terça-feira, outubro 10, 2006

Carta a um historiador de um tempo futuro

CRÔNICA - LULA MIRANDA
Eles não conseguirão transformar heróis em bandidos, assim, num piscar de olhos. Não se pode, impunemente, transformar mentiras em verdades.

Lula Miranda
"Distinto historiador, envio-lhe essa missiva (desculpe o termo antiquado, empoeirado) em formato de crônica numa última tentativa de comunicação, pois o diálogo com meus contemporâneos tornou-se impossível.
Sinto-me, nos dias de hoje, como que pregando num deserto. Todos os corações e mentes estão tomados pela paixão da ideologia ou do partidarismo – ouvidos já não escutam, olhos já não vêem, cérebros já não pensam. Os que não têm a visão embaçada pelas paixões, pelo preconceito, ou pelos seus próprios interesses pessoais, partidários e/ou de classe, parecem estar hipnotizados pelas reiteradas mentiras, intrigas e manipulações veiculadas diuturnamente pela TV, pelos rádios, pelos jornais e revistas desse país. As instituições, bastante comprometidas, apodrecem em silêncio, nas sombras. Não tenho mais, pois, a quem recorrer.
Sei que a história é sempre contada pelos vencedores, mas ouso passar-lhe, sub-reptícia e humildemente, a visão de um perdedor (sinto-me derrotado por ter esta eleição chegado ao segundo turno). Sei também que os historiadores analisam, em seu trabalho de pesquisa, os jornais e revistas publicados no período estudado. Por isso, aqui vai uma advertência: não faça isso ao se debruçar sobre o período do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os jornais diários e as revistas semanais mentiram. Mentiram desavergonhadamente. Mentiram, distorceram, carregaram nas tintas, exerceram uma crítica capciosa e propugnaram uma moral seletiva. Manipularam os fatos de modo constrangedor, inacreditável, inaceitável. De sorte que, se alguém me contasse, estando eu no seu papel de historiador, ou até mesmo de mero observador dos fatos, eu também não acreditaria."

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