor Público. São perdas salariais e luta pela implantação de Planos de Cargo, Carreira e Salário (PCCS), que fazem parte da vida de centenas de homens e mulheres.
A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Indireta do Estado do RN (Sinai), Maria Sineide da Silva, disse que sua categoria luta por uma reposição salarial que ultrapassa os 100%. "Só que este ano apenas a Emater conseguiu um reajuste de 22%. Queremos que haja reajuste salarial para todos os servidores da administração indireta e não só para um grupo destes, além da implantação do PCCS para todos os funcionários. Atualmente, apenas os servidores do Detran e Idema tiveram aprovados este plano", disse Sineide.
Outras categorias, representadas pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Profissional (Sinasefe), reivindicam melhorias no PCCS. "Queremos que o percentual de reajuste salarial no momento em que o servidor mude de carreira passe de 3% para 5%", disse o coordenador geral do Sinasefe, Sérgio Ricardo Barroso Farias. (JH 1ª Edição, Terça-feira, 24.10.2006, Editoria de Economia, pág. 14.) (Foto)

Dia do Funcionário Público

Servidores criticam as perdas
salariais e exigem implantação
de Plano de Cargos

A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Natal (Sinsenat), Soraia Godeiro Massud, disse que uma das principais reivindicações da categoria é ver cumprido o PCCS. "Apesar do plano ter sido aprovado desde 1992, estamos com a nossa matriz salarial congelada até agora, gerando perdas de mais de 200% com relação à inflação", critica.
Enquanto isso, a presidente da Associação dos Docentes da UFRN, professora Kênia Maria Beatriz Ferreira, disse que a principal luta de sua categoria é a luta pela reestruturação da carreira de docente (profesores). "No ano passado, foi criada as classes do professor associado para o magistério superior e professor especial para o ensino de 1º e 2º graus. O problema é que assim quando eles chegam ao topo da carreira não têm mais ascensão a partir daí, ficam com a carreira congelada, sem progressão", disse a professora Kênia. (JH 1ª Edição, Terça-feira, 24.10.2006, Editoria de Economia, pág. 14.) (Foto)

Batalha do Servidor Público

Aprovação de proposta pode acabar greve da Saúde
Governadora Wilma de Faria analisa
contraproposta elaborada pelos técnicos sobre o PCCR

A proposta elaborada pelos técnicos do governo estadual quanto à efetivação do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos servidores estaduais de saúde já está pronta e pode acabar com a terceira greve da categoria em 2006, que já dura cinco dias. O que falta agora é a aprovação da governadora Wilma de Faria, crivo que foi aguardado, com expectativa, até a noite de ontem, pelos servidores.
De acordo com a coordenadora de Recursos Humanos da Secretaria estadual de Saúde Pública (Sesap), Auzirene Nunes, o impacto econômico dos efeitos financeiros do PCCR, aprovado em 29 de junho, já foi analisado em conjunto por equipes da Sesap e da Secretaria Estadual de Administração. "Esperamos agora uma resposta da governadora para podermos repassar a proposta aos servidores", diz. (JH 1ª Edição, Terça-feira, 24.10.06, Editoria de Cidade, pág. 11.)
Anestésico
"A banalização das notícias sobre corrupção parece ter provocado um efeito anestesiante na população, que julga não ter responsabilidades em relação ao tema, pois 'todos são iguais'. Pode até ser, mas é necessário que o dinheiro do cidadão seja bem empregado, e os envolvidos não sejam alimentados pelo banquete da impunidade." (JH 1ª Edição, Terça-feira, 24.10.06, Coluna Túlio Lemos, Política, pág. 06.) (Foto)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Prêmio Sesc de Poesia: ganhadores


Fernando Pessoa (Foto)

O escritor e poeta Francisco de Paula Sobreira Bezerra, com a poesia "Discordância" foi o grande vencedor do 1° Prêmio SESC de Poesia.
O concurso integra a programação comemorativa dos 60 Anos do SESC. De âmbito estadual, com organização a cargo da Biblioteca Central do SESC, em parceria com o Clube de Letras e Artes Potiguares (CLAP), o concurso obteve excelente repercussão no Estado, recebendo inscrições de um número em torno de 80 poetas oriundos de todos os recantos do Rio Grande do Norte. A solenidade festiva para a entrega dos prêmios ocorrerá na próxima Quinta-feira, dia 26, na área verde do SESC Cidade Alta.
O vencedor do concurso é domiciliado em Natal, sendo natural de Canindé, no Ceará, e reside na rua Joaquim Fabrício, 299, em Petrópolis. Francisco Sobreira, que concorreu com o pseudônimo "Fritz", foi contemplado com um Fim de Semana numa Pousada do SESC, a escolher, na Região Nordeste (João Pessoa, Fortaleza, Recife ou Maceió), com direito a acompanhante, passagem área e alimentação.
Bastante conhecido como prosador, ficcionista, Francisco Sobreira tem diversos romances, entre eles "Clarita", que reúne contos. No prefácio de "Clarita", escreveu Anchieta Fernandes sobre o ganhador do 1° Prêmio SESC de Poesia:
"O autor é um bom contista, na acepção exata do termo. Eu não diria que é um experimentador de formas novas (como Rubem Fonseca em alguns contos). Ou um poeta da riqueza sonora das palavras (como Guimarães Rosa). Ou um repórter da gíria do povo (como Plínio Marcos). Eu diria que é um Machado de Assis contemporâneo".

Prêmio Sesc de Poesia: ganhadores

"Francisco Sobreira é cearense de Canindé, mas reside em Natal (RN) há quase 40 anos", informa o blog sobre cinema que disponibiliza mais informações sobre o vencedor do 1° Prêmio SESC de Poesia: "Estudioso de cinema, foi cineclubista, presidente do Cine Clube Tirol (Natal) e do Clube de Cinema de Fortaleza. Escritor, publicou os seguintes livros: A Morte trágica de Alain Delon (contos, 1972); A Noite mágica (contos, 1979); - Não enterrarei os meus mortos (contos, 1980); Um dia... os mesmos dias (contos, 1983); O Tempo está dentro de nós (contos, 1989); Palavras manchadas de sangue (romance policial, 1991); Clarita (novela e contos, 1993); Grandes amizades (contos, 1995); Crônica do amor e do ódio (contos, 1997); A Venda retirada (romance, 1999); Infância do coração (romance, 2002). Participou de antologias de contos no Ceará e no RN. Seu nome está incluído na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa."
Foi classificado em segundo lugar o poeta Marcelo de Araújo Quirino, com a poesia "A Árvore Desfolhada". Nascido em 16 de abril de 1970, Marcelo Araújo, residente na rua da Pescada, 47, no Conjunto Parque das Dunas, foi contemplado pelo 1° Prêmio SESC de Poesia com um Kit com livros de literatura, no valor de R$ 1.000,00, numa livraria de Natal/RN. O terceiro lugar ficou com o poeta Roberto de Lima de Sousa, que classificou o poema "Paisagem Memória". Roberto Lima, residente na rua Valter Fernandes, 3559, em Capim Macio, foi contemplado com um Kit com livros de literatura no valor de R$ 500,00, numa livraria de Natal/RN. A Comissão Julgadora achou por bem conceder uma Menção Honrosa para o poeta José Alves Pinto Júnior, domiciliado à av. Sargento Noberto Marques, 88, Centro, Parnamirim. Pinto Júnior é jornalista, editor do jornal Potiguar Notícias, de Parnamirim.

Prêmio Sesc de Poesia: ganhadores

Júri
Integraram a Comissão Julgadora do 1° Prêmio SESC de Poesia as poetas Diva Cunha e Marize Castro e o poeta Josean Rodrigues.
Diva Cunha é poeta natalense, tendo mesmo se revelado uma das principais poetas da contemporaneidade, segundo verbete organizado pela professora de Literatura Constância Lima Duarte, para o site A mulher na literatura, da UFSC. Formada em Letras, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fez a pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, defendendo a dissertação Dom Sebastião: a metáfora de uma espera. Na UFRN, atuou como professora de Literatura Portuguesa no curso de Letras até aposentar-se, e, atualmente, faz o curso de doutorado na Universidade de Barcelona. Integra os quadros da Universidade Potiguar, onde ensina História da Literatura do Rio Grande do Norte e Cultura Brasileira. Autora de Canto de página, livro que "revelou uma poetisa madura, com extrema capacidade de manejo do verso e com uma dicção própria", segundo Constância. Seus livros seguintes — Palavra estampada e Coração de lata — reforçam a noção de uma poética que trabalha a emoção e a razão, tentando atingir o equilíbrio possível entre elas. Seus principais temas poderiam ser assim resumidos: a poesia, a cidade, a mulher. (Foto)

Prêmio Sesc de Poesia: ganhadores

Júri
Marize Castro é poeta natalense festejada pelos críticos e público. Considerada uma das melhores poetas contemporâneas norte-rio-grandenses, ganhou vários prêmios literários, dentre os quais Prêmio de poesia FJA (1983) e o Prêmio Othoniel Menezes (1998). Seu último livro, "Esperado ouro", Natal, edições UNA, (set) 2005, 119 páginas, 52 poemas, com capa de Wellington Dantas, foi, como os anteriores, bem recebido pela crítica, merecendo resenha na da revista CULT, número 104, assinada pelo poeta Moacir Amâncio. Jornalista formada pela UFRN, foi editora do jornal literário O Galo, da Fundação José Augusto, inspirado na publicação Nicolau, do Paraná, e editora do CADERNO DE ENCARTES, do Jornal de Natal. Como poetisa, Marize publicou Marrons crepons marfins (1984), que recebeu o Prêmio de Poesia da Fundação José Augusto, e Rito, em 1993. Em 1996, Marize Castro publicou Poço. Festim. Mosaico, onde utiliza uma linguagem que oscila entre a prosa e a poesia e se nutre dos principais mitos e musas da literatura ocidental. Constância Lima afirma, no verbete que organizou sobre a poeta, para o site da UFSC: "Desde o lançamento de seu primeiro livro, a escritora surpreendeu pela qualidade literária de seu trabalho. O segundo livro confirmou o talento, o amadurecimento poético e a opção por uma certa linguagem refinada, que busca alcançar um tom universal para sua poesia." Como editora, foi coordenadora da Revista Odisséia, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da UFRN.
Josean Rodrigues é poeta, autor dos livros: Amálgama, Sem saber do poeta, Esparso, Poema da existência e Avelã. Foi laureado, em 2001, com o Prêmio Jesiel Figueiredo de Textos Teatrais Inéditos, para peças adultas e infantis, com o texto O Ponto. Menção honrosa no Concurso Literário Othoniel Menezes nos anos 2001 e 2002. É membro fundador da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins.
Poema vencedor:
Discordância
Francisco de Paula Sobreira Bezerra
Perdoe a ousadia de discordar de você,
alguém que na poesia anda de gatinhas.
E ama demais os versos
que o seu gênio de vozes múltiplas criou.
Mas, Fernando, não acho que o poeta seja um fingidor.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Participação e desencanto


Real Hip Hop
O que significa participar
politicamente de uma sociedade?
Um professor do ensino médio sugere atividades para explorar essa questão entre os jovens
Discutir a participação política dos jovens na sociedade não é uma tarefa simples. Esse tema na maioria das vezes se restringe à participação eleitoral, do voto e das eleições. Mas votar garante uma participação completa nos rumos da nação? Essas questões e outras são fundamentais para a compreensão da participação política, tema deste plano de aula, cujo objetivo é refletir sobre as novas possibilidades de ação dos jovens na política.
As atividades foram sugeridas por Gilberto Pamplona da Costa, professor do ensino médio na Escola Nossa Senhora das Graças, de São Paulo. As discussões propostas têm como ponto de partida o artigo A Tradição em Crise, de Paulo Carrano, coordenador do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense.
Acesse o texto nesta página no link
"Texto de Trabalho do Plano de Aula". (Veja aqui.) (Foto.)

Participação e desencanto

Atividade 1
Objetivo: aquecimento e levantamento dos conhecimentos prévios
a) Levantar junto aos jovens qual o significado de política. Cada um deverá dizer ou escrever uma palavra e depois registrar no quadro para aproveitar a discussão sobre o tema. A intenção é desmistificar o senso comum da idéia de política sempre associada a políticos, eleições e corrupção.
b) Recomendar a leitura do texto A Tradição em Crise, com o objetivo de discutir a seguinte questão: Por que o jovem é ao mesmo tempo o grupo mais motivado e desinteressado para a política?
c) Pesquisar e selecionar notícias, de revistas ou jornais, que retratem aspectos da política local, do seu município, da esfera regional, pode ser seu estado ou região, do plano nacional e do plano internacional. O objetivo é analisar brevemente como o tema é tratado na grande imprensa. É importante que cada participante recorte pelos menos uma reportagem. Seria interessante que as notícias não tratassem apenas da política partidária. Estimule os jovens a encontrar matérias que discutam as políticas públicas de qualquer área social. Esse material servirá para a produção de um painel com o seguinte título: "A política no Brasil de hoje". (Foto)

Participação e desencanto

Atividade 2
Objetivo: Aprofundamento do texto de trabalho
a) Levantar as principais questões do texto para ampliar a discussão sobre a participação política do jovem. As questões a seguir foram extraídas do texto e a partir delas é sugerida uma determinada ação.
- Como motivar o jovem a participar politicamente da sociedade? O jovem tem condições de interferir ou transformar as políticas públicas? Sugerir aos alunos enviar por escrito essas perguntas para as pessoas que trabalham com jovens diretamente: uma ONG, um estudioso da sua cidade ou um representante do conselho tutelar do seu município.
- Que estratégias podem ser criadas para estimular a participação dos jovens na política? Pergunte aos alunos as diferentes formas possíveis de ação. Pesquise no site http://www.acaoeducativa.org.br e descubra quais as estratégias que a instituição utiliza para as políticas da juventude.
- Como combater o pessimismo que assola a população, especialmente os mais jovens? Para discutir esse assunto, a sugestão é buscar na história recente os fatos que marcaram o impeachment do presidente Collor e o papel decisivo que os estudantes tiveram em todo processo. O conhecimento desse momento pode estimular o jovem a se engajar politicamente.
- O voluntariado e o associativismo são práticas que devem ser estimuladas? Propor aos jovens realizar um levantamento em sua cidade ou bairro das ONGs e outras associações comunitárias que envolvem ou convidam os jovens em seus programas. Por exemplo, programas de alfabetização, reforço escolar, musicalização etc.
- Por que a participação político-partidária é pouco atrativa aos jovens? A sugestão é fazer uma enquete junto aos partidos políticos por meio do site: http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/HTML/partidos.htm (veja aqui). Enviem e-mails e depois produzam um painel com as respostas, pois isso facilitará o entendimento das políticas e idéias dos principais partidos. Será que todos os partidos políticos contemplam o jovem? Qual deles o jovem mais participa atualmente? Por quê?

Participação e desencanto

Outros espaços de participação política foram criados recentemente no Brasil. Que os jovens pesquisem para o debate deste tema que experiências mudaram o campo de participação além dos partidos e do movimento estudantil.
Por exemplo, o site http://www.ivaldobertazzo.com.br/espetaculos/milagrimas_descricao.asp (veja aqui) descreve e explica como uma comunidade pode, por meio da dança, exercer a cidadania. O portal
http://www.mundodarua.com.br/ (veja aqui) explica uma tendência atual do jovem de buscar na cultura a sua identidade. O Hip Hop, Break, DJ, Grafite e MC são movimentos ou comportamentos que os jovens, tanto da periferia quanto de classes mais favorecidas, buscam se identificar. Pesquise sobre esses movimentos e se possível organize os alunos para uma apresentação.
- Para que o jovem possa participar politicamente da sociedade é necessário compreender criticamente seu sistema político, econômico e social. Um tema importante a ser discutido aqui é a influência da sociedade de consumo, da indústria cultural sobre o jovem. Buscar as razões da influência dessa indústria é um bom passo para entender a relação entre cidadão X consumidor.
- Compreender as diferenças de ação dos diversos poderes da sociedade, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Sugerir aos jovens entrevistar representantes de cada um desses poderes do seu município para descobrir que políticas públicas existem em prol da juventude. Solicitar que respondam à seguinte questão: Como o jovem pode exigir do Estado políticas públicas que garantam um ensino de qualidade para todos? (foto)

Participação e desencanto

Atividade 3
Objetivo: sistematização
a) Organize todas as informações obtidas nas entrevistas, leituras e painéis e proponha ao grupo o seguinte desafio: produzir uma campanha publicitária social que estimule o jovem a participar politicamente da sociedade. A peça publicitária e sua linguagem podem variar conforme os recursos da sua comunidade. É bom esclarecer que não é uma competição entre equipes e sim a produção de uma mensagem para levar o jovem a participar mais politicamente da sociedade. Divulgue o resultado do trabalho na comunidade em que você participa e inclua outros jovens no mundo da política.
Indicações bibliográficas para o professor
- Juventude e Sociedade : trabalho, educação, cultura e participação/ ( organizadores) Regina Novaes e Paulo Vannuchi.-São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,2004
Indicação bibliográfica para o professor e aluno: DALLARI, Dalmo de Abreu: O que é participação política, São Paulo: Editora Brasiliense- Coleção primeiros passos, 1984. (O texto integral está aqui.) (Foto)

O Piauí é aqui

O Piauí é aqui
CONTARDO CALLIGARIS
FSP, São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

"A condição básica de uma convivência democrática é que se goste da vida concreta
CHEGOU ÀS bancas o primeiro número da revista "Piauí". Li de cabo a rabo, numa noite.
Aprendi tudo sobre Salem, nossa antepassada etíope de 3,3 milhões de anos atrás. Acompanhei Roberto Jefferson no dia das eleições e conheci o poema que, nessa ocasião, ele declamou junto com o pai, Roberto Francisco.
Entendi que há uma luta entre as baianas do candomblé e as neo-baianas, que vendem acarajé evangélico. Soube dos comentários dos ex-presidiários do Carandiru sobre a morte do coronel Ubiratan.
Conheci Fernando Henrique Freire, degustador de café; conheci José Cândido Sobrinho, que, há vinte anos, defende seus direitos trabalhistas contra a massa falida dos Diários Associados; soube que, no Pará, há policiais militares que montam búfalos reluzentes.
Li uma grande reportagem sobre como se trabalha (e por quanto) no telemarketing; outra sobre o engenheiro brasileiro seqüestrado no Iraque. Li o diário de uma jovem imigrante "ilegal" em Nova York.
Soube o que fez e pensou o jornalista Ivan Lessa, ao estar de volta ao Rio de Janeiro, depois de 28 anos de ausência. Aprendi como vive e trabalha Guilherme Guimarães, o estilista das noivas, e como foi que um jornalista americano tornou famoso um tal de Fidel Castro.
Soube também que Bertold Brecht não era "flor que se cheire". Li sobre o papagaio, animal nacional, sobre o turismo na Molvânia (que não existe, mas poderia existir) e sobre o hipopótamo. Também li uma breve ficção de Rubem Fonseca.
Um leitor dirá: "Legal, você se divertiu à beça, mas, logo neste momento da vida nacional, cadê as coisas "sérias", cadê a política?". De fato, a revista oferece um portfólio de fotografias de homens políticos, surpreendidos naqueles instantes em que, por acaso ou por descaso, suas máscaras vacilam.
Mas, para nosso leitor hipotético, isso não bastará. Ele insistirá na sua exigência, parecido com aqueles pacientes que, no consultório do terapeuta, sentem-se envergonhados ao falar das "bobagens" de seu dia-a-dia, como se seu cotidiano concreto não merecesse sua própria atenção e ainda menos a atenção do terapeuta.

O Piauí é aqui

Ora, na "Piauí", não há editoriais nem opiniões. Pela qualidade e pelo charme dos textos, a "Piauí" rivaliza com a "New Yorker", que a inspira.
Mas, embora eu seja um leitor inveterado da revista nova-iorquina, foi lendo a "Piauí" que entendi a relevância secreta do "novo jornalismo": ela não está no "subjetivismo" do repórter (que manifestaria seus estados de ânimo), mas no interesse pela vida concreta.
Não sei por que os colegas escolheram "Piauí" como título da revista, mas pensei o seguinte: não sei quase nada do Piauí, sei apenas que a capital é Teresina e acho o nome familiar e bonito (me faz pensar numa mulher simpática e conversadeira).
Agora, graças à "Piauí", sei que, desde 2005, em Teresina, há adolescentes praticando o badminton. É uma notícia sem importância? Não concordo, pela mesma razão pela qual acho que a chegada da "Piauí" é um evento político.
Os colegas da "Piauí", sem dúvida, acharão essa afirmação bombástica e retórica, mas fazer o quê? Aqui vai: a curiosidade e o carinho pelo cotidiano são os alicerces de qualquer política que não seja só vociferação. A condição básica de uma convivência democrática é que se torne relevante a variedade das vidas concretas, que são nosso Piauí, nossas terras desconhecidas ou silenciadas.
A "Piauí" nos traz esse Piauí, pelo Brasil afora
. Considere "As Torres Gêmeas", de Oliver Stone. Alguns desdenharam o filme porque esperavam algo diferente: interpretações, quem sabe conspiratórias, dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001 ou meditações sobre a perfídia da Al-Qaeda ou do atual governo dos EUA, tanto faz.
Ora, Stone contou a história de dois policiais enterrados nos escombros e da espera de suas famílias. Ele chamou isso de "As Torres Gêmeas", como se, naquele evento que alterou a cara do mundo, os fatos mais importantes fossem duas vidas concretas, duas vidas que, em geral, ninguém vê. Essa é a grandeza do filme.
"A Vida que Ninguém Vê" (editora Arquipélago), aliás, é o título de um livro imperdível de Eliane Brum, jornalista (hoje, da revista "Época").
É uma coletânea de relatos da vida cotidiana e miúda, escritos em 1999, para o jornal "Zero Hora". Eliane Brum é uma extraordinária repórter do Piauí de todos os dias." (Contardo Calligaris, FSP, São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006 - Leia mais sobre Contardo Calligaris, aqui - e aqui.)

Extermínio de pobre


Prossegue o extermínio de jovens
nas periferias da Grande Natal (RN)
pelo envolvimento com o narcotráfico,
na ausência de políticas públicas
para a juventude.
A palavra é "legalidade"
Luiz Eduardo Soares


"Acredito que haja um denominador comum sob o vasto repertório de problemas, dramas e tragédias que afetam o estado do Rio de Janeiro. Claro que essa reflexão exige que se faça, primeiro, um inventário dos dilemas que nos afligem. Cada leitor terá sua lista de prioridades. A minha é bastante ampla:
o desrespeito pelo espaço público, a corrosão dos laços de confiança e das regras de civilidade, a degradação das entidades socioeducativas e do sistema penal, a ocupação desordenada do solo urbano, a devastação do meio ambiente, a corrupção nas instituições públicas, a brutalidade policial, o crescimento tentacular das máfias - no transporte e na saúde -, o tráfico de armas e drogas, a criminalidade e a bala perdida - com seus efeitos sobre a economia, o emprego e a renda -, a violência doméstica contra crianças e mulheres, a agressão perpetrada contra as minorias, o racismo e a homofobia, o genocídio de jovens negros e pobres, o abandono da juventude vulnerável, a tirania a que estão submetidas as comunidades, o descaso com a educação, a selvageria no trânsito, a pobreza da representação política e o esvaziamento de sua legitimidade.
São questões que pertencem a distintas esferas da vida social. Mas um laço as une: cada uma delas corresponde a uma modalidade específica de transgressão à ordem constitucional; todas expressam traições à legalidade. O denominador comum das desventuras é a ilegalidade. A palavra-chave para a sociedade fluminense, pedra-de-toque das mudanças mais urgentes, é uma só: legalidade.
"Aqui, é preciso cuidado para evitar mal-entendidos. A legalidade a que me refiro nada tem a ver com a simplificação grosseira daquilo que se convencionou designar pela equação Lei-e-Ordem, cuja tradução realista tem sido violência e discriminação institucionalizadas contra os de baixo, e tolerância indulgente com os de cima. Pelo contrário, legalidade, no Estado Democrático de Direito, regido por uma Constituição republicana, como a brasileira, significa a afirmação normativa e prática de direitos, garantias e liberdades, individuais e coletivas, cujos limites são dados apenas por sua universalidade, isto é, pela eqüidade de sua vigência."
(Veja texto integral.)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Tô saindo pra matar, Prefeito!

O meu sonho foi todim com você. Tem sido assim, essas últimas noites. Eu aliso uma duna, feito o morro do Careca, e ela se vira em bundinha. Passo a mão no treizoitão e acordo suando, nervoso, querendo tomar azeite. Apareceu também a professora Dalvinha Rosado, de Mossoró. Ela passa morta, dentro de uma urna, e atravessa numa caravela o rio Potengi, em busca do cemitério dos Ingleses na Redinha. Da sua mortalha saíam faíscas, e frases entrecortadas, de que não terá jeito. O número 63 aparecia na vela, os anos que ela dedicou a nós, dos 79 que viveu, para fazer da gente, gente. O meia três era pintado em cima da bandeira dos piratas, com a caveira e os ossos de meus manos. Dizia que nós cuidasse dos bucaneiros, os pestes que se apossam ilegalmente e pela força de nossos bens. Grita: bandidos! Ladrões! E nós é que não presta. Mas eu lhe disse: aqui fora você vai atrás de serviço e não tem. Não tem, não tem.
Ela ajudou meu irmão na Casa de Menores em Mossoró. Só lamentei ela ter ido embora sem ver a defesa pelo advogado da prefeita Fafá Rosado. Livrou ela das suspeitas de fraude no evento "Mossoró Cidade Junina". Mas meu mano depois veio pro Ceduc. Os infratores ensinaram a ele a usar armas. Ele e Franzim receberam patentes no mesmo dia. Ganharam armas e um serviço. "Uma 380 e um oitão para os dois trabalhar toda a noite. É uma quadrada (9mm) do Exército americano, de 21 tiros. Mata na certa. É pá e bola, e o oitão dá seis tiros só. O oitão às vezes você toma seis tiros e não morre, agora a quadrada se você tomar é fatal". (Foto)

Tô saindo pra matar, Prefeito!

Uma mana, que cedo se perdeu, também desponta. Ela trabalhou de bedel com Marinalva, líder das prostitutas. Está na frente de batalha, em Ponta Negra. Ali o pixo é grosso. Programas de 400 a 800 real por rodada de negociação. Diga aí. Fico me roendo de inveja, mas não quero pra mim.
Fiquei cabreiro, mas orgulhoso. Pelo menos tá ocupada. A mana faz parte das minas que, no Brasil, chega a 100 mil crianças e adolescentes nas frentes de trabalho sexual do turismo. Ajudam o governo a fazer receita. Números do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude), do relatório Lucrando com o Abuso. No meu sonho, professora Dalvinha alertou que não haverá jeito. "Vai carregar o estigma e as conseqüências da violência pelo resto da vida". Caiu na malha que é beleza para incentivar a prática do sexo pago: aliciadores, clientes, agenciadores. Ali, é como o mercado negro. Ou o tráfico. Acorda na rede de silêncio, conivência, omissão, impunidade e violência. Mas o lucro grita. A mana é mais uma de um milhão de crianças no mundo que todos os anos entram para o multibilionário mercado do sexo. Computação da organização tailandesa End Child Prostituition in Asian Tourism, citada pelo UNICEF.
Aqui, eu soube, é como na Grécia Antiga: garotas exploradas desde os cinco anos, escravas comercializadas para a prostituição. Seus "donos" arranjam serviços sexuais desde pequenas para compensar os gastos com seu sustento. Aqui tudo é em Ponta Negra. São grandes negócios do crime organizado, com ramificações no tráfico de drogas, de armas, de pessoas. (Foto)

Tô saindo pra matar, Prefeito!

Por sorte a Câmara Municipal de Natal aprovou o projeto de lei 113/2006, que altera a lei 095/91, que vai botar pra andar as políticas públicas municipais em torno da criança e adolescentes. Veja bem, essa lei vai trazer benefícios para os Conselhos Tutelares, para o Comdica – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, para o Fundo Municipal da Criança e Adolescente, para a Frente Parlamentar em Defesa da Criança e Adolescente, e para os que controlam políticas públicas em Natal. É tanto que foi apressado o processo eleitoral para conselhos tutelares, onde o salário de um conselheiro é de R$ 1.200,00. Tem neguinho na fila saindo pelo ladrão.
A professora aconselhava minha velha a dar um basta na produção de bacorinho. Mas meu velho era reprodutor. Fez 16 meninos de rua, minha idade. Era muito grilo em casa, bicho. No Ceduc mesmo nós era tudo junto. Uma quadrilha, mas onde a gente cantava, tirava foto, fazia teatro, bumba-meu-boi, batia nas latas. Sendo que a nossa vida será perdida, para sempre. O que se fatura é o ganho nos sinais. Mas é um faturamento mixo. O grosso fica no governo. Tô sabendo pelos jornais de verbas, de projetos, cenas e falações. O caô-caô de sempre. É grana pra isso, praquilo, e nada pra nós. Cadê a grana da multa de R$ 1.054,50 que a Semurb aplicou nos favelados do viaduto do Baldo? Miserável pagando multa? Tem nada não, 10 milhas é o movimento da Festa do Boi. A sorte é que o presidente da Assembléia Legislativa, o reeleito Robinson Faria, vai deixar o PMN para se filiar ao PSDB porque seu partido não alcançou a cláusula de barreira. Isto deixou a quadrilha mais tranqüila. Apesar do tiroteio por aqui. Ele devia vir ver a vida aqui nas barreiras do Golandim. Gosto da atitude dele. É como a gente no tráfico.

Tô saindo pra matar, Prefeito!

"No tráfico é assim, você tem que ser sincero.
Se você for entrar no tráfico, você tem que dá sua vida. Se vim polícia, você tem que matar polícia. Você tem que trocar tiro. É tudo ou nada. Ali é ali".
Meus dois camaradinhas foram mortos na frente do colégio. E a rua nem era de pobre assim. Era de família classe média, perto da vila militar. Foi uma execução sumária, premeditada. O matador nem se ligou de ser reconhecido, se tinha testemunhas. "Senta no meio-fio, cacete!", falou. E mandou chumbo no bestunto.
Um primo meu, que correu pra Zona Norte, fugindo dos home da Semurb, que aplicavam multas nos favelados do Baldo, entrou pro tráfico. Pra nós, bala. Mas ele não gosta de onde mora, apesar do ambiente ser de grife para a Zona Norte, a avenida das Fronteiras, em Panatis. Mas lá ocorre uma situação nojenta, ele não gostou: esgoto a céu aberto, escancarado, na cara dos caras, escorrendo do rego e descendo pra rua. A água fede como os seiscentos diabos. Os moradores só passam pelo lugar jogando soda cáustica para aliviar a pestilência.
Fedor ou inhaca, a catinga tá em todo canto. Seremos nós a reclamar, nós da "geração enrascada", da "escumalha"? Temos nos "herdeiros" a salvação de nossa lavoura. Podes crer! Por Jesus, agora chegaram os homens e mulheres que haverão de acabar com a nossa má sorte. Vade-retro! (Foto)

Tô saindo pra matar, Prefeito!

Hino à Vadiagem...
Deus quando fecha uma porta, abre uma janela. Saíram alguns carinhas carimbados, mas entraram outros. Principalmente os novos, e velhos, que são da "Bancada dos Parentes". Estes irão ajudar nós. Ainda bem que os eleitores foram espertos e elegeram a fina flor de uma amiga, sempre a postos com seu fogo amigo, e com o qual podemos contar: "a zelite". Pois não é que foram eleitos, dentre os novos, para deputado estadual, o Waltinho Alves, filho do senador Garibaldi Alves; e para deputado federal, o Fabinho Farias, filho do presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Robinson Farias, que foi reeleito; e Felipinho Maia, filho do senador e ex-governador José Agripino. Além desses, da turma antiga, que comia pelas beiradas, vão compor a Assembléia Legislativa, reeleita para alegria das crianças, adolescentes e excluídos: a Márcia Maia, filha da governadora Wilma de Farias; a Larissa Rosado, filha da deputada federal Sandra Rosado; e ainda a Gesane Marinho, filha do ex-prefeito Jurandir Freire Marinho. Para gaudério da raça, voltou como deputado o ex-governador Lavoisier Maia (1979-1983, Arena), ex-marido da governadora Wilma de Farias, que estava desocupado aos 78 anos. Sem contar que entrou a jornalista Micarla de Sousa, filha do ex-senador Carlos Alberto de Sousa. E prosseguem na liça, segurando a bandeira dos excluídos na Câmara Federal, o sempre presente Henriquinho Eduardo Alves, filho do ex-governador Aluízio Alves, computando dez mandatos; e a incansável Sandra Rosado, filha do ex-deputado federal Vingt Rosado. É tanta alegria, que dá vontade de cantar o Hino à Bandeira. Mas era melhor o Hino à Vadiagem.
Fala sério, a Zona Norte é ruim? Mas aonde é bom, mermão? Olhando daqui, a gente está no centrão, e a periferia é lá nos cafundós. Vem pra cá ver. Vem pra cá sentir. A Zona Norte tá ganhando as paradas como líder absoluta em execução com arma de fogo? Aí, mas tem parada também na Zona Oeste, na Leste. Sem falar da Zona Sul, onde o barato sai caro, os olhos da cara. É área de gringos e das minas granfas.

Tô saindo pra matar, Prefeito!

Tás sabendo? "O crack suga tudo o que tem. Você tem dinheiro, tem calça, vai usar, usar, e aí vai fazer o quê? Roubar pedestre, roubar ônibus. E o ladrão faz o quê? Atrai polícia pra perto, aí foge do controle dele, aí o próprio traficante manda matar ele. Atrai a polícia, né, meu?" De janeiro pra este setembro pelo menos 80 manos com até 25 anos foram pro beleléu na capital, nos municípios da Grande Natal, e em cidades do interior próximas a Natal.
O garoto ta fudido, desempregado, saiu da escola. Fora do tráfico, o guri passa o dia dentro de casa, na penúria da favela, vendo o que vem na tevê. Que diabo é? Um nada em comparação com as mixarias que rodam por aí. A cada dia são assassinados em média 16 crianças e adolescentes no país. São do sexo masculino, pertencem às classes mais baixas das periferias, grande parte afro-descendente. Pessoas que estão negociando seus desejos. Tem gente que não vê poesia no tráfico, mas a "Quadrilha" grita de lirismo. Vê senão: "Angélica amava Toquinho, que vendeu um bagulho para Pirulito, que dividiu a droga com Thiago, que morava na mesma casa de Kelly ‘Bola’, que largou a filha na casa de Therezinha, que não aguenta mais essa vida. Angélica assumiu uma boca na Vila, Toquinho foi morto pela polícia, Pirulito não pagou pelo baguho e também morreu, Thiago ameaça bater na avó todos os dias, Kelly ‘Bola’ fugiu de casa e vive na rua e Therezinha chamou a polícia que não tinha entrado na história, mas até agora não apareceu." (Foto, pintura - painting © Michael Kabotie.)

Tô saindo pra matar, Prefeito!

Mas aí, fala sério, o projeto do crime é mais claro que o das ONGs. O que quer o tráfico? Tu sabe que o tráfico quer vender droga. Já ninguém sabe direito o que quer as ONGs. Mas dá pra ver que se criam pequenos Iraques nas favelas. E os urubus tão ali, roubam do contribuinte, desviando a grana que chegaria ao favelado. A verba é capturada, enfiada no bolso. Nunca vimos tanto projeto social nas favelas, mano, mas nunca o tráfico esteve tão forte. Dá pra tu? Dá pra tu vê? Aquela indústria da seca deu lugar a outra parada, hoje corre a indústria da miséria. São ONGs, são empresas, são as lideranças da periferia. Vivem de um mercado lucrativo. Milhões de dólares circulam num esquema de corrupção. Dá pra sacar o conluio das esferas envolvidas? E a gente ta aí. “Você vai envelhecendo todo dia, nós envelhece. Porque eu já estou com 18. Já tô veinho. Os finados do bairro se passar dessa idade é pouco. Antes de traficar eu não fazia nada, já tinha uma coletividade assim, já conhecia todo o pessoal assim, mas não fazia nada, depois que eu fui me envolvendo mais assim. O que fez eu me envolver, eu nem sei te explicar, que eu entrei com nada, quando eu já fui ver, eu já estava no sistema, você entendeu? Embaçado”. Fala sério! É foda! (Foto)

sábado, outubro 14, 2006

SOS Ponta Negra

O Movimento SOS Ponta Negra, que começou há menos de um mês, para defender a preservação de um dos cartões postais mais importantes e conhecidos da capital potiguar da sanha das construtoras, que querem fazer em Ponta Negra um paredão de prédios como em Copacabana, vem sofrendo ameaças de processo para um dos seus mais ativos membros, o jornalista Yuno Silva, organizador do movimento, que mantém o blog [www.sospontanegrablogspot.com], como referência para quem quer entrar na luta.
Yuno Silva pretende recolher assinaturas para um abaixo-assinado em defesa do Morro do Careca. ‘‘Nossa pretensão é de recolher umas cinco mil assinaturas para legitimar ainda mais o Movimento, porque os empresários estão indo à imprensa dizer que o prefeito Carlos Eduardo Alves está defendendo uma minoria. E a gente quer mostrar que não é bem assim e que a mobilização continua’’, disse o jornalista.
O combate começou dirigindo-se às construções de prédios na Rua José Bragança, nas imediações do Morro Careca. A adesão da comunidade natalense vem crescendo de forma surpreendente, tendo sensibilizado o poder público para o problema, levando o prefeito Carlos Eduardo Alves a sugerir à Procuradoria do Município e órgãos ambientais a revisão da Lei que regulamenta o Plano Diretor de Natal.
Nesta segunda-feira, dia 16, às 14h, na Câmara Municipal, haverá Audiência Pública para tratar do novo Plano Diretor e do futuro da área próxima ao Morro do Careca, além da transformação (ou não) da Vila de Ponta Negra em Área de Interesse Social. As rendeiras de bilro, pescadores, os Mestres dos Congos de Calçola, Pastoril e Capoeira agradecem a atenção.
Reproduzimos a seguir a Carta do jornalista Yuno Silva à imprensa, tendo ficado surpreso com a decisão anunciada pelos construtores de vir a processá-lo. O jornalista informa, contudo, que já esperava ser alvo de pressões.
Acompanhe toda essa mobilização no blog SOS Ponta Negra, aqui. (Foto)

SOS Ponta Negra

Eis a carta do jornalista Yuno Silva:
"Amigos e amigas simpatizantes e que já fazem parte do movimento popular legítimo em favor do NOSSO cartão postal SOS PONTA NEGRA,
Quando entrei nessa briga sabia que não seria fácil, por isso tomei todo o cuidado para seguir pelos caminhos da ética, da verdade dos fatos e dos anseios da população, em nenhum momento envolvi nem citei nome de ninguém (empresários, empresas, etc, etc) justamente para não deixar brechas para um futuro processo.
Então deixo aqui algumas questões que merecem ser apreciadas antes de pânico ou conclusões precipitadas:
1. Não há o que alegar. Os empresários vão me processar por que motivo? Por lutar pelos meus direitos de cidadão?;
2. Em todo o BLOG e em todas as matérias NOSSO movimento deixa bem claro que não estamos contra ninguém e sim A FAVOR DA NOSSA CIDADE E DA NOSSA PRAIA;
3. Em nenhum momento levantamos falsos testemunhos nem fomos levianos. Também não houve exageros de nossa parte na hora de abordar e explicitar a situação, nem somos anarquistas nem sensacionalistas nem nos faltaram escrúpulos. Meu intuito foi, desde o início, o de alertar os natalenses sobre o problema, nada mais! Nós queremos é explicações de construtoras que acham que podem lotear nosso cartão-postal e ninguém pode falar nada;
4. Empresários estão dizendo que "forças ocultas" estão agindo!!! Realmente: é a consciência coletiva invisível que baixou em mais de 2 mil pessoas que já assinaram o abaixo-assinado. Esse é o tamanho da NOSSA minoria;
5. Dá para perceber que, desde que o Prefeito Carlos Eduardo suspendeu as licenças, parte da mídia está comprometida com interesses puramente financeiros. Nós não somos "ambientalistas", somos "CIDADÃOS E CIDADÃS" interessados em nosso futuro. Felizmente a maior parte da mídia não quer que a cidade padeça;
6. O anúncio publicado pelos empresários é chancelado por arquiteto que tem interesses nas construções e liberação da área para outras obras. O anúncio publicado também não representa a realidade: os prédios estão fora da escala e os projetos não são os originais;
7. Estão querendo confundir a opinião pública com informações tendenciosas e intimidar o movimento com ameaças de processos. Nós não vamos esmorecer, a mobilização continua e os apoios só aumentam e a imagem institucional das empresas só desvaloriza;

SOS Ponta Negra

8. O SOS Ponta Negra apóia a proposta do Plano Diretor encaminhada pela SEMURB à Câmara dos Vereadores para votação. A Semurb defende a criação de ÁREA DE INTERESSE SOCIAL NA VILA DE PONTA NEGRA, fato que inviabiliza outros arranha-céus na localidade. O Conplam (que não tem representante de entidades ambientais nem sociais em seus quadros) é a favor da destruição total da Vila;
9. O SOS Ponta Negra pede a todos que não se intimidem com as ameaças de processos, os construtores que entrem com processo contra toda a sociedade interessada em não perder a beleza da praia de Ponta Negra;
10. A movimentação (ABRAÇO GIGANTE) que aconteceu neste último domingo, 8, reuniu cerca de 300 pessoas e representantes das seguintes entidades/instituições: Associação de Moradores dos Parques Residenciais de Ponta Negra e Alagamar, Conselho Comunitário de Ponta Negra, Associação de Moradores da Vila de Ponta Negra, Associação de Capoeira Arte e Vida, Associação dos Vendedores Ambulantes de Ponta Negra, Associação Potiguar Amigos da Natureza, Curso de Meio Ambiente do CEFET/RN, ADURN/UFRN, Amigos do Beco da Lama, Grupo Pau e Lata, Agenda 21, Coletivo Leila Diniz, ONG Natal Voluntários, Instituto Amigos da Vida, taxistas e quiosqueiros. Mais o Ministério Público e a Prefeitura;
11. Não estamos sozinhos, não podemos deixar que nos calem, nós queremos respeito, nós queremos progresso com responsabilidade, queremos desenvolvimento sustentável, queremos proteção real e imediata da Vila como Área de Interesse Social. Queremos uma cidade que nos ofereça dignidade cidadã e qualidade de vida;
12. Turista responsável não quer ver prédios no horizonte. Esses prédios que estão construindo são FLATS de um quarto e 56 metros quadrados. Por acaso é para famílias decentes virem aproveitar nossas belezas naturais e curtir nossa cidade, nossa cultura e nossa gastronomia? Não é um apartamento pequeno demais? Não podemos nos deixar enganar: os prédios são liberados como FLATS e vendidos como apartamentos residenciais. Um disparate!; (Foto)

SOS Ponta Negra

12.1. Se as construções forem permitidas, hotéis e motéis irão perder clientes e os problemas sociais (tráfico de drogas e prostituição) só irão aumentar com ‘matadouros’ ao lado do ‘curral’;
13. Emprego? Que eu saiba, só o que está disponível são SUBEMPREGOS TEMPORÁRIOS. Depois dos prédios prontos o natalense vai ficar do lado de fora da cerca elétrica. Sem falar que construção de praças, calçadas e outras benfeitorias na infra-estrutrura do bairro também gera emprego e beneficia toda a comunidade;
14. O turismo só é o que é por causa da beleza de nosso litoral. Destruir a paisagem é atentar contra a maior fonte de renda do RN;
15. Os empresários da construção civil têm o direito de entrar com processo contra o município, e tenho certeza de que o município não vai querer vender seu principal cartão-postal. O valor de um prédio pode ser calculado, e o Morro do Careca? Alguém se arrisca a dar um preço?;
16. Os empresários/imobiliárias/ construtoras devem abrir o jogo aos investidores estrangeiros: tudo e todos para preservar o que resta da MAGIA DE NOSSO CIDADE;
17. Sugiro aos empresários/imobiliárias/construtoras, bem como à Semurb e à Prefeitura, ao Ibama-RN e ao Idema, que seja criado um SELO VERDE DE OBRA COMPROMETIDA COM O MEIO AMBIENTE. Tenho certeza de que os clientes verão que somos uma cidade moderna que sabe a importância de se preservar a natureza e o futuro;
18. O SOS Ponta Negra sugere ao IDEMA que sejam criadas trilhas ecológicas no Morro do Careca com passeios monitorados;
19. O SOS Ponta Negra não é um movimento político partidário. Trata-se de um movimento popular legítimo que agrega profissionais liberais de diversas áreas de atuação, trabalhadores da praia de Ponta Negra, moradores do bairro (Conjuntos e Vila), estudantes, imprensa e empresários responsáveis que sabem que o futuro da cidade e do turismo depende da preservação imediata da paisagem;
20. A luta e a mobilização continua."
Leia mais aqui. (Foto)

Blog e suas fundamentações

BLOG, A MÍDIA DO ÍNTIMO E DO PRIVADO
Francisco Coelho dos Santos (UFMG)

Resumo – Criaturas da Internet, os blogs compõem um fenômeno que torna manifestos alguns dos traços mais marcantes dos tempos que correm. Tempos em que, na falta de quadros de referência estáveis e fiáveis, associada a uma desconfiança crescente em relação à idéia de representação, cada um prefere falar por si próprio, acreditando que o testemunho de cada individualidade vale tanto quanto o de qualquer outra. Tempos em que o íntimo abandona suas reservas e insiste em se fazer público, assim como a subjetividade quer se expor, objetivando-se para quem se proponha a observá-la. Passando dos 40 milhões em todo o mundo, os blogs potencializam uma das principais características da rede: eles se constituem em vetores de fenômenos coletivos de agregação praticamente imediata, que assumem freqüentemente a feição de uma ação social de amplitude planetária, com importantes implicações. Impiedosas, quando corrigem os que criam estar autorizados a explicar a marcha do tempo; perigosas, quando difundem informações inverídicas; mas sempre úteis, quando precisam ou retificam. Daí todo o interesse num inventário, mesmo breve, do que os blogs indicam ou denunciam, justamente o que o trabalho pretende realizar.
Palavras-chave – Blogs, mídia, íntimo, privado, público.
Confira, aqui.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Tecnologia e imaginário

Matéria da Folha de São Paulo (04.10.06) traz entrevista com o pesquisador da PUC do Rio Grande do Sul Juremir Machado da Silva, que relaciona a tecnologia com os impactos que exerce no imaginário.
A matéria, da Reportagem Geral, começa aqui:
"Os temas do 1º Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e Cibercultura, realizado pela PUC-SP [www.pucsp.br/pos/cos/cencib/simposio_nacional] entre 25 e 29 de setembro, pairaram no limiar entre o cientificismo e a imaginação, entre o humano e o cibernético. O tema tecnologias do imaginário e narrativas do vivido foi abordado em palestra do pesquisador da PUC do Rio Grande do Sul Juremir Machado da Silva. À Folha ele falou sobre seu objeto de pesquisa, o imaginário, e sobre as suas relações com a tecnologia. (MB).
FOLHA - Não há um paradoxo entre tecnologia e imaginário?
JUREMIR MACHADO DA SILVA - Sim, e isso é maravilhoso. É a união da tecnologia com os afetos, que são a coisa mais arcaica da existência. Ao contrário do que se imaginava, essas tecnologias são desviadas para isso, para os relacionamentos.
FOLHA - Essa tendência não faz com que tenhamos menos contatos reais com as pessoas?
SILVA - O concreto está assumindo novas formas. Achamos que o ideal é ir aos bares, mas existem outras possibilidades. Às vezes pode ser melhor ir para casa e viver, pelo computador, coisas muito mais intensas, explorando o lúdico, o mistério, as múltiplas personalidades que podemos assumir, vivendo várias vidas em uma só.
FOLHA - Trata-se de um meio de explorar o imaginário?
SILVA - Sim, o imaginário é a soma das pulsões subjetivas somadas às intimações objetivas. É o encontro do que vem de dentro de nós com o que vem de fora, com o que é imposto pela sociedade. E isso também engloba a tecnologia, também é inseminado por ela.
FOLHA - Como fica a fronteira entre a realidade e a imaginação?
SILVA - Todo imaginário é real e todo real é imaginário. Há sempre um tanto de representação no que chamamos de real e todo imaginário é vivido e sentido, portanto, é uma realidade. O vivido é também aquilo que escapa, que faz parte da trama do cotidiano, mas que não cabe nas grades predefinidas.
FOLHA - Isso faz com que fiquemos expostos a um volume ainda maior de informação?
SILVA - Certamente. Existem mais coisas do que nossa capacidade de admirar é capaz de abranger, de modo que é preciso fazer escolhas. O navegador da internet é justamente aquele que sai errante -o que pode ser angustiante porque não há quem nos oriente."
(Caderno Informática, Folha de São Paulo, São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006.)
Para acessar, veja aqui.