sábado, setembro 30, 2006

Como é que pode?

O caboclo espia, coça a cabeça,
‘magina’, volve à modorra
e não dá pelo resto

Que fique bem claro: se ‘a nossa montanha é vítima de um parasita’, como Lobato aludia nas primeiras letras sobre o Jeca Tatu, que considerava inadaptável à civilização, hoje, o parasita é o governo, e não o caboclo que mora numa casa de taipa, tem oito filhos para sustentar, uma roça onde cultiva feijão (quando chove) e uma mulher que requenta restos de comida. Compara-se a um chupim quem se alimenta da miséria do povo. Ou quem desfila sua exuberância eleitoral na passarela do cordão de miseráveis jogados no curral de bolsas e cestas assistencialistas. Um povo subordinado, dependente, tem uma única lógica: votar nos governantes dos quais depende. Chega-se, assim, ao dossiêgate e à inferência: Lula poderá até descer um pouco do lugar onde se encontra, mas continuará firme na rota do segundo mandato.
E as perguntas afloram. Como podem perfis atolados na lama emergir tão depressa? Se eleitos, ganharão status mais confortável para se defender. Como se explica o fato de o PT patrocinar outro escândalo, quando se pensava que a crise do mensalão tivesse dado definitiva lição ao partido? Como se explica a ‘burrice’ da área de ‘mídia e risco’ da campanha, chefiada pelo churrasqueiro-mor da Granja do Torto, não pensar que a compra de um dossiê poderia acabar chamuscada? Mas, no Brasil, o tempo funciona como borracha de catástrofes. Inquietação, incredulidade e perplexidade cairão no limbo. Após o impacto sobre setores médios e formadores de opinião, o tsunami desaguará nas margens sem a força inicial. A cada estrondo, o caboclo soergue o torso, espia, coça a cabeça, ‘magina’, volve à modorra e não dá pelo resto. (Ponto de Vista, Gaudêncio Torquato, O Poti/ Diário de Natal, 01.10.06. Foto.)

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