domingo, setembro 10, 2006

Jogo de espelhos


Grandes interesses capitalistas quer estabilidade de seus investimentos em Cuba

Foi assim no tempo de Stálin e de Mao, continua sendo assim hoje, pelo menos no Terceiro Mundo (no Primeiro, temos o fenômeno dos grandes interesses capitalistas ligados ao poder castrista, que desejam, antes de mais nada, garantir a estabilidade dos seus investimentos em Cuba).
Inversamente, e de maneira ainda mais nítida, a extrema esquerda antidemocrática, sob muitos aspectos, prefere a direita à esquerda democrática.
Aqueles que se permitem criticar um regime como o castrista de um ponto de vista de esquerda certamente são tratados com uma violência muito maior do que a que é exercida contra os críticos de direita (na realidade, é muito mais fácil enfrentar estes últimos).
Os críticos de esquerda - sei por experiência própria - são, em geral, denunciados como "gusanos" (vermes) ou outros epítetos zoológicos que substituem com vantagem os argumentos racionais e a análise dos fatos.
Um segundo elemento nos devolve ao nosso ponto de partida. A extrema esquerda brasileira se apóia freqüentemente numa extrema esquerda intelectual do Primeiro Mundo.
Há aí um curioso jogo de espelhos. Jornais e revistas de extrema esquerda, editados na Europa, têm boa parte de seus leitores e assinantes na extrema esquerda do mundo subdesenvolvido. Esta, por sua vez, se legitima no que supõe ser "a imprensa revolucionária do Primeiro Mundo".
Na realidade, trata-se de publicações (às vezes muito decadentes) que, precisamente, vivem daquele público radical do Terceiro Mundo. O manifesto pró-Heloísa Helena se insere, um pouco, nesse jogo de espelhos. A candidata tem até os seus méritos (por exemplo, a sua crítica à corrupção petista). Mas ela seria melhor sem o coro radical, que, "da Europa, França e Bahia", a acompanha com o seu eco.
(Artigo do filósofo Ruy Fausto, Caderno Mais!, Folha de São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006.) Foto.

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