segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A indignação necessária

Desrespeito cotidiano
Outro detalhe revelador: jogando com a expressão "um caminhão de vantagens", o que o bordão transmite é a desproporção entre o veículo enorme e a pequenez do indivíduo postado à sua frente. Cochilo do publicitário, com certeza, mas que deixa transparecer algo efetivamente associável ao banco em questão -peso mastodôntico, falta de flexibilidade, dificuldade de manobra.
O público deveria manifestar com mais veemência indignação com o desrespeito do qual -das sutilezas aqui evocadas ao assassinato de um inocente- é cotidianamente alvo por parte de certas instituições.
É inadmissível que em nome da segurança (dos banqueiros) se permita que vigias despreparados, mas armados, humilhem e ameacem quem precisa dos serviços de uma agência.
É inadmissível que o consulente seja empurrado de tecla em tecla como uma alma penada, que precise de chaveiros com senhas para utilizar um caixa automático (Unibanco), ou necessite carregar consigo um "cartão de segurança" sem o qual não pode efetuar uma simples transferência de conta para conta, se esta superar um valor irrisório (Itaú).
É inadmissível que os caixas estejam situados nos pisos superiores, obrigando as pessoas a subir escadas para chegar aos guichês (como em inúmeras agências do Banco do Brasil, nisso copiado por diversos de seus congêneres).
Em resumo: não há como não concordar com o personagem de Brecht [na "Ópera dos Três Vinténs"], questionado sobre se considera um crime assaltar um banco: "Pode ser, sim... mas com toda a certeza é um crime abrir um banco".
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RENATO MEZAN é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de SP. Escreve na seção "Autores", do Mais!. (Publicado no Caderno Mais!, na edição da Folha de São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007.)

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