domingo, junho 15, 2008

Comunicação encubada, gay interrompido

Costumes e nova família
João Eudes Gomes - O Rio Grande do Norte culturalmente é um estado tão atrasado que, ao ver a sigla citada na matéria - "GLBTT questiona deputada" -, muita gente pensava que se tratava de gás liquefeito, vindo de GLP. O que não tem nada a ver. Outra coisa que se revela é a visão estreita das pessoas que analisaram o problema, haja vista que elas observaram com um ranço negativo do processo. Quando, na verdade, historicamente, a matéria é positiva e salutar. Isso reflete e empresta muita importância para a história do movimento popular no Rio Grande do Norte. Haja vista que a doutrina na cabeça das pessoas, através da educação e das nossas próprias leis, como o Código Civil de 1916, diz que a base da família é o homem e a mulher. Já o Código de 2002, que veio para renovar todo o arcabouço jurídico da legislação civil, manteve esse mesmo preceito. Isso no final do século. E praticamente cem anos depois.
A partir de uma discussão perfeitamente normal - pois aí não tem nada de anormal - entre um militante, ativista do movimento gay, e uma deputada lésbica, inclusive candidata a prefeita de Natal, liderando uma coligação de 18 partidos, esse debate foi muito positivo. E veja que ele aparece 409 anos depois da fundação da Cidade do Natal. É a primeira vez que, nas eleições, aparece essa sigla de forma organizada. Sem ser como piada. Sem ser avacalhada. Trata-se de uma matéria que trouxe para a sociedade uma verdade que a sociedade, por ser hipócrita, tentava ocultar.
Radar - Quer dizer, aparece como uma "novidade", mas desde a fundação da cidade, 409 anos atrás, já havia homossexuais e transgêneros, os que compõem a sigla GLBTT, sem que fossem encarados como autênticos, legítimos, verdadeiros, gente vivente.
João
- Já havia homossexual, lésbica, bissexual e, quem sabe, até transgêneros. Só que, do ponto de vista do debate público, ainda não tinha vindo à tona. Por isso eu acho que este ano, 2008, é um marco na história do movimento GLBTT, no sentido de eles aparecerem na imprensa, não como palhaços, pessoas que são levadas ao ridículo, de bobos da corte, nem também como vítimas de violência, de morte e agressões. O que é muito comum na cabeça das pessoas de Natal, esse aspecto negativo. Eles apareceram agora como pessoas que têm organização - inclusive fazendo uma conferência nacional, com mais de 30 entidades participando, e disputando o governo do município, que detém uma fatia razoável de Orçamento de Natal. Se a candidata vier a ser escolhida pela população, ela vai administrar um valor em torno de R$ 2 bilhões.
É natural que esse debate tenha posto por terra uma concepção que, inclusive, existia nas escolas. No Marista, no Salesiano, no Churchill, no Atheneu, na Escola Doméstica, que são aparelhos de controlar as cabeças das pessoas. Então, elas doutrinam as crianças e as pessoas, de uma forma tal de que só existem homem e mulher. De forma que, pela primeira vez, vem esse debate a público. Historicamente isso é muito importante. E eu espero que, daqui para a frente, as pessoas entendam que a sociedade não é composta apenas de homem e de mulher. Ela tem gays, tem lésbicas, tem bissexuais, tem transgêneros, tem travestis. Quer dizer, nós somos uma sociedade em que a diversidade está na base. Agora, depois de 409 anos foi que veio à tona esse problema na imprensa oficial. (Ilustração)

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