sábado, julho 05, 2008

Eleições e suas barreiras

Nesta eleição municipal,
o custo deverá bater recorde
Raphael Bruno,
Jornal do Brasil
05/07/2008
RIO - A largada da corrida eleitoral deu início, também, a uma milionária e poderosa dimensão das campanhas: entre gastos com publicidade, produção de programas de rádio e televisão, pessoal, impressões, pesquisas e locações, os pleitos municipais de 2008 têm tudo para entrar para os anais da política brasileira como as eleições de âmbito local mais caras da história do país.
– Já escutei assessores de marketing de candidatos por ai falando que a eleição majoritária no Rio de Janeiro ficaria em torno dos R$ 10 milhões – revela o candidato do PSOL à Prefeitura carioca, Chico Alencar.
Em 2004, num período em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mantinha controle bem menos rígido em relação à prestação de contas dos postulantes ao mandato público, o então candidato e atual prefeito Cesar Maia (DEM) declarou gastos de R$ 2,78 milhões. Na época, uma das eleições municipais mais caras do país.
– Parece que inflacionou bastante em quatro anos – ironiza Alencar.
O deputado federal pelo PSOL surpreendeu os adversários ao lançar sua candidatura propondo teto de R$ 400 mil para os gastos de campanha. O candidato diz que pelo menos os adversários que se dizem do campo das esquerdas deveriam levar em consideração a proposta a fim de se manter coerentes. Ninguém se sensibilizou.
No interior
Mas Alencar sabe que a realidade é bem diferente. Prefeitos eleitos quatro anos atrás em cidades bem menores que o Rio de Janeiro e seus 4,5 milhões de eleitores, como Niterói e Nova Iguaçu, no interior do Estado, gastaram mais do que o dobro do teto previsto para a campanha do candidato do PSOL. Em Niterói, com eleitorado de 354 mil habitantes, Godofredo Pinto (PT) desembolsou R$ 951 mil para ser eleito em 2004.
Em Nova Iguaçu – 525 mil eleitores – Lindberg Farias (PT) gastou mais de R$ 2 milhões para conquistar a prefeitura em 2004. O valor supera até mesmo o que figuras como José Fogaça (PMDB), João Paulo (PT) e João Henrique (PMDB) disseram ter investido para se eleger em metrópoles como Porto Alegre, Recife e Salvador, respectivamente.
– São gastos abusivos inaceitáveis num país pobre como o nosso – protesta Alencar. – Mas o pior não é isso. É que essas campanhas milionárias demandam captação de recursos que retiram a independência política, porque o pessoal acaba assumindo compromissos com setores como empreiteiras, operadoras de planos de saúde e bancos.
Em 2006, o partido de Alencar sofreu para conseguir conduzir a campanha da então senadora Heloísa Helena à Presidência sem aceitar contribuições eleitorais de pessoas jurídicas. Hoje, o estatuto do partido veta doações apenas de empresas do sistema financeiro e multinacionais. Mas Alencar garante que também não aceitará doações de grupos que atuem na construção civil.
Foi utilizando o mesmo argumento de independência política que o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) desistiu da candidatura à prefeitura de Recife. O parlamentar, que somava de 6% a 8% das intenções de voto nas pesquisas realizadas até a desistência, diz que, pelos cálculos de assessores próximos, uma campanha minimamente competitiva exigiria o desembolso de R$ 1 milhão. Após fazer as contas e perceber que dificilmente as doações prometidas turbinariam o caixa de campanha a esse ponto, Jungmann abandonou a corrida eleitoral.
– Não é vergonha assumir que não tem dinheiro – justifica o deputado. – Vergonha é fazer concessões políticas para grupos privados para obter esse dinheiro.
Jungmann revela que, em 2004, quando se candidatou a prefeito de Recife, chegou a ser procurado por uma empresa de transporte urbano local, interessada em contribuir para a campanha, mas que pretendia fazê-lo “por fora” da contabilidade oficial.
– Respondi que, dessa forma, não precisava.
O parlamentar do PPS gastou cerca de R$ 400 mil na corrida eleitoral, há quatro anos.
– Hoje, assessores de outros candidatos calculam em R$ 7 milhões a campanha em Recife. R$ 2,4 milhões só na produção de conteúdo para televisão e rádio.

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