segunda-feira, julho 31, 2006

Jóias do Potengi

Zezo, o glamour do music-hall

O transformer Zezo acaba de lançar o CD "Zezo de Saltos 5.0", para festejar seu aniversário e mais de três décadas de dedicação ao teatro, ao transformismo, à música, aos espetáculos do mais puro music-hall, com sabor de Cabaret. No Estado, Zezo é um clássico do show. Como transformista, seu nome remete às grandes estrelas do transformismo nacional, como Rogéria, Lorna Washington, Lola Batalhão, Eloina, Jane de Castro, Karine Bergman, Enok Poison, Lady Dy, Ludmila Bravo, Emilia, Marlene Casanova e tantas outras veteranas. Talento burilado por Jesiel Figueiredo, no grupo teatral Artistas Unidos, tendo encenado a peça Auto da Compadecida com o grande diretor, Zezo marcou época em Natal, fazendo shows e esquetes em eventos sociais e nas festas e boates GLS da cidade, trabalhando em palcos como o da boate Vice-Versa. Zezo pode ser considerado não apenas o transformista com shows mais concorridos do Estado, mas um verdadeiro showman, ator, cantor, provocador glamuroso... Dentre suas apresentações, as mais solicitadas são as de Ney Matogrosso e Elba Ramalho, embora ele seja capaz de assumir 50 personagens em cena. Em 2003, realizou show e lançou o CD "Zezo em Je suis toutes les femmes - Um show Translúcido", em que dedica músicas e esquetes a mulheres por ele escolhidas, merecendo sua homenagem Márcia Sá Leitão, Jaíra Oliveira, Elizabeth Venturine, Conceição Bezerra, Mariângela Figueiredo, Águeda Ferreira, Mônica Torres, Eliene Albuquerque, Betel Figueiroa e Kinha Kosta. Telefones para contrato (84) 3222.4829 e 9903-1712. Foto de Véscio Lima. Lay-out e arte da capa do CD: Jonathan Francioli.

Datas Potiguares


Senador Georgino Avelino

No dia 31 de julho de 1888, nasceu em Angicos (RN), José Georgino Alves Avelino, que seria senador da República, nos Períodos Legislativos da Terceira República - 1937-1946, conforme o site do Senado. Georgino Avelino diplomou-se como bacharel em direito, praticou jornalismo e ingressou na política, no RN, onde militou na chefia do PSD. Inspirado orador, foi interventor federal e senador. Fundou a Rádio Cabugi, emissora que, com sua morte, passou para Romildo Gurgel, seu mais próximo correligionário. Faleceu no Rio de Janeiro a 02.04.1959. É nome de município, localizado no litoral sul do Estado, a 50 km de Natal. No dia 3 de dezembro de 1963, através da Lei n° 2989, a localidade desmembrou-se de Arez, tornando-se município do Rio Grande do Norte. Sua economia se baseia na exploração da agricultura e da pesca. (Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983). Foto.

sábado, julho 29, 2006

Sou cidadão. Sou igual a Você

Com a expectativa de reunir o mesmo número de participantes do ano anterior (calculado
em 800 mil pessoas), a 11ª Parada do Orgulho GLBT-Rio 2006 acontece neste domingo,
dia 30 de julho, com concentração a partir das 13 horas no Posto Seis.
A praia de Copacabana e o sol de inverno no Rio de Janeiro formam o cenário perfeito para emoldurar o evento que irá preencher a orla carioca com as cores do Arco-Íris, numa grande festa pela Liberdade, direitos humanos, alegria, justiça social e pacifismo.
Com muita música e descontração, o evento traz trios elétricos (este ano com 28 solicitações de inscrições – um recorde), muitos deles reunindo autoridades, artistas, personalidades e ativistas de todo o Brasil. Site.

A vida fora do armário

Mudanças exigem lutas

"Quando estudamos a história da humanidade tomamos conhecimento que o homossexual sempre foi mal compreendido, perseguido, discriminado e em caso extremo morto. Aliás, sabemos que no Brasil centenas são mortos anualmente por conta da ignorância humana e a intolerância. Cristãos, judeus, mulçumanos, monarcas, republicanos, ditadores, nazistas, fascistas e comunistas em menor ou maior grau, dependendo da época e do contexto histórico, perseguiram e perseguem os homossexuais. Portanto, o mundo está impreguinado de homofobia (horror ao homossexual) e continuará assim, ainda por longo período. Mas esta realidade irá mudar. E você poderá fazer a sua parte, basta descobrir uma forma. A mudança só virá, e ela vem ocorrendo principalmente nos últimos 30 anos, com a intervenção das pessoas mais interessadas nesta mudança, que são os próprios gays. Seja de forma coletiva ou individual o Ser Gay irá impor-se na sociedade dos anos 2000. A grande dívida que a humanidade tem com o homossexual será reparada neste século." Site.

Sou cidadão. Sou igual a Você


Bruno Bertani e sua equipe de designers da Indústria criaram um novo posicionamento e campanha para a XI parada GLBT do Rio de Janeiro. Partiram de um conceito muito simples: desnudar as escolhas na vida, sejam elas de profissão, de estilo ou de orientação sexual. Uma campanha que mostra uma fatia da diversidade humana em profissões, raças, e orientação sexual e iguala todo mundo na cidadania e na essência de que todos somos seres humanos, idênticos na luta do dia-a-dia e na busca da felicidade. Site.

A vida fora do armário

Renato Russo

São muitas as celebridades que se alinham na galeria do mundo gay. Vão desde Verlaine (1844-1896) e Rimbaud (1854-1891), a Oscar Wilde, Gertrude Stein & Alice B. Toklas, Marguerite Yourcenar & Grace Frick, Allen Ginsberg & Peter Orlovsky, Tennessee Williams & Frank Merlo, Truman Capote & Jack Dunphy, Federico Garcia Lorca, James Baldwin, Jean Genet, Cole Porter, Edward Albee, Ziembinski, Marcel Proust, André Gide, os cantores Boy George, Elton John, Freddie Mercury, Liberace, Cazuza, Cássia Eller, Ângela Ro Ro, Edson Cordeiro. Além de figuras como Madame Satã, Margarida, Juiz de futebol carioca, Renato Russo (1960-1996), líder do grupo musical Legião Urbana, George Michael, cantor inglês, Elizabeth Bishop & Lota Macedo Soares, a primeira, poeta americana, que teve caso com a aristocrata carioca Lota Macedo Soares, responsável pelas obras do Aterro do Flamengo, no Rio, e ainda Salvador Dali, mestre da pintura surrealista e Christine Jorgensen, primeiro ser humano do sexo masculino a submeter-se a uma cirurgia que o transformou em mulher, em 1952. Site.

Sou Cidadão. Sou igual a Você


Fique por dentro e participe.
Para saber mais notícias sobre a organização da Parada do Orgulho GLBT-Rio,
acesse o site da Parada Rio, do Arco-Íris
ou visite a comunidade "Amigos do Grupo Arco-Íris" no Orkut .
Acesse e faça parte também da comunidade "Voluntários da Parada GLBT-Rio". Site.

A vida fora do armário

Jean Genet
Ladrão, prostituído, prisioneiro, mendigo, bastardo, Jean Genet é um dos monstros sagrados da literatura francesa. "Apenas um punhado de escritores do século XX, como Kafka e Proust, tem uma voz e um estilo tão importantes, tão autorizados, tão irrevogáveis", escreveu Susan Sontag no lançamento de romances do autor nos Estados Unidos, em 1963.
Genet passou a juventude em reformatórios e prisões onde afirmou sua homossexualidade. Enquanto compunha romances ou peças consagradas como "O balcão", "Os negros" e "Os biombos", criou uma chocante mitologia pessoal marcada por escândalos, roubos e rixas. Colecionou uma sucessão de amantes, que o acompanharam pelo bas-fond parisiense e conquistou o grand monde intelectual europeu. Seus primeiros trabalhos, "Nossa Senhora das Flores" e "O milagre da Rosa", chamaram a atenção de Jean Cocteau, mas foi através da influência de Jean Paul Sartre que ficou famoso.
O romance "Diário De Um Ladrão", do dramaturgo e escritor francês Jean Genet (1910-1986), fala do submundo. Como destaca Ruth Escobar na apresentação da edição publicada pela Nova Fronteira, Genet utiliza-se de uma linguagem essencialmente poética para descrever o mundo dos assassinos, das prostitutas, dos homossexuais, dos travestis e dos marginais de toda ordem, elevando-os à categoria de heróis.
Diário de um ladrão, Coleção: 40 anos, 40 livros, Autor: Genet, Jean, Organizador: Escobar, Ruth, Editora: Nova Fronteira. Primeira Edição: 2005 - 224 pág. Preço: R$ 24,90. Relançado em 2006. Ilustração: Jean Genet por Siegfried Woldhek.

quinta-feira, julho 27, 2006

Vanilde Rêgo: garimpando as botijas do afeto

Com o sobrinho Lúcio Flávio

Dois livros bem-sucedidos, na linha dos best-seller garantidos, que correspondem a duas preciosas arcas de informações sobre vicissitudes do passado, arquitetura de árvores genealógicas, segredos guardados de gerações, surpresas nas linhas de parentesco e descobertas sobre a evolução das estirpes que formam as famílias do Rio Grande do Norte foi a recompensa que a arquivista Vanilde de Sousa Rêgo ganhou, ao lado de grandes alegrias e emoções, depois que se dedicou a reconstituir a história de sua família, partindo da necessidade de saber quem é quem no palheiro de nomes que formam o tronco do conjunto de seus antepassados.
O primeiro livro, “A Família Rêgo de Portugal a Pao Ferro”, de 1995, lançado pela Fundação Cícera Queiroz, angariou-lhe prestígio e ascendência digna de uma celebridade, tal o manancial de informações que coligiu, passando a ser vista como uma liderança no setor dos levantamentos genealógicos, sendo consultada e paparicada por quantos gostariam de encontrar a sua árvore genealógica.
Neste segundo livro, ela levanta, entre outros, os descendentes das famílias Teófilo Elpídio de Souza Rêgo, de Delfino Horácio do Rêgo, Joaquim Epaminondas do Rêgo, Mariana Ricardina de Souza Rêgo, Alexandrina de Souza Rêgo, Agostinho de Souza Rêgo, Joana Batista de Souza Rêgo, Antônio Paulino do Rêgo e Luiz Sinésio do Rêgo Leite.

Vanilde Rêgo: garimpando as botijas do afeto

Lançamento do livro
“Através do primeiro livro, a família se conheceu. Tinha pessoas que eram casadas com primos e não sabiam, por conta disso. Por exemplo, Torquato também é Rego. É porque não usou o sobrenome. Usou Torquato, por uma questão de, antigamente, se pegar o nome próprio e colocar. Como meu pai. Ele nasceu no dia de São Vicente Ferrer, 5 de abril, mas não concordaram registrar o menino como Vicente Ferrer. E aí botaram Vicente Ferreira. Ferreira não é o sobrenome do meu pai. Apenas não quiseram registrar o meu pai como Vicente Ferrer. Então, tem esses casos interessantes na família.”
Vanilde Rêgo, arquivista por formação, hoje presta consultoria na área de Arquivo e Documentação, tendo sido diretora do Arquivo Público Estadual, em cuja função se aposentou. Coordena, atualmente, o Serviço de Arquivo Médico do Natal Hospital Center. “É um arquivo especializado, montado sob minha coordenação. Trata-se de um arquivo especial, e está dentro dos padrões modernos das técnicas de arquivo médico”, diz ela, que continua contabilizando vitórias na escrita de suas pesquisas, e lapidando com carinho as informações sobre a família, no tempo livre que encontra das atividades profissionais.
“Eu ensinei nove anos na cadeira de Arquivística na Facex. Ultimamente, dou treinamento para empresas. Terminei de coordenar o primeiro curso de Arquivo Médico para a FAL – Faculdade de Natal.” Domínio mágico e dos mais brilhantes, esse da Arquivística, um nome embora fora da giria e do uso comum, mas ultranecessário, significando técnicas e métodos para organizar documentos, algo imprescindível quando se fala da memória de todos nós.

Vanilde Rêgo: garimpando as botijas do afeto

Vanilde recorda como deu início a esse trabalho, hoje restrito a poucos profissionais no Rio Grande do Norte: – “Através de uma documentação que o meu pai, Vicente Ferreira do Rêgo, tinha, uns registros e documentos, eu ampliei e fiz um livro resgatando as origens da família, desde Portugal até a vinda para Pau dos Ferros. Neste livro estão registrados 1490 pessoas da Família Rego. Porque tem pessoas que são da Família Rêgo e não usam o nome. Como pessoas da Família Queiroz. Às vezes, foi registrado Queiroz, Florêncio, mas Florêncio era um nome próprio, que foi usado como sobrenome. Você, por exemplo, era para ser Paulo Rêgo Queiroz”, diz Vanilde para o colunista, que é filho da pau-ferrense Cícera Queiroz, irmã do ex-deputado federal Antônio Florêncio de Queiroz (1970-1991). Ver site.
“O ex-governador Garibaldi Alves Filho, por exemplo. A avó dele, Petronila de Sousa Rêgo, casou-se com uma pessoa da Família Chaves. Então, ele registrou os filhos como sendo somente Chaves. A mãe de Garibaldi, o nome de solteira era para ser Vanice Rêgo Chaves.”

Vanilde Rêgo: garimpando as botijas do afeto

Vanilde fala com entusiasmo das reuniões que a Família Rêgo começa a realizar, anualmente, a fim de celebrar os vivos e os mortos, além de fazer novas descobertas.
“Nós tivemos, agora, a primeira reunião dos descendentes do meu avô paterno, José Vicente do Rêgo. Foi uma experiência sensacional. A idéia é poder, no futuro, nos reunirmos todos. Fizemos com 200 pessoas, pois não deu para abranger todos. Foi no dia 22 de abril, e muitos não puderam vir, porque estavam fora de Natal.”
Ela conta as alegrias que teve para produzir seu mais novo livro, “José Vicente do Rêgo e Olímpia Maria da Anunciação”, publicado com o apoio do Café Santa Clara.
Um documento interessante que ela encontrou, e publicou, refere-se ao “Dicionário para Conversar com o Namorado”, todo cifrado, que era posse de seus avós.
“Este eu fiz questão de colocar no livro, para despertar a atenção dos adolescentes, para a história, e também para preservar. É o Dicionário para Conversar Com o Namorado, ainda dos anos 30. Naquela época, a moça não podia namorar com o rapaz. Principalmente no interior, em nossa região de Pau dos Ferros, onde a educação era muito rigorosa. Então, o que acontecia? Inventaram um dicionário para conversar por sinais. Cada sinal significava uma coisa. E eu fiz questão de colocar na linguagem da época. Por exemplo: abaixar a cabeça = estou às ordens. Abrir o livro = estou alegre em te ver. E há uma série de coisas engraçadas, que eu coloquei para os adolescentes verem como era difícil nessa época uma simples conversa de namorados.”
Ela tem um grande projeto, e acha que será viável com a ajuda do máximo de parentes.
“Um dia, eu pretendo até fazer um museu da família. Isto é uma coisa que se pretendo. Porque poucos livros de família têm documentos sobre a família. E neste livro nós temos documentos da família. Diferentemente de outros, nós temos documentos originais da própria família. Preservamos os documentos e os registros fotográficos. Então, a nossa família é um pouco diferente. Talvez haja outras, mas eu desconheço.”

A voz dos intelectuais


A voz dos intelectuais
"No Brasil, a democracia está longe de ser óbvia. No passado, tivemos pensadores que formulavam políticas, achando que elas podiam ser executadas sem passarem pelos procedimentos democráticos. É o que não podem fazer mais em nenhuma hipótese os pensadores que escolheram ser intelectuais. Sabem que não há caminhos fora da democracia. Suas críticas, análises e propostas não são receitas de iluminados, mas elementos destinados a alimentar processos públicos de debate. Se suas idéias não forem aceitas, o intelectual apaga-se diante do povo soberano, única fonte de legitimidade numa sociedade civilizada."
Sergio Paulo Rouanet, doutor em ciência política
e membro da Academia Brasileira de Letras, no artigo “A Voz dos Intelectuais”. Foto.

A saga da Alcanorte continua

O produtor cultural e ex-suplente de deputado federal João Eudes Gomes entrou com duas petições, dirigidas ao chefe do Executivo de Macau, o prefeito Flávio Vieira Veras, e ao presidente da Câmara Municipal, José Severiano Bezerra Filho, o Zé Filho. No documento, de teor idêntico, ele solicita respostas a algumas indagações acerca do destino do empreendimento Alcanorte, configuradas nas seguintes questões:
– “Qual foi a providência extrajudicial ou judicial (ação por ventura impetrada por esta municipalidade) para ajustar, corrigir, o procedimento, a conduta anti-social, antijurídica do grupo econômico – Cirne, Álcalis, Salinor, Noválcalis –, em relação ao cumprimento do princípio constitucional da função social da propriedade, ou seja, reativação da Fábrica de Barrilha situada neste município? Fábrica esta que, se estivesse cumprindo sua finalidade, funcionando a contento, reverteria vários empregos e renda para a nossa região salineira?”
No documento, encaminhado neste mês de julho, João Eudes solicita que a informação requerida, para fins de direito, deve ser encaminhada ao solicitante no prazo legal de 15 dias, conforme preceitua o Artigo 1º, parágrafo 5º, da Lei 4.717/65.
A seguir, trechos da entrevista que o RADAR POTIGUAR fez com João Eudes, a fim de esclarecer e dar detalhes sobre a petição e sobre a situação da Fábrica de Barrilha em Macau. Foto Antonius Manso.

A saga da Alcanorte continua

RADAR POTIGUAR – O documento ao qual você deu entrada é uma petição. Qualquer cidadão pode fazer. Mas acontece que esta já vem como seqüência de um processo que está em andamento em Macau, né isso?
JOÃO EUDES GOMES – Nós estamos encaminhando para a Câmara Municipal de Macau e para a Prefeitura de Macau uma petição para pedir ao prefeito e ao presidente da CMM quais foram as providências que eles tomaram com relação com relação à fábrica de barrilha. Haja vista que é uma fábrica dentro do município – já que é um empreendimento que, se estivesse funcionando, estaria dando grande contribuição para a região salineira. Pedimos informações às autoridades. Indagamos ao Poder Legislativo, que é um poder fiscalizador, e ao Executivo, que é um poder que tem o dever de tomar providências nesses casos de obras inacabadas, de obras paralisadas, de obras abandonadas. Não pode ficar dentro do município uma obra inacabada, sem que o município notifique os responsáveis por isto. De 1974 até agora, você tem 32 anos de embromação, de ludibriação da opinião pública. E aquela obra da forma que ela está, causa grandes danos, a começar pela paisagem, à estética. Inclusive, pondo em risco a saúde da população. Como ela está, coberta de mato, torna-se um criadouro para o mosquito da dengue (Aedes aegpty). Existe até uma legislação que proíbe essas obras de ficarem desse jeito, abandonadas. A obra tem o direito de propriedade assegurado. Agora, antes do direito de propriedade, conforme o Artigo 182 da Constituição Federal, a propriedade tem que cumprir a sua função social.

A saga da Alcanorte continua

RADAR POTIGUAR – O caso da Alcanorte está correndo na Polícia Federal de Mossoró. Agora, no caso da petição, você fala sobre a Cirne e outras empresas do município. De que se trata, na verdade?
JOÃO EUDES – Vejamos o caso da Cirne. Essa empresa, traduzindo para o reino animal, ela vem se comportando como uma questão camaleônica. Ela era Cirne, depois passou para Álcalis, depois passou para Salinor. E depois passou para Noválcalis. Tudo isto para fugir da responsabilidade, do compromisso que a empresa tinha assumido. Inclusive, a Cirne dando como garantia as suas máquinas, os seus bens, na questão da Alcanorte. Para fugir, ela vem mudando de razão social. Para lá na frente, quando forem, mesmo, apurados os fatos, eles tenham conseguido fazer uma manobra, trocado de nome, e os bens não sejam penhorados. Haja vista que o próprio Governo do Estado, o Governo do município, num descaso total, num total desrespeito ao patrimônio do povo, não dispõe de dados suficientes para evidenciar essa questão. Porque se sabe que a Alcanorte, sendo a maior devedora do banco quebrado, o BDRN, tinha dado como garantia determinadas máquinas. E a verdade é que nem o município dispõe dessas informações, desse rol patrimonial. Essas pessoas lesaram a sociedade e continuam aí, impunemente, rindo da cara da sociedade.
RADAR POTIGUAR – Neste período, passaram quantos prefeitos ao longo da tragédia que é a Alcanorte. Pelo tempo decorrido e por tudo que se sabe, existiram e existem relações promíscuas entre o Poder Público e essa empresa. O que aparenta é que eles têm um poder muito grande dentro de Macau.
JOÃO EUDES – Nesse período, passaram José Heliodoro de Oliveira, que foi o prefeito. Inclusive na época, 1975, ele pegou o período do golpe; pegou Cledionor Francisco de Mendonça, o Chiquinho, o Quidinho. E, após o Quidinho, veio José Oliveira de novo. Quidinho governou seis anos. Houve uma prorrogação, e ele governa de 1976 a 82. E depois de Zé Oliveira, no período de 78 a depois de 82. E, depois de 82 a 88, Zé Oliveira de novo. Depois de Zé Oliveira, Afonso de Ligório Lemos, o Afonso Lemos. Depois Manoel Cruz, Tatá, e em seguida, José Antônio Meneses, dois mandatos. Após ele, o Flávio Veras. Todos eles foram omissos, subservientes. Em grande parte, todos eles foram responsáveis por esse descaso. Historicamente, eles vão levar essa cruz, como pessoas que tiveram um descaso absoluto pelo município.
RADAR POTIGUAR – Quando você fala que a Cirne é praticamente a proprietária de Macau, como se dá essa relação, no decorrer dos anos, com o poder público?
JOÃO EUDES – Ela é a proprietária, até porque Macau é uma cidade sem lei. Macau é uma cidade da bandidagem. Do crime organizado. Agora, por que a cidade é “dela”? Porque a cidade não tem um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. Teve, mas nunca foi aplicado. Está obsoleto. E o que está acontecendo. O que se vê? É o governo inventando obras, sem que essas obras estejam legitimadas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento. E isto na cara do Ministério Público, da Justiça. Porque é proibido você fazer o desenvolvimento aleatório. O desenvolvimento tem que ser planejado. Isso é um principio da administração pública. Ele tem que se remeter ao PD, já que a lei diz que o PD é a lei mais importante da cidade. E está normatizado isto, na própria Constituição Federal, que é a lei maior do país. E o próprio poder público se nega a aplicar a Constituição. Isto eu mesmo reconheço, quer dizer que Macau é uma cidade em que a lei não vale.

A saga da Alcanorte continua

RADAR POTIGUAR – Na arte da guerra, do embate, do confronto, a gente vai até onde o inimigo recua. Ou seja, a gente deixa alguém o inimigo entrar até onde permite. No caso, a empresa entrou, e tomou conta sem qualquer empecilho.
JOÃO EUDES – A empresa entrou desde o Brasil colônia. Porque o que ninguém diz é que, na origem daquelas terras ali, ela vem com um tratado Roma. Esse Antônio Ribeiro Roma foi quem pegou uma concessão doada pelo Marquês de Pombal. Aí vieram esses terrenos de salina todos doados. Aí o empreendimento não deu certo. E aí eles passaram para a Companhia Comércio Navegação. Quer dizer, na época da colônia se jogava assim, como quem se joga um bolão na parede: aquilo ali é seu, e acabou. Aí quando veio a República, aí veio para a Companhia Comércio & Navegação. A CCN faliu. Naquele escândalo Sunamam. O proprietário, Paulo Ferraz, atirou no coração, um tiro de 219 bilhões. Ele entrou em insolvência e atirou no coração. Para poder pagar, com a vida, o dinheiro da nação. O dinheiro da Marinha Mercante, que cobravam ao advogado dele. Foi o maior escândalo. O escândalo Sunamam. Foram 219 bilhões. Aí, depois, é que entra o grupo holandês, Akso, e depois isto é vendido, numa transação, para Fragoso Pires. Agora, a Cirne sempre mexeu com sal. A Cirne, a atividade econômica dela lá (em Macau) é sal. Então, ela não mexe com imobiliária. Não tem nada a ver com terra. A terra é de onde se produz o sal. Agora, ela mapeou toda a cidade. E como não existia a lei, era o tempo da escuridão. Não existia democracia, era a ditadura militar, ela deitou e rolou. Agora, hoje, a lei, a legislação é clara.
RADAR POTIGUAR – De modo que não veio um gestor, durante todo esse tempo, com a cabeça nova.
JOÃO EUDES – Não. Eles estão lá em 1912. Eu estou dizendo a você. Eles estão lá em 1916. Já tem um Código Civil, feito em 2002, que diz que a propriedade é garantida, agora, ela tem que cumprir a função social. Eles têm terras que estão lá devolutas (termo jurídico: restituição ao primeiro dono), abandonadas. Que, por falta, de uma lei específica, criada pelo município. E aí a culpa não é só do prefeito. Você tem que ver a incompetência, a incapacidade, a inutilidade da Câmara de Vereadores, que é o Poder Legislador. Que nem cobra do prefeito, nem faz. Pois a lei diz que é função da Câmara Municipal cobrar. Exigir do prefeito. Inclusive, a Câmara tem até uma Comissão Permanente de Desenvolvimento Urbano. E essa comissão era quem deveria. Mas eles são omissos e incompetentes mesmo. Macau é desse jeito. Os poderes não funcionam. Funcionam para o Mal. Quer dizer, e a omissão é crime.
RADAR POTIGUAR – Como a gente não vê as vozes se levantarem, a não ser a sua e as de uns poucos abnegados. A gente percebe também, que acontece. Não existem pessoas interessadas em fazer alguma coisa.
JOÃO EUDES – Este movimento, de defesa do desenvolvimento sustentável, sempre contou com a participação de jornalistas, com a participação do movimento popular, de animadores populares, de artistas, de pessoas do povo. Agora, só que essas pessoas não têm as condições como a prefeitura. A prefeitura dispõe de R$ 62 milhões (receita). Tem mais de nove advogados assessorando juridicamente a prefeitura. A Câmara Municipal tem condições de contratar bons advogados, para assumir uma questão dessas. Mas, como eles estão mancomunados com o governo. Quando é a casa de um pobre, eles mandam derrubar. Quando é do rico, eles consagram. Inclusive, até acoberta. Apóiam, incentivam. E isto que vem acontecendo em Macau. E além do mais, eles ainda tiram uma onda de jogar a culpa na população. Quer dizer, a população elege governantes covardes. Que não assumem o seu dever, o seu papel, eles são pagos para isto. São remunerados para fazer, não fazem, e ainda jogam para a população, que a população é a responsável.

O futuro roubado


O futuro roubado

“A possibilidade de uma sociedade republicana com relativa justiça deve começar por dar a cada cidadão igualdade de oportunidades na partida do feroz processo competitivo que encontrará no universo econômico. (...) A educação na periferia da capital, por exemplo, revela uma incompetência incapaz de ser adjetivada. A qualidade do ensino dos filhos das famílias mais pobres, que lhes deveria dar a igualdade de oportunidades quando se iniciarem na vida, foi substituída por fogos de artifício (um calçãozinho e uma camiseta estrelada que os levaria aos céus), acompanhados pela demagogia pedagógica. Roubaram o seu futuro!
Para o dano deles e da sociedade.”
Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Economia
(CartaCapital 403, de 26.07.06.) Charge Antonio Amâncio.

João Eudes: a defesa de Macau

JOÃO EUDES
Contra o Dragão da Maldade

Para os que não conhecem o perfil do produtor cultural macauense João Eudes Gomes, ex-suplente de deputado federal, vale salientar sua permanente e intransigente preocupação com os destinos da população da cidade, e do próprio município, em si, já que, a seu ver, "Macau se constitui, no Rio Grande do Norte, em uma das cidades mais ricas e abençoadas pela natureza". Para fazer justiça, devemos reconhecer o formidável banco de dados em seu poder, que muito nos auxilia na realização do trabalho em defesa de Macau e do Rio Grande do Norte por este RADAR POTIGUAR. Assim como deve-se fazer jus ao conhecimento legítimo e vívido das mazelas e situações mais escabrosas experimentadas pelos moradores de Macau e do Rio Grande do Norte, graças aos descaminhos dos que ocupam o Poder Público ao longo das últimas décadas, fatos que revoltam o pensador e articulador, um dos poucos em Macau e no Rio Grande do Norte que ainda fazem a demonstração pública de incômodo com a nossa desdita.

João Eudes: a defesa de Macau


MACAU: VIRTUALIDADES DESPERDIÇADAS
Ele lamenta que as virtualidades do município, em termos de suas reservas naturais, não tenham merecido do Poder Público, no decorrer de décadas de acompanhamento pessoal de prefeitos e vereadores e suas gestões, a atenção merecida, em termos de aproveitamento e retorno para a população. Por isto, se faz, voluntariamente, representante do povo de Macau.
Afora outras ações ajuizadas a fim de defender interesses da população da cidade, João Eudes deu entrada no Fórum de Macau ainda em fevereiro de 2001 na ação ordinária promovida contra o município de Macau, no caso específico da Alcanorte. Conta, portanto, com cinco anos de trâmite, já tendo passado pelas mãos de alguns juízes, que chegaram, nesse período, a ocupar a função na Comarca de Macau. João Eudes Gomes contou com a ajuda do escritório do advogado Ednaldo Pessoa de Araújo, constituído para o acompanhamento do caso.

João Eudes: a defesa de Macau

Cultura: Modelo
para todos os municípios
Tendo ocupado as funções de secretário municipal de Cultura, durante cerca de dois meses, no início de 2005, na primeira administração de Flávio Veras, João Eudes apresentou um programa de governo e uma plataforma para sua pasta que primava pelo arrojo e pelo ineditismo, em termos de abrangência e alcance social. Demitido do cargo da Cultura pelo prefeito-substituto, o presidente da Câmara Municipal de Macau, José Severiano Bezerra Filho, o Zé Filho, no impedimento de Flávio Veras, João Eudes não se acomodou, prosseguindo na articulação para fazer valer seus direitos de cidadão, cobrador das prerrogativas legais facultadas à cidadania.
Em outra frente, João Eudes mantém um projeto de comunicação social, sendo o diretor presidente da Rádio Comunitária Solidariedade, FM 93.5, num trabalho respaldado pela normatização da legislação federal. As recompensas são, contudo, o eterno confronto. Como paga pelos serviços, recebeu a ameaça de desocupar o prédio onde funcionava a rádio na rua Dom Pedro II, no 8, solicitado que foi pelo seu proprietário, o prefeito da cidade, Flávio Veras. E a ameaça efetivamente se concretizou, tendo a emissora se alojado em novo endereço.

João Eudes: a defesa de Macau

A periferia nocauteia o Poder Público

Uma das ações bem-sucedidas de João Eudes em Macau refere-se à ação popular impetrada contra o despejo do lixo da cidade na área do Maruim, setor da periferia onde se estende parte das favelas do município. Nesse caso, a ação teve de esperar 1.825 dias, o que representa em torno de 43 mil horas de vigília, para a população ver o resultado da Ação Popular nº 139/2000, que tinha como objetivo a retirada do Lixão da área do Maruim, onde o acúmulo de detritos, além de descaracterizar e deteriorar a Gamboa dos Barcos, atingia o bem-estar de uma população em torno de 1000 pessoas. A ação tinha como objetivo, ainda, a recuperação de toda a área, degradada em virtude do tempo de permanência do depósito de detritos de toda a cidade.
Uma das novidades na apresentação e decretação da sentença foi a leitura da sentença, que condena o poder municipal, em plena área em questão, com a presença de todas as partes que compõem a Ação Popular presentes. A sentença chegou, igualmente, respaldada no halo das comemorações do Dia Mundial do Urbanismo, festejado a 8 de novembro. Na foto, o juiz Marcus Vinicius Pereira lê a sentença contra a Prefeitura de Macau em pleno Lixão do Maruim.

João Eudes: a defesa de Macau

Vale ressaltar que João Eudes foi um dos candidatos mais votados nas eleições de 2002, quando emprestou seu nome para a disputa de uma cadeira de deputado no nível federal, tendo sobrepujado, em Macau, os votos dirigidos para o deputado "Copa do Mundo", Henrique Eduardo Alves, filho do ex-ministro Aluízio Alves, então presidente do PMDB, candidato mais abonado igualmente em termos financeiros e com tradição de votos, eleito consecutivamente em seis legislaturas. Nessa eleição, João Eudes ficou como suplente de deputado federal, em virtude do volume de votos recebidos de seus conterrâneos.
Na ação contra a Alcanorte, ao concluir seu bem escrito e informado arrazoado, no qual levanta a questão da Alcanorte desde os seus primórdios, na década de 70, o advogado paraibano Ednaldo Pessoa de Araújo apresenta um pedido de citação do município de Macau, através de seu representante legal, botando, portanto, o prefeito em exercício na condição de réu. O teor da solicitação refere-se ao pedido de decretação, por aquele poder judiciário, da nulidade do ato de doação da área onde se encontra instalada a vila industrial da Alcanorte, determinando sua imediata reincorporação ao patrimônio do município, assegurando sobretudo o direito de moradias às famílias ali residentes. (Publicado no Caderno de Encartes do Jornal de Natal em 19.06.06.)

segunda-feira, julho 24, 2006

O RN vive de perdas e danos

Valério Mesquita
Escritor



As décadas de setenta e oitenta foram pródigas em projetos faraônicos no Rio Grande do Norte. Eles sucederam o malogro da política de investimentos dos artigos 34/18 da velha Sudene para desenvolver a agropecuária e a indústria. Somem-se também os malfadados reflorestamentos, a fundo perdido, que enriqueceram espertas figuras da vida pública e empresarial. Tentava-se adivinhar o que convinha ao Nordeste. Ao novo Nordeste preconizado pela demagogia política à época. A região transformou-se num laboratório de idéias inúteis, que sempre enriqueciam minorias privilegiadas. O Rio Grande do Norte pedalava, pedalava, igual a Robinho. Foto.

O RN vive de perdas e danos

Entregar o ouro...

Quem não se lembra da famigerada Alcanorte (barrilha), bandeira sustentada por muitos anos pelo deputado federal Antônio Florêncio, que morreu de tanto sonhar. Imagine quem retomou o projeto de Florêncio? O gângster Fragoso Pires, que trouxe de Cabo Frio (Rio de Janeiro) a malandragem empresarial, que embaiu o povo e o governo do nosso estado. Fragoso abraçou o projeto com o apoio da Assembléia Legislativa, tornou-se cidadão potiguar e, depois de enganar todo o mundo, deu o fora. Quase à mesma época, ou um pouco antes, surgiu um conde decadente da realeza européia querendo transformar as algas marinhas em alimento. Criou o projeto Algimar e passou a caminhar com desenvoltura nos gabinetes oficiais e na sociedade natalense. Rumo ao mar com a Algimar, diziam os incautos. A empresa naufragou depois, em mar de dívidas e frustrações.

O RN vive de perdas e danos



Um céu de possibilidades...

Chegou o governo de José Sarney. E, com ele, a ZPE, zona de processamento de exportação. Antes de ser um projeto estadual ou nordestino, tornara-se agenda positiva do governo federal, vivia-se a febre desenvolvimentista dos tigres asiáticos. E onde seria instalada? Ora, em Macaíba, na BR-304, onde se implantou, posteriormente, o CIA. Exercia o meu primeiro mandato de deputado estadual. Vibrei e vi antecipadamente a redenção da Grande Natal e, quiçá, do Rio Grande do Norte. Falou-se muito. Vieram técnicos do Ministério do Planejamento. Reuniões, entrevistas e, após criarem imensas expectativas, sobreveio o fracasso, a decepção, com marcas profundas na credibilidade do povo por seus governantes.

O RN vive de perdas e danos


Crônica espera


Cadê o pólo cerâmico tão badalado por Benayon, cuja central instalou-se em Macaíba com o nome de Porcelana Beatriz? As vilas rurais, o projeto Boqueirão e a ampliação do Porto de Natal? Tudo passou como cortina de fumaça, por falta de empenho e continuidade. Aí, chegou a vez de sonhar com a refinaria de petróleo. Volta a se iludir a classe política. Mas, o carma existe e o Rio Grande do Norte padece e sucumbe mais uma vez. Pernambuco leva a melhor. E, na crônica empresarial do tempo, a história registra mais um fracasso e volta-se a viver novamente de longas esperas. Da mesma forma com relação ao Aeroporto de São Gonçalo, a ferrovia trans-nordestina e a duplicação da BR-304/ 101. Só resta um canto fúnebre sobre as ruínas de projetos insepultos. (Publicado no Jornal de Hoje, 15.09.2005.) Site Valério.

O que as elites fazem do RN


A PERPETUIDADE DA LOMBRA POTIGUAR

"Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára"
(O Tempo Não Pára, Cazuza -
Composição: Cazuza / Arnaldo Brandão - Foto)

Um estadista temporão

Vilma recebeu a proposta entre estatelada e deslumbrada. Por momentos, ficou imóvel como uma estátua para, em seguida, lentamente, poder compreender e absorver toda a revolucionária dimensão da proposta, a essência do enredo que seu ex-marido estava a lhe relatar. Interessante, pensava ela, como a política é abstrusa.
Lavô tinha convidado a ex-mulher, com a advertência de que tinha algo "excepcional" para lhe propor. Ele a recebeu na varanda da Casa Grande, na fazenda.
– Quero logo adiantar que não se trata de interesse pecuniário, pois estou bem de dinheiro, não preciso pechinchar outro salário.
Garanti um soldo que para mim é o suficiente. Como ex-governador, ex-deputado e ex-senador, boto a mão numa laminha todos os meses. Não é isto que me move neste momento.
Contou-lhe, então, o que sucedeu. Estava fazendo seu cooper matinal, logo depois de restabelecer-se da estada no hospital, onde estivera a cuidar um quadro de infarto, quando apareceu um preto velho. Era um homem negro, sofrido, cuspido e cagado a imagem do Preto Velho que toda gente vê nas lojas de candomblé. O homem era mesmo um tribufu: maltrapilho, mal-alimentado, mal-amanhado, muito franzino, faltava a maior parte dos dentes e trazia um chapéu de palha na cabeça. Com um saco às costas, dava uns engulhos, como se mascasse algo que devia ser fumo-bravo. Foto.

Um estadista temporão

– Pois bem – disse ele –, foi daquela boca desdentada que saiu um bafejo de sorte, com todas as características de um vaticínio. O homem se acercou de mim e disse: – “Se o doutor sair candidato, conte com os votos da gente”. Aquilo me soou como uma cantada. Ou melhor, uma revelação da palavra divina. Primeiro, me assustou e me causou arrepios, como ocorre com as coisas sobrenaturais. Mas foi o que me fez tomar a decisão de lançar minha candidatura a deputado estadual, tirando-me da inércia e da inoperância. Pensei que poderíamos, juntos, dar de presente ao funcionalismo o Plano de Cargos e Salários, cuja primeira discussão remonta ao meu governo, e que agora retorna na sua gestão, lá se vão quase 30 anos. Veja que força prodigiosa possui o nosso povo. Num instante, eu não era ninguém, estava condenado ao ostracismo e à ignomínia do anonimato. No momento seguinte, sou tocado pela varinha de condão desse povo, que faz de mim um personagem e me coloca na história outra vez, me resgata da névoa do desprezo. E é esse mesmo povo que nos constrói no dia-a-dia, que nos formata e codifica, que nos esculpe com suas mãos calejadas e, principalmente, nos sustenta. Somos ao mesmo tempo criadores e criaturas dessa população despojada que, apesar de viver jogada em favelas sórdidas, em condições infames e absolutamente sem horizontes, possui, no entanto, uma generosidade sem limites. Nem sei se aposentado o velho era. Talvez, não, pelo seu estado precário. Mas desapareceu nas quebradas da estrada, me deixando boquiaberto com a oportuna catucada que me deu. Um beliscão para a vida. Pois eu não traduzi aquilo como um estalo? Para mim, foi o estalo de Vieira”, disse Lavô, referindo-se à história do padre Antônio Vieira.

Um estadista temporão

E explicou a Vilma que o grande orador português, nascido em Lisboa, em 1608, e que veio para o Brasil aos 6 anos, o menino, que alcançaria fama de pregador eloqüente e culto, cuja oratória fundou as raízes da literária brasileira, na escola não era considerado aluno inteligente. Até o dia em que teve forte dor de cabeça, que quase o levou à morte, causada pelo que o menino identificou como um “estalo” na cabeça. Depois disso, ele passou a entender tudo com facilidade, passando o fenômeno a se chamar o “estalo de Vieira”.
Relatou então à ex-mulher, que andava tomado de uma grande dúvida existencial e que botara na cabeça que o político só é estadista quando tem um memorial ou uma fundação que lhe venere a memória.
– Você já percebeu o senso de oportunidade de Aluízio Alves aqui no Estado, de José Sarney, no Maranhão, e de Antônio Carlos Magalhães, na Bahia? Todos eles possuem memoriais, como um templo a salvaguardar suas reminiscências. Por aqui, um exemplo que a gente vê também é o do presidente da Assembléia Legislativa, Robinson Faria, que tem um auditório com seu nome dentro da Casa do Povo.
Vivendo esse dilema de ordem existencial, que o consumia, mais do que as ameaças das coronárias, disse a Vilma que a sua volta triunfal ao poder seria como o renascimento de uma fênix, “ave fabulosa, única da espécie que, após viver 300 anos, supostamente, deixava-se arder em um braseiro para, em seguida, renascer das próprias cinzas”.

Um estadista temporão

Lavô fez, então, o pedido extremo à mulher: que ela lhe ajudasse a reconquistar seu posto na Assembléia Legislativa. Mas não era só isso:
– Queria que você me ajudasse na construção da minha efígie, esculpida na rocha, a exemplo da dos presidentes norte-americanos George Washington (1732-1799), Thomas Jefferson (1743-1826), Theodore Roosevelt (1858- 1919) e Abraham Lincoln (1809-1865), no Monte Rushmore, em Dakota do Sul, nos Estados Unidos. Quero ver-me retratado na rocha do Pico do Cabugi. Mas não quero brigar com ex-governadores. Longe de mim entreveros com a família de Aluízio Alves, não quero celeuma com Geraldo Melo. E, quanto a Agripino Maia, é um parente nosso, a coisa fica em família. Quero preservar minha memória e ter um funeral à altura de um estadista. E que minha história fique eternizada no granito. E tem mais: até já escolhi quem vai talhar na rocha a minha imagem, tendo de cada lado um anjo barroco, com feições femininas”, determinou, cheio de salamaleques, continuando na sua explanação.
– Quero para assinar a obra o escultor Jordão, artista genuinamente potiguar. Ele fez a escultura de Iemanjá na praia do Meio, monumento reverenciado todo final de ano, por incontáveis cultores das artes e cativos fiéis em suas contrições. No meu caso, o projeto se assemelha ao do historiador oficial do Estado americano de Dakota do Sul que, em 1923, teve uma genial idéia para atrair mais turistas ao seu estado. E não foi botando meninas seminuas nas ruas. Partiu para construir a maior escultura do mundo”, disse, adiantando que ainda tinha outra coisa a lhe propor. E que ela iria aceitar. Foto.

Um estadista temporão

Gutzon ou Gusson?
E passou a relatar a epopéia para a construção da Galeria dos Presidentes, como reforço às justificativas para sua obra pessoal. Que foram quase quinze anos até a conclusão dos trabalhos. Que a idéia era do pintor e escultor Gutzon Borglum. Que ele iniciou os trabalhos em 1927, mas que não viu a obra ser finalizada, pois morreu em 1941, quando os rostos estavam quase prontos. Que cada uma das faces dos presidentes possui cerca de 20 metros, do topete ao queixo de cada figura. E partiu para uma cartada definitiva, que balançasse o coração de Vilma:
– Meu sonho é igualmente oferecer emprego e renda à nossa população. Jordão irá precisar de uma legião de trabalhadores para a dinamitação e perfurações do Pico do Cabugi. Com certeza, a obra irá atrair turistas, como ocorre em Dakota do Sul, onde estão eternizados na rocha. A obra, com o rosto dos quatro presidentes mais importantes da história americana, até aquela época, foi concluída 14 anos após o início dos trabalhos, pelo filho de Gutzon, cujo nome até lembra o de Gusson. Vade retro, Satã! Bate três vezes na madeira, Vilma!

Um estadista temporão

Em seguida, disse a contrapartida para a solicitação que fazia:
– Pretendo também votar e fazer aprovar com meus pares, na Assembléia, a construção de duas estátuas retratando sua pessoa, a serem afixadas nas duas cabeceiras da “Ponte de Todos”. Uma outra, em tamanho gigante, ficará na Boca da Barra, na altura da Pedra da Bicuda. Você ficará no granito, como a Estátua da Liberdade, que está na entrada do porto de Nova York desde 1886.Vilma estremeceu, por instantes. Levantou as sobrancelhas e deu uma risada a la Ana Maria Braga. O inusitado da provocação lhe incomodara de início, ao mesmo tempo em que lhe deliciava, pela perspectiva de ver-se como objeto de tamanha consideração. Depois de mastigar e digerir a primeira proposta, a de ver o ex-marido retornar à vida pública, esta segunda cantada, justamente pelo que tinha de extraordinário, era por demais sedutora. O retorno de Lavô como deputado estadual, apesar da idade e de um currículo pudico, ela contrastava com acontecimentos próprios da vida pública, que terminaram por convencê-la de como a política, principalmente no Rio Grande do Norte, tem proporções e vicissitudes que fogem à compreensão do comum dos mortais. Quando na vida ela poderia imaginar que um dia teria afinidades, trocaria gentilezas e seria companheira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aquele sapo abominável de outrora, cuja ojeriza hoje instala-se num passado aparentemente tão distante, e que jogou para sempre nas brumas do esquecimento as escaramuças que tivera com Fátima Bezerra, uma deputada federal do PT que agora a corteja e de quem contém as veemências?

Um estadista temporão

E considerava: quantas imprudências se consolidaram ao longo do tempo, sem que houvesse qualquer estorvo para seus idealizadores? Quem teria a audácia de cobrar o desaparecimento dos 700 milhões de reais da venda da Cosern no governo de Garibaldi Alves? Quem perturbaria o sono dos justos do autor da falência de dois bancos estaduais – o Banco do Estado do RN (Bandern) e Banco do Desenvolvimento Econômico do RN (BDRN) – na administração de Geraldo Melo, gestor público que também levou à falência sua própria usina com dívidas anômalas e impagáveis ao Banco do Brasil?
Sem falar, refletia, que Geraldo é aziago: veio destruir um encantamento que havia no Estado, com a harmônica continuidade dos políticos da Família Maia, há 12 anos no poder, desde a entrada em cena de seu patrono, Tarcísio Maia, que governou de 1975 a 1979, que garantiu a indicação de Lavô, para governar de 1979 a 1983, até chegar à indicação de José Agripino, governador de 1983 a 1986, numa linha direta de sucessão, que permitiu imprimir a marca da família na administração pública do Estado.

Um estadista temporão

Final
Aquilo que, num primeiro momento, ganharia um aspecto de assombro incongruente, poderia transmudar-se em um sucesso na sua carreira. Convenceu-se de que as grandes invenções e descobertas, que maravilham a humanidade, surgem exatamente de mentes ousadas, que têm o privilégio de viverem num tempo fora do nosso tempo. Determinam-se por medidas que fogem por completo ao diapasão e ao esquadro de suas épocas. Do contrário não criariam o novo tempo. Exímia administradora das maravilhas da publicidade, ela sabia como tratar da sugestão. A opinião pública, no seu caso, sempre fora uma aliada. Com um empurrãozinho da varinha mágica do marketing, com suas ações estrategicamente formuladas para influenciar o público a aceitar e comprar determinada idéia, instituição, marca, pessoa, produto, serviço, tudo seria resolvido. No reino da fantasia, concordava com Lavô, absolutamente tudo é possível e factível. Lavô mostrava-se esperto, ao perceber os sinais do seu tempo, a nova moral que se instalou na política, onde nada mais assusta, mas também nada mais se sustenta de pé. (Publicado no Caderno de Encartes do Jornal de Natal de 08.05.06.) Foto.

Jóias do Potengi

LUIZ GADELHA
"Nascido em Natal (RN), começou sua carreira cantando em espaços culturais da capital potiguar. Em 1996, foi classificado no I Festival de Música do SESC,
que possibilitou a gravação de uma música no CD do evento.
Em 1999, participou do Projeto Seis e Meia, no Teatro Alberto Maranhão, abrindo o show de Morais Moreira. No ano de 2001, lançou, na Casa da Ribeira, seu primeiro CD independente "Flor de mim", com canções próprias e de outros cantores. Classifica-se em 2004 no Cosern Musical com o show "Nu com minha música", que ressalta o trabalho autoral e voltado para o drums bass, samba e rock ao mesmo tempo, sem fusões. O cantor e compositor - três vezes consecutivas (2001, 2002, 2003e 2004) indicado ao Prêmio Hangar de Música Potiguar - acata definitivamente a musica eletrônica, com a presença do rock e do samba, com letras que falam do amor desperdiçado, da dor e das tristezas cotidianas e contemporâneas". Foto cedida. Fonte.

Tanto faz...



"São todos iguais."






O prefeito do terceiro maior colégio eleitoral do Rio Grande do Norte, de Parnamirim - com 73.704 eleitores, segundo dados do IBGE de 2004 -, Agnelo Alves (PSB), diz que pertence ao mesmo partido da governadora do Estado, Wilma de Faria, por uma questão de "estar" no PSB, que tanto "poderia ser PMDB, PSDB ou mesmo PFL", uma vez que "são todos iguais". (Entrevista ao Jornal de Hoje Primeira Edição, 12.06.06.) Ilustração.

domingo, julho 23, 2006

Para não esquecer

As minas do sertão

Parelhas
Cabaré pode virar centro de apoio
F. Gomes, de Caicó
A vereadora Mauricéia Gambarra (PMDB), do município de Parelhas, propôs transformar o cabaré da cidade num centro de apoio a adolescentes envolvidas com a prostituição na cidade. Em Parelhas, o prostíbulo é do município e as despesas com água e energia são pagas pela prefeitura. O caso não é novo, mas o assunto entrou em discussão na Câmara Municipal. Integrante do sistema do prefeito Antônio Petronilo, Gambarra levantou a voz, achando que esse quadro tem que mudar.
O bordel foi inaugurado há 20 anos, na gestão do então prefeito Arnaud Macedo. Desde a construção, com recursos públicos, que o prédio vem sendo mantido com dinheiro do contribuinte. Durante as duas décadas, os prefeitos sempre se esforçaram para que a casa de prostituição funcionasse.
"Estamos defendendo, através de requerimento, que o prédio público onde funciona o baixo meretrício de Parelhas seja transformado numa casa de apoio para adolescentes que hoje estão no caminho da prostituição", afirma a vereadora.
Foto Pablo de Luca.

Para não esquecer

As minas do sertão

Mauricéia Gambarra sugere que as jovens envolvidas com prostituição, ao serem retiradas das ruas, sejam levadas para o local, e lá tenham atendimento psicológico e médico. "Mas que também nesse local sejam oferecidos cursos profissionalizantes para que essas pessoas tenham outra opção de vida que não na prostituição".
A vereadora, que esteve visitando o local, solicitou ao prefeito Antônio Petronilo a disponibilização de uma assistente social para fazer uma avaliação de cada mulher que mora no prostíbulo. "Quero deixar bem claro que nenhuma pessoa será jogada na rua, nenhuma pessoa vai sair de lá sem que tenha um local pra morar e que seja assistida. O objetivo é que o local funcione como um centro de apoio, já que o movimento no local é feito apenas com mulheres vindas de fora".
Mauricéia Gambarra relembra que em 1976 teve início a construção do prédio público para funcionamento do baixo meretrício, antes funcionando no local onde existe hoje a rodoviária. A inauguração ocorreu em 1982. "Até hoje, depois de 20 anos, que é paga pela prefeitura a luz e água do prédio onde funciona o baixo meretrício. Acho que em Parelhas hoje nós vivemos outros tempos e é necessário que se mude o perfil dessa história. Prédio público é construído para o bem da sociedade, deve ser utilizado para saúde, educação, para outros fins, então é por isto que eu estou pedindo". (Diário de Natal, 17.05.03.) Foto Egberto Nogueira.

Da série: "Os Herdeiros do Nosso Reino"

Memória da Potycúndia
"OS FILHOS
Em entrevista ao programa de rádio do jornalista Diógenes Dantas na 96FM, o pré-candidato do PMDB, Walter Alves, falou de sua paixão pela política, projetos e idéias. Quem ouviu ficou com a impressão que ele tem a mesma simplicidade, humildade e carisma do seu pai, o Senador Garibaldi Alves. O jovem afirmou que respira política 24h por dia. Além disso, já se sente vocacionado e preparado para ocupar um cargo na AL. Tem pela frente a concorrência com filhos de políticos não menos famosos como Márcia Maia, Fábio Farias e Felipe Maia." (Coluna Social, Simone Silva, JH Primeira Edição, 20.06.06.)
O advogado e empresário Felipe Maia, filho do senador José Agripino Maia (PFL), é candidato a deputado federal. O empresário é sócio-proprietário da concessionária Yamaha em Natal e Parnamirim. Projeta ampliar os negócios nos municípios da região Agreste do RN, passando a investir na venda de consórcios. Ilustração.

sábado, julho 22, 2006

Da série "Os Herdeiros do Nosso Reino"


Memórias da Potycúndia

PATRIMÔNIO
A deputada estadual Márcia Maia, filha da governadora Vilma de Faria, declarou à Justiça Eleitoral que possui um apartamento em Boa Viagem, Recife, no valor de R$ 106 mil;
um imóvel constituído de 10 lotes no Residencial Viver, em Parnamirim, no valor de R$ 13 mil; uma fazenda em Currais Novos, no valor de R$50 mil; uma casa em Lagoa Nova, avaliada
em R$ 90 mil; um terreno em Ponta Negra, que custa R$ 80 mil; dois apartamentos no empreendimento Quatro Estações, no valor de R$ 37 mil;
e dois equipamentos de som com palanque
para montagem em automóvel, no valor de R$ 20 mil.
(Coluna Túlio Lemos, JH Primeira Edição de 21.07.06.) Charge Antônio Amâncio.

Da série "Os Herdeiros do Nosso Reino"



Memórias da Potycúndia
PATRIMÔNIO II
Waltinho Alves, filho do senador Garibaldi Alves Filho,
candidato a deputado estadual, declarou possuir uma fazenda em São José de Mipibu,
no valor de R$ 3 mil; uma Pajero 2004, no valor de R$ 140 mil;
e cerca de R$ 7 mil em contas.
(Coluna Túlio Lemos, JH Primeira Edição de 21.07.06.). Ilustração.

quarta-feira, julho 19, 2006

Ribeira monumenal



A colunista Liege Barbalho estampou em sua coluna, na Tribuna do Norte do domingo dia 16.07.06 (Caderno Jornal da Família), a visita que este repórter fez em sua companhia ao historiador potiguar LENINE PINTO. Enquanto La Barbalho buscava junto ao insigne pesquisador da história do Rio Grande do Norte e do Brasil subsídios sobre a Ribeira Antiga para sua monografia de pós-graduanda em História na UnP, este jornalista entrevistou Lenine sobre o Barbeiro Zé Areia, tema do livro "O Bufão de Natal", ensaio vencedor, em 2001, do Prêmio Câmara Cascudo de Literatura, promovido pela Fundação Cultural Capitania das Artes, da Prefeitura do Natal, para o qual procuramos editor.

Descobrimento no Cabugi

O historiador Lenine Barros Pinto, 70, escritor e membro efetivo da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, é pesquisador proficiente sobre o passado da terra potiguar, dando conta de inúmerAs e importantes minúcias e aspectos da evolução de nossa gente. Lenine gerou uma polêmica em torno do Descobrimento do Brasil, ao apresentar uma outra História, aquela que afirma que o Brasil foi descoberto no Rio Grande do Norte. Ele é autor do livro "Reinvenção do Descobrimento", em que estuda, entre outros temas, os "padrões" (marcos de posses portuguesas) e no qual pondera que o Monte Pascoal seria o pico do Cabugi.
E diz mais: o Brasil foi descoberto efetivamente em Touros (RN), e não em Porto Seguro.
Na sua tese, Lenine defende que "o marco de Touros na verdade foi chantado no dia 30 de abril de 1500, durante a segunda missa na Terra de Vera Cruz". A tese de que o Brasil nasceu no Rio Grande do Norte, como não podia deixar de ser, causou grande alarido, mas Lenine Pinto empunha uma série de dados que podem e devem ser contestados, a fim de que lhe provem o contrário.
Lenine Pinto é autor de livros fundamentais para se conhecer a história do Rio Grande do Norte, em especial o período da Segunda Grande Guerra, como "Natal, USA", de 1995, e "Os Americanos em Natal" (2000), ambos publicados pelo Sebo Vermelho (Natal-RN). Foto.

Os americanos em Natal


SEGUNDA GUERRA
Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt
(à sua frente) visitam a Base Aérea de Natal,
1943. Natal (RN). (Foto CPDOC/Fundação Getúlio Vargas)

Tesouros potiguares

A GLÓRIA DE ZÉ AREIA
O período estudado por este repórter para ampliar o livro sobre Zé Areia inclui, em especial o período compreendido entre 1941 e 1946, quando se dá a Segunda Guerra Mundial, que trouxe ao Rio Grande do Norte milhares de militares norte-americanos, por esta época sediados em Natal. O Rio Grande do Norte sobressaiu-se, então, em todo o nordeste do Brasil, no decorrer daqueles cinco anos, período em que os militares - brasileiros e estrangeiros - ocuparam duas bases na capital potiguar: a Base Naval e Parnamirim Field, tida, então como a maior base da Força Aérea norte-americana em território estrangeiro. Para se ter uma idéia, no início da década de 40, Natal tinha uma população estimada em 55 mil habitantes e, ao chegar a 1950, mesmo depois do final da guerra e da saída dos norte-americanos, sua população chegou a mais de 100 mil habitantes. E aí tem muita história, parte dela contada no filme For All - O Trampolim da Vitória, de 1999, com direção de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz, trazendo no elenco, entre outros, José Wilker, Betty Faria e Luís Carlos Tourinho. O filme exibe a época da Segunda Guerra Mundial em Natal (RN), palco dos planos bélicos dos grandes do mundo e também de amores inesquecíveis.

terça-feira, julho 18, 2006

José Cortez: o triunfo do menino do Seridó


Para o editor José Xavier Cortez, que comemora os 25 anos da Cortez Editora e Livraria, empresa reconhecida internacionalmente pela profundidade de suas publicações, principalmente nas áreas de educação e sociologia, a vida reservou, nesta última quadra, uma sucessão de surpresas boas de entrar na posse e uma seqüência de agrados e mimos para o coração.
RADAR POTIGUAR entrevistou este sertanejo, natural de Currais Novos (RN), formado em economia pela PUC/SP, para quem foram muitos os presentes reservados, com todo brilho, entre fatos e ensejos. Mimos que lhe propiciaram o sabor do verdadeiro prazer da vitória. É uma fruição merecida, seja de ordem espiritual, seja no aspecto moral, ou de caráter afetivo e principalmente no sentido físico dos eventos, já que tudo é comemoração.
Para 69 anos, bem vividos, o coração de Cortez teve que agüentar. Nada de comoções fora do esquadro. Mas uma carga afetiva na medida. Ele teve de ser, antes de tudo, um forte. Um sertanejo. Como efetivamente provou ser, nascido que é no Seridó. Um varão de boa cepa, primogênito numa família de 14 homens e três mulheres, com dez vivos, na semana passada comandou um evento cuja dinâmica tinha como eixo o afeto e júbilo. Foi a reunião, no sítio Santa Rita, depois da serra do Doutor, no Seridó, da quase totalidade dos 100 parentes que fazem a família, descendentes de seus pais, Mizael Xavier Gomes e Alice Cortez Gomes, numa cerimônia que se repetirá a cada dois anos.
Um self-made man oriundo do sertão potiguar, que alcançou os palcos e os refletores de uma glória bem merecida, Cortez alardeia, contudo, a simplicidade dos homens de espírito, que ostentam um brilho genuíno e sua própria incandescência. Ilustração Roberto Melo.

José Cortez: o triunfo do menino do Seridó

CIDADÃO PAULISTANO
Para esse editor e livreiro de sucesso, a série de efemérides que marcam as bodas de prata de sua editora teve início com uma homenagem de peso e repercussão no estado mais rico da federação, ainda em abril do ano passado. No dia 27, foi homenageado, de uma forma inédita, como migrante que é, no Estado de São Paulo.
É com a maior alegria que conta sobre a láurea que o distinguiu, o Título de Cidadão Paulistano, apresentado à Câmara Municipal de São Paulo pelo vereador Carlos Gianazzi (PSOL).
“Eu nem o conhecia”, conta José Cortez. “Ele estudou na Universidade de São Paulo (USP) e, segundo me falou, teve sua formação em cima dos livros da Cortez. E por aí começou. Ele também é um lutador, e me concedeu este título de Cidadão Paulistano”, relata Cortez, com orgulho.
O título foi entregue em noite de gala, no TUCA (Teatro da Universidade Católica), que cedeu as instalações. “Fizemos uma bela de uma festa, recebendo cerca de 600 pessoas. E lá, inclusive, lançaram um pequeno livro, chamado ‘A Vez do Menino Cortez’, onde se conta parte da minha trajetória”.
Com efeito, assinado pelo autor de literatura infantil Jonas Ribeiro, com ilustrações de Roberto Melo, o livro ‘A vez do Menino Cortez’, numa edição de dois mil exemplares, foi distribuído aos convivas após a solenidade, e traz, em forma poética, a história dos três sonhos do menino Cortez, acalentados desde a mais tenra idade, nas terras do Seridó: ser motorista de caminhão, tornar-se sanfoneiro e galgar a posição de professor.

José Cortez: o triunfo do menino do Seridó

AMIGO DE PAULO FREIRE

Razão de tamanha consideração e respeito aponta para o quarto de século de publicações de uma pluralidade de idéias e vértices científicos, nas mais diversas áreas do pensamento humano e, em especial, por ser Cortez, o eterno homem simples, sem sofisticações, espontâneo, franco e sem simulações ou fingimentos.
Amigo e confidente de uma relação de personalidades e expoentes da vida intelectual, cultural e social do Estado de São Paulo e do Brasil – basta dizer que trocava figurinhas com o falecido e essencial pedagogo Paulo Freire (1921-1997, foto) –, Cortez, contudo, nunca foi mordido pela mosca azul, jamais tendo se desviado dos objetivos que traçou ainda jovem na cidade grande.
“Depois de receber o título, tenho ido a muitas escolas, cursinhos e faculdades. E, depois desse livro, muita gente tem me procurado, para que eu conte essa história de menino sertanejo, que teve três sonhos, e como foram realizados esses três sonhos.”
Cortez ainda iria ter, no decorrer do ano e até o momento, satisfações que lhe trazem gratas recordações, a partir da data que fica como um marco na vida de sua empresa.
Na verdade, Cortez teve seu primeiro contato com publicações quando vendia livros aos seus colegas de classe. Na seqüência, como o comércio de livros começou a lhe trazer resultados, decidiu dedicar-se integralmente à atividade editorial, a partir de 1968. Em 1980 fundou a Cortez Editora e Livraria, vindo a publicar livro das maiores sumidades das ciências humanas no Brasil e no mundo.

José Cortez: o triunfo do menino do Seridó

FORROZEIRO

O primeiro sonho, ele realizaria dirigindo seu próprio carro, enquanto o segundo lhe deixaria marcas, distinguindo-o com categoria, em qualquer salão de danças por este país.
Se não conseguiu dominar a sanfona, apesar de ter uma delas na Cortez Editora,
trocada por livros, com muita honra,
Cortez não dispensa,
contudo, os CDs de forró,
que ouve no rádio do carro,
assim como cultiva com esmero
o ofício de "pé de valsa", forrozando com freqüência, semanalmente, para não fugir do figurino que traçou ainda na infância.
"E ainda tem um detalhe", aproveita para contar.
"Quando houve a festa da PUC, no teatro TUCA, no final,
eu dancei com toda disposição, com o sanfoneiro tocando só para mim. Quebrei o protocolo da Câmara Municipal, mas exigi. Se é a minha trajetória, tem que ter forró. E eu sou dançarino de forró. Desculpe, modestamente, mas isto pra mim tem
sido importantíssimo. Tem sido tão importante quanto ser editor.
Tem viajado pelo mundo esse negócio. Danço forró todas as semanas, de duas a três vezes."
Quanto ao terceiro sonho, que era ser professor, ele diz:
"Não fui, no entanto, faço livros para professores."
Depois de receber o título de Cidadão Paulistano,
começaram a chover convites, e ele se viu famoso como um jogador de futebol.
"Foram mil coisas a aparecer. Fui homenageado no ano passado, em Fortaleza, pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais. E ainda fizeram um DVD, com depoimentos de vários intelectuais a meu respeito, que eu também não conhecia. E assim por diante. Só posso estar contente." (Publicado no Caderno Encartes do Jornal de Natal de 17.07.06).
Foto do livro A Vez do Menino Cortez.

‘Nós temos que construir nosso país’


TRABALHO DE GENTE GRANDE

Ao comemorar o sucesso do lançamento do livro “Trabalho de Criança não é Brincadeira, Não”, de Rossana Ramos, com ilustrações de Priscila Sanson, o editor José Xavier Cortez alinha uma série de pensamentos acerca do mercado livreiro e editorial, fala sobre as políticas públicas adotadas no Brasil e sobre o futuro da política no Brasil. Além disso, tece comentários acerca de assuntos prosaicos como dançar forró e a vida do nordestino em São Paulo.
“A nossa preocupação com a literatura infantil e juvenil tem sido grande. Nós lançamos este livro, ‘Trabalho de criança não é brincadeira não’, durante um debate na PUC em São Paulo, ao qual estiveram presentes, dando apoio, várias secretarias do Menor de todo o Brasil, além de representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Nosso segmento de literatura infantil está indo muito bem, obrigado.”
Veja a seguir trechos da entrevista.

‘Nós temos que construir nosso país’

PRESTIGIAR A PRATA DA CASA

RADAR POTIGUAR - Na sua família não apareceu nenhum talento que se lançasse na área da literatura?
JOSÉ XAVIER CORTEZ – Eu tenho a impressão que, nessa área literária, nós temos um sobrinho, que se chama Mizael Xavier de Souza. Uma promessa. Mas escritores da nossa família, não há. Eu gostaria de escrever alguma coisa. Eu fiz, para esse nosso evento familiar, um acróstico para o nosso pai, para nossa mãe e para a nossa família. Está lá no nosso sítio. Na área de literatura propriamente dita, não. Posso falar mais na área de ciências humanas, ligados à sociologia, à política, meio ambiente, educação, serviço social, antropologia. A editora é mais ligada a essa área. Recentemente, há coisa de dois anos e meio, nós entramos na área de literatura infantil e juvenil. E estamos com autores muito bons. Estamos privilegiando o autor e o ilustrador brasileiros. Foto Antonius Manso.

‘Nós temos que construir nosso país’

NOSSA CIDADE NATAL
RADAR POTIGUAR - Conte sobre os projetos de sucesso da Cortez Editora.
JXC - Nós lançamos uma coleção, dentro da literatura infantil, que se chama ‘Nossa Capital’. E saíram três livros, por enquanto: São Paulo, capital de São Paulo; Fortaleza; e Natal. O de Natal foi lançado aqui, na Bienal do Livro do ano passado. Vão sair todas as capitais brasileiras. Já tem o de Natal, a autora é a professora Clotilde Tavares, e o ilustrador é daqui de Natal. Para você ter uma idéia, esses três livros saíram o ano passado. No caso de Fortaleza, a prefeita de lá, Luizianne Lins (PT), comprou agora, quando Fortaleza fez 280 anos, se não me engano, dia 13 de abril, ela comprou um livro desses para cada criança da rede municipal de ensino de Fortaleza. Foram 230 mil exemplares. Foi o grande presente dela para a cidade de Fortaleza. Esta foi uma grande lição de como nós podemos acreditar em políticos, ainda, neste nosso país. Que se preocupam com educação. Nós vamos fazer isto em todos os estados. A maioria das capitais. Primeiramente nós vamos lançar (a coleção) da Nossa Capital, que deve terminar em 2007, e depois vamos lançar (a coleção) o Nosso Interior. É uma coleção belíssima.

‘Nós temos que construir nosso país’

COMPROMETIDOS COM A EDUCAÇÃO’
RP – Fale da expansão da editora. Tem muitos autores novos? Qual o carro-chefe?
JXC – Sobre literatura infantil, eu tenho uma coisa muito importante, e interessante. É que nós já lançamos 60 títulos na área infantil. E, desses 60 títulos, já traduzimos 15 títulos para o espanhol. E eu diria para você que já têm vários países da América Latina que estão indicando esses livros nossos, de autores brasileiros e ilustradores brasileiros. Na realidade, nós estamos competindo com o mercado internacional. Aqui na América Latina. Por exemplo, quem mais compra livro na área da literatura infantil é o México. O México é um país de 100 milhões de habitantes, e o governo investe muito nas crianças de lá. E nós temos quatro livros, que foram escolhidos agora, mas a compra só sairá em outubro. Mas entre 12 títulos brasileiros que foram escolhidos, quatro são da Cortez. Imagine. Há muitas editoras de livros infantis que têm 50 anos, 100 anos. E nós, da Cortez, temos 26 anos. Se forem comprados mesmo, a quantidade varia de 50 a 100 mil exemplares. É um negócio fantástico. Quer dizer, é pensar nas crianças, não apenas em termos financeiros, mas na importância dos latino-americanos conhecerem os autores brasileiros e os ilustradores brasileiros. E você sabe que o slogan da editora é “Comprometidos com a educação”.

‘Nós temos que construir nosso país’

SELF-MADE MAN

RP - O senhor, um self-made man, merecia ter um livro com a sua história, sobre tudo que se passou.
JXC – Deixa eu dizer para você, em primeira mão: há uma pesquisadora, professora da Unicamp, chamada Tereza Sales – hoje ela está morando em Recife – que é uma das maiores autoridades no Brasil sobre a questão da migração e imigração também. Ela inclusive escreveu um livro, publicado pela Cortez. É uma especialista nessa área de migração, sobre brasileiros. Chama-se “Brasileiro longe de casa”. É uma pesquisa feita nos Estados Unidos, já publicada pela Cortez. No ano passado, ela ganhou uma bolsa de estudos do CNPq, para fazer uma pesquisa com um nordestino migrante em São Paulo, que deu certo. Eu fui a pessoa escolhida. Esse trabalho começou o ano passado.
RP – E foi importante, porque o senhor sempre trabalhou com a cultura.
JXC – Pois é. E para este trabalho de Tereza Sales, ela está viajando comigo. Esteve comigo na casa onde eu nasci e está percorrendo toda a trajetória que eu fiz naquela época. Já estivemos no Rio de Janeiro e em vários lugares com ela. Ela está fazendo este trabalho a meu respeito. Provavelmente, no final de 2007, ela deverá já ter esse trabalho sobre a minha trajetória. Ela é pesquisadora do Ministério da Educação e vai apresentar depois o trabalho ao CNPq. Ela está ganhando para isso. Agora, se isso vai virar livro ou não, depende dela. Ou de mim também.

‘Nós temos que construir nosso país’


Política de publicação
RP – A sua editora está bem no Brasil. O senhor pretende fazer alguma coisa aqui em Natal? Já publicou alguém daqui? Como é a política de publicação da editora?
JXC – Nós temos conselhos editoriais na nossa editora: a educação tem um conselho editorial, o serviço social tem um conselho editorial, literatura infantil tem um conselho editorial. Nós publicamos, em média, 70 a 80 livros por ano. Não temos condições, infra-estrutura, nem recursos para publica mais do que isso. Porque nós somos uma empresa familiar. Uma empresa que, apesar de ter um grande nome, mas uma empresa pequena. A gente luta com muita dificuldade. Todos os nossos livros passam por esses conselhos. Numa avaliação. E recebemos 400 originais por ano. E daí, temos que tirar, 60, 70 títulos. Nós vamos lançar uma coleção agora, no ano que vem, chamada Pré-Conceito. Pré-conceito contra a criança, contra o idoso, contra a mulher, contra o pobre. É uma série de coisas. Um dos autores é daqui do RN, trabalha na UFRN. Não lembro o nome dele. A questão do nascimento, para nós, não tem importância.

‘Nós temos que construir nosso país’

'TEMOS UM PAÍS, E VAMOS VENCER'
RP - Gostaríamos de saber se o senhor tem esperança de que o Brasil venha a sair logo desse atoleiro. Mesmo com o PT e tudo. Aliás, a editora trabalha com autores considerados de esquerda.
JXC – A minha análise, com relação ao futuro é o seguinte. A minha editora tem um pouco da minha cara, não pode ser diferente, e eu me considero uma pessoa progressista. Inclusive se você examinar os autores da Cortez, ou os conselhos editoriais, você vai perceber que todos eles têm essa conotação. É esse lado do progresso. Podia ser da esquerda. Se você me perguntar, eu votei no PT. E continuo sendo PT. Agora, por exemplo, quando eu saí daqui do sítio, há 10 anos, não sei, cerca de dez anos, na minha região, por exemplo, não tinha energia. Hoje, a minha casa tem energia, lá no sítio. Não tinha água pra beber. Hoje tem água pra beber. Eu vivo ali no Seridó, e todas as casas têm uma cisterna com 16 mil litros (d’água) que é a conta de uma família, se eu não me engano, de oito a dez pessoas. É o progresso, por esse lado. Ninguém morre mais de sede.
RP – Mas desemprego ainda tem!!!
JXC – E muito. Mas tem em todo lugar. Não é só no Brasil. Agora, eu diria o seguinte. Se você vai falar da corrupção... inclusive, nós estivemos pensando num livro, isto o ano passado, antes de estourar essa coisa aí...
RP - Quer dizer que é grande a esperança?
JXC - Eu diria o seguinte: eu tenho esperança, sim. Porque nós não temos para onde ir, não temos outro país para ir. A Europa nos detesta, discrimina, e muitos outros lugares. Então, para onde nós vamos? Nós é que temos que construir o nosso país. Para onde nós vamos? E por que os outros países - estou falando de editoras, que é o meu campo – estão comprando as editoras brasileiras e estão vindo todos pra cá? Por que eles estão vindo? Porque tem mercado. E eles vêem futuro nisto aqui. Por que eles não vão lá pra Luanda? Vêm pra cá. É por isto que nós temos que estar muito conscientes de que temos um país e que, aos trancos e barrancos, nós vamos vencer. Eu acho que essas coisas todas são muito importantes para que a gente fique alerta a todas essas coisas. Eu não estou arrependido, não. E vou votar de novo na mesma pessoa. Porque eu não vejo ninguém melhor. (Publicado no Caderno Encartes do Jornal de Natal de 17.07.06). Fotos Antonius Manso.

Troque seu vampiro nesta eleição



O VAMPIRO E A CAATINGA

Visitantes indagam sobre a atual administração de Macau, a cargo do prefeito Flávio Veras (PP). RADAR POTIGUAR, em breve, irá disponibilizar postagens sobre o tema. Vamos aguardar.
O que podemos adiantar é que não faltará espaço (haja tempo!) para se comentar e analisar a rapinagem do tesouro. Tanto dos 167 municípios como do Estado, como um todo.
Assim como será tema constante o exame do desempenho dos gestores públicos.
Elementos eleitos de forma tão indulgente, em pleitos alegres e travessos, pela população extrovertida e carente de troça, em circunstâncias de morbidez e lassidão.
É de admirar (e arrepiar) as filas de eleitores/ contribuintes/ cidadãos (?) que se deixam vampirizar pelos malandros finórios do morcegal. Um povo, reduzido eternamente a plebe, que oferece sem resistência o ouro extraído do seu trabalho ao bandido escolado, de forma tão lânguida e espontânea que maravilha a quem assiste.
Situações que, ao cabo e ao rabo, constrangem e desgraçam as populações da caatinga e do litoral.
Atenção, portanto, gente boa, com os que enriquecem ou vivem de explorar os otários.
São nossas raposas mestras, em cujo biótipo trazem as características fatais do vampiro, pois agem com voracidade, sugando, explorando os demais, na sua avidez e no seu egoísmo. Ilustração.