segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Inventário da Inutilidade

Abimael Silva
"Nenhum potiguar do ramo pode negar a competência cultural da professora Isaura Rosado, mas a publicação do "Inventário - Catálogo do Acervo de Artes Visuais do Governo do Rio Grande do Norte" foi o maior gol contra da Fundação José Augusto em 44 anos de história.
É uma colcha gigante de falhas e erros absurdos. Uma publicação vergonhosa, que não passa das fronteiras da cidade.
O "Catálogo" foi inventado em formato de livro comum, impresso em preto e branco, com o gravíssimo erro de priorizar informações bobas e reproduzir os trabalhos não-legíveis, no ridículo tamanho de até três milímetros um trabalho que tem o tamanho original de 1,72cm.
Tem excesso de anônimos, 77 sem dados biográficos e 102 participantes que não são potiguares, de 345 selecionados. A grande maioria com qualidade extremamente duvidosa.
O que tem mais é informação incompleta. Por exemplo, o médico, escritor e artista plástico Getúlio Araújo, que morreu no começo do século, continua vivo no catálogo. O desenhista Emmanoel Amaral fez um belíssimo e famoso retrato da poeta e jornalista Miryam Coelli, em 1989, em tamanho 93 x 63cm e foi reproduzido como "Sem título", no tamanho 2 x 1cm.
Também é bom não esquecer que essa "obra" foi realizada por um quarteto: Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia, Ana Neuma Teixeira de Lima, Eduardo Alexandre de Amorim Garcia e Vatenor de Oliveira.
Além da feiúra do preto e branco, o papel Pólen Bold 85g. só fez complicar o resultado final. Se o caso era usar Pólen, que fosse um mais decente e apropriado para um livro de arte. A ausência de um índice onomástico é visível a olho nu. Como também um sumário.
A capa do "Catálogo" é coisa de papangu de quarta categoria! Cinza, amarelo jerimum com fundo vermelho, isso é capa de livro de arte?
Livro de arte tem um formato de livro de arte, impressão coloria, papel couché fosco ou outro que não complique a reprodução e uma capa mais alinhada, compatível com a temática do produto.
Mas existe um pioneirismo: é o primeiro catálogo de obras desaparecidas. A Fundação José Augusto inventariou bens inexistentes (quadros fantasmas). Dos cinqüenta que sumiram, constam os artistas plásticos Dorian Gray Caldas, Erasmo Andrade, Arruda Sales, Regina Guedes, Irmã Myriam, Cristina Jácome, Laércio Eugênio, Getúlio Araújo, Levi Bulhões, Mano, Manxa, Vatenor, José Estelo, Ojuara, Newton Navarro, Leopoldo Nelson e muitos outros.
Manxa, artista potiguar consagrado além do RN, tem um trabalho com tamanho original de um metro e setenta centímetros, reproduzido com três milímetros de largura. Reproduzir uma obra de arte com três milímetros de largura é uma vergonha para todo norte-rio-grandense.
Sem considerar as injustiças. Enquanto eles ficam pedindo doações aos verdadeiros operários das artes, para enriquecer o fraco acervo, o ilustre desconhecido Florêncio Costa de Medeiros, de Pedro Velho, teve seis abstratos adquiridos.
Assim, não tem jeito que dê jeito."
Abimael Silva, Sebista e Editor
(Publicado no Caderno Encartes, do Jornal de Natal, edição de 29.01.2007.)

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