quarta-feira, junho 04, 2008

A privatização do desastre

Resistindo ao choque
A jornalista e ativista canadense Naomi Klein analisa o novo estágio do capitalismo pós-11 de setembro: a privatização do desastre
Por Eduardo Socha
Revista Cult
Seu nome circula em todo debate que questiona a arrogância do pensamento único e a imposição do neoliberalismo como modelo econômico irrevogável na era da globalização. Naomi Klein, 38, tornou-se mundialmente conhecida depois do sucesso de Sem logo - A tirania das marcas em um planeta vendido. Lançado em 2001 e traduzido para 28 idiomas, o livro superou a marca de um milhão de cópias vendidas, fato surpreendente para um volume de 500 páginas que se propõe a denunciar em detalhes os efeitos nocivos do branding, além das práticas de extorsão e exploração do trabalho de corporações como Nike, The Gap, Microsoft e McDonalds. Tornou-se rapidamente um dos maiores manifestos do movimento anti-globalização.
Dois anos após o lançamento de uma pequena coletânea de artigos escritos para imprensa, Cercas e janelas, chega ao Brasil a tradução de seu terceiro livro, A terapia do choque - A ascensão do capitalismo do desastre, resultado de mais de seis anos de pesquisas sobre as reações de governos alinhados à ideologia neoliberal aos desastres cada vez mais freqüentes - da guerra no Iraque ao tsunami. A autora analisa a estreita relação dessas reações com a teoria dos choques econômicos proposta por Milton Friedman, prêmio Nobel de Economia em 1976 e um dos fundadores da ortodoxa Escola de Chicago; teoria esta que, segundo a autora, guardaria semelhanças assombrosas com as técnicas de tortura da CIA, descobertas há pouco tempo. Ligando neoliberalismo ao uso da violência, parte significativa do livro é dedicada à história recente dos golpes militares na América Latina, em especial o Chile do governo Pinochet, onde teria ocorrido o primeiro "laboratório vivo" para a implantação das idéias radicais de Friedman.
Klein contribui regularmente para o jornal britânico The Guardian e para revista norte-americana The Nation. Co-produziu com o marido, Avi Lewis, o documentário Sin Patrón - The Take, que relata a ocupação de fábricas argentinas, falidas após a crise econômica de 2001, por parte de seus trabalhadores. Possui doutorado em Direitos Civis pela Universidade King’s College de Nova Scotia, no Canadá, e lecionou como convidada na London School of Economics.
Nesta entrevista exclusiva dada à CULT por telefone, de sua casa em Toronto, durante uma pausa em sua agenda de viagens, ela fala sobre o conceito de capitalismo de desastre, sua relação pessoal com o tema durante sua estada na Argentina, os impasses da questão ambiental e as possíveis alternativas ao neoliberalismo que podem surgir com os governos de esquerda da América Latina. (Foto: Divulgação/ Andrew Stern)

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