sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Copa da ladroagem

A Copa da Leviandade
Janio de Freitas - Folha de S. Paulo
São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009
PREFEITOS de capitais e respectivos governadores estão empenhados em uma competição nunca ocorrida por aqui. Para todos os ouvidos públicos, dizem tratar-se da disputa pela inclusão de sua capital entre as 12 que sediarão jogos da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. A verdade é um pouco menos modesta do que os prefeitos e governadores. A conquista que eles buscam é incluir-se entre os 12 prefeitos e outros tantos governadores que vão estourar os cofres e muito futuro de suas capitais, e se necessário os dos Estados também, em benefício de sua popularidade eleitoral. A Copa do Mundo é precedida pela Copa da Leviandade, promovida pelo governo Lula.
A estimativa de custo da Copa entregue a Lula no meio da semana, por suas eminências Joseph Blatter e Ricardo Teixeira, duas riquezas do peleguismo futebolístico que presidem a Fifa e a CBF, refere-se a R$ 35 bilhões calculados pela Fundação Getúlio Vargas. Se o custo fosse aquele, equivaleria a duas vezes e mais 30% de todo o Orçamento para a Educação como será apresentado, amanhã, na reunião ministerial. Ou quase nove vezes o Orçamento para Ciência e Tecnologia. (Ilustração)

Copa Lavagem de dinheiro

Sabe-se, porém, que estimativas de custo de obras, no Brasil, são o que há de mais consagrado na ficção brasileira. Bem, saber, não se sabe: vê-se. Uma das batalhas de Juca Kfouri, a um só tempo inglórias e gloriosas, é a cobrança do relatório do Tribunal de Contas da União sobre o custo, e as mágicas que o fizeram, do Pan no Rio em 2006. Dinheiro do Ministério do Esporte, da Prefeitura do Rio e do governo fluminense. Pois nem o TCU cumpre o mínimo dever legal e público de divulgar suas constatações, quanto mais os que torraram, entre aplicações e divisões, o dinheiro público em que estimativas de R$ 50 milhões chegaram, na realidade, a dez vezes o estimado. Sem explicação.
O que não se sabe, vê-se. O Rio, há muito maltratado, foi abandonado de todo, para a prefeitura pagar o saldo de seus gastos e remendar as contas durante dois anos e meio, como prevenção parcial do risco de inquéritos e processos na sucessão. Isso em uma capital com os recursos do Rio. (Foto)

Copa 2014 - Estádios caça-votos

Uma cidade como Natal, cujo encanto não se traduz em dinheiro sequer em proporção aproximada, diz o noticiário que está gastando R$ 3,5 milhões só para engambelar a apresentação de sua candidatura. Propõe-se a construir um estádio, com projeto encomendado na Inglaterra, de custo estimado em R$ 300 milhões. Digamos, contra tudo, que a estimativa seja exata. A cidade e a população de Natal não têm carências inatendidas até hoje por falta de R$ 300 milhões? Na concepção eleitoreira e rentável, a continuidade, pelo tempo afora, das carências de Natal e das outras capitais de menor riqueza é compensada por três ou quatro jogos das oitavas da Copa.
O plano da cidade de São Paulo é exuberante. São Paulo pode. Mas seria interessante saber por que os bilhões paulistas, que entusiasmam o prefeito Gilberto Kassab ao se referir às obras para a Copa, não lhe dão o mesmo entusiasmo para usá-los, por exemplo, em obras corajosas que humanizem o neurotizante trânsito paulistano.
Das pequenas capitais à potência de São Paulo, só as quantias variam. O desprezo pelas cidades e suas populações, presentes e futuras, é o mesmo. Expresso na Copa das Leviandades."
Folha de S. Paulo - São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009
JANIO DE FREITAS - A Copa da Leviandade (Foto)

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Isso é política... pelo jornal

Isso é o jornalismo político
galado do Rio Grande do Norte
(Ilustração)
Jornal de Hoje - Coluna Portfólio
Natal/RN, Quinta, 05 de Fevereiro de 2009 •
"Jornalismo
Então eu aproveito a restrita pauta, com um ar de lamúria das velhas gerações dos jornais impressos, e lanço também meu questionamento (esse termo se usava muito nas reuniões comunistas de antanho): falta oposição ou falta jornalismo? Ou os dois?
Jornalismo II
Creio (não sou muito bom de crenças) que a cobertura política na aldeia de Cascudo transformou-se numa coisinha miúda, aonde a política eleitoral deixa de ser um desejo dos políticos para ser uma obsessão dos editores, repórteres e colunistas.
Irritação
A cantiga da perua sobre eleições (tal assunto virou minha cantiga), que sempre irrita leitores mais exigentes (e este JH os tem), está tirando a paciência até de deputado federal, ao ponto do sempre elegante João Maia acabar confessando a chatice do tema.
Isso é política
E o leitor quer saber o que anda fazendo o governo estadual diante da violência generalizada, qual a saída da prefeitura para a crise na saúde, como está a vida das populações da interior, quais as ações dos parlamentares em prol do povo."
Jornal de Hoje - Coluna Portfólio - Natal/RN, Quinta, 05 de Fevereiro de 2009 •

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Nada muda na política do RN

...são dezenas de anos de coronelismo, demagogia...
Começamos 2009, mais um novo ano de antesafra eleitoral. É nesse tipo de ano que os partidos políticos e suas lideranças plantam seus sonhos para a colheita do ano seguinte. Em 2010, teremos eleições para presidente da República, governadores de estados, senadores, deputados federais e estaduais.
No Rio Grande do Norte, a tradição política tem sido, eleição após eleição, a da "fulanização", da priorização dos interesses das oligarquias, do nepotismo, do fisiologismo, do coronelismo, da demagogia. Neste primeiro dia do ano de 2009, posso dizer que duvido que a atividade política no estado seja, nos próximos tempos, muito diferente do que se vem praticando desde o século passado. São dezenas e dezenas de anos em que as oligarquias se revezam no poder, praticando o nepotismo, o fisiologismo, o coronelismo, a demagogia. Aos nomes mais ilustres dessas oligarquias, o que mais interessa é a "fulanização" da atividade política, pois, assim, eles se mantêm sempre na boca do povo. (Ilustração)
Sávio Hackradt
Especialista em Marketing Político, professor convidado da USP.
Diário de Natal, Coluna Ponto de Vista
Natal quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Nada muda na política do RN

...ganham as oligarquias, perde a sociedade...
Lamentavelmente, no nosso estado, a mídia, que deveria ser um instrumento a favor da sociedade, tem se portado como mera porta-voz das oligarquias, com raríssimas exceções. Ganham as oligarquias, interessadas em transmitir, através dos jornalistas - pela palavra impressa, pelo rádio, pela televisão, pela internet - a sua demagogia. Perde a sociedade. O ex-presidente norte-americano Lincoln disse certa vez: "Pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; pode-se enganar todas as pessoas algum tempo; mas não se pode enganar todas as pessoas todo o tempo". Até quando essa situação vai perdurar no Rio Grande do Norte? Quando o povo potiguar vai dar o seu grito de independência contra o nepotismo, o fisiologismo, o coronelismo e a demagogia?
(Ilustração)

Nada muda na política do RN

A mídia amestrada...
Ao ler o noticiário político do estado nos jornais e blogs, o que se observa é uma predominância quase absoluta da "fulanização". São raríssimos os questionamentos sobre o que o político fulano disse, fulana afirmou, beltrano comentou. E por aí vai girando o noticiário político local, que, em geral, apenas reproduz o que interessa aos poderosos de plantão. Neste instante, faltando mais de um ano para as próximas eleições, já se fala em nomes e chapas completas para as disputas pelo governo e Senado em 2010; mas, ninguém dá uma palavra, por exemplo, sobre a crise financeira mundial que se avizinha e começa a chegar devagar ao Brasil e ao Rio Grande do Norte, com suas inevitáveis consequências. (Ilustração)

Nada muda na política do RN

...são frouxos, e, acovardados, preferem o silêncio...
Se, por um lado, os mais ilustres da política local vão empurrando facilmente suas versões através da mídia, observamos que setores da sociedade - empresários e sindicalistas - teoricamente capazes de imprimir um novo rumo na agenda de discussão de interesse do estado, são frouxos, e, acovardados, preferem o silêncio e assistem passivamente às carruagens das oligarquias passarem ao largo. Os empresários morrem de medo de governos e fazem xixi nas calças. Os sindicalistas são incapazes de se organizarem em torno de um projeto comum de desenvolvimento para o estado e bem-estar da população. Preferem as disputas menores por espaços políticos nos sindicatos e migalhas no governo, em postos de quinto escalão. Porém, todos eles - empresários e sindicalistas - querem que os governos deem soluções para seus problemas. Não conseguem enxergar um palmo além do umbigo de cada um deles. (Ilustração)

Nada muda na política do RN

A vanguarda do Rio Grande do Norte
(Ilustração)
O Rio Grande do Norte não tem vanguarda. Continua no início do século XX e algumas de suas lideranças ainda no século XIX.
Ah, e os partidos políticos? Coitados, não passam de meros instrumentos de oligarquias que os dominam há anos sem fim. Quando não é uma família que domina é um grupelho político que usa a burocracia partidária para se perpetuar no Poder. Todos eles têm horror à renovação!"

Nada muda na política do RN
Sávio Hackradt
Especialista em Marketing Político, professor convidado da USP.
Diário de Natal, Coluna Ponto de Vista
Natal quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Bufunfa de um vereador

Quanto ganha um vereador de Natal
Coluna Espaço Cidadão
Robson Carvalho
Jornal JH 1ª Edição - Natal, 02 de fevereiro de 2009
"Vocês leitores terão uma idéia do que um vereador pode chegar a ganhar "extra-salário", em Natal.
Interessante que, às vezes, se ouvem frases do tipo: 'ah, eu queria ver se não houvesse remuneração para os vereadores, que há bem pouco tempo queriam mais que dobrar seus salários, se algum se interessaria em ser candidato novamente..."
Na verdade, o salário oficial do vereador é apenas a ponta do iceberg, até porque, se assim não fosse, não valeria a pena o "investimento" que pode variar de R$ 300.000,00 a mais de um milhão de Reais...
Sinceramente, não creio que possa existir alguém tão abnegado e voluntarista a esse ponto, que pense e "invista" com tanto afinco no bem comum.
Como, então, se conseguiria pagar as altíssimas contas de campanha? Lembrando que, em sua grande maioria, as contas apresentadas aos tribunais, de doações recebidas e despesas efetuadas, são criativas fantasias de carnaval. (Foto)

Bufunfa de um vereador

Quanto ganha um vereador de Natal
Pois então, vejamos...
A "brincadeira" começa logo na eleição da mesa diretora da Câmara Municipal. Quem apoiou a eleição do presidente recebe, por mês, em cargos indicados na estrutura da Câmara, uma quantia que varia de R$ 20.000,00 (vinte mil) a R$ 45 mil (quarenta e cinco mil), de acordo com a importância do apoio e o nível de ligação e comprometimento com o líder maior.
A estes mais chegados, inclusive, o tratamento é diferenciado até mesmo na hora da reforma dos gabinetes. Quem votou com o presidente Dico, tem uma ampla reforma. Quem não votou, fica com os piores gabinetes e tem direito apenas a pintura de parede.
Mas, voltando ao tópico anterior, aí já se começa a enxergar o potencial de se fazer um delicioso suco de laranjas. Parte dos vereadores que entram nessa "quota", em geral, indicam pessoas que, às vezes, trabalham e às vezes, não, mas "emprestam" seus nomes para receberem o salário generoso e repassá-lo quase todo ao dono da cadeira.
Sabemos de vereador que paga a necessitados "irmãozinhos" voluntariosos da igreja a quantia de R$ 100,00 a R$ 150,00 pelo empréstimo do nome. (Ilustração)

Bufunfa de um vereador

Quanto ganha um vereador de Natal
Além do salário oficial, em torno de R$ 7.000,00 (sete mil reais), cada edil - isso para todos - ainda recebe a verba de gabinete que é de R$ 21.000,00 (vinte e um mil rais), para pagamento de pessoal.
Segundo aluns vereadores, antigos e novatos, a prefeitura também colabora com os aliados, abrindo-a para indicação de cargos em sua estrutura, a média mensal de R$ 14.000,00 (quatorze mil reais). É um dos caminhos de que se utiliza para a famosa "composição da base aliada".
Nestas contas que ora fazemos, ressaltamos que nos referimos apenas ao que se recebe de maneira fixa e mensal. Não incluímos aqui, a exemplo do que se investiga na Operação Impacto, a venda de votos de acordo com o interesse de grupos que articulam lobby e pagam generosas propinas para influenciarem naqueles que após o acordo fechado pronunciam na tribuna, cinicamente, a mafiosa frase:
"Estou votando de acordo com a minha consciência, que é livre. Estou convencido de que isto é o melhor para o interesse público, para o bem da minha cidade, de meus filhos e das gerações futuras."
Ah, e tem também as orelhinhas de que se pode dispor nas contratações de serviços e compras de mercadorias. Eu Dineyria que vale a pena o Ministério de Defesa do Patrimônio Público dar uma espiadinha, por exemplo, no contrato de aluguéis de veículos. (Ilustração)

Bufunfa de um vereador

Quanto ganha um vereador de Natal
Agora, que já temos uma ideia do que se recebe regularmente, é só somar:
7.000,00 de salário; 21.000,00 de verba de gabinete; entre 20.000,00 e 45.000,00 para quem apoiou o presidente - coloquemos a média de 33.000,00 para efeito de soma... mais 14.000,00 de apoio aos projetos do Executivo municipal... chegamos à mensalidade fixa de R$ 75.000,00.
Por ano, chegamos a algo em torno de R$ 900.000,00 (novecentos mil reais). Durante o mandato, a mixaria de R$ 3.600,000,00 (TRÊS MILHÕES E SEISCENTOS MIL REAIS).
Essa quantia pode chegar a passar, direta ou indiretamente, pelas mãos dos nossos excelentíssimos senhores vereadores. E aí, vale ou não a pena o investimento? Peeeeeense numa loteria!" (Ilustração)
Espaço Cidadão - Robson Carvalho - Jornal JH 1ª Edição - Natal, 02 de fevereiro de 2009