domingo, agosto 05, 2007

Golpes contra o Rio Grande do Norte

O Valor fez várias tentativas de falar com Fragoso Pires em seu escritório, no Rio, mas a informação recebido foi que ele se encontrava em viagem ao exterior e só voltaria ao país no fim do mês. Fontes que acompanham o caso disseram que a Cirne também acionou o BNDES e a BNDESPar na Justiça postulando a revisão do contrato de compra e venda de ações da CNA. Segundo essas fontes, Pires também questiona a privatização da CNA, argüindo "omissão de documentos e informações relevantes sobre a situação econômico-financeira da Álcalis".
O BNDES não reconhece a Nova Álcalis, nova denominação da Álcalis após a doação de suas ações aos empregados feita pelo empresário, porque a empresa seria fruto da doação irregular das ações que Pires tinha na Cirne.
A Cirne penhorou em garantia ao BNDES ações de emissão da CNA. Outras empresas do seu grupo, como a Frota Oceânica e Amazônica S.A, à época chamada Frota Oceânica Brasileira, prestaram fiança ao banco pelas obrigações assumidas pela devedora Cirne.
Apesar de toda a discussão pendente nos tribunais há seis anos, a diretoria do BNDES vem mantendo contato com os atuais gestores da Nova Álcalis, um grupo de empregados que têm à frente Aloísio Caiado, ex-funcionário e atual presidente da empresa, que tentam retomar o negócio. Caiado busca saídas para fazer a empresa operar de novo. A fábrica, em Arraial do Cabo (região dos Lagos do Rio de Janeiro), está desativada desde abril de 2006. A CNA era a única produtora nacional de barrilha, insumo vital para fazer vidro.
A disposição do banco para o diálogo com os novos dirigentes da empresa se apóia no argumento de que o devedor perante o BNDES é a Cirne e Fragoso Pires e não a CNA. De qualquer maneira, a retomada da produção de barrilha pela empresa passa por outros acertos legais que fogem ao controle do BNDES.
O banco tem como uma de suas estratégias a recuperação de dívidas antigas. E trabalha dentro do possível, levando em conta a necessidade de recolocar em produção unidades industriais que deixaram de operar por problemas financeiros e de má gestão, como a Álcalis e a Chapecó.
O presidente da Nova Álcalis disse ao Valor que procura sócios para desenvolver um novo projeto de produção de barrilha em Arraial do Cabo. O projeto, avaliado por ele em US$ 62 milhões, utilizaria a mesma tecnologia de produção aplicada na China. Trata-se de um processo a base sintética do qual se obtém dois produtos: barrilha e cloreto de amônio.
O processo antigo de produção de barrilha da CNA, fundada em pleno governo de Getúlio Vargas, é considerado hoje ultrapassado e inviável sob a ótica econômico-ambiental. A barrilha em Arraial do Cabo era fabricada com sal trazido do Rio Grande do Norte e calcário de conchas retiradas da lagoa de Araruama, que banha Arraial do Cabo. Este sistema de produção foi condenado pelos órgãos ambientais e obrigou a CNA a buscar calcário mineral em Minas Gerais, o que aumentou os custos e foi mais um fator que contribuiu para a derrocada da empresa.
O Valor visitou o parque industrial da CNA, instalado em área de 400 mil metros quadrados. Os prédios estão vazios e os principais equipamentos sucateados e corroídos pela falta de manutenção. Caso volte um dia a funcionar, parte da fábrica precisará ser demolida e reconstruída.
Na entrada do prédio principal há quadros com espaço para fotografias do operário padrão do ano. O primeiro ganhador do título foi em 1966. De lá para cá outros obtiveram a homenagem. Mas um fato chama a atenção do visitante: os quadros da galeria reservados para o período de 2006 a 2015 estão todos em branco, o que demonstra que os planos de longo prazo da CNA foram abandonados assim como a própria empresa.
Caiado, porém, mostra-se otimista. Diz que a empresa tem ativos de R$ 828 milhões, dos quais R$ 539 milhões correspondem a 11 milhões de metros quadrados de terras em Arraial do Cabo e Cabo Frio, município vizinho. O valor é quase o dobro dos passivos da empresa, avaliados por ele em R$ 443 milhões. Deste total, R$ 52 milhões são dívidas trabalhistas. A CNA tinha 650 empregados: a maioria foi demitida.
Mas existe um grupo menor, de cerca de 60 empregados, que questiona a gestão de Caiado. Este grupo tentou eleger um presidente alternativo para a CNA, mas não houve o reconhecimento deste direito no fórum de Arraial do Cabo. Os trabalhadores demitidos ainda aguardam a venda de lotes de terra pertencentes à CNA para receber os seus direitos. O prefeito de Arraial do Cabo, Henrique Melman (PDT), disse ao Valor que a venda das terras da empresa, que ocupam cerca de dois terços do município, é complicada. Segundo Melman, a CNA não é a única proprietária dos terrenos. "As terras estão em condomínio entre a Álcalis e o grupo Bassini. A Álcalis tem que extinguir o condomínio porque enquanto estiver assim ninguém compra nada", afirmou o prefeito. (Matéria publicada no Jornal Valor Econômico, 03 de agosto de 2007. http://www.valoronline.com.br/Search.aspx?q=BNDES.)

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