quarta-feira, outubro 04, 2006

As oligarquias e seus filhotes

Paulo Afonso Linhares
Gazeta do Oeste

“Tida como uma perversão da aristocracia, a oligarquia foi caracterizada por Aristóteles pelo governo de pequeno grupo familiar. No meio da herança ibérica que recebeu, o Brasil tem sua história bem marcada pela presença quase sempre nefasta das oligarquias políticas, por mais que a modernidade tenha insistentemente batido à porta solicitando passagem. No passado, as muitas oligarquias estabelecidas no interior do Brasil, de bases sociais eminentemente rurícolas, eram formadas mais por grupos de pessoas em torno de projeto político comum do que mesmo por familiares com grau próximo de consangüinidade.
“Deste modo, era comum que o líder de uma oligarquia reservasse o posto principal para si e distribuísse os outros com seus agregados que, nada obstante, não eram necessariamente seus parentes consangüíneos. Veja-se, p. ex., que os líderes das principais oligarquias de um Estado eram eleitos deputados federais, senadores ou governadores, mas os cargos de deputado estadual, prefeito ou de vereador ficavam para seus correligionários, repita-se, não necessariamente seus parentes consangüíneos. Isso acarretava uma enorme ampliação política do mando oligárquico.
Nas últimas décadas, contudo, ocorreu uma notável mutação no corpo das oligarquias políticas nordestinas, dando curso à prática de alta concentração do poder políticos em grupos familiares, obedecido o preceito do maior grau de consangüinidade. A partir daí as lideranças oligárquicas passaram a trazer para a política filhos, irmãos, esposas etc., ao invés de dar espaço a um correligionário fora das suas relações de parentesco. Esse “olhar para dentro” das oligarquias políticas deste país, em que o desfrute de cargos públicos (eletivos ou comissionados) estaria reduzido aos parentes com próximos laços de sangue, não deixa de ser danoso, justo porque é incompatível com o espírito republicano e a idéia de Estado Democrático de Direito. (Foto.)

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