sábado, setembro 23, 2006

A verve libertina de Natal

As coirmãs de Nathália

É de cortar coração, mas nunca o tesão, Nathália chegar à sua terra no momento em que Natal é reconhecia como "cidade prostíbulo da Europa" ou "europrostíbulo do Brasil", conforme cantam os estrangeiros, como fazem os espanhóis nas páginas de um dos diários mais importantes da Europa, o espanhol "El Mundo", que define a terra potiguar como "a mais pobre do Brasil". Compreenderá Nathália que são irmãs suas que não dispõem do seleto grupo de admiradores para ler e se embevecer com sua obra devassa. São irmãs que escrevem sua obra nas ruas, obrigadas a partir para a extorsão de turistas, meio de defender a sobrevivência por outras rotas, destituídas de nobreza e de belos ideais. Em rotações vertiginosas, escritas no lado prático da vida, sem compromissos com a leveza do ser, mas com a selvageria da condição humana.
Mais famosas que a poeta devassa, com portfólio divulgado nos principais jornais do estrangeiro, as desairosas de Ponta Negra serão sempre anônimas, e estão a anos-luz da escritura de Nathália. Mesmo com toda a carga erótica, pendendo para o pornográfico, a poesia da misteriosa escritora ganha distância no estilo e no registro de seus reveses de vida, seja pela linguagem de violência seja pela astúcia perversa com que suas coirmãs de cama escrevem suas extravagâncias de rotina.
Como numa luta de classes, mesmo ao se encontrarem e se repelirem, por suas conveniências, acordos e táticas, tanto a poeta sexualmente diletante como as profissionais do mercado do sexo elegem, constituem, nomeiam e desfrutam de um espaço de liberdade, conquistado a muque na ordem machista, dando vazão e desafogo ao imenso, ardente e reprimido desejo da grande maioria de suas conterrâneas, magoadas por uma inconfessável e dissimulada baixa libido. (Foto.)

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