segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Fundação borra-tintas com Inventário

Paulo Augusto
Especial para o Encartes
Convidada para assumir a direção da Fundação José Augusto num momento delicado da instituição, em que a entidade máxima de representação da cultura potiguar se via em palpos de aranha sob investigação do Ministério Público na apuração da acusação de ter servido como "laranja" no chamado "Foliaduto", golpe que desviou R$ 2 milhões em recursos públicos que teriam sido usados no Caixa 2 na última campanha eleitoral, a professora Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia vê-se, no momento, no olho de um furacão que, certamente, a pegou de surpresa.
Professora e pesquisadora de alto gabarito, ex-secretária da Educação do Estado na primeira gestão da professora Wilma de Faria, tendo prestado serviços inestimáveis à cultura do Estado, em especial ao dirigir a Fundação Cultural Capitania das Artes, Isaura Rosado, vem sendo cobrada pelos produtores culturais locais, em especial os artistas plásticos, ao apresentar, como resultado da apuração de um banco de dados coletado por uma equipe de especialistas da FJA, um catálogo de artes visuais do inventário do Patrimônio Cultural sem as devidas qualificações técnicas.
Realizado sob os auspícios do Ministério da Cultura, o "Inventário - Catálogo do Acervo de Artes Visuais do Governo do Rio Grande do Norte" foi produzido no âmbito do Programa Monumenta, para o qual foram destinados R$ 180 mil, divididos entre as partes do levantamento, cabendo a metade a cada uma das duas vertentes em que se dividiu o estudo, tendo o projeto como um todo contado com financiamento do BID e o apoio da Unesco.
O inventário abrangeu cerca de quatro mil bens, dividido em seis categorias - arquitetônico, museológico, arte sacra, bens móveis e integrados, artes visuais e patrimônio imaterial.
O que causa admiração aos que criticam o Inventário implica no fato de que o trabalho de catalogação de seis vertentes do patrimônio cultural, ao par de ser pioneiro, tenha sido entregue a pessoas consideradas experts em suas áreas de atuação, devendo servir, a partir de sua conclusão, de orientação a pesquisas, e permanecer como uma massa de informações sobre o Rio Grande do Norte para subsidiar as definições de roteiros turísticos e culturais do Estado.
No caso do Inventário relacionado às artes visuais, a FJA se encarregou de catalogar, no espaço de um ano, os quadros e telas existentes em todos os órgãos do organograma da administração direta e indireta do governo do Estado, sendo o trabalho entregue à coordenação executiva de Ana Neuma Teixeira de Lima,Eduardo Alexandre de Amorim Garcia e Vatenor de Oliveira, este último o diretor da Pinacoteca do Estado, instalada no Palácio da Cultura.
Do acervo da Pinacoteca, 607 obras foram inventariadas, sendo contabilizados em órgãos da administração direta e indireta, 267. No período compreendido para a feitua da obra, o Estado recebeu 101 doações de artistas, incluinsive 40 itens - entre desenho, gravura e pintura - do crítico de arte Geraldo Edson de Andrade. No total, foram catalogadas 874 obras, incluindo-se as 49 "desaparecidas" ("obras com registro de entrada no acervo e não localizadas", conforme se explica no livro). Sobre o caso das obras "desaparecidas", Isaura chegou a comentar com o repórter Júnior Santos, do Caderno Viver, da Tribuna do Norte, em entrevista publicada no último dia 11: "O Viver noticiou o sumiço de 40 telas de artistas plásticos doados para a Pinacoteca. Como ficaram esses quadros na catalogação das artes visuais?", indagou o repórter, tendo Isaura respondido na ocasião: "Estamos trabalhando com um número total de obras do Estado. Essas 40 telas representam 5% do acervo da Pinacoteca, ou seja, não representam muita coisa."
O que vem constrangendo os artistas plásticos e aos editores do Estado (veja matéria ao lado e na página 02) refere-se explicitamente ao resultado do catálogo como produto, tendo em vista os custos anunciados, transformado num livro absolutamente ordinário, na sua simplicidade, sem quaisquer laivos de requinte ou bom gosto, levando, contudo, a suscitar o caráter de "finura", no sentido de engenho ardiloso e astuto, tendo em vista não ter havido uma explicação pública sobre sua realização. (Publicado no Caderno Encartes, do Jornal de Natal, edição de 29.01.2007.)

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