domingo, setembro 17, 2006

Pensar com muletas de reflexão

Ausências
Luiz Fernando Vianna

RIO DE JANEIRO - Questionado sobre as motivações dos seminários "O Silêncio dos Intelectuais", realizado em 2005, e "O Esquecimento da Política", que está acontecendo agora, Adauto Novaes sempre explicou que não estava organizando eventos para se falar do Brasil de hoje, mas para se pensar um mundo em profunda transformação, do qual as antigas muletas de reflexão já não dão conta.
"Já se disse que a imagem de um caos é um caos, e que, ao voltarmos o olhar para essa imagem, muitas vezes nossa reflexão tende a tornar-se mais perturbadora ainda", escreveu ele na apresentação de "O Esquecimento da Política".
Olhar o mundo de hoje é sofrer com uma paisagem turva. Não só as frases feitas das ideologias de cabeceira se esfarelaram como as palavras em geral perderam a credibilidade. Se o presidente da maior potência do planeta manda invadir outro país com base em uma mentira, de que servem os discursos?
A ausência de pensamentos políticos, econômicos e filosóficos, substituídos por modelos de discutível eficiência técnica, fere nossos projetos de cidadão e nossa condição de animais racionais. Sem mais saber como mudar o mundo ou mesmo reformá-lo, basta-nos não sermos esmagados.
Há aves emplumadas que enchem o bico para reclamar que Lula será reeleito pelos "desinformados", os assistidos pelo Bolsa-Família, os miseráveis, mas não vêem como contribuem para que o jogo sociopolítico se limite a um prato de comida. Antes ele cheio do que um tacho de idéias vazias.
E a anorexia da vida pública encolhe os sentidos da vida pessoal, pois faltam esperança, justiça, força para estar inteiro na realidade turva. Se é perdoável a digressão, há ausência maior do que passar o aniversário do filho, num sábado, a três oceanos de distância dele? (Editorial, Folha de São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006.) Foto.

Um comentário:

Anônimo disse...

paulo,
esta é também a realidade do nosso Estado.
brilhante comentário vc fez no blog!
abs.tertu