quinta-feira, julho 27, 2006

A saga da Alcanorte continua

RADAR POTIGUAR – O caso da Alcanorte está correndo na Polícia Federal de Mossoró. Agora, no caso da petição, você fala sobre a Cirne e outras empresas do município. De que se trata, na verdade?
JOÃO EUDES – Vejamos o caso da Cirne. Essa empresa, traduzindo para o reino animal, ela vem se comportando como uma questão camaleônica. Ela era Cirne, depois passou para Álcalis, depois passou para Salinor. E depois passou para Noválcalis. Tudo isto para fugir da responsabilidade, do compromisso que a empresa tinha assumido. Inclusive, a Cirne dando como garantia as suas máquinas, os seus bens, na questão da Alcanorte. Para fugir, ela vem mudando de razão social. Para lá na frente, quando forem, mesmo, apurados os fatos, eles tenham conseguido fazer uma manobra, trocado de nome, e os bens não sejam penhorados. Haja vista que o próprio Governo do Estado, o Governo do município, num descaso total, num total desrespeito ao patrimônio do povo, não dispõe de dados suficientes para evidenciar essa questão. Porque se sabe que a Alcanorte, sendo a maior devedora do banco quebrado, o BDRN, tinha dado como garantia determinadas máquinas. E a verdade é que nem o município dispõe dessas informações, desse rol patrimonial. Essas pessoas lesaram a sociedade e continuam aí, impunemente, rindo da cara da sociedade.
RADAR POTIGUAR – Neste período, passaram quantos prefeitos ao longo da tragédia que é a Alcanorte. Pelo tempo decorrido e por tudo que se sabe, existiram e existem relações promíscuas entre o Poder Público e essa empresa. O que aparenta é que eles têm um poder muito grande dentro de Macau.
JOÃO EUDES – Nesse período, passaram José Heliodoro de Oliveira, que foi o prefeito. Inclusive na época, 1975, ele pegou o período do golpe; pegou Cledionor Francisco de Mendonça, o Chiquinho, o Quidinho. E, após o Quidinho, veio José Oliveira de novo. Quidinho governou seis anos. Houve uma prorrogação, e ele governa de 1976 a 82. E depois de Zé Oliveira, no período de 78 a depois de 82. E, depois de 82 a 88, Zé Oliveira de novo. Depois de Zé Oliveira, Afonso de Ligório Lemos, o Afonso Lemos. Depois Manoel Cruz, Tatá, e em seguida, José Antônio Meneses, dois mandatos. Após ele, o Flávio Veras. Todos eles foram omissos, subservientes. Em grande parte, todos eles foram responsáveis por esse descaso. Historicamente, eles vão levar essa cruz, como pessoas que tiveram um descaso absoluto pelo município.
RADAR POTIGUAR – Quando você fala que a Cirne é praticamente a proprietária de Macau, como se dá essa relação, no decorrer dos anos, com o poder público?
JOÃO EUDES – Ela é a proprietária, até porque Macau é uma cidade sem lei. Macau é uma cidade da bandidagem. Do crime organizado. Agora, por que a cidade é “dela”? Porque a cidade não tem um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. Teve, mas nunca foi aplicado. Está obsoleto. E o que está acontecendo. O que se vê? É o governo inventando obras, sem que essas obras estejam legitimadas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento. E isto na cara do Ministério Público, da Justiça. Porque é proibido você fazer o desenvolvimento aleatório. O desenvolvimento tem que ser planejado. Isso é um principio da administração pública. Ele tem que se remeter ao PD, já que a lei diz que o PD é a lei mais importante da cidade. E está normatizado isto, na própria Constituição Federal, que é a lei maior do país. E o próprio poder público se nega a aplicar a Constituição. Isto eu mesmo reconheço, quer dizer que Macau é uma cidade em que a lei não vale.

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