domingo, julho 27, 2008

Arquitetura e mentalidades

CC: Como convencer os governos a apoiar projetos desse tipo?
Das:
Um arquiteto pode influenciar os governos e mobilizar as comunidades para ações políticas. Devemos promover nossas idéias a partir de baixo e não apenas influenciar decisões vindas de cima. Esse tipo de aproximação é importante para popularizar as propostas e construir uma base de apoio que ajuda a pressionar os governos. No caso da reabilitação das favelas do Parque Nacional e do movimento pela ampliação dos espaços públicos, os governos têm sido forçados a aceitar as demandas dos movimentos. A população é envolvida desde o croqui.
CC: Os espaços públicos estão em risco?
Das:
Em Mumbai, o espaço público está negligenciado e marcado pela destruição, mesmo do meio ambiente. A proporção dos espaços abertos em Mumbai é de 0,25 acre para mil pessoas. Em Nova York, são 6 e, em Londres, 7,3 acres. Isso tem conseqüências sociais e ambientais. A vida pública perdeu a dignidade. Hoje, a mais forte influência sobre o espaço urbano é exercida pelo mundo empresarial. Eles influenciam os políticos. O fenômeno das grandes corporações e da globalização afeta a cidade de diversas maneiras. Mumbai começou a ser vista como um importante centro mundial, mas sua expansão se dá na proporção inversa dos espaços públicos, cada vez menores. Essa é a nossa preocupação. A política neoliberal tem levado à proliferação de favelas e à sistemática destruição dos espaços públicos.
CC: Mumbai vive um boom econômico, não?
Das:
Como escreveu Sunil Khilnani, o que temos na Índia é uma fachada democrática, mascarada por governos autoritários desde a independência. Como pode a democracia florescer num lugar tão marcado pela desigualdade? O crescimento econômico é apenas um aspecto da nossa realidade. A participação democrática está restrita ao voto. Vivemos uma democracia exclusivista, voltada para os interesses das classes altas e corporações. (Foto)

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