segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Os 50 anos da Globo, o povo não é bobo

Os 50 anos da Globo


Comprovadamente ré num processo em que sonegou milhões de reais em impostos, a Rede Globo continua recebendo verbas milionárias dos cofres públicos, gastos em publicidades
10/02/2014
Editorial da edição 624

No final de semana, 7 de feve­reiro, a diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo dando a seguinte ordem:

“Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato”

Atenção para a orientação

“Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar ne­nhum com citação ao Fernando Hen­rique”.

Conta o jornalista Luis Nassif que a ordem se deveu ao fato da reportagem da emissora ter procurado FHC pa­ra repercutir as declarações de Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, que denunciou a existência do esquema de corrupção ainda no governo tucano.

Tanto quanto foi no mensalão (AP 470), cabe à Globo desinformar a po­pulação e criar no imaginário da po­pulação que a corrupção da Petrobras é uma invenção petista. Os tucanos, sejam os do governo de Yeda Cru­sius (RS), Aécio Neves (MG), Beto Ri­cha (PR) e os dos 20 anos do governo paulista, são probos... para a mídia.

Quantos mandatos o governo petista necessitará para se convencer de que o monopólio de comunicação exercido pela Rede Globo é um atentado à de­mocracia e é a maior trincheira, anti­democrática, de resistência às politicas sociais e à distribuição da riqueza pro­duzida em nosso país?

Um monopólio que nasceu e se con­solidou graças ao apoio que deu ao gol­pe militar, em 1964, destituindo um governo democraticamente eleito e jo­gando o país numa ditadura militar de duas décadas.

Não satisfeita em lamber as botas de governos ditatoriais, não poupou es­forços, nos seus 50 anos de malfada existência, a fazer a defesa de políticas entreguistas, do interesse do império.

Um entreguismo que está em seu DNA e que aflora, agora, com toda sua purulência nos ataques que faz à Pe­trobras. Fingindo combater a corrup­ção existente na empresa, uma prática entranhada desde governos anteriores ao dos petistas, esconde seus reais ob­jetivos: acabar com o sistema de par­tilha do petróleo, esquartejar e, pos­teriormente, privatizar a Petrobras. A mesma política entreguista defendida pelos tucanos José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. Assim, o e-mail da diretora de jornalismo da Globo, acima exposto, faz parte desse conluio mídia-tucanos, cada vez mais exposto à sua nudez.

Comprovadamente ré num processo em que sonegou milhões de reais em impostos, a Rede Globo continua re­cebendo verbas milionárias dos cofres públicos, gastos em publicidades. Re­cursos públicos que fortalecem uma mídia que se especializou em crimina­lizar a política, em atacar incessante­mente o atual governo, em condenar adversários políticos antes mesmo de qualquer julgamento, em promover assassinatos de reputações, em insti­gar os sentimentos mais antidemocrá­ticos, latentes nos segmentos mais re­acionários.

Um caso de sonegação que se asso­cia a outro crime: o processo foi furta­do da Receita Federal e até hoje per­manece desconhecido quem esteve por trás da funcionária que cometeu a ação criminosa. Sabe-se apenas que o furto, inexplicável até o momento, beneficiou indiretamente os réus do processo.

Sendo a família Marinho a mais rica do país, é compreensível que coloque seu império midiático contra as ini­ciativas de leis que defendem a neces­sidade de taxar as grandes fortunas, como ocorrem na maioria dos países desenvolvidos. Incompreensível é que esse arroto dos Marinhos, publicado como editorial no jornal da família, se torne a única versão a ser publicada pela mídia brasileira.

Não satisfeita em defender seus in­teresses econômicos e sua fortuna fa­miliar, não hesita em se contrapor às iniciativas de aperfeiçoar os mecanis­mos de participação popular na poli­tica e de fortalecimento da democra­cia em nosso país. Em outro recen­te editorial, a família Marinho se posi­cionou contra uma Assembleia Nacio­nal Constituinte, exclusiva, para que a sociedade possa promover as mudan­ças na política, reivindicadas nas gi­gantescas mobilizações populares, em junho de 2013. Ao se contrapor, utili­za como único argumento que se tra­ta uma iniciativa do PT para se man­ter no poder. Quando os tucanos com­praram votos de parlamentares para instituir a reeleição e assegurar o se­gundo mandato de FHC, nenhuma li­nha foi escrita.

Ignora, a Globo, propositalmente em sua incansável prática de promo­ver um jornalismo partidarizado, que essa inciativa pertence há centenas de movimentos populares, sindicais, estudantis e das pastorais de igrejas. Uma mobilização popular que em se­tembro do ano passado recolheu qua­se 8 milhões de assinaturas em defe­sa dessa proposta política.

Os setores conservadores aceitam apenas reforma políticas feitas sob o controle dos próprios parlamenta­res, confiando possuir a maioria no Congresso Nacional. Por isso, usan­do mais uma das artimanhas do mi­nistro Gilmar Mendes, conseguiram impedir que o STF decidisse favora­velmente pelo fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, um dos principais focos de corrupção na política.

Estranhamente, o ministro Mendes recebeu da família Marinho o mesmo tratamento dispensado à FHC, quan­do denúncias envolvendo-o foram proibidas de serem divulgadas na re­vista Época.

A liberdade de expressão já é uma conquista do povo brasileiro, conso­lidada na Constituição Federal. É ne­cessário, agora, aperfeiçoar e fortale­cer esse direito, enfrentando o mono­pólio da mídia empresarial/familiar e democratizar a comunicação em nosso país. Que fiquem para trás os dias em que os Poderes da República eram reféns da família Marinho.

A sub-representação no Parlamento Brasileiro

Viagem aos Limites do Universo legendado

"Estamos à beira da total auto-destruição?", Noam Chomsky

"Estamos à beira da total auto-destruição?"
Análise

Existem mais processos de longo prazo apontando na direção, talvez não da destruição total, mas ao menos da destruição da capacidade de uma vida decente

27/01/2015

Por Noam Chomsky,

O que o futuro trará? Uma postura razoável seria tentar olhar para a espécie humana de fora. Então imagine que você é um extraterrestre observador que está tentando desvendar o que acontece aqui ou, imagine que és um historiador daqui a 100 anos - assumindo que existam historiadores em 100 anos, o que não é óbvio - e você está olhando para o que acontece. Você veria algo impressionante.

Pela primeira vez na história da espécie humana, desenvolvemos claramente a capacidade de nos destruirmos. Isso é verdade desde 1945. Agora está finalmente sendo reconhecido que existem mais processos de longo-prazo como a destruição ambiental liderando na mesma direção, talvez não à destruição total, mas ao menos à destruição da capacidade de uma existência decente.

E existem outros perigos como pandemias, as quais estão relacionadas à globalização e interação. Então, existem processos em curso e instituições em vigor, como sistemas de armas nucleares, os quais podem levar à explosão ou talvez, extermínio, da existência organizada.

Como destruir o planeta sem tentar muito

A pergunta é: O que as pessoas estão fazendo a respeito? Nada disso é segredo. Está tudo perfeitamente aberto. De fato, você tem que fazer um esforço para não enxergar.

Houveram uma gama de reações. Têm aqueles que estão tentando ao máximo fazer algo em relação à essas ameaças, e outros que estão agindo para aumentá-las. Se olhar para quem são, esse historiador futurista ou extraterrestre observador veriam algo estranho. As sociedades menos desenvolvidas, incluindo povos indígenas, ou seus remanescentes, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá, que estão tentando mitigar ou superar essas ameaças. Não estão falando sobre guerra nuclear, mas sim desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer algo a respeito.

De fato, ao redor do mundo - Austrália, Índia, América do Sul - existem batalhas acontecendo, às vezes guerras. Na Índia, é uma guerra enorme sobre a destruição ambiental direta, com sociedades tribais tentando resistir às operações de extração de recursos que são extremamente prejudiciais localmente, mas também em suas consequências gerais. Em sociedades onde as populações indígenas têm influência, muitos tomam uma posição forte. O mais forte dos países em relação ao aquecimento global é a Bolívia, cuja maioria é indígena e requisitos constitucionais protegem os “direitos da natureza”.

O Equador, o qual também tem uma população indígena ampla, é o único exportador de petróleo que conheço onde o governo está procurando auxílio para ajudar a manter o petróleo no solo, ao invés de produzi-lo e exportá-lo - e no solo é onde deveria estar.

O presidente Venezuelano Hugo Chávez, que morreu recentemente e foi objeto de gozação, insulto e ódio ao redor do mundo ocidental, atendeu a uma sessão da Assembléia Geral da ONU a poucos anos atrás onde ele suscitou todo tipo de ridículo ao chamar George W. Bush de demônio. Ele também concedeu um discurso que foi interessante. Claro, Venezuela é uma grande produtora de petróleo. O petróleo é praticamente todo seu PIB. Naquele discurso, ele alertou dos perigos do sobreuso dos combustíveis fóssil e sugeriu aos países produtores e consumidores que se juntassem para tentar manejar formas de diminuir o uso desses combustíveis. Isso foi bem impressionante da parte de um produtor de petróleo. Você sabe, ele era parte índio, com passado indígena. Esse aspecto de suas ações na ONU nunca foi reportado, diferentemente das coisas engraçadas que fez.

Então, em um extremo têm-se os indígenas, sociedades tribais tentando amenizar a corrida ao desastre. No outro extremo, as sociedades mais ricas, poderosas na história da humanidade, como os EUA e o Canadá, que estão correndo em velocidade máxima para destruir o meio ambiente o mais rápido possível. Diferentemente do Equador e das sociedades indígenas ao redor do mundo, eles querem extrair cada gota de hidrocarbonetos do solo com toda velocidade possível.

Ambos partidos políticos, o presidente Obama, a mídia, e a imprensa internacional parecem estar olhando adiante com grande entusiasmo para o que eles chamam de “um século de independência energética” para os EUA. Independência energética é quase um conceito sem significado, mas botamos isso de lado. O que eles querem dizer é: teremos um século no qual maximizaremos o uso de combustíveis fóssil e contribuiremos para a destruição do planeta.

E esse é basicamente o caso em todo lugar. Admitidamente, quando se trata de desenvolvimento de energia alternativa, a Europa está fazendo alguma coisa. Enquanto isso, os EUA, o mais rico e poderoso país de toda a história do mundo, é a única nação dentre talvez 100 relevantes que não possui uma política nacional para a restrição do uso de combustíveis fóssil, e que nem ao menos mira na energia renovável. Não é por que a população não quer. Os americanos estão bem próximos da norma internacional com sua preocupação com o aquecimento global. Suas estruturas institucionais que bloqueiam a mudança. Os interesses comerciais não aceitam e são poderosos em determinar políticas, então temos um grande vão entre opinião e política em muitas questões, incluindo esta. Então, é isso que o historiador do futuro veria. Ele também pode ler os jornais científicos de hoje. Cada um que você abre tem uma predição mais horrível que a outra.

“O momento mais perigoso na história”

A outra questão é a guerra nuclear. É sabido por um bom tempo, que se tivesse que haver uma primeira tacada por uma super potência, mesmo sem retaliação, provavelmente destruiria a civilização somente por causa das consequências de um inverno-nuclear que se seguiria. Você pode ler sobre isso no Boletim de Cientistas Atômicos. É bem compreendido. Então o perigo sempre foi muito pior do que achávamos que fosse.

Acabamos de passar pelo 50o aniversário da Crise dos Mísseis Cubanos, a qual foi chamada de “o momento mais perigoso na história” pelo historiador Arthur Schlesinger, o conselheiro do presidente John F. Kennedy. E foi. Foi uma chamada bem próxima do fim, e não foi a única vez tampouco. De algumas formas, no entanto, o pior aspecto desses eventos é que a lições não foram aprendidas.

O que aconteceu na crise dos mísseis em outubro de 1962 foi petrificado para parecer que atos de coragem e reflexão eram abundantes. A verdade é que todo o episódio foi quase insano. Houve um ponto, enquanto a crise chegava em seu pico, que o Premier Soviético Nikita Khrushchev escreveu para Kennedy oferecendo resolver a questão com um anuncio publico de retirada dos mísseis russos de Cuba e dos mísseis americanos da Turquia. Na realidade, Kennedy nem sabia que os EUA possuíam mísseis na Turquia na época. Estavam sendo retirados de todo modo, porque estavam sendo substituídos por submarinos nucleares mais letais, e que eram invulneráveis.

Então essa era a proposta. Kennedy e seus conselheiros consideraram-na - e a rejeitaram. Na época, o próprio Kennedy estimava a possibilidade de uma guerra nuclear em um terço da metade. Então Kennedy estava disposto a aceitar um risco muito alto de destruição em massa afim de estabelecer o princípio de que nós - e somente nós - temos o direito de deter mísseis ofensivos além de nossas fronteiras, na realidade em qualquer lugar que quisermos, sem importar o risco aos outros - e a nós mesmos, se tudo sair do controle. Temos esse direito, mas ninguém mais o detém.

No entanto, Kennedy aceitou um acordo secreto para a retirada dos mísseis que os EUA já estavam retirando, somente se nunca fosse à publico. Khrushchev, em outras palavras, teve que retirar abertamente os mísseis russos enquanto os EUA secretamente retiraram seus obsoletos; isto é, Khrushchev teve que ser humilhado e Kennedy manteve sua pose de macho. Ele é altamente elogiado por isso: coragem e popularidade sob ameaça, e por aí vai. O horror de suas decisões não é nem mencionado - tente achar nos arquivos.

E para somar um pouco mais, poucos meses antes da crise estourar os EUA haviam mandado mísseis com ogivas nucleares para Okinawa. Eram mirados na China durante um período de grande tensão regional.

Bom, quem liga? Temos o direito de fazer o que quisermos em qualquer lugar do mundo. Essa foi uma lição daquela época, mas haviam outras por vir.

Dez anos depois disso, em 1973, o secretário de estado Henry Kissinger chamou um alerta vermelho nuclear. Era seu modo de avisar à Rússia para não interferir na constante guerra Israel-Árabes e, em particular, não interferir depois de terem informado aos israelenses que poderiam violar o cessar fogo que os EUA  e a Rússia haviam concordado. Felizmente, nada aconteceu.

Dez anos depois, o presidente em vigor era Ronald Reagan. Assim que entrou na Casa Branca, ele e seus conselheiros fizeram com que a Força Aérea começasse a entrar no espaço aéreo Russo para tentar levantar informações sobre os sistemas de alerta russos, Operação Able Archer. Essencialmente, eram ataques falsos. Os Russos estavam incertos, alguns oficiais de alta patente acreditavam que seria o primeiro passo para um ataque real. Felizmente, eles não reagiram, mesmo sendo uma chamada estreita. E continua assim.

O que pensar das crises nucleares Iraniana e Norte-Coreana

No momento, a questão nuclear está regularmente nas capas nos casos do Irã e da Coréia do Norte. Existem jeitos de lidar com esse crise contínua. Talvez não funcionasse, mas ao menos tentaria. No entanto, não estão nem sendo consideradas, nem reportadas.

Tome o caso do Irã, que é considerado no ocidente - não no mundo árabe, não na Ásia - a maior ameaça à paz mundial. É uma obsessão ocidental, e é interessante investigar as razões disso, mas deixarei isso de lado. Há um jeito de lidar com a suposta maior ameaça à paz mundial? Na realidade existem várias. Uma forma, bastante sensível, foi proposta alguns meses atrás em uma reunião dos países não alinhados em Teerã. De fato, estavam apenas reiterando uma proposta que esteve circulando por décadas, pressionada particularmente pelo Egito, e que foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU.

A proposta é mover em direção ao estabelecimento de uma zona sem armas nucleares na região. Essa não seria a resposta para tudo, mas seria um grande passo à frente. E haviam modos de proceder. Sob o patrocínio da ONU, houve uma conferência internacional na Finlândia dezembro passado para tentar implementar planos nesta trajetória. O que aconteceu? Você não lerá sobre isso nos jornais pois não foi divulgado - somente em jornais especialistas.

No início de novembro, o Irã concordou em comparecer à reunião. Alguns dias depois Obama cancelou a reunião, dizendo que a hora não estava correta. O Parlamento Europeu divulgou uma declaração pedindo que continuasse, assim como os estados árabes. Nada resultou. Então moveremos em direção a sanções mais rígidas contra a população Iraniana - não prejudica o regime - e talvez guerra. Quem sabe o que irá acontecer?

No nordeste da Ásia, é a mesma coisa. A Coréia do Norte pode ser o país mais louco do mundo. É certamente um bom competidor para o título. Mas faz sentido tentar adivinhar o que se passa pela cabeça alheia quando estão agindo feito loucos. Por que se comportariam assim? Nos imagine na situação deles. Imagine o que significou na Guerra da Coréia anos dos 1950’s o seu país ser totalmente nivelado, tudo destruído por uma enorme super potência, a qual estava regozijando sobre o que estava fazendo. Imagine a marca que deixaria para trás.

Tenha em mente que a liderança Norte Coreana possivelmente leu os jornais públicos militares desta super potência na época explicando que, uma vez que todo o resto da Coréia do Norte foi destruído, a força aérea foi enviada para a Coréia do Norte para destruir suas represas, enormes represas que controlavam o fornecimento de água - um crime de guerra, pelo qual pessoas foram enforcadas em Nuremberg. E esses jornais oficiais falavam excitadamente sobre como foi maravilhoso ver a água se esvaindo, e os asiáticos correndo e tentando sobreviver. Os jornais exaltavam com algo que para os asiáticos fora horrores para além da imaginação. Significou a destruição de sua colheita de arroz, o que resultou em fome e morte. Quão maravilhoso! Não está na nossa memória, mas está na deles.

Voltemos ao presente. Há uma história recente interessante. Em 1993, Israel e Coréia do Norte se moviam em direção a um acordo no qual a Coréia do Norte pararia de enviar quaisquer mísseis ou tecnologia militar para o Oriente Médio e Israel reconheceria seu país. O presidente Clinton interveio e bloqueou. Pouco depois disso, em retaliação, a Coréia do Norte promoveu um teste de mísseis pequeno. Os EUA e a Coréia do Norte chegaram então a um acordo em 1994 que interrompeu seu trabalho nuclear e foi mais ou menos honrado pelos dois lados. Quando George W. Bush tomou posse, a Coréia do Norte tinha talvez uma arma nuclear e verificadamente não produzia mais.

Bush imediatamente lançou seu militarismo agressivo, ameaçando a Coréia do Norte - “machado do mal” e tudo isso - então a Coréia do Norte voltou a trabalhar com seu programa nuclear. Na época que Bush deixou a Casa Branca, tinham de 8 a 10 armas nucleares e um sistema de mísseis, outra grande conquista neoconservadora. No meio, outras coisas aconteceram. Em 2005, os EUA e a Coréia do Norte realmente chegaram a um acordo no qual a Coréia do Norte teria que terminar com todo seu desenvolvimento nuclear e de mísseis. Em troca, o ocidente, mas principalmente os EUA, forneceria um reator de água natural para suas necessidades medicinais e pararia com declarações agressivas. Eles então formariam um pacto de não agressão e caminhariam em direção ao conforto.

Era muito promissor, mas quase imediatamente Bush menosprezou. Retirou a oferta do reator de água natural e iniciou programas para compelir bancos a pararem de manejar qualquer transação Norte Coreana, até mesmo as legais. Os Norte Coreanos reagiram revivendo seu programa de armas nuclear. E esse é o modo que se segue.

É bem sabido. Pode-se ler na cultura americana principal. O que dizem é: é um regime bem louco, mas também segue uma política do olho por olho, dente por dente. Você faz um gesto hostil e responderemos com um gesto louco nosso. Você faz um gesto confortável e responderemos da mesma forma.

Ultimamente, por exemplo, existem exercícios militares Sul Coreanos-Americanos na península Coreana a qual, do ponto de vista do Norte, tem que parecer ameaçador. Pensaríamos que estão nos ameaçando se estivessem indo ao Canadá e mirando em nós. No curso disso, os mais avançados bombardeiros na história, Stealth B-2 e B-52, estão travando ataques de bombardeio nuclear simulados nas fronteiras da Coréia do Norte.

Isso, com certeza, reacende a chama do passado. Eles lembram daquele passado, então estão reagindo de uma forma agressiva e extrema. Bom, o que chega no ocidente derivado disso tudo é o quão loucos e horríveis os líderes Norte Coreanos são. Sim, eles são. Mas essa não é toda a história, e esse é o jeito que o mundo está indo.

Não é que não haja alternativas. As alternativas somente não estão sendo levadas em conta. Isso é perigoso. Então, se me perguntar como o mundo estará no futuro, saiba que não é uma boa imagem. A menos que as pessoas façam algo a respeito. Sempre podemos.

Texto originalmente publicado no Alternet.

Tradução: Isabela Palhares

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

De quem é a culpa da falta d´água em São Paulo

Assembleia discute falta d´água em São Paulo

Audiência pública na Assembleia Legislativa de SP debate crise hídrica
Participantes debateram e apresentaram propostas de curto e longo prazos.
Para especialistas, a situação 'é bastante grave'.
FACEBOOK - 06/02/2015 00h16 - Atualizado em 06/02/2015 00h16


 Dezenas de pessoas participam de audiência pública sobre a crise hídrica no Auditório Franco Montoro, na Alesp (Foto: Marcelo Mora/G1)

A crise hídrica em São Paulo que afeta a região metropolitana e parte do interior de São Paulo foi objeto de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, na região do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, no final da tarde e noite desta quinta-feira (5).

Especialistas, políticos, funcionários da Sabesp e representantes de movimentos sociais e de preservação do meio ambiental debateram, no Auditório Franco Montoro, o tema ao longo de mais de quatro horas, apontando os motivos que levaram à escassez de água nestas regiões e apresentando propostas para tentar minimizar os efeitos da crise.
Não participaram do evento representantes do governo estadual e nem da Sabesp. Também não compareceram integrantes de órgãos específicos do setor, como Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e Agência Nacional de Águas (ANA), e nem políticos da situação e da base de apoio a Geraldo Alckmin no legislativo estadual.

“A Assembleia tem de fazer esse debate, tem de apresentar soluções, tem de ouvir a população, essa é a primeira questão. Outra questão é que estamos ouvindo, coletando propostas para sair desta crise. Movimentos sociais, técnicos, funcionários da Sabesp, representantes das universidades públicas estão trazendo muitas propostas interessantes aqui”, afirmou o deputado estadual Carlos Giannazi, do Psol, que coordenou os trabalhos na mesa de debates.
Especialistas do setor esboçaram um quadro bastante crítico para o abastecimento deste recurso para os próximos anos.

“A situação é grave”, resumiu Antonio Carlos Zuffo, professor da área de hidrologia e gestão de recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Uma das propostas apresentadas por ele em sua apresentação foi a de usar a água ‘bruta’ da Represa Billings para atender as cerca de seis milhões de pessoas abastecidas pelo Sistema Cantareira.

“Se acabarem as três cotas do volume morto do Cantareira nos próximos meses, não haveria outra alternativa. Poderia ser feita a desinfecção da água da Billings para que a população pudesse utilizá-la em descargas, para limpeza e tomar banho. A água teria cheiro mas dá para usar. Outra parte da Billings iria para o Sistema Alto Cantareira, onde seria tratada. Essa água tratada, potável, teria de ser distribuída pela Sabesp em lugares públicos, como praças, por exemplo”, explicou.

Segundo Zuffo, em relação à Billings, o principal ‘gargalo’ no momento seria, na verdade, a capacidade de tratamento da água da represa.

O engenheiro civil e sanitarista José Roberto Kachel do Santos, que trabalhou por 34 anos na Sabesp, afirmou, por sua vez, que “a situação é muito crítica”. Ele apresentou gráficos para ilustrar de que forma o Sistema Cantareira foi quase exaurido. Na média anual, foram retirados 24,18 metros cúbicos do sistema em 2014. Em contrapartida, as represas receberam apenas 8,75 de metros cúbicos, um terço do que foi retirado, no ano passado.
“A Sabesp retirou muito mais do que deveria, adotando cenários otimistas, irreais. A questão todinha é essa: a Sabesp não se preparou para o pior e ficou esperando pelo melhor”, sintetizou.
Segundo ele, é muito difícil fazer uma previsão de quando o sistema será normalizado. “Para fazer as contas de entrada e saída foi fácil, porque são volumes já constatados. Agora é um cálculo muito difícil prever quando o sistema irá se recuperar e normalizar, porque depende de muitos fatores, como climáticos e ambientais”, disse.
Dentre as propostas apresentadas por representantes de movimento sociais, estão o tabelamento do preço da água potável e a distribuição de recipientes adequados para o armazenamento deste recurso, com o objetivo de evitar a proliferação de difusores de epidemias, como o mosquito da dengue.
“Não necessariamente a gente precisa de mais água, mas precisamos usar melhor a água”, afirmou Marussia Whately, uma das coordenadoras do Aliança pela Água, que congrega cerca de 50 entidades da sociedade civil com objetivo de contribuir para construção da segurança hídrica em São Paulo.

Um dos três princípios básico defendidos pela coalização é o de que água “não é mercadoria”, segundo Marussia. “O excesso de água, como já vimos no caso de enchentes, provoca solidariedade. A escassez de água, por sua vez, gera disputas”, enfatizou.
Todas as propostas apresentadas na audiência pública serão reunidas em um documento e apresentadas em plenário na Assembleia com o objetivo de elaborar projetos de lei que possam vir a facilitar a implementação das mesmas no futuro, segundo Giannazi.