domingo, junho 15, 2008

Comunicação encubada, gay interrompido

A "síndrome do cotovelo"
Outro ponto que deve ser levado em consideração, para que as pessoas não fiquem, vamos dizer assim, aterrorizadas, é que, do ponto de vista constitucional, a gente sabe que não existe agressão. Até porque a intimidade da pessoa é inviolável. Isso é um direito fundamental. É claro que nenhum candidato, num debate ou numa nota pública, nenhum partido, vai se arvorar - até porque seria uma ofensa ao direito fundamental da pessoa - trazer a intimidade da pessoa, sem autorização daquela pessoa, violar a intimidade da pessoa para a comunidade, sem debater com ela. Essa é uma agressão terrível. A questão sexual cabe a cada um. E infelizmente, a repressão é muito grande aqui, nesse setor Natal é uma cidade terrível. É conhecida como um abatedouro de diferentes. Inclusive, aqui tem um problema muito sério, que é a "síndrome do cotovelo". Se um gay chega na universidade, então uma funcionária já bate na outra com o cotovelo: "Olha aí, quem quer estudar, quem quer ser doutor". Não é? Se uma lésbica chega, por exemplo, num mercado, para fazer umas compras, as pessoas ficam batendo com o cotovelo. Quer dizer, é um povo que não aceita. Se vê um japonês, um chinês, um alemão, um holandês, qualquer coisa que seja diferente dele, ele acha estranho. Isso é uma falta de educação, uma falta de respeito. Assim também se dá na política. Então, quando uma pessoa vê uma lésbica disputando o poder, dá essa síndrome. A "síndrome do cotovelo". De dizer que uma lésbica não pode. Por que não pode? Aonde está dizendo que não pode? Pelo contrário, é assegurado a todos o direito de participar da vida política do país.
Radar - Agora, tem o aspecto da hipocrisia instalada, porque a governadora Wilma de Faria, que foi prefeita, em dois mandatos (1989-1992 e 1997-2001), sempre quis homossexuais no seu staff, no gabinete, ao lado dela.
João Eudes
- É. Os coronéis são assim. O homossexual, tal qual o negro, tal qual o socialista, tal qual o comunista, tal qual o anarquista, eles sofrem discriminação. Então, a oligarquia só aceita essas pessoas como comandados. Quer dizer, é o teatro sem ator. Por exemplo: eu faço uma boa administração, cercado de pessoas de sexualidade diferente, e que profissionalmente têm capacidade, mas eu não posso apresentar essas pessoas como co-autoras do projeto político que rege a sociedade, porque - não é na cabeça do povo, mas na cabeça do governante - essas pessoas são feias. Você veja a que ponto a gente chegou com essa doença. Isso é uma doença que está impregnada na cabeça dos governantes, de tudo eles trazerem esse lado das pessoas.
Radar - Outro aspecto com relação ao barulho criado em torno da notícia sobre o GLBTT, é que ela foi veiculada por um jornal (Jornal de Hoje) que não é exatamente um jornal "oficial", não se encontra alinhado na defesa dos interesses das oligarquias, pelo menos tão evidente. Como o Diário e a Tribuna, que são tidos como defensores das oligarquias, cada um sendo propriedade de um oligarca ou de um representante de um segmento a eles vinculado. Enquanto o Jornal de Hoje se dá o direito de trazer esses "ruídos", de apresentar aspectos que não seriam "recomendáveis".
João
- A gente entende que essa barragem vazou. Embora as pessoas tenham feito uma "Operação Abafa" para não deixar fluir o debate livremente. Até porque, o Movimento GLBTT é limpo. Não tem vergonha de discutir seus problemas, suas dificuldades, suas mazelas. Que não é nada da pessoa da deputada, muito menos do militante. É fruto de um processo de acumulação histórica, dada a repressão que o movimento sofreu, dada a discriminação, dadas as humilhações do cotidiano que essas pessoas passam, é natural que esse movimento sofra um certo golpe de retaliação. A ideologia não é ainda muito fluente. Ela é retida, num certo ponto, historicamente falando. Haja vista que nós tivemos no universo gay expressões no teatro, na música, mas no governo é a primeira vez. E disputando, liderando uma coligação que não é por vontade das pessoas da região, mas uma imposição que vem lá da esfera federal. Que comprou a candidatura, para que o partido governasse a cidade pelo menos uma vez. (Ilustração)

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