domingo, julho 27, 2008

Arquitetura e mentalidades

CC: No Brasil, a arquitetura funciona, muitas vezes, como instrumento de apartheid, com condomínios de luxo encarcerados em si. É mais ou menos como em Mumbai?
Das:
Há um boom dos negócios imobiliários aqui. O setor movimentou 16 bilhões de dólares, entre 2006 e 2007, e deve alcançar 60 bilhões de dólares em 2010. Mumbai cresce, continuamente, a uma taxa de 9% ao ano. Mas uma tragédia acompanha esse desenvolvimento. Ela é simbolizada pelo volume de cimento e concreto. O espaço urbano, democrático por excelência, está nas mãos do novo dinheiro.
CC: Mies van der Rohe escreveu, nos anos 20, que a arquitetura é o desejo de uma época concebido em termos espaciais. Qual seria o desejo desta época?
Das:
Concordo com ele. Mas o ideal de uma época deve refletir os desejos do coletivo e não dos indivíduos. Hoje, a coletividade precisa criar espaços democráticos mais fortes. Penso que o dogma da arquitetura na nossa época deveria ser estimular a coletividade a refletir sobre o espaço urbano. Mas a arquitetura é, ainda, a do capital e do mercado. Por isso insisto na idéia da arquitetura como instrumento de mobilização social.
CC: Há, por outro lado, a idéia de que a fragmentação é parte desta era dita pós-moderna.
Das:
Não concordo com essa visão pós-moderna, que, de alguma maneira, assume e festeja o desenvolvimento anárquico. As duas coisas, pós-modernismo e anarquia, são partes essenciais do processo de privatização e do domínio das corporações. Essas idéias encorajam a colonização do espaço público e estimulam a competição individual, fazendo com que cada um pense no seu bem-estar e esqueça que as cidades devem ser pensadas para as pessoas, coletivamente. A fragmentação das cidades, com áreas de acesso restrito, é o grande símbolo da era neoliberal. (Foto)

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