segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A indignação necessária

O colunista Renato Mezan analisa
o tratamento dispensado
aos clientes de instituições bancárias
RENATO MEZAN
COLUNISTA DA FOLHA
Folha de São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007
"Poucos parecem ter reparado numa notícia publicada logo antes do Natal: numa agência carioca do banco Itaú, o vigia matou com um tiro um cidadão que tentava passar pela porta giratória.
Intimado a colocar na gaveta chaves e moedas, o senhor obedeceu, mas o detector de metais continuava a não permitir sua entrada. O guarda ordenou que tirasse o cinto, o que ele se recusou a fazer e foi alvejado como se se tratasse de um perigoso assaltante.
Tragédia dupla: para a vítima que perdeu a vida e para o vigia, cujo gesto absurdo poderia ter sido evitado com um pouco de bom senso.
Dirão alguns que se trata de um pobre coitado, que apenas "se excedeu" no cumprimento da sua obrigação. Não posso concordar: de um adulto, ainda mais portando uma arma, tem-se o direito de esperar alguma capacidade de avaliar uma situação e, diante dela, se comportar com sensatez.
O banco provavelmente relutará até o último instante em assumir a responsabilidade pelo ocorrido em suas dependências, alegando todo tipo de "razões": que o serviço de vigilância é terceirizado, que precisa proteger seus clientes... E a morte de uma pessoa cujo único delito foi resistir a um regulamento cretino terá passado em brancas nuvens.
É preciso refletir sobre o que significa essa tragédia. Ela é o ponto culminante, embora previsível, da truculência com que muitas instituições financeiras tratam quem as procura, inclusive e principalmente seus clientes. A escalada da prepotência, da arrogância e do desrespeito vem se acelerando e um dia teria de chegar, como chegou, ao assassinato.

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