domingo, junho 15, 2008

Comunicação encubada, gay interrompido

Procurador Geral da Ralé
Radar - Falando do seu trabalho, a gente vê que você é uma pessoa que assume a luta dos excluídos e está nesse embate há muitos anos. Defendendo os sem-voz, os sem-fala, os sem-lugar na sociedade. Você mesmo se auto-denomina de quê?
João - Você veja: um sinal de que o país vai mudar é quando o presidente da República - eu não digo nem que ele mude a Constituição - fizer um projeto-de-lei. Ele não governa por decreto? Então, ele podia fazer um decreto criando os Procuradores Gerais da Ralé. Eu não seria um deles? Ganharia uma carteira vermelha da Presidência, pelo menos para não ser preso. Não era para ele me dar nada, não. Quando eu tivesse 65 anos, que eu chegasse caído, lá na Previdência, perguntariam: "O que foi que você fez?" Eu diria: "Eu fui Procurador Geral da Ralé. Está aqui, o presidente é que me deu essa carteira". Pronto, podia me aposentar. Deveria ter milhões de procuradores. Não tem o Procurador Federal? Não tem o Procurador de Justiça? Mas falta o Procurador da Ralé. Que vive lá e sabe chegar e dizer, perfeitamente, com toda a sua paciência, que a pessoa morar dentro da lama está errado. Que não tem escola, que não tem creche, que o governo engana as pessoas. Veja a saúde. Natal está um caso estapafúrdio, pois eles passaram a agredir as mães. Essa semana foi denunciado que 20 mães estavam no corredor do Hospital Santa Catarina (zona Norte), parindo em cima de uma cadeira de plástico. Quando o próprio governo diz que é o SUS - Sistema Único de Saúde. Olha como o governo diz: "É o Sistema Único de Saúde". Não devia ser SUS. Devia ser SUSI - Sistema Único de Saúde dos Indigentes. Então, precisa se criar esse cargo. Você pode acreditar que iria mudar. Quando eles dissessem: "Está instituído o cargo de Procurador Geral da Ralé". Ou seja, dos desdentados, dos sem-teto, dos sem-pão, dos sem-emprego, dos sem-cultura, dos sem-colchão, dos sem-casa. Então, é preciso que se crie. Aí o país realmente muda, quando se der autoridade, porque o povo precisa desse reconhecimento. Que a pessoa que mora no Paço da Pátria tenha autoridade de cobrar do governo.
Aliás, eu acho que, com a Constituição de 88, foi aberto um amplo espaço para processar os governantes. E aqui em Natal eles pouco são processados. Se você fizer uma análise de quantos processos a governadora levou por ineficiência na educação, são poucos. O prefeito da cidade, quantos processos ele levou por ineficiência na saúde? Eu estou falando do povo. Não estou falando do Ministério Público. Estou falando de ações populares. Se fosse para fazer mesmo, numa cidade que tem 500, 600, 800 mil habitantes, entrariam mil ações por dia. Mas o povo ainda não tem esse conhecimento, de que ele tem esse direito de processar a governadora, o presidente da Assembléia Legislativa. Muito pouco processado. Vá olhar: quantos processos ele tem? Poucos. Muito pouco. Quando a Constituição diz que um dos princípios da administração pública é a eficiência, a pessoa não pode chegar num hospital e não ter médico. Então, se uma pessoa chega num hospital e não tem médico, o governante merece levar uma ação na Justiça, porque ele está sendo ineficiente. Ele assumiu o compromisso de zelar pelo patrimônio público, pelos interesses do povo, pelos direitos do povo, e está se negando a fazer isto. (Foto)

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