Como nasce um corrupto

Chega de ladroagem!

"Um dos mais respeitados antropólogos do mundo, o fluminense Roberto DaMatta, 68 anos, considera perturbador que o Estado tenha se transformado em "agência de enriquecimento" para determinados políticos. Dono de invejável currículo - tem mestrado e doutorado na Universidade de Harvard, foi professor na Universidade de Notre Dame e de Antropologia no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, DaMatta lamenta que a honestidade seja vista como "coisa de babaca", enquanto os saqueadores do Estado se notabilizam. Autor de livros que dissecam o comportamento do brasileiro, como Carnavais, Malandros e Heróis e o recém lançado Tocquevilleanas - Notícias da América (Editora Rocco), DaMatta concedeu entrevista a Agência RBS por e-mail". Entrevista, publicada no clipping do site do TCE de Santa Catarina.
Agência RBS - O brasileiro aprendeu a conviver com a transgressão?
DaMatta - Penso que existem muitas causas para a transgressão. O que perturba, no caso brasileiro, é que para nós a malandragem, certos tipos de delito, sobretudo aqueles contra o Estado ou outros órgãos impessoais, tidos como sem donos, viraram valores. O que perturba é que roubar o Estado e entrar no governo para realizar isso com todas as letras, inclusive sendo popular (roubo, mas faço), virou valor, passou a ser norma. Como foi que deixamos a coisa chegar a esse ponto? Que exemplo estamos passando para nossos filhos e netos? O Estado, o Leviatã que deveria corrigir, compensar e normalizar injustiças, fazendo o papel de gerente do coletivo de cidadãos, se transformou em uma agência de enriquecimento dos políticos, esses ladrões (com as devidas exceções) da coisa pública. Porque, conforme está na mídia para todo mundo ver, a variável mais importante na vida pública nacional não é o partido, nem o sujeito, nem o projeto, mas o roubo da coisa pública, a qual, não sendo de ninguém, é a presa dos desonestos que - pasmem os leitores e eu com eles - elegemos!" (Leia entrevista na íntegra.) Foto.