segunda-feira, dezembro 10, 2012

Aonde eles pretendem chegar?

Aonde eles pretendem chegar?
CartaCapital, Colunistas: Mino Carta
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br
Editorial, 07.12.2012

Mala tempora currunt, costumava dizer meu pai quando a situação política azedava. Maus tempos chegaram, em tradução livre. Ele usava relógio de bolso de ouro de celebérrima marca suíça, presente de meu avô materno, Luigi, munido de tampa sobre a qual se lia, gravado em latim, o seguinte dizer: nada aconteça que você não queira lembrar. Nem sempre, contudo, a vida sorri. Falo de cátedra, porque, quando meu pai morreu, herdei o relógio na qualidade de filho primogênito. Não o uso, mas o guardo com carinho e neste momento vejo meu pai a erguer a tampa com um leve toque de ponta de indicador e pronunciar, entre a solenidade e a pompa, mala tempora currunt.

Há qualquer coisa no ar que me excita negativamente e me induz a pensamentos sombrios, algo a recordar tempos turvos, idos e vividos. É a lembrança de toda uma década, espraiada malignamente entre o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe de 1964, aquele executado pelos gendarmes da casa-grande, e exército de ocupação. Dez anos a fio, a mídia nativa vociferou contra líderes democraticamente eleitos e se expandiu em retórica golpista logo após a renúncia de Jânio Quadros.

Muita água passou debaixo das pontes, embora algumas delas levem o nome de ditadores e até de torturadores, mas o tom atual desfraldado à larga pelos barões midiáticos e seus sabujos não deixa de evocar um passado que preferiria ver enterrado. Talvez esteja, de alguma forma, mesmo porque as personagens têm outra dimensão. Os propósitos são, porém, semelhantes, segundo meus intrigados botões. Acabava de lhes perguntar: qual será o propósito destes comunicadores, tão compactamente unidos no ataque concentrado ao PT no governo? Qual é o alvo derradeiro?

A memória traz à tona Jango Goulart e Leonel Brizola, a possibilidade de uma mudança, por mais remota, e os alertas uivantes quanto ao avanço da marcha da subversão. Os temas agora são outros, igual é o timbre. Além disso, na comparação, mudança houve, a despeito de todas as cautelas e do engajamento tucano, com a eleição de Lula e Dilma Rousseff. Progressos sociais e econômicos aconteceram. O ex-presidente tornou-se o “cara” do povo brasileiro e do mundo, a presidenta, se as eleições presidenciais se dessem hoje, ganharia com 70% dos votos.

Percebe-se, também, a ausência de Carlos Lacerda. Ao menos, o torquemada de Getúlio e Jânio lidava melhor com o vernáculo do que os medíocres inquisidores de hoje. Medíocres? Toscos, primários, sempre certos da audiência dos titulares e dos aspirantes do privilégio, em perfeita sintonia com sua própria ignorância. Contamos, isto sim, com o Instituto Millenium. Há quem enxergue na misteriosa entidade, apoiada inclusive com empresários tidos como próximos do governo, uma exumação do Ibad e do Ipes, usinas
da ideologia fascistoide que foi plataforma de lançamento do golpe de 64.

Até onde vai a parvoíce e onde começa o fingimento? É possível que graúdos representantes do poder econômico não se apercebam das responsabilidades e alcances da sua adesão ao insondável Millenium? Ou estariam eles incluídos na derradeira prece de Cristo na cruz: perdoe-os, Pai, eles não sabem o que fazem? Que o golpismo da mídia da casa-grande seja irreversível é do conhecimento do mundo mineral. Causa espécie o envolvimento de personalidades aparentemente voltadas aos interesses do País em lugar daqueles da minoria.

Causa espécie, em grau ainda maior, a falta de reação adequada por parte do governo, inerte diante da ofensiva da autêntica oposição, o partido midiático. Não basta dizer, como o ministro Gilberto Carvalho, que o povo está satisfeito com o bom governo de Lula e Dilma, enquanto a própria liderança do PT recomenda ao relator da CPI do Cachoeira, o intimorato Odair Cunha, que retire os halfos para o morrinho e Policarpo Jr. do rol dos passíveis de indiciamento.

E aí se apresenta o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, empenhado no esforço de demonstrar que não foi ignorado pela Polícia Federal no episódio destinado a exibir as mazelas do terceiro escalão governista. Notável protagonista, altamente representativo. Precioso aliado do banqueiro Daniel Dantas em determinadas ocasiões, como, de resto, muitos outros “esquerdistas” brasileiros. Ah, sim, Cardozo acha que Lula provou sua inocência no caso da secretária Rose e de suas consequências. Acha? Ainda
bem. Soletra ele, diante das câmeras da tevê: “Imaginar que o ex-presidente estivesse envolvido por trás disso, está, a meu ver, desmentido”. A meu ver? Estivesse eu no lugar de Lula e de Dilma, viveria apavorado ao perceber este gênero de comandantes à frente do meu efetivo.

E à presidenta, que CartaCapital apoiou e apoia, recomendamos a leitura de um dos mais qualificados arautos da direita golpista. Merval Pereira não se confunde com Carlos Lacerda, mas na semana passada avisou não ser o caso de isentar Dilma das denúncias de
corrupção, presentes e passadas. Está clara a intenção de aplicar à presidenta a tese do domínio do fato.
Ilustração: aqui.

O beija-mão de Fux

O beija-mão de Fux
Carta Digital, 11 de Dezembro de 2012
CartaCapital, Colunistas: Wálter Maierovitch
Walter Maierovitch é jurista e professor, foi desembargador no TJ-SP

Sobre o processo, o magistrado, perante estrelas petistas, disse que “mataria no peito”

Fora o beijo traidor de Judas relatado nos evangelhos de Mateus e Marcos, entrou para a história, como sinal de reverência e de subserviência, o cerimonial do “beija-mão” introduzido no ano 527 pela imperatriz bizantina Teodora, esposa de Justiniano I. A imperatriz, favorável ao aborto e contra a pena de morte à adúltera, virou santa da Igreja Ortodoxa. No seu rastro, os papas da Igreja Católica Apostólica Romana posicionaram-se como receptores do “beija-mão” e recebem visitantes que se inclinam e lançam um ósculo no anel pontifício.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro Luiz Fux, quando na sua terceira tentativa de obter uma cadeira vitalícia no Supremo Tribunal Federal (STF), buscou apoios variados e se submeteu ao “beija-mão”. É grande o elenco dos visitados por Fux. De José Dirceu a João Paulo Cunha. Sem falar em Antonio Palocci, Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e João Pedro Stedile, do MST. Chegou ao ponto de buscar aproximação com a namorada de Dirceu, Evanise Santos. Segundo o deputado Cândido Vacarezza, Paulo Maluf, que responde a três ações no STF por lavagem de dinheiro da corrupção, intercedeu pelo magistrado. Fux só não buscou o apoio da torcida do Flamengo, pois nessas horas contam apenas os votos dos cartolas.

A conduta postulatória de Fux, na ocasião ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), serve para ilustrar como o lobby conta e nem sempre o mérito profissional representa o principal atributo para se chegar a uma cadeira na mais alta Corte. Não fosse primo do presidente Collor de Mello, o atual ministro Marco Aurélio, que nas últimas sessões propôs pena baixa e prescrita a Roberto Jefferson e, com relação ao segundo crime imputado, absolvição pela desconsideração ao voto condenatório do ministro Ayres Britto, não teria chegado ao STF como pouco conhecido juiz do trabalho. A então desembargadora Ellen Gracie havia sido vetada por Fernando Henrique Cardoso para o STJ, mas, após receber apoio do conterrâneo Nelson Jobim, fez um upgrade e foi indicada pelo mesmo FHC como ministra do Supremo. Se não era capacitada para um tribunal de hierarquia menor, como, num passe de mágica e em pouco tempo, Ellen Gracie acabou indicada para o órgão de cúpula da magistratura?

Fux, por escolha de Dilma Rousseff em fevereiro de 2011, chegou ao STF em março, quando a denúncia da ação penal apelidada de “mensalão” já havia sido recebida (agosto de 2007). O fato, aliás, contou com rumorosa audiência pública e total cobertura jornalística. Dirceu era, portanto, réu do “mensalão” quando Fux partiu para o “beija-mão”. Segundo o ministro, houve apenas um encontro. ­Dirceu ­­afirma terem sido duas visitas.

Sobre a visita ou visitas a Dirceu, Fux afirmou, sem corar, ter esquecido de que o ex-ministro era réu do “mensalão”. Com o deputado e também réu João Paulo Cunha, à época presidente da Câmara, o juiz esteve numa reunião para um café da manhã e se recusou a revelar o teor da conversa. É, no mínimo, estranho um ministro do STJ comparecer a esse tipo de reunião. Algo semelhante ao encontro do ministro Gilmar Mendes com representantes do partido Democratas após a conhecida reunião com Lula e Jobim.

Nos agendados encontros para o “beija-mão”, Fux admitiu que o tema “mensalão” foi mencionado. E restou claro que os apoiadores aguardavam do ministro um voto diferente do que deu. Sobre o processo, o magistrado, perante estrelas petistas, disse que “mataria no peito”. Na chave de leitura dos “mensaleiros” e “filomensaleiros”, o “matar no peito” seria o golaço da absolvição. Hoje interpretam a expressão como gol contra de um traíra. Fux agora ressalta com ênfase o que não disse quando do lobby: “Não troco consciência e independência por cargo”. E sentenciou: “A prova dos autos desmentia o discurso da falta de provas da responsabilidade de Dirceu e demais acusados”.

Sobre o “beija-mão”, recordo uma antiga conversa com o juiz Márcio José de Moraes. Perguntei se ele seria escolhido para ocupar uma vaga aberta no Supremo. Moraes era um jurista de mão-cheia, juiz independente que, em plena regime de exceção, havia, por corajosa sentença e como magistrado de primeiro grau, condenado a ditadura pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog. A resposta, que guardo até hoje e que contei e recontei aos meus filhos bacharéis em Direito: “Wálter, não tenho nenhuma chance de ir para o Supremo, pois me recuso a fazer campanha, lobby e pedir apoio para políticos. Se algum presidente da República achar que tenho mérito, que me escolha”.

Do episódio Fux sai com a toga chamuscada. Não dá impeachment e ele não foi o inventor do “beija-mão”. Nem o Brasil, como muitos propagam, mudou depois das condenações no “mensalão”.
Foto: aqui.

terça-feira, outubro 23, 2012

Lição

Lição
Coluna Cena Urbana
Por: Vicente Serejo
    Jornal de Hoje /// Foto: Ilustração
   Natal/RN, 23 outubro 2012

Tenho sustentado aqui, Senhor Redator, a despeito dos muxoxos e resmungos dos intolerantes, que nesta Aldeia Velha já não temos elites. No máximo, e se muito, um tanto de ricos e um pouco de muito ricos. E se a solidão, como no bolero, não apavora, é bom que de vez em quando venham cair nos olhos outros olhares. De preferência, que não sejam de mestres e doutores do óbvio, mas feitos da sensibilidade indispensável dos que, mesmo vitoriosos no mercado, nem assim deixam de enxergar.

Falo do olhar de Nizan Guanaes, um dos mais vitoriosos do grande mercado da publicidade e hoje um nome internacional com agência em Nova Iorque, detentor de algumas das maiores contas publicitárias do mundo. E ele escreveu na Folha de S. Paulo – sempre às terças-feiras, na última página do caderno Mercado – agora para avisar a quem queira saber: ‘Depois da nova classe média, este país precisa de uma nova classe alta’. E acrescenta convicto: ‘O Brasil moderno exigirá uma nova elite’.

O pior, Senhor Redator: não são os olhares burros que renegam a verdade. São os reacionários de toda espécie, mas, sobretudo, os tardios. Enriquecidos nas últimas décadas e de riquezas nascidas da especulação ou de consórcios com as burras do Estado. É neles que floresce a reação contra o exercício da crítica, como se todo questionamento minasse da vertente da inveja, quando não do despeito ou até da frustração pessoal, traço medonho que marca a visão canhestra dos que se julgam inquestionáveis.

Como escreve Nizan, não se trata de desrespeitar ninguém com generalizações, mas é sempre bom não esquecer que a mazela do dinheiro – se é que há alguma doença na riqueza – é esquecer as velhas lições do saber popular que vem do fundo da noite e dos tempos, como aquela do ‘pai que funda e o filho afunda’. Ou, aquela outra que embora prosaica na sua pobre literatice, bem explica a sucessão da vida quando se foi um neto rico, um filho próspero e alegre, para no fim ser apenas um velho pobre.

Para Nizan, é muito difícil acreditar no futuro de uma nação sem elites bem formadas, ‘dividida por preconceitos e ódios’. E tem razão: nem a sanha contra os ricos como acontece na França de hoje, nem o Brasil tal como ainda é, pois mesmo reconstruído nas bases sociais e econômicas ‘por um líder sindical e uma economista vítima da ditadura’, nem assim não pode se preparar para viver seu instante maior sem formar elites para conduzi-lo no mundo sempre competitivo e a exigir eficiência absoluta.

Nizan reclama de uma classe rica brasileira que teima em deixar suas crianças crescendo nos shoppings apenas ‘consumindo loucamente sem ter desafios e sonhos que transcendam um abdome de tanquinho e o próximo modelo de iPhone’. Para ele, rico e bom educador dos seus filhos, formar assim é ‘falta de amor com ela – a criança – e falta de responsabilidade com o país’. Ou seja: ninguém com toda a riqueza do mundo forma elites num shopping, na disputa de carrões e na competição de grifes.

E sua constatação foi real. Ele acabou de levar um dos seus filhos para um teste de admissão em duas escolas Americanas e lá encontrou muitos pais chineses e indianos, e nenhum pai brasileiro. E ele escreve irônico: ‘O português tão ouvido nas lojas de Nova Iorque e Miami é bem menos ouvido na Harvard que eu e meu Antônio visitamos’. Uma lâmina a cortar a carne da vulgaridade, ele completa: ‘Se você é brasileiro e quer ter um caso secreto em Nova Iorque, leve sua morada para uma biblioteca’.

E conta a visita que fez ao muitas vezes milionário Bill Gates em sua casa: ‘Me emocionei andando pela biblioteca dele. Estão lá os mais importantes livros da civilização humana nas suas primeiras edições. E é óbvio que o dono daquela biblioteca vai dividi-la com o mundo quando não estiver mais nele’. E acrescenta, assumindo um tom conceitual e sem temer a intolerância dos que são apenas muito ricos e tolos: ‘Ser rico é um privilégio, um direito e também uma responsabilidade’.

E resume, num parágrafo, sua história: ‘Meu pai, que era médico, foi para a Inglaterra com bolsa de estudos do governo e me levou para aprender inglês, conhecer o mundo e não ter medo dele. Meu avô Demócrito Mansur de Carvalho, líder sindical comunista, ensinou-me a amar Castro Alves. Minha mãe a amar Pablo Neruda e Machado de Assis’. E conclui: ‘Já a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros’. Enquanto isso, os nossos ricos aqui na aldeia, arrotam, arrostam, arremedam.

A nova classe alta





A nova classe alta
Nizan Guanaes //// Foto: Ilustração 
     São Paulo, 16/10/2012

Depois da nova classe média, este país precisa de uma nova classe alta. O Brasil moderno exigirá uma nova elite. Que é bem diferente de uma casta: um dinheiro responsável que seja gasto assim como foi feito, com o bom-senso das madrugadas e do suor, misturando vitórias e tragédias, mas sempre com muito respeito e espírito público.

Não quero desrespeitar ninguém com generalizações porque toda generalização é burra, mas, muitas vezes, o pai funda e o filho afunda.

Da mesma forma que é preciso educar a população em geral, é preciso também educar os filhos da elite. E, em muitos sentidos, a educação pública tem tido proporcionalmente mais avanços do que a privada.

O Brasil que mais cedo do que tarde terá assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e será ouvido em todos os fóruns importantes do mundo precisa preparar os jovens brasileiros para serem futuros líderes globais. Mas, além de falar o bom inglês, eles precisarão também falar fluentemente o português.

Não acredito numa sociedade dividida por preconceitos e ódios. Essa sanha contra os ricos que está acontecendo na França não vai levar a França a lugar nenhum. Mas o novo Brasil construído por um intelectual professor, um líder sindical e uma economista vítima da ditadura exige uma elite à altura desse momento maior do Brasil. Um momento maior, mas não um momento fácil, porque o mundo será cada vez mais competitivo.

Essa elite (à qual pertenço) às vezes parece mais mobilizada para educar os pobres do que os próprios filhos -casa de ferreiro, espeto de pau.

Mas não educar bem uma criança, deixá-la crescer no shopping center, consumindo loucamente sem ter desafios e sonhos que transcendam um abdome de tanquinho e o próximo modelo de iPhone, é falta de amor com ela e falta de responsabilidade com o país.

Levei recentemente um de meus filhos para testes de admissão em duas escolas americanas de elite. Lá encontrei muitos pais chineses, indianos. E nada de brasileiros.

O português tão ouvido nas lojas de Nova York e Miami é bem menos ouvido na Harvard que eu e o meu Antônio visitamos.

Se você é brasileiro e quer ter um caso secreto em Nova York, leve sua namorada para uma biblioteca.

Visitei Bill Gates em sua casa e me emocionei andando pela biblioteca dele. Estão lá os mais importantes livros da civilização humana nas suas primeiras edições. E é óbvio que o dono daquela biblioteca vai dividi-la com o mundo quando não estiver mais nele.

Ser rico é um privilégio, um direito e também uma responsabilidade.

Nasci no Pelourinho, no largo do Carmo, número 4. Descia a ladeira do Carmo e subia o Pelô todos os dias para ir ao colégio Maristas. Eu ia de ônibus, e a escola era mais cara do que meus pais podiam pagar. Não era escola... Era um investimento.

Meu pai, que era médico, foi para a Inglaterra com bolsa de estudos do governo e me levou para aprender inglês, conhecer o mundo e não ter medo dele. Meu avô Demócrito Mansur de Carvalho, líder sindical comunista, ensinou-me a amar Castro Alves. Minha mãe, a amar Pablo Neruda e Machado de Assis.

Meu pai me ligou para me comunicar a morte de Vinicius com a voz embargada de quem perdeu um amigo. E eles eram todos amigos nossos, porque minha família era amiga dos livros.
Eu devo aos meus pais e ao esforço deles de sacrificar uma parcela significativa do que ganhavam para me dar ao luxo de estudar o fato de eu estar preparado para uma vida e um mundo maiores do que o mundo no qual eu nasci.

E graças a eles eu cheguei até onde cheguei: colunista desta Folha.

A classe média, a tradicional e a nova, têm motivos óbvios para estudar e se qualificar: um mercado de trabalho cheio de oportunidades para subir na vida, avançar materialmente.

Já a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros.

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

Ah, as nossas elites!


Ah, as nossas elites!
Jornal de Hoje /// Ilustração
Natal / RN, Data: 13 julho 2012
 Por: Vicente Serejo

Há quem não goste Senhor Redator, mas é verdade: não temos elites. E temos, se alguém chamar de elites os nossos ricos de toda espécie. Muitos deles, mas não diria todos, com passados fincados no Estado nutridos daqueles malabarismos como o perdão de dívidas nas secas, Sudene, reflorestamentos, estradas, obras públicas e que tais. Afastados estes, restariam poucos dotados de uma boa e bela história de vida para contar, se viver é também exercer a consciência de que liderar é construir novos destinos.

Os financistas no seu pragmatismo justificariam: somos economicamente pobres. Seria perfeito se não fosse uma falácia bem urdida. No passado éramos mais ainda, no entanto, tivemos consciência coletiva. E se ali existiu uma oligarquia pensante há de ter sido a Albuquerque Maranhão liderada por Pedro Velho. Não temeu a modernidade com medo de perder espaço e poder. Proclamou a República entre nós, fundou um jornal para discutir idéias, formou algumas gerações, foi uma verdadeira escola.

O Rio Grande do Norte vive hoje a mais medíocre de todas as gerações políticas. Da guerra do caju até hoje, nesta ilharga da Fortaleza dos Reis Magos e neste descampado de tabuleiros, nunca fomos tão pobres de grandeza. A geração que desapareceu pode ter tido aqueles defeitos inevitáveis da política, mas tinha inegável espírito público. Seus talentos não nasceram nas folhas dos inventários e dos formais de partilha como herdeiros de riqueza. Pelo contrário: tinham até medo de não realizarem o bem feito.

O que eles fizeram? Uma república para o voto livre. Jornais para o debate das idéias. Uma escola para educar a mulher. Uma universidade. Um hospital infantil. Um educandário para menores pobres. Educação rural e através do rádio. Energia de Paulo Afonso. A exploração de novas riquezas. A busca do turismo na geração de emprego e renda. E o que fazemos hoje? Vamos às urnas para empregar filhos que se sucederem a seus pais, e mesmo que o façam com gosto, serão no máximo bons herdeiros.

Nem o timbre e o tino dos velhos coronéis, sagazes e astutos, fundadores de vilas e povoados, temos mais. Neste descampado de talentos sobrou muito pouco como semente para se plantar um novo futuro que não seja este que hoje se reproduz todos os dias. Até a Universidade, nosso maior centro de idéias e pensamento, cumpre aquele destino perverso de transformar a prática da libertação e discussão em apenas, e pobremente, como disse o filósofo Luis Felipe Pondé, ‘num lugar de miséria intelectual’.

Não temos saída Senhor Redator. Pelo menos por enquanto. É o que nos aguarda nos próximos anos. Nenhum novo talento fere a monotonia do nosso céu político. Somos pardos e parcos em tudo, menos em grifes, signos luxuosos, ostentação. Tão pobres que extirpamos o pudor de nossa consciência crítica. Afinal, seria terrível ter que enfrentá-lo todas as manhãs, quando a vida tem gosto de pasta.  É como se disséssemos a uma só voz: ao lixo a discussão das idéias, a contradição, a liberdade de pensar!

A casta e a choldra

 A casta e a choldra
JOÃO BATISTA MACHADO
Jornalista ▶ jbmjor@yahoo.com.br
Novo Jornal /// Foto: Ilustração
Natal/ RN, 12 de julho de 2012

A chamada Constituição Cidadã foi assim batizada pelo presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulisses Guimarães, porque os direitos do cidadão estão acima dos deveres do Estado. Nas constituições anteriores ocorria justamente o contrário. Houve, então, uma inversão salutar dos conceitos.  Mas, infelizmente, foram criadas duas categorias diferenciadas de servidores: a casta e a choldra. Aos ricos, o banquete do erário. E aos pobres, as migalhas caídas da mesa.

Promulgada em 1988, privilegiou as carreiras de Estado dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, beneficiando com a vinculação dos seus vencimentos aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Concedido aumento a estes, concretiza-se o chamado efeito cascata sobre as folhas da União e Estados automaticamente. Os Estados do Nordeste são os mais atingidos com essa política de categorias privilegiadas em detrimento das reivindicações dos outros servidores destituídos de vinculações constitucionais.

Os contemplados por essa prerrogativa legal são ministros dos Tribunais Superiores, desembargadores federais, Ministério Público Federal e procuradores da República. Nos estados, desembargadores e juízes, Ministério Público estadual, procuradores, promotores, conselheiros e auditores dos Tribunais de Contas, além dos procuradores do poder Legislativo. Estas categorias diferenciadas terão sempre aumentos significativos. As outras, constituídas de médicos, professores, técnicos especializados e servidores comuns, não dispõem dos mesmos privilégios e se aposentam com salários modestos e defasados.

Historicamente, ainda convivemos com o rescaldo da cultura escravagista, quando existia o cidadão de primeira e segunda classe.

O senhorio e o escravo. A Constituição Cidadã, por exemplo, é mãe generosa para uma casta privilegiada e madrasta para a choldra, dentro dos limites da legalidade constitucional. Oficializamos a segregação entre os servidores públicos, em pleno Estado de Direito, numa agressão à cidadania, consequência da discriminação institucionalizada.

Portanto, o(a) sucessor(a) da governadora Rosalba Ciarlini poderá chegar ao governo com projetos ousados para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte, mas, na realidade, sua função será gerenciar a folha de pessoal, em face dos aumentos em cascata das carreiras jurídicas dos três poderes, que ainda dispõem do auxílio moradia e outras concessões generosas. Estas ficarão com a maior fatia da receita e a outra parte servirá para pagar o restante da folha e manutenção precária do custeio. Recursos para investimentos públicos nem pensar.

Recentemente, a Assembleia Legislativa aprovou e a governadora sancionou projeto de lei enviado pelo Tribunal de Justiça, concedendo, sob pretexto de alinhamento defasado, um substancial aumento aos juízes das três entrâncias. Pegando carona no mesmo projeto, o Ministério Público procedeu da mesma maneira, embora sabendo que o Estado continua enquadrado nos limites prudenciais da Lei de Responsabilidade Fiscal quanto aos gastos com pessoal.

O governo tinha negado aumento a outras categorias, alegando falta de recursos financeiros, inclusive o plano de cargos da administração direta e indireta, até hoje engavetado. Resta saber qual será o comportamento diante do fato consumado do poder Judiciário e do MP, já que abriu exceção, atropelando a Lei de Responsabilidade Fiscal. Os servidores não contemplados nem com banho de cuia, quanto menos cascata, aguardam ansiosos novos posicionamentos da governadora.

O lobby dos advogados

Durante os trabalhos da constituinte, acreditavam observadores políticos que os sindicalistas seriam os grandes beneficiados com a nova cara que seria promulgada em 1988, livrando o país dos últimos resquícios do regime militar. Foram tantos os privilégios concedidos que o então presidente José Sarney alertou que o país poderia ficar ingovernável mediante gastança desenfreada sem a preocupação entre receita e despesa.

Preocupados com os avanços da esquerda, os conservadores criaram o centrão de tendência direitista, dividindo o debate entre dois polos opostos. Coube ao deputado Mário Covas coordenar as bancadas progressistas para evitar o pior. Enquanto essa polêmica dividia o parlamento, o lobby dos advogados suplantou as conquistas dos sindicatos e moldou a nova casta de acordo com interesses corporativistas. Ainda foi inserido na Carta Magna, a pedido da OAB, o direito do réu permanecer em liberdade até o processo transitado em julgado.

Entre outras conquistas, a mais benéfica ao Judiciário e algumas categorias do Executivo e do Legislativo foi o chamado efeito cascata, vinculando os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal a toda magistratura da União e dos Estados. Aos poucos foram se ampliando e assegurando direitos ao Ministério Público Federal e estadual, além de outras instituições. O avanço do direito deles sobre a folha sufoca as chances de realinhamento dos modestos servidores.

Hoje, o efeito cascata é um sério complicador nas finanças dos estados mais modestos. Para atender à demanda sempre crescente, os governantes tendem a sacrificar investimentos e conter conquistas de outros funcionários sem amparo constitucional. Os futuros governadores, ou melhor, os gerentes das folhas de pessoal tentarão apenas manter o calendário de pagamento em dia. Se conseguirem o feito, já será uma expressiva conquista. E a quem não tem poder de barganha, como a choldra, só resta a opção eclesiástica: reclamar ao bispo.

Como criar um POVO IDIOTA

quinta-feira, junho 07, 2012

Eis por que autoridade não gosta da crítica

Eis por que as autoridades não gostam da crítica e preferem que a população fique SURDA/MUDA. De preferência, PARAPLÉGICA. Vejamos o que aconteceu depois da matéria nacional, na TV Globo, com a atriz potiguar Titina Medeiros. Depois que ela botou a boca no trombone, falando da indigência cultural no Rio Grande do Norte, para a mídia nacional, com ressonância em todo o país, de repente houve uma repercussão local. Artistas de teatro da capital fizeram um Ato público, denominado Cultura Não É Vento, com manifestações em vários pontos de Natal. Além de ficarem na frente da Fundação José Augusto, gestora da política cultural em todo o Estado, os artistas do movimento, munidos de ventiladores, faixas, alguns travestidos de palhaços, estiveram em frente ao Teatro Municipal Sandoval Wanderley, no Alecrim; Teatro Alberto Maranhão, Ribeira; e no Centro Experimental de Teatro, na Hermes da Fonseca; fechando a programação do ato público com um cortejo na Cidade Alta. Veja o vídeo do movimento, gravado por Yuno Silva, repórter da Tribuna do Norte, onde se encontra a matéria, com mais detalhes.
Artistas questionam política cultural
Tribuna do Norte, Caderno Viver
Natal/ RN, 06 de Junho de 2012


                     Ato público Cultura Não É Vento esteve em vários pontos de Natal, 
                         inclusive em frente à FJA (Foto: Yuno Silva/Caderno ViverTN)


A Rede Potiguar de Teatro realizou nesta terça-feira, em vários pontos da cidade, o ato público "Cultura Não É Vento", onde questiona o formato das políticas públicas para o segmento cultural adotadas pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de Natal. Munidos de ventiladores e faixas, atores e atrizes, devidamente caracterizados com nariz de palhaço e maquiagem, distribuíram panfletos e realizaram performance emulando a resistência contra um vendaval na calçada da Fundação José Augusto, no Tirol.

O grupo ainda protestou em frente ao Teatro Municipal Sandoval Wanderley, no Alecrim; Teatro Alberto Maranhão, Ribeira; e no Centro Experimental de Teatro, na Hermes da Fonseca; fechando a programação do ato "Cultura Não É Vento" com cortejo na Cidade Alta. "Esta é a forma que nós do teatro encontramos para dar um basta ao tipo de política cultural que vem sendo feita", disse a atriz Ivonete Albano. Ela enumerou uma série de motivos para justificar o protesto: "Esses editais lançados pela FJA/SecultRN, por exemplo, foram elaborados sem a participação dos artistas e não atendem às reais necessidades das categorias de teatro, de dança e de música, entre outras".

Outra crítica elencada pelos atores aponta para o fato dos recursos (R$ 800 mil) para a reforma do Teatro Sandoval Wanderley, principal espaço cultural do bairro do Alecrim fechado desde 2009 por problemas estruturais, estarem disponíveis desde novembro do ano passado, "mas correndo o risco de serem devolvidos ao Ministério da Cultura por falta de documentação e um projeto executivo. Sem falar na falta de respeito da Prefeitura ao não garantir verbas para o Fundo Municipal de Cultura - FIC de 2011, um direito adquirido através de edital público e previsto em lei", complementou Ivonete.

A Rede Potiguar de Teatro ainda encaminhou uma carta à governadora Rosalba Ciarlini, solicitando uma atitude diante da situação.

Saúde/RN: "Há tráfico de influência"

Entidades afirmam: "Há tráfico de influência"
Diário de Natal, Cidades
Edição de terça-feira, 5 de junho de 2012
Sinmed, Cremern e Sindsaúde repercutem declaração da promotora Iara Pinheiro
Fernanda Zauli
Fotos: Carlos Santos/DN/D.A Press e Fábio Cortez/DN/D.A Press

 
Geraldo Ferreira: 'Esse não parece ser o caminho ideal. O ideal seria que pessoas de carreira 
e lotadas em determinada unidade assumissem esses cargos de chefia' (Foto)

 A declaração da promotora da saúde Iara Pinheiro, em entrevista publicada n'O Poti, a respeito da existência de tráfico de influência na Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) repercutiu entre representantes de entidades de classe que concordaram com as afirmações. O diretor do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Geraldo Ferreira; o presidente do Conselho Regional de Medicina do RN (Cremern), Jeancarlo Fernandes Cavalcante; e a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN (Sindsaúde/RN), Sônia Godeira, concordaram que a indicação de pessoas para cargos de direção e chefia por influência política é uma prática presente no Estado e danosa ao sistema de saúde. O novo secretário, Isaú Gerino toma posse como titular da secretaria amanhã.
Jeancarlo Fernandes: '´(Isto) É danoso para o sistema de saúde. O ideal é que tivéssemos 
pessoas com perfil técnico em cargos chaves' (Foto)


"As indicações políticas acontecem em detrimento das indicações técnicas e isso, muitas vezes, é danoso para o sistema de saúde. O ideal é que tivéssemos pessoas com perfil técnico em cargos chaves", disse o presidente do Cremern, Jeancarlo Fernandes. A diretora do Sindsaúde é taxativa: "Isso acontece em todo o país, em todas as esferas: municipal, estadual e federal, e não deveria ser assim. A indicação política para cargos de chefia na área da saúde gera resultados desastrosos, como o que nós estamos vivendo agora: o caos na saúde pública", disse Sonia Godeiro.



Sônia Godeiro: 'A indicação política para cargos de chefia na área 
                                            da saúde gera resultados desastrosos' (Foto)

Indicação política

Ela citou, dentre outros problemas, a indicação de pessoas sem o perfil técnico necessário para gerir a área da saúde e a descontinuidade do serviço causado pelas tantas mudanças em cargos importantes. "Como os cargos são por indicação política a cada mudança de secretário mudam também os adjuntos, os coordenadores de unidade, os diretores de hospitais, e assim não há como garantir a continuidade do serviço. Nós defendemos que os cargos chaves sejam ocupados por funcionários de carreira, através de seleção para saber se aquela pessoa tem aptidão para a função, mas o que se vê é a nomeação de pessoas que não sabem nem o que é a saúde, que não entendem da lei do SUS, que não têm um curso de gestão pública, gestão hospitalar e que , muitas vezes, nem é da área".
O presidente do Sinmed, Geraldo Ferreira, também reconheceu que a indicação política para cargos que deveriam ser ocupados por técnicos é um fator negativo no gerenciamento da saúde pública. "Nós temos conhecimento dessa prática e esse não parece ser o caminho ideal. O ideal seria que pessoas de carreira e lotadas em determinada unidade assumissem esses cargos de chefia. Por exemplo, para administrar o Walfredo Gurgel é interessante que o nome dessa pessoa saia do quadro de pessoal de lá, porque essa pessoa conhece a realidade da unidade, os pontos fortes e fracos, e assim fica mais fácil obter êxito na administração", disse. A reportagem do Diário de Natal tentou falar com a secretária interina da Sesap, Dorinha Burlamaqui, mas a assessoria de imprensa informou que ela estava em reunião e não poderia atender às nossas ligações.
Na entrevista publicada n'O Poti do último domingo a promotora Iara pinheiro lamentou que não exista amparo judicial contra manobras de nomeação políticas, ficando o Ministério Público de mãos atadas.

segunda-feira, junho 04, 2012

Saúde: gestão amadora permeada de tráfico de influência

Sesap tem gestão amadora permeada de tráfico de influência, diz promotora 
Diário de Natal/ O Poti, Cidades
Edição de domingo, 3 de junho de 2012

Há oito anos à frente da promotoria da Saúde, Iara Pinheiro enfrenta a pior crise já vista, e desnuda os motivos que levaram ao caos
Jéssica Barros
Desabastecimento em hospitais de referência, pacientes morrendo em escala crescente por falta de leitos de UTI, déficit nos repasses orçamentários, gestão da saúde pública permeada por tráfico de influência, profissionais em greve e decisões judiciais descumpridas. Esse é o quadro com que lida, diariamente, a 47ª Promotora da Saúde, Iara Pinheiro.

Iara Pinheiro já ajuizou 80 ações na justiça contra o Executivo. 
                                                       Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press


Coordenadora do Fórum da Saúde Pública, criado para enfrentar a situação de "guerra" em que se encontra o setor, a promotora tem enfrentado um dos momentos mais delicados de sua carreira. Não por falta de competência para gerir a crise - muito pelo contrário. Mas pelo excesso de problemas que a fizeram chamar a atenção por emocionar-se em público na semana que passou, por algumas vezes, ao deixar aflorar "o misto de frustração e falta de tutela do Ministério Público para lidar com tamanho desgoverno".

"Se a saúde está no fundo do poço, precisamos de um recomeço", completa. Há oito anos à frente dessa promotoria no Ministério Público Estadual (MPE), Iara Pinheiro já contabiliza cerca de 80 ações ajuizadas no judiciário contra a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) e Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS), na maioria dos casos para garantir direitos da população e deveres básicos dos gestores públicos. A promotora prefere não tratar a situação atual da saúde como uma crise, para não dar a impressão de que já houve uma situação de normalidade. "O desgoverno e a falta de ações concretas sempre ocorreram", diz, lembrando que a atual administração foi eleita com a promessa de revitalização da saúde, inclusive no interior, mas até agora, nada foi feito.

Iara Pinheiro analisa a realidade atual como um somatório de anos de omissão dos gestores com a saúde pública. "É a mesma política deste governo em relação a outros tantos que já vi passar, como o de Garibaldi e de Wilma, mas isso não é desculpa. Não aceito um governo que venha justificar uma realidade negativa de gestão sanitária olhando pelo retrovisor". Não há soluções a curto prazo. Mas há, na opinião de Iara, como sair da "escuridão" em que se encontra o setor. "Prover saúde é um processo que tem que seguir adiante. Exige um fluxo contínuo de recursos e uma equipe profissional treinada. É tudo o que não temos", diz a promotora. "A população não tem noção real do risco que ela corre. Os hospitais estão ilhados, não há uma autoridade sanitária no estado", alerta.

Sem resposta

Se por um lado é difícil para a representante do Ministério Público encarar a realidade que não melhora, por outro, é pior constatar que boa parte das 80 representações encaminhadas ao Judiciário resultaram em decisões não cumpridas. Ela atribui ainda parcela da culpa à omissão dos municípios, também responsáveis por essa realidade de invasão de atendimentos na rede Sesap. "Os natalenses, por exemplo, estão morrendo dentro dos hospitais estaduais e essa é uma responsabilidade do município", afirma.

Entre as situações que exigem medidas enérgicas, está a ausência de repasses financeiros do orçamento do estado para o Fundo Estadual de Saúde, como denunciado em matéria do último dia 31 de maio no Diário de Natal, que constatou uma dívida de R$ 70 milhões do governo com a pasta da saúde. A promotora da saúde entende que "saúde não deve ser medida no gasto, porque saúde é investimento, mas hospitais regionais têm dinheiro investido e não dão o devido retorno à população", diz ela.

A promotora afirma ver com preocupação a omissão com que o poder público trata um setor tão crucial como a saúde pública, já que os resultados dessa conduta são danos irreparáveis. "Você não repara a morte de uma criança, a família nunca vai se recuperar desse choque. Uma mãe que tem um filho e não volta pra casa, impacta toda uma família", diz a promotora. Num levantamento feito pelo MP, foi constatado que 201 pessoas morreram no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel em 40 dias, 40 delas por ausência de leitos de UTI, inclusive uma criança de 7 anos. "As famílias são danificadas para sempre. Clamamos à sociedade que se organize e que os sindicatos se mantenham firmes na busca por melhorias nas condições de trabalho", pede a representante do MPE.

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E mais:

Do teto que cai ao remédio que falta

Para a promotora, o ideal seria que o MP atuasse no excepcional, no que pontualmente não estivesse funcionando, mas a realidade é que a promotoria da saúde tem uma atuação fragmentada. Vai de socorrer pessoas que estão morrendo, tetos que estão caindo em unidades básicas de atendimento a até mesmo exigir um controle de compra e distribuição de medicamentos dos municípios. Ela acredita que a proporção tomada pela promotoria da saúde é uma conseqüência da omissão governamental.

"Não existe tutela no MP para lidar com tamanho desgoverno. Ainda assim me orgulho das ações da promotoria que reduzem danos", comenta. "Quantos não tiveram acesso a medicamentos graças à ações do MP? Quantas crianças não são atendidas, bem ou mal, na UTI pediátrica do Giselda, que foi reativada por uma ação do MP? O quanto não lutamos por uma melhor alimentação para paciente e acompanhante no Walfredo, um inquérito que durou dois anos para ser posto em prática?", diz Iara Pinheiro, citando ações "no varejo" que a promotoria realiza.

Para quem lida, diariamente, com a falta de gestão e o sofrimento humano, o que mais choca é a omissão. Iara Pinheiro é taxativa em dizer que a omissão ocorre em larga escala. Questionada sobre o que a mantém motivada, a promotora silencia. Claramente emocionada, diz apenas que é muito difícil. "É muito difícil explicar de onde tiramos a motivação, mas graças a Deus ela sempre existiu para mim. Queremos nos apegar ao fato de que reduzimos danos, mas ainda é muito pouco frente ao desgoverno vivenciado", conclui.

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E mais:

Promotora denuncia tráfico de influência e incompetência



 'Saúde: gestão amadora, permeada de tráfico de influência, 
com pessoas colocadas nos cargos através dos políticos' (Foto)

Um outro problema denunciado pela 47ª promotora da saúde, Iara Pinheiro, é uma prática recorrente nas pastas da saúde, tanto estadual, quanto municipal: o tráfico de influência. "Percebemos, no nível central da Sesap, uma gestão amadora, permeada de tráfico de influência, com pessoas colocadas nos cargos através dos políticos", diz Iara, que considera a prática um absurdo. Segundo a promotora, essa falta de profissionalismo reflete em como o dinheiro é investido. Resulta, por exemplo, em uma coordenadoria administrativa que compra mal, é amadora e cujo trabalho é feito de maneira improvisada, sem qualquer avaliação se os nomeados realizam de fato um trabalho satisfatório.

Sobre a dificuldade de nomeação de um novo titular para a Sesap, a promotora defende que a secretaria precisa de um bom gestor que tenha conhecimento sobre a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ela, a Sesap deixa de captar investimentos federais muitas vezes pelo descumprimento de prazos, o que acredita ser inaceitável. "Cargos de coordenação são ocupados por indicações políticas e ninguém avalia se eles estão fazendo um bom trabalho", frisa ela.

Iara Pinheiro diz ainda que existem duas vertentes graves do problema. "Existe o problema do planejamento não repassar o dinheiro e o problema de uma gestão amadora, descompromissada e pouco profissional na rede estadual de saúde com pouquíssimas e raríssimas exceções", diz ela.

Iara cita casos de bons profissionais existentes na secretaria que são exonerados de seus cargos para dar espaço a nomeações de aliados políticos. Ela lamenta que não exista amparo judicial contra manobras de nomeação de aliados, ficando o MP de mãos atadas. "É um atraso que impacta negativamente nos serviços e faz com que, em larga escala, nós observemos a realidade, por exemplo, de hospitais como o Giselda Trigueiro. Muitos dos profissionais ouvidos durante a visita pediram uma nomeação técnica para os gestores da Sesap", relata Iara Pinheiro.

Segundo ela, é inadmissível que se esteja erguendo um estádio de futebol para a Copa do Mundo de 2014, com previsão de grandes investimentos em áreas como mobilidade, em um estado que sequer finaliza a reforma em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), como a de Cidade da Esperança, que se encontra fechada para conclusão das obras que se arrastam.

É um circo ou não é?

É um circo ou não é?
Ferreira Gullar
Folha de S.Paulo, São Paulo, domingo, 03 de junho de 2012
Ilustrada




'Não há mais em quem confiar' (Foto)

Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar

Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome.

É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar.



 'O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas 
por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes...' (Foto)

O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública.

 'Precatórios: às vezes esse dinheiro é apropriado 
por altos funcionários da própria Justiça' (Foto)

 
Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz.

Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta.

E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão.

Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal.

Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada.

Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu.

O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes.

De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu.

É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa.


Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. 
E o espetáculo continua... (Foto)



De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense.

E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse.

Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua...

Titina faz duras críticas a Micarla e Rosalba Ciarlini

Atriz de “Cheias de Charme” faz duras críticas a Micarla e Rosalba Ciarlini
Jornal de Hoje, Cidade
Natal/ RN, 03 junho 2012










 'A prefeita (Micarla) destruiu nossa cidade. E ainda entrou uma governadora igual. 
O Rio Grande do Norte está no momento de falência muito grande' (Foto)


Estreante em novelas, mas há 20 anos se apresentando pelos palcos do país, nem a própria Titina Medeiros, 35, imaginava que faria tanto sucesso na pele da incorrigível Socorro em “Cheias de Charme” (Globo). Ao narrar sua trajetória na carreira artística, a atriz natural de Acari teceu duras críticas ao governo do RN  e Prefeitura do Natal.

Acompanhe a entrevista publicada no Folha.com:
“F5″ – Você se inspirou em alguém para compor a Socorro?

Titina Medeiros - Me inspirei em duas pessoas, mas uma não quero falar o nome porque é da minha família, uma pessoa muito íntima, mas que reconhece que tem umas coisas dela na Socorro. E a outra é de um vídeo que vi na internet –que eu adoro–, que se chama “Duelo de Titãs – Travesti Gisela”. Meu sonho é conhecer essa pessoa. É um transexual que tem a autoestima como a da Socorro, que sempre acha que se sai muito bem. Mas nenhuma dessas pessoas tem o mau-caratismo da Socorro, apenas os trejeitos.

Uma vidente falará para a Chayene [Cláudia Abreu] que uma pessoa tomará tudo dela, mas a cantora acredita que é a Rosário [Leandra Leal]. Não seria a Socorro?

Eu acho que é a Socorro. Não sei muito ainda, mas acho que a Socorro vai dar uma reviravolta. No dia que a Rosário apareceu na casa de Chayene e fez comida para ela, foi a Socorro que a serviu. E a Chayene não lembra disso. E a Socorro já disse algumas vezes que ela vai ser dona de tudo aquilo. Isso me confunde, me faz pensar se ela é bobinha, ingênua, ou se mostra como ingênua pra depois dar o bote. Acho que ela é iludida, só quer o sucesso. Acho que ela vai se revelar.

E o que você está achando do texto dos autores?

Acho a novela muito dinâmica, com cenas curtas. Os autores deixaram muito espaço para o público criar. Eles não precisam explicar muito. No teatro tem muito isso. E essa coisa da leveza, da caricatura. Eu adoro.

Como está sendo essa experiência na TV?

Pra mim ainda está sendo bem difícil. Estou fazendo com alegria, estou muito feliz, mas é difícil por ser o primeiro trabalho, por ser um personagem de muita responsabilidade pra quem faz pela primeira vez. Mas estou me jogando. Não fico criando dificuldades.

Como você começou na arte?

Sou do sertão do Rio Grande do Norte, de uma cidade muito pequena chamada Acari, e até os 16 anos não conhecia o teatro. Eu queria ser musicista, estudava trompete, e jornalista, que é a minha formação acadêmica. Quando assisti a Maria do Céu Guerra no espetáculo “O Pranto de Maria Parda”, na capital, eu saí dali com a certeza de que queria fazer o que ela fazia. Então comecei a estudar teatro e com 19 anos já ganhava dinheiro com isso. Encontrei o [grupo] Clowns de Shakespeare e é onde estou até hoje.

Mas você ainda pertence ao Clowns de Shakespeare?

Esse ano a gente está com espetáculo “Sua Incelença, Ricardo III”. Como vim fazer novela estou sendo substituída, porque me avisaram de cara que não dava para conciliar teatro e TV, mas já estou morrendo de saudade.

E como está o circuito cultural em Natal?

Está muito sofrida a cultura do meu Estado. Quando há festivais as casas de espetáculo têm, em media, 80% de público, mas estamos num lugar muito triste porque a prefeita destruiu nossa cidade. E ainda entrou uma governadora igual. O Rio Grande do Norte está no momento de falência muito grande. O que nos mantém são os editais públicos, e como o grupo já tem uma história a gente consegue sobreviver. Essa coisa de eu estar na Globo bate para o potiguar como um motivo de orgulho. Eles dizem “pelo menos ela”. Sou muito apaixonada pela minha terra, mas falta aquele incentivo. O público potiguar nem sabe que existe tanta gente boa. Temos muita qualidade.

Gravações revelam negociação para compra de votos e Caixa 2 de Rosalba

Gravações revelam negociação para compra de votos e Caixa 2 de Rosalba
Jornal de Hoje, Política
Natal/ RN, 22 maio 2012
Política


 (Foto)

Caixa dois, diálogos sobre compra de votos no interior, troca de dinheiro por apoio político e busca pela emissão de notas frias para justificar a retirada de R$ 100 mil da conta de campanha de Betinho Rosado. As escutas telefônicas feitas no celular de Galbi Sadanha, em 2006, deram muito mais o que falar do que pretendiam. Isso porque por diversas vezes ele conversou com o ex-deputado Carlos Augusto Rosado e deu detalhe sobre os bastidores da campanha eleitoral que fez de Rosalba Ciarlini senadora da República – cargo que ocupou por quatro anos, antes de ser eleita governadora.
Os áudios estão disponíveis no blog do jornalista Daniel Dantas Lemos, e, segundo ele, foram conseguidos de maneira legal, para investigar Galbi Saldanha, por acobertamento do irmão dele, acusado de pistolagem.

Algumas pessoas incríveis que eu conheci

Some Awesome People That I Used To Know | MeTheOne

Prefeito de Macau é recordista em condenações, mas nunca foi punido

Prefeito de Macau é recordista em condenações, mas nunca foi punido 
Jornal de Hoje, Política
Natal/ RN, 25 maio 2012

É muito difícil alguém passar pela gestão pública sem responder a um processo. Porém, a mesma dificuldade é responder a oito processos no Tribunal de Justiça, mais dois no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) e oito no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e se manter no comando do Poder Executivo Municipal. E isso, o atual prefeito de Macau, Flávio Vieira Veras, do PMDB, conseguiu. Mesmo tendo sofrido cinco condenações só na Justiça Eleitoral.







'O atual prefeito de Macau, Flávio Vieira Veras, do PMDB, 
conseguiu se manter no comando do Poder Executivo Municipal, 
                                             mesmo tendo sofrido cinco condenações' (Foto)

A primeira condenação foi ainda em 2005, depois de ser acusado de compra de voto. Foi cassado, mas conseguiu voltar em 2006, através da eleição suplementar. Em 2007 foi novamente cassado, perdeu o mandato, mas reverteu a situação em setembro. Em outubro, foi novamente cassado pelo TRE, mas como na época não existia Ficha Limpa e a decisão cabia recurso, Flávio conseguiu se manter no cargo recorrendo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disputou as eleições no ano seguinte.

Em 2008, Flávio Veras foi condenado novamente no TRE, contudo, mais uma vez, conseguiu seguir no cargo. E a quinta e, até o momento, última condenação, ocorreu em maio de 2011, quando o TSE confirmou as sentenças de 3 anos e 8 meses de prisão e multa de R$ 10,4 mil a Flávio Veras. O caso foi levado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não analisou o pleito.

Fora esses casos na Justiça Eleitoral – com desdobramentos criminais – Flávio Veras também responde a outros oito processos no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJ/RN). Desses processos, um dos de maior destaque é a queixa crime contra o prefeito, por difamação e injúria de autoria de Luiz Gonzaga da Silva. Em outro processo, responde por “desobediência à requisição emanada pelo Ministério Público de dados técnicos indispensáveis ao ajuizamento da ação civil, e discorre sobre os elementos típicos necessários à configuração do tipo penal”.

O Ministério Público também aparece em outro caso: dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade. Em outro processo, Flávio Veras responde ao crime previsto no artigo 1º , inciso III, do Decreto-Lei nº 201/67, por 24 vezes, sob forma de crime continuado. O Código Penal tipifica diversas condutas criminosas praticas pelo Prefeito Municipal e, neste caso, pune-se o desvio ou a aplicação indevida, das rendas ou verbas públicas. Há processo também por prestação de contas tardias (artigo 1º, inciso VI, do Decreto Lei 201/67), por duas oportunidades.
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Flávio Veras é considerado “O Rei da Liminar”
Jornal de Hoje, Política
Natal/ RN, 25 maio 2012

No entanto, as condenações na Justiça Eleitoral não foram suficientes para tirar o prefeito Flávio Veras do poder. Em 2008, ele foi reeleito prefeito. Por sinal, a campanha que o levou a reeleição rendeu uma nova condenação, em dezembro do mesmo ano, agora com o vice Aluízio Félix de Farias, na Justiça Eleitoral. O motivo: distribuição de cestas básicas a população macauense, sem fundamentação em lei criadora de programa social. Valor da multa: R$ 10 mil. O prefeito eleito recorreu da decisão. Nos meios jurídicos, o prefeito é considerado “O Rei da Liminar”, em função de sempre conseguir driblar as decisões judiciais e nunca ter sido realmente punido pelos crimes que comete. Há casos até que, já aguardando a decisão de mais uma liminar que seria favorável, correligionários do prefeito Flávio Veras realizaram “O Forró da Liminar”, com sanfoneiro e queima de fogos, mesmo antes da decisão ter sido oficialmente anunciada.

Em março de 2009, o Ministério Público Federal conseguiu a abertura de processo no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) contra Flávio Veras por pressionar testemunhas para dar depoimentos falsos em seu favor na Justiça Eleitoral. A ação penal foi resultado das atitudes do prefeito em outubro do ano anterior, durante a análise do processo por compra de votos em 2004.

Quando a Polícia Civil de Macau ouviu os eleitores que teriam confirmado a venda de votos, apenas um deles manteve o depoimento prestado anteriormente. Os demais negaram que Flávio Veras tenha dado a eles qualquer ajuda financeira em troca de voto. Em janeiro de 2005 foi instaurado inquérito policial federal para investigar possíveis falsidades nas declarações prestadas por cinco testemunhas. Ao depor na Polícia Federal, elas se retrataram e declararam terem mentido em juízo devido a pressões exercidas por Flávio Veras, prefeito do município.

“A conduta descrita na inicial, novamente, encontra-se amparada por suficientes elementos de convicção e ajusta-se ao tipo do art. 343, caput e parágrafo único, do Código Penal. Com relação a ambos os crimes, portanto, tenho que a análise das evidências contidas nos autos aponta para a plausibilidade do direito invocado pelo Ministério Público Federal, havendo os indícios que exigem a instauração da ação penal”, afirmou o desembargador federal Cesar Carvalho, na época da apreciação do caso no TRF5.

segunda-feira, maio 28, 2012

TJRN: Não podemos deixar de nos indignar

Não podemos deixar de nos indignar
Isabel de Siqueira Menezes - promotora de justiça
Tribuna do Norte, Natal/RN, 27 de Maio de 2012
Artigo

'Não que não soubéssemos que alguns dos nossos órgãos julgadores fossem desonestos'...


Os últimos acontecimentos que envolvem o escândalo dos precatórios no Rio Grande do Norte nos leva a pensar como a cultura da desonestidade está profundamente arraigada na nossa sociedade, onde o órgão encarregado de desfazer injustiças, zelando pela honestidade e apaziguando os conflitos sociais, possuí funcionários que desviam dinheiro público.

Ora, quem trabalha na área jurídica de nosso Estado, ou é servidor publico, já ouviu casos que colocam em cheque a honestidade de alguns dos nossos órgãos julgadores.

Mas pensar que ocorreram desvios de dinheiro público através de funcionários desse órgão, que deve socorrer as pessoas que tiveram seus direitos desrespeitados é realmente preocupante. Mostra que a corrupção está em todas as esferas do serviço público, disseminado em nossa sociedade.

Através desse esquema de corrupção, dinheiro público escoou para as mãos de funcionários corruptos, deixando de pagar pessoas idosas, normalmente aposentadas, que sofreram de algum modo uma injustiça que deu origem ao crédito, que deveria ser pago através do precatório. Essas pessoas foram prejudicadas pela segunda vez, ao não receberem integralmente seus créditos ou serem preteridas em seu recebimento.

Quando o servidor público do judiciário desviou recursos do precatório para sua conta particular, prejudicou centenas de pessoas que residem no nosso Estado, que deixaram de ter uma escola pública de qualidade, ou um atendimento adequado de saúde no seu Município, pois recursos dos Municípios e Estado foram depositados na conta dos precatórios e foram desviados.

Além disso, é claro, retirou dos habitantes do Rio Grande do Norte a esperança de um dia ver as coisas melhorarem e que a Justiça venha realmente contribuir para que as pessoas que tiveram seus direitos violados fossem recompensadas.



Analisando todo o esquema de corrupção relatado pela nossa imprensa ficamos indignados. Não que não soubéssemos que alguns dos nossos órgãos julgadores fossem desonestos e muitas vezes decidissem com obscuras fundamentações. Mas porque os desvios de recursos públicos ocorreram, repetidamente, de forma simples, através de uma falha do controle interno do órgão, prejudicando pessoas que tiveram seus direitos reconhecidos e estavam aguardando durante anos em uma fila.

Agora, com o esquema revelado, só nos resta esperar que órgãos do judiciário estadual sejam renovados e os corruptos responsabilizados.



'Nossa história nos revela quinhentos anos de corrupção 
                                                 com absoluta certeza de impunidade.
                                                             Então o que fazer?' (Foto)

Não perder a esperança de que um dia a história vai mudar. Como disse Ana Carolina, em poema de Elisa Lucinda, que fala sobre corrupção: 

"Sei que não dá pra mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar pra mudar o final".

domingo, maio 27, 2012

O BRASIL NA VISÃO DOS AMERICANOS ( REPORTAGEM DA TV AMERICANA)

RN: a lucrativa indústria da seca

Fica claro e evidente o desejo de manter os currais eleitorais, de preferência dentro das piores condições de vida possível, pois o nosso povo "güüüenta". E estará sempre disponível para conservar seus tiranos de plantão...

RN> Déficit de representatividade e a “mandatocracia”

Déficit de representatividade e a “mandatocracia”
Por Alexandre Gonçalves Frazão
Jornal de Hoje
Natal/RN, 24 de maio de 2012


'(Os políticos do RN) Contentam-se, publicamente, com o baixo jogo 
da política tribal, defendendo os “seus” e acusando e tentando defenestrar 
“os outros”, “eus” e “outros” logo depois misturados e redefinidos numa 
guerra suja, cujo único resultado é manter tudo como está' (Foto)

Em artigo anterior, intitulado “Quem desgoverna”, publicado neste espaço de escribas anônimos ou nem tanto, escrevi que “a democracia potiguar tem desfalecido no mesmo instante em que se realiza – a campanha eleitoral”.
Protestei, naquele outro artigo, da inexistência de preocupação com projeto ou plano sério, com diagnóstico preciso e instrumentos eficazes de resolução dos problemas locais, na escolha dos candidatos a receber o mandato popular nessas terras. A prática é clara: escolhe-se o nome entre o grupo a que pertence o ungido e, depois, pensa-se no projeto, que em regra é mera peça de retórica.
O resultado disso é o distanciamento entre a democracia e a representatividade, que não significa mais garantia de poder político exercido para e em benefício dos cidadãos.
Se a democracia liberal se consolidou, nos séculos XVIII e XIX, na Europa, através do instrumento do mandato e do sufrágio, assim se espalhando para outros países estranhos ao “velho continente”, nós, herdeiros ingratos dessa tradição, hoje menosprezamos o mecanismo representativo e o fazemos antítese do poder dos cidadãos.
Triste constatação? Sim. Indignante, até.
Mas como não dizê-la, sendo um entre tantos assombrados por dois governos com desaprovação popular tão expressiva, segundo pesquisas de opinião divulgadas? Como ocultá-la, observando as tratativas de escolhas de candidatos para a eleição que se avizinha, muitos deles apontados pelas mesmas figuras que anos antes comandaram a indicação à eleição justamente das reprovadas nas urnas da opinião pública? Como respeitar mandatários que gostam da “direita” e, uma vez enxotados, declaram amor pela “esquerda”? E que “esquerda” é essa que faz do verde camaleão, vermelho?
Difícil ou quase raro os mandatários do RN virem a público com propostas de soluções para os problemas que afetam o tripé essencial da cidadania substancial: saúde-educação-segurança. As maiorias governistas construídas nos parlamentos igualmente não usam do legislativo como o celeiro de ideias com que poderiam ajudar os combalidos executivos a saírem da crise de gestão em que se encontram.
Contentam-se, publicamente, com o baixo jogo da política tribal, defendendo os “seus” e acusando e tentando defenestrar “os outros”, “eus” e “outros” logo depois misturados e redefinidos numa guerra suja cujo único resultado é manter tudo como está.
Verdadeira e boa democracia, na compreensão contemporânea do poder dos cidadãos, é, no mínimo, para além do direito de votar e ser votado e das liberdades básicas, o acesso a escolas que ensinem o necessário para permitir um projeto de futuro digno através do trabalho, o acesso a um sistema de saúde, público, misto ou privado, que permita a prevenção de males e o tratamento eficaz das doenças e a segurança de viver num espaço em que a legalidade é a regra, o crime sendo investigado e reprimido seriamente por um sistema de Justiça pronto e firme.
Isso, como referi, é o mínimo que se pode exigir do Estado, enquanto organização política. Já a construção dos mecanismos pelos quais paulatinamente se chegar a esse eldorado da cidadania é o básico que os mandatários podem oferecer ou tentar entregar ao público, num caso de verdadeira democracia.
Se assim não é, pode até haver representatividade, mas não poder do povo.
É mais “mandatocracia” do que essencialmente democracia.
É mais Arena das Dunas do que UTI pediátrica.
Alexandre Gonçalves Frazão, Promotor de Justiça do MPRN

RN e o Holocausto





Os políticos do Rio Grande do Norte não pestanejam se mesmo a morte de milhares puder lhes trazer fortuna garantida e o ganho eterno seguro nas costas de suas vítimas... Toleramos...

RN: Se a roleta for a do governo, pode

Se a roleta for a do governo pode
Laurence Bittencourt, jornalista (laurenceleite@bol.com.br
Jornal de Hoje



Natal/RN, Opinião, 25 de maio de 2012


Eleitor / Contribuinte / Cidadão, pronto para explorar  (Foto)
'Ele não sabe nem mesmo o que está pagando, nem os percentuais dos abusos da receita'

A grande perda da sociedade não está nos jogos de qualquer espécie e sim na quantidade de impostos. Além de criar iempregos, os jogadores também recebem os prêmios. Mas os governantes acham que o povo tem que trabalhar sem ter sequer o direito de gastar o seu próprio dinheiro como queira. Mesmo que o sujeito jogue e perca, a não ser, claro, que a roleta que gire "contra o povo" seja a do governo. Não é engraçado isto?
Dentro do mundo do jogo, o jogador pode jogar ou mesmo não querer jogar nada, já o jogo dos impostos o jogador não tem direito a nada, não pode optar por não jogar. Na verdade, ele não sabe nem mesmo o que está pagando, nem os percentuais dos abusos da receita (municipal, estadual e federal) cobrados a nós, vítimas do fisco.
Cabe a pergunta: será que estamos mesmo numa democracia? Que nada meu! Mais parece uma caritocracia. Mas também não é, pensando bem, pois se assim fosse o sujeito que ganha um salário mínimo não estaria pagando saúde cara,salários, carros, motoristas, assessores, ou melhor, aspones e tantas outras sacanagens a uma classe vergonhosa e dominante que impõe aos trabalhadores diariamente nesse grande feudo  chamado Brasil.
Sim, somos um grande feudo dividido em 27 feudos menores, tendo em cada um deles um príncipe ou uma princesa, apelidados de governadores. E mais: uma pseudolegislatura, chamada de Câmara ou Assembléia, e ainda uma "prisão de segurança mínima" também conhecida como Senado, que juntos numa força descomunal vivem de explorar e esbanjar o dinheiro dos bestas, também chamados de sociedade, no caso da nossa, de sociedade brasileira.

USA x Brasil

RN: Seca – mitos, mentiras e verdades






A seca não pode ser tratada como um fenômeno raro e surpreendente 
como querem alguns. Trata-se de um acontecimento natural cíclico (Foto)

Seca – mitos, mentiras e verdades
Ailton Salviano, geólogo/jornalista (ailton@digi.com.br)
Jornal de Hoje, 21 de maio de 2012

A TV em alta definição mostra a chocante paisagem da seca – carcaças de animais que morreram de sede, rios, açudes e lagoas com os últimos resquícios de água estagnada, o sertanejo queimando xique-xique para alimentar o que sobrou do gado. São cenários que podem até ser novidade para as novas gerações, mas trata-se de um quadro cíclico que infelizmente se repetiu durante todo o século 20 e entrou firme e forte no atual século 21.
Esta triste e infeliz situação já foi narrada em verso e prosa. Serviu para enriquecer alguns e para matar muitos. Foi justificativa para a criação de órgãos estatais que mais serviram de cabide de empregos e fonte de desvios de recursos que para amenizar este status quo. É comovente, mas é verdade, da miséria de tantos, alguns políticos inescrupulosos se locupletaram. Os incontáveis projetos fictícios financiados pelo erário e que jamais saíram do papel fazem parte dessa comédia tragifarsa.
As atitudes tomadas ao longo de todo esse tempo foram meros paliativos. Propositadamente, foram ações sem caráter permanente que podem ser retomadas sempre que aparecem estações prolongadas de estiagem. Um embuste que foi transformado numa espécie de indústria criminosa. As cenas mostradas pela TV foram e continuam sendo a proposição para reativar o pedido de esmolas. Uma enganação que se transformou ad eternum.
A seca não pode ser tratada como um fenômeno raro e surpreendente como querem alguns. Trata-se de um acontecimento natural cíclico. As precipitações pluviométricas no chamado polígono das secas não são as menores do mundo. A quantidade de chuva nos anos considerados normais pode perfeitamente ser aproveitada para cobrir o déficit de precipitações dos anos de seca. Para tanto, ações técnicas sérias e racionais devem ser implementadas.
Construir açudes e deixar 70% da água evaporar-se naturalmente, a rigor, não é solução. Incentivar a construção de esporádicas cisternas com áreas mínimas de captação é outra enganação. Poços tubulares em terrenos cristalinos sem um estudo prévio e sistemático de fraturas são um risco ou um tiro no escuro. Mesmo em pleno semiárido, as precipitações médias anuais em torno de 600mm são uma dádiva. O que não existe é a boa gestão desse recurso.
Associar as estiagens e as secas aos fenômenos climáticos “El Niño” e “La Niña” é interessante, mas não é novidade, tampouco solução. A inferência de chuvas com a temperatura dos oceanos é fato. O aquecimento dos mares por fontes extraterrestres, por exemplo a radiação solar com seus “sunspots” cíclicos, foi objeto de estudos incipientes do astrônomo Wilhelm Herschel no século 18, do naturalista Wilhelm Schüch, o Barão de Capanema, e do político e escritor cearense Tomás Pompeu, isto no século 19.
Com dados históricos dos séculos 18 e 19, e valores coligidos nas estações pluviométricas desde 1913, tentei por meio de uma vasta sequência de gráficos, estabelecer uma relação biunívoca entre os ciclos solares e os períodos de cheias e secas no nordeste. Encontrei muitas e interessantes coincidências, como o interregno de 9 a 12 anos, mas não pude fazer previsões com 100% de acerto. Afinal de contas, a natureza não é um modelo matemático rígido.
Baseado nos períodos cíclicos da seca dos séculos 18, 19 e 20, (9 a 12 anos) e desde que não haja outro “Minimum de Maunder”, período de 70 anos (1645-1715) em que cessou inexplicavelmente a atividade solar (sunspots), teremos infelizmente até o final do século 21, a previsão sombria de pelo menos, 8 (oito) períodos de estiagem. A probabilidade de acerto é bem razoável. Será que até lá continuaremos apenas com os paliativos políticos?


 Se não houver drásticas e profundas mudanças na qualidade e no caráter dos nossos políticos, é provável, que sim. Viveremos mais um século com o pires na mão. Como disseram Luiz Gonzaga e seu parceiro Zé Dantas na canção poema de 1953, “Vozes da Seca” – “A esmola dada a um homem são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.