quarta-feira, julho 12, 2006

Bundas milionárias e o pau torto de Macau

Carnaval de falso brilhante

Zé Pelintra considera a sina de Macau de receber tudo que é falso no mundo, além de excluir os próprios filhos, na distribuição das benesses. "É algo que marca Macau tudo ser falso. Foi falsa a fábrica de barrilha, falso o Unisais, é falso o Pólo Gás-Sal. Falsa a Central do Cidadão. E agora até o É o Tchan é falso. É uma patifaria. E ficaram de fora mais de 50 músicos da cidade."
Zé Pelintra não crê que o Carnaval de Macau traz retorno econômico e financeiro. "É outra mentira que precisa ser desmistificada. Essas barracas alugadas a 200 reais botam as cervejas e, de manhã, vem o cara da Skol, da Brahma, da Antarctica, da Pitú, arrecadando todo o apurado. O barraqueiro fica como se estivesse trabalhando de aluguel. E a despesa é muito alta. Macau não dispõe de qualquer estrutura, não tem saneamento. Se com as 25 mil pessoas que residem na cidade, segundo pesquisa de um cientista do Cefet, o povo de Macau já bebe água com fezes, de um lençol freático contaminado, imagine acrescentar mais 80, 100 mil pessoas defecando e urinando. Passado o carnaval, a cidade fica podre. O povo termina nos hospitais e postos de saúde pública, onerando as despesas do SUS. Só de policiais, chegam 200, do Choque, do Bope. E chegam azeitados para dar na pobreza, meter o cacete. O pobre bebe, cai em desgraça. O pobre vai beber, fumar maconha, pular, dançar, sua energia excede. E vão parar no ginásio. Se não são presos, vão para a saúde, com as agressões, e mandam para Natal, o hospital da cidade não atende. Quebrou um pé, tem que ir para Natal."
Zé Pelintra quer saber o porquê de um orçamento de 1 milhão e 500 mil reais não fica 10% para a cidade. "E eles botam apenas os contratos com as bandas, mas não os custos com os policiais, despesa com enfermeiros, já que usam a estrutura das secretarias de dia e de noite. Isso não é calculado e divulgado. E não têm coragem de distribuir a arrecadação das 100 barracas, com o apurado dos camarotes, como prêmio para os operários. A hora extra de um gari, que começa às quatro horas da manhã no serviço, é coisa de cinqüenta centavos. Toda essa estrutura, negada no cotidiano à população, é mobilizada para atender aos interesses dos grupos de fora. Uma panelinha que a gente não sabe quem é. Ao cabo e ao rabo, o pau torto de Macau cai no rolo das bundas cantantes baianas." (Publicado no Caderno de Encartes do Jornal de Natal em 20.02.06).

Nenhum comentário: