segunda-feira, outubro 02, 2006

Filhotismo, máfias, danação

Prossegue Kurz: “Se tal situação persistir por muito tempo, chega-se à luta armada pela sobrevivência em todos os níveis da sociedade. A soberania estatal esfacela-se e as antigas elites burocráticas lutam com unhas e dentes para apropriar o restante dos despojos econômicos. Em países como o Afeganistão ou a Somália, praticamente não existe mais Estado. A fé na livre concorrência não se externa como ‘jovial dissenso’ pós-moderno nas regiões que se desintegram, mas em graus diversos de guerra civil, cujo desfecho nunca levará ao surgimento de formações estatais de sopro renovado. Na opinião de Martin van Creveld, historiador militar israelense, a guerra do século 21 não será mais travada entre Estados, mas entre ‘organizações não-estatais’ dos mais diversos tipos.”
Este texto, publicado no Jornal de Natal (Encartes) de 16.12.2002, goza de uma atualidade assustadora, que merece ser olhada e refletida.
Em especial diante de um quadro de anomia (ausência de lei) onde se verifica a execução e destroçamento da juventude pobre das periferias na Grande Natal (RN) pelo tráfico, os formidáveis lucros obtidos pelo sexo-turismo com a exploração por gangues locais e internacionais da prostituição de parte da jovem população feminina que alcança a fase produtiva, rapazes e moças que não encontram políticas públicas visando sua valorização e proveito, tendo como pano de fundo a promoção oficial de um estado de carência absoluta de meios de subsistência para a maior parte da população, que se vê aprisionada em bolsa-isto, bolsa-aquilo e a políticos-rufiões.
“Tem tudo a ver com o atual estado de alienação em que se encontra metido o Rio Grande do Norte, com os grupos, formações e famílias tomando cada canto da nossa economia, diante de uma população tomada pela normopatia (doença da normalidade, uma “normalidade” que ultrapassou em muito os limites do excesso) e sem qualquer representatividade, seja sindical, política, comunitária ou mesmo estudantil. Enfim, uma população que poderíamos considerar absolutamente órfã.

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