segunda-feira, julho 24, 2006

Um estadista temporão

Vilma recebeu a proposta entre estatelada e deslumbrada. Por momentos, ficou imóvel como uma estátua para, em seguida, lentamente, poder compreender e absorver toda a revolucionária dimensão da proposta, a essência do enredo que seu ex-marido estava a lhe relatar. Interessante, pensava ela, como a política é abstrusa.
Lavô tinha convidado a ex-mulher, com a advertência de que tinha algo "excepcional" para lhe propor. Ele a recebeu na varanda da Casa Grande, na fazenda.
– Quero logo adiantar que não se trata de interesse pecuniário, pois estou bem de dinheiro, não preciso pechinchar outro salário.
Garanti um soldo que para mim é o suficiente. Como ex-governador, ex-deputado e ex-senador, boto a mão numa laminha todos os meses. Não é isto que me move neste momento.
Contou-lhe, então, o que sucedeu. Estava fazendo seu cooper matinal, logo depois de restabelecer-se da estada no hospital, onde estivera a cuidar um quadro de infarto, quando apareceu um preto velho. Era um homem negro, sofrido, cuspido e cagado a imagem do Preto Velho que toda gente vê nas lojas de candomblé. O homem era mesmo um tribufu: maltrapilho, mal-alimentado, mal-amanhado, muito franzino, faltava a maior parte dos dentes e trazia um chapéu de palha na cabeça. Com um saco às costas, dava uns engulhos, como se mascasse algo que devia ser fumo-bravo. Foto.

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