O vôo do SabiáJosé Antenor de Azevedo
A comunidade potiguar está mais pobre com a perda, em novembro último, do Dr. Edvaldo Camilo da Silva, o Sabiá, como era carinhosamente chamado pelos amigos.
Portador de extenso currículo, Edvaldo foi dentista, professor, diretor e vice-prefeito de Goianinha. Exerceu as múltiplas atividades com desvelo de um artista, imprimindo significado especial ao que fazia, mercê de sua capacidade de trabalho e talento verbal e, mesmo sendo egresso da área da saúde, foi humanista nato e desportista disciplinado.
O seu coração tinha catedrais imensas onde habitava o indescritível afeto, a alegria brejeira, os ideais solidários, além da simplicidade marcante que só as almas nobres experimentam.
Nas rodas de amigos, desvelava-se como um legítimo e afinado Sabiá. Ouvi-lo era sempre prazeroso. Seus improvisos sonoros e a sua generosidade correspondem à máxima de Guimarães Rosa “a gente morre para provar que viveu”.
Não veio à vida a passeio, veio para servir. Foi bom pai, bom amigo e um desportista boêmio, amante da noite. Para Sabiá, quanto mais longa a noite, mais belo se anunciava o alvorecer. Foi, visceralmente, um romântico incurável! E o coração de um romântico é um oceano sem praias, num constante formar de ondas. Sabiá vivenciou o misto de existencialista e de lírico-amoroso do século XX, convivendo com as contradições da nossa época.
Aqui estamos exaltando a sensibilidade de um dentista, poeta fiel a tudo que amava e defendeu durante toda a vida. Sabiá partiu em silêncio para o seu último vôo. Mas, incrivelmente, o seu canto ainda ressoa nas madrugadas de lua cheia e em algum lugar recôndito onde residem outros sabiás orquestrando o seu canto.
Quem sabe Edvaldo está num Olimpo distante, onde a nossa vista não alcança. Mas de onde ele nos contempla, jocosamente, rindo da nossa tristeza, de nossa procura infinita da sua presença.
(José Antenor de Azevedo, filho de Goianinha, é professor e advogado.) Foto.
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