domingo, novembro 19, 2006

A debutante que dançou a valsa no céu

Pedro Bala: Aninha tinha cinco irmãos. Ia visitar um deles, que se encontra na prisão, na delegacia de Mãe Luíza. Ela e dona Virgínia conseguiram uma carona na carroceria de uma pick-up Pampa, acompanhando uma vizinha, mulher de outro jovem detento. Para alcançar Mãe Luíza, o motorista tinha duas opções: seguir pela avenida Café Filho, à beira-mar, pela praia dos Artistas, ou cruzar a extensão da rua do Motor.
Pirulito: Como estamos a ver, trata-se de uma rua estreita, de mão única, e aqui vivem os inimigos de Aninha, que estava marcada para morrer. Foi para cá que o motorista guiou o carro, que quebrou na frente da casa de um dos rapazes autor das ameaças de morte.
Dorinha: Dona Virgínia viu a filha ser assassinada. Os matadores cercaram a garota no meio da rua, dispararam várias vezes quando ela já estava no chão e depois chutaram seu corpo. A mãe já sabia que Aninha iria morrer. Dias antes a menina dissera que sua cabeça estava a prêmio e seus matadores seriam de uma gangue da rua do Motor.
Lindaura: Antes de Aninha, a vítima fora seu ex-namorado, de 16 anos, assassinado na porta de casa. Ambos moravam em Brasília Teimosa. Aninha teve execução sumária.
Dona Virgínia: Ela chegou e me disse: ‘mãe, minha cabeça tá valendo dois mil reais’. Quando os matadores começaram a chegar perto, ela me mandou fugir: ‘mãinha, ganha o pinote’’. Minha filha ainda tentou fazer o automóvel funcionar, para sair do lugar onde tinha parado, mas o motorista a arrancou da cabine aos gritos: ‘Saia daqui, vá morrer pra lá’. Fica a certeza que o motorista era aliado dos matadores. Quando eles começaram a atirar, de repente o carro pegou e eu fui embora em cima da carroceria. De longe, vi minha filha caída no chão, chutada pela gangue que a executou.
Dorinha: Aninha procurava seu primeiro emprego. Não queria se perder na piranhagem do turismo em Ponta Negra. Vibrava por ser mulher. Avaliara o mercado sexual e não era prostituição o que queria. Era mulher de um homem só. Dizia que podia ser, sim, copeira, arrumadeira, camareira nos hotéis da Via Costeira. Ganharia seu salário, líquido e certo e ajudaria o marido em sua casa no Alto do Juruá, em Mãe Luíza. Podia ser, sim, baleira no Cinemark, balconista da loja Controle, frentista de posto na rede Tamarineira.

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