domingo, junho 15, 2008

Comunicação encubada, gay interrompido

O novo no Rio Grande do Norte
A mixórdia e o mal-estar vividos por segmentos da sociedade potiguar em torno de uma notícia estampada na imprensa de Natal ("Ativista declara: ‘Fátima Bezerra incentiva a cisão entre gays e lésbicas’", Jornal de Hoje, 03.06.08) versando sobre a homossexualidade da deputada federal Fátima Bezerra (PT), nome indicado como candidata única à Prefeitura do Natal, liderando uma coligação de 18 partidos, como fruto da aliança dos partidos da base de sustentação política do governo Lula - PT, PSB e PMDB - no Rio Grande do Norte, mostra-se intimamente relacionada ao monopólio das comunicações no estado.
A opinião é do produtor cultural João Eudes Gomes, pesquisador social e analista político independente, que considera "altamente produtivo e muito positivo esse tipo de debate". João Eudes estranhou o fato de a mídia local não ter dado maior vazão ao tema, acreditando mesmo que "o movimento gay no Rio Grande do Norte já tem condições de pugnar por uma coluna ou então fazer um jornal para influir no debate da sucessão em Natal".
"A questão aparece 409 anos depois da fundação da Cidade do Natal. É a primeira vez que, nas eleições, aparece essa sigla de forma organizada. Sem ser como piada, avacalhada. Trata-se de uma matéria que trouxe para a sociedade uma verdade que ela, por ser hipócrita, tentava ocultar."
Para muitos, a veiculação da noticia foi "surpreendente", podendo ser interpretada como forma de "queimar" a candidata. Se para determinados setores a notícia pode ter vindo com objetivo de atingir a honra da candidata, como "matéria plantada", para outros, causou estupefação o fato de existir uma sigla como GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), pouco conhecida - podendo ser entendida como um partido, uma entidade, um movimento ou mesmo uma marca comercial -, daí ter causado os mais diversos questionamentos.
"Todo esse frisson que a notícia causou na cabeça das pessoas se dá pelo fato de que, aqui, cinco famílias se apropriaram do espectro eletroeletrônico e da mídia, em geral. Só elas é que têm direito de falar, de expressar a sua versão. E devem ser tratadas como inimigas do povo. O povo deve conhecer a sua metodologia de manipulação, como é que elas fazem para alienar essa maioria. Como procedem para dominar, quem são seus pensadores. É preciso dizer que eles não param 24 horas por dia de pensar como dominar", afirma João Eudes, numa extensa análise acerca do processo político em curso no Rio Grande do Norte.
Auto-denominando-se Procurador Geral da Ralé, João Eudes lamenta que, no caso da notícia, "as pessoas tenham feito uma ‘Operação Abafa’, para não deixar fluir o debate livremente". E complementa: "Até porque, o Movimento GLBTT é limpo, não tem vergonha de discutir seus problemas, dificuldades e mazelas, que não é nada da pessoa da deputada, muito menos do militante. É fruto de um processo de acumulação histórica, dada a repressão que o movimento sofreu, a discriminação, as humilhações do cotidiano que essas pessoas passam. É natural que esse movimento sofra um certo golpe de retaliação."
Por conta do esforço em dominar a comunicação, diz o observador político, "a ideologia não é ainda muito fluente". "Ela é retida num certo ponto, historicamente falando. Haja vista que, oriundo do meio gay, tivemos expressões no teatro, na música, mas no governo é a primeira vez. E disputando, liderando uma coligação que não é por vontade das pessoas da região, mas uma imposição que vem lá da esfera federal. Que comprou (a candidatura), para que o partido governasse a cidade pelo menos uma vez."
João Eudes defende a criação, em nível federal, do cargo Procurador Geral da Ralé, a ser patrocinado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, através de um decreto. "Ele não governa por decreto? Então, ele podia fazer um decreto criando os Procuradores Gerais da Ralé. Eu seria um deles. Ganharia uma carteira vermelha da Presidência, pelo menos para não ser preso. Não era para ele me dar nada, não. Quando eu tivesse 65 anos, e chegasse, caído, lá na Previdência, perguntariam: ‘O que foi que você fez?’ Eu diria: ‘Eu fui Procurador Geral da Ralé. Está aqui, o presidente é que me deu a carteira’. Pronto, estava resolvida a aposentadoria. Deveria ter milhões de procuradores. Não tem o Procurador Federal? Não tem o Procurador de Justiça? Falta o Procurador da Ralé."
Veja, a seguir, a análise feita por João Eudes para o jornalista Paulo Augusto, do blog Radar Potiguar, sobre o momento político do Rio Grande do Norte. (Ilustração)

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