segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Manda bala, cara, a barra tá limpa

Paulo Augusto
Coluna Radar Potiguar
Na verdade, a sujeição da população trabalhadora no Rio Grande do Norte por mercenários e representantes de grupos de delinqüentes, verdadeiras organizações criminosas que se apossam de lugares privilegiados no aparelho de estado, ainda irá ser uma constante durante décadas. Em razão de vários fatores, num processo pútrido que se consolidou ao longo dos anos, e cujas causas nem de longe são sequer mencionadas, a fim de que apenas as chamadas elites (que de elites têm apenas o parentesco com os PCCs e ADAs da vida) não percam suas benesses e prerrogativas, adiando para a eternidade o funcionamento da verdadeira democracia, na qual todos possam ter um mínimo de bem-estar aqui e agora.
Entre os muitos fatores, verifica-se, primeiramente, a impunibilidade (que não se pode ou deve punir; incastigável) dos gajos que compõem essas chamadas "elites". Não por acaso o filme "Manda Bala", sobre a corrupção e a violência no Brasil, ganhou o prêmio do júri de melhor documentário do Festival de Sundance, no último sábado do mês de janeiro. O filme, dirigido por Jason Kohn, de 23 anos, filho de uma brasileira, acompanha um político que usa sua fazenda para lavar dinheiro, um milionário que investe uma pequena fortuna para blindar seus carros e um cirurgião que reconstrói orelhas de vítimas de seqüestro mutiladas, para mostrar os efeitos da criminalidade no Brasil. O documentário onde exibe a corrupção brasileira em toda a sua magnânima voracidade e petulância.
A impunidade, no caso, é das mais aberrantes, pois focaliza o ex-senador Jader Barbalho, cuja desenvoltura na criminalidade no Pará se assemelha ao que acontece com outras oligarquias e verdadeiras quadrilhas organizadas e que ocupam o poder em outras partes do Brasil profundo — como esse Brasil da gente, que viramos e vivemos como bichos, nesses grotões do Nordeste.
Kohn baseia sua obra na impunidade, tanto no caso da corrupção quanto na indústria da violência, onde se constata que os crimes continuam sendo cometidos "porque ninguém é punido no Brasil. O Barbalho foi preso e reeleito"
Kohn ensina o beabá da lavagem de dinheiro no Brasil. "O exemplo dado é o caso do ranário (the frog farm) de Jader Barbalho, que foi acusado de desviar US$ 9 milhões da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), operando um orçamento de R$ 300 mil. "O ‘crime organizado chegou ao centro do poder’ no Brasil. Jader fez o que queria na Sudam. Aprovava o que queria pelo valor que queria", declara o diretor. Em uma outra cena, surge um entrevistado brasileiro, não identificado, que fala em português e diz: "Sempre recebendo propina, sempre recebendo suborno".

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