segunda-feira, setembro 25, 2006

Quadrilhas lá, quadrilhas cá...

“Mitos também morrem, é verdade. Mas, no caso do mito Lula, não há sinal do mínimo desgaste. Pelo contrário, sua posição nas pesquisas, num quadro de quase permanente estado de crise no governo, indica que está forte como nunca. Há quem especule com a hipótese de vir a querer um terceiro mandato, por meio de uma reforma constitucional que, à Chávez, revogue o limite de dois mandatos consecutivos. Talvez seja exagero. Mas, se tiver paciência para esperar quatro anos fora do poder, quem diz que não ressurgirá, vigoroso, aos 69 anos, na eleição de 2014? E que, vitorioso, parta para a reeleição em 2018, aos 73? O Brasil é culpado pela criação do mito. Não fossem suas mazelas, a começar pela pobreza e pela desigualdade, ele não encontraria terreno propício para prosperar. Agora, vê-se embrulhado na armadilha que o mito continha.

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“Suponhamos, contra todas as evidências, que Lula não seja eleitoralmente tão forte. Suponhamos, contra o que indicam as passadas experiências, que desta vez o escândalo o engolfe, e que venha a perder a eleição. Ainda assim, o mito será forte o suficiente para fazer nascer um líder da oposição capaz de empalidecer o desempenho de Carlos Lacerda nesse papel. Imagine-se o que pode aprontar Lula, à frente de sua formidável equipe de sabotadores e caçadores de dossiês, contra o ocupante do Planalto que tiver a audácia de derrotá-lo. Imagine-se seu poder de incendiar o país, uma vez restituído ao posto de maestro da CUT e do MST. Vale a pena ver Lula derrotado? Quando se chega a cogitar que, pior do que com ele, pode ser sem ele no poder, aí se tem a idéia do tamanho da arapuca em que o país está enredado.”
(“A armadilha e o mito”, Roberto Pompeu de Toledo, revista Veja, edição 1975 . 27 de setembro de 2006.)

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