terça-feira, dezembro 05, 2006

A sina dos cães sem pluma

Especializados em tráfico e cobrança de pedágio de moradores e comerciantes da região, os membros dessas gangues já haviam matado, entre 2010 e 2025, segundo levantamento oficial da polícia, mais de duas mil pessoas. Com as prisões abarrotadas, o poder público entregara os pontos no quesito segurança, sem condições de abrigar e manter, nos presídios e delegacias, esses grupos de marginais, formados por adolescentes e jovens que procuravam ocupar seu tempo com um lugar no tráfico, na disputa a bala pelos pontos de venda de drogas da região. Fossem os Ninjas, os soldados do tráfico, fossem os guardas-mirins, a cidade via sua rotina se fragmentar na luta de cada um contra todos, nas pequenas guerrilhas, que resultavam da atomização da guerra civil, o que fazia com que a violência se diluísse em agressividade mesquinha e permanente.
Há muito Natal perdera o status que gozara no cenário internacional como porto seguro para as levas de turistas estrangeiros que chegavam em vôos charters, e que reforçavam, no início do século, a impressão de a cidade ter se consolidado como destino de contingentes turísticos oriundos das principais praças do continente europeu e da América do Norte.
Os freqüentes assaltos e assassinatos de turistas foram dois dos complicadores a atingir a indústria do turismo praticamente de morte, no decorrer das duas primeiras décadas deste século. A transformação da cidade em point internacional do sexo-turismo acabara por afastar em definitivo o grosso do fluxo de pessoas que procuravam inicialmente a cidade como local para descanso. O acúmulo de prejuízos que passou a atingir os empresários estrangeiros que tinham comprado todo o parque hoteleiro da via Costeira os fez transferir seus negócios para as praias do litoral norte e sul. O movimento turístico passou a se localizar em toda a extensão dessa orla marítima, onde instalaram suas residências as principais autoridades da administração do estado, e único local onde se podia contar com fortes esquemas de segurança. A defesa da área era operada por esquemas de segurança oficial e particular, a partir da ponte Newton Navarro, com as estradas patrulhadas dia e noite, e vigilâncias e rondas aéreas garantidas por helicópteros de companhias privadas.
Como conexão internacional, Natal passara a ser um importante eixo de transbordo do narcotráfico, ficando no Estado parte da mercadoria, para uso interno, sendo o maior volume destinado à exportação, inserindo a capital dos potiguares de forma definitiva na rota do tráfico internacional. A partir da Bolívia, a cocaína seguia até o extremo Norte do país, sendo transportada a partir daí por via terrestre, em carros e caminhões ou por transporte marítimo. Ao chegar a Natal, a droga era encaminhada para a Europa e para outras regiões do Brasil, apesar das freqüentes operações conjuntas entre a Justiça Federal e as polícias Civil, Militar e Federal, para dar cabo do tráfico, que inaugurava constantes formas novas de atuação.
O fato de a cidade ter se transformado no trampolim para o tráfico nacional e internacional de cocaína, espantara os operadores de tours internacionais, não apenas pelo crescente volume de droga negociado, mas pelas violentas conseqüências na falta de esquemas de segurança na capital. Natal terminou por consolidar sua fama como um dos principais pontos de distribuição da droga para as regiões Sul e Sudeste, bem como para a Europa.
Até mesmo laboratórios passaram a funcionar na cidade, para elaborar a mercadoria a partir da pasta de cocaína, produto base para fabricação de crack, transportado de Belém do Pará. Tornou-se rotina a detenção de turistas de diversas nacionalidades, entre bolivianos, peruanos, colombianos, italianos, holandeses e americanos, que se abasteciam em Natal, fazendo do Aeroporto Internacional Augusto Severo uma das "bocas" brasileiras mais divulgadas e requisitadas no exterior.

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