quinta-feira, setembro 14, 2006

Onde você estava no horário eleitoral?

Onde você estava quando começou o horário eleitoral?
Crônica - ARTUR DE CARVALHO

Pergunta aí, pra qualquer um que estiver do seu lado: o que é que você fez ontem durante o horário político? e você vai ver que o cara foi fazer uma coisa bem melhor do que estaria fazendo se não houvesse horário político.
Artur de Carvalho
Eu não sei o que é que tanto reclamam do horário político. O que eu tava reparando é que esse negócio é até que bastante legal. Eu ando achando mesmo que poucas invenções nesse país fizeram tão bem para a população quanto esse horário político. Pois pode perguntar por aí pra você ver que eu não estou enganado. Pergunta aí, pra qualquer um que estiver do seu lado: o que é que você fez ontem durante o horário político? e você vai ver que o cara foi fazer uma coisa bem melhor do que estaria fazendo se não houvesse horário político. Porque se não houvesse horário político, continuaria todo mundo ali, na frente da televisão, hipnotizado. É, você já viu como fica a cara das pessoas quando elas estão sentadas na frente da televisão? Pois elas ficam hipnotizadas. Mas com o horário político não. As pessoas começaram a se levantar e procurar outra coisa pra fazer.
Uns alugam uns DVD’s e assistem uns filmes. Outros resolvem telefonar para uns parentes distantes. Outros colocam um sonzinho no aparelho e ficam cantando. Tem uns até que tem arriscado ler uns livros, veja você.
Outro dia desse mesmo, quando começou o horário político, eu saí aqui pra calçada na frente de casa para fumar um cigarrinho, e eu vi um monte de gente conversando. Achei até que tinha morrido alguém ou coisa parecida. Mas não. É que tinha começado o horário político e todo mundo tinha desligado a televisão e se levantado pra procurar alguma outra coisa pra fazer. E aí começaram a conversar com os vizinhos. Tinha até duas senhoras sentadas em cadeiras de balanço, fazendo tricô. Parecia até aquelas cidades de antigamente, quando todo mundo fazia isso. Tinha umas crianças jogando bola na rua, uns pais conversando de futebol, umas mães falando sobre os filhos que estão estudando fora. E as avós fazendo tricô. Parecia mesmo uma festa. Pena que durou pouco. De uma hora para outra, todo mundo foi sumindo pra dentro das suas casas, as velhinhas foram recolhendo suas cadeiras de balanço, e quando eu percebi eu estava lá, sozinho no meio da rua. Era o horário político que tinha acabado, e todo mundo já estava lá, sentado na frente das televisões, hipnotizados outra vez.
É por isso que eu te digo. Eu acho que o horário político não devia acontecer só nas épocas de eleição. Devia ter todo dia mesmo, e aumentar aí, para pelo menos umas três horas por dia. Não ia ser mesmo um barato? (Fonte).

Um comentário:

Anônimo disse...

paulo,
excelente sua entrevista com antônio naud!parabéns!
vamos, sim, aderir à blogagem da laura!
contatarei.abs.tertu