sábado, setembro 30, 2006

Como é que pode?

Como é que pode?
Gaudêncio Torquato
Jornalista, professor titular
da USP e consultor político

“Solta Pedro I o grito do Ipiranga. E o caboclo, em cócoras. Vem, com o 13 de Maio, a libertação dos escravos; e o caboclo, de cócoras. Derriba o 15 de Novembro um trono, erguendo uma República; e o caboclo, acocorado. (...) A cada um desses estrondos, soergue o torso, espia, coça a cabeça, ‘magina’, mas volve à modorra e não dá pelo resto”.
“Com esta imagem de Jeca Tatu, Rui Barbosa abria, em 1919, uma conferência no Teatro Lírico do Rio de Janeiro sobre a questão social e política do Brasil. O perfil do capiau que ‘vegeta de cócoras’ fora inicialmente traçado por Monteiro Lobato em dois artigos para este jornal, em 1914. Lobato, fazendeiro em Taubaté, tornou-se escritor, pediu desculpas por ter ofendido Jeca Tatu e escreveu novas histórias dando conta de que aquela figura, sinônimo de ingênuo, curou as doenças, comprou uma fazenda e ficou rico. Infelizmente, o Jeca, que o velho Rui elegeu como símbolo da incúria dos governos, continua impassível e de cócoras. Fez apenas algumas melhorias na casinha de sapé onde guarda migalhas que abastecem o vazio do estômago. (Foto.)

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