sábado, dezembro 30, 2006

Desfivelando a máscara

Mais quatro anos
de governo sem projeto?

Marcos Aurélio de Sá

Jornal de Hoje, Coluna Hoje na Economia

“A governadora Wilma de Faria administrou o Estado do Rio Grande do Norte durante os últimos quatro anos sem ter demonstrado sequer a preocupação de mandar elaborar e divulgar um esboço de programa de governo. Fez tudo de improviso, ao sabor de seus interesses políticos mediatos e imediatos. E, pessoalmente, se deu muito bem.
Até hoje não se sabe com segurança se a falta de planos decorreu de provável estratégia produzida nos laboratórios da competente assessoria de marketing da governadora (para liberá-la, preventivamente, das inevitáveis cobranças da sociedade ao final do mandato), ou se, na verdade, faltou à nossa principal servidora pública um mínimo de visão de estadista no exercício da função. Ficou a dúvida, portanto.
O fato concreto é que pelas mãos da governadora, no período 2002/2006, passaram, em números redondos, cerca de R$ 16 bilhões (quase 8 bilhões de dólares), só de recursos oficialmente previstos nos orçamentos anuais do Estado; e o saldo de realizações que ela apresenta é por demais modesto para tamanha soma de dinheiro arrancado de todo nós, contribuintes.
O Rio Grande do Norte não só continua com um gigantesco déficit de obras infra-estruturantes, capazes de induzir a iniciativa privada a acreditar e a apostar no nosso desenvolvimento econômico, como a população em geral continua muitíssimo mal servida dos serviços essenciais que a Constituição obriga o Estado a prestar, tais como a educação, a saúde e a segurança públicas -- para não falar em outras áreas que ficaram esquecidas.
Nos últimos quatro anos quase nada foi investido e nem houve, da parte da administração estadual, nem mesmo articulações eficientes junto ao governo federal para se dar andamento a projetos remanescentes de governos anteriores, alguns tidos como irreversíveis e todos de importância estratégica para o nosso futuro.
Nada se sabe sobre a ampliação das áreas irrigadas no entorno das grandes barragens no vale do Assu e da região do Apodi; a ampliação do porto de Natal não passa de blá-blá-blá; a recuperação, extensão e reativação da malha ferroviária do Estado não sai do papel; a construção do mega-aeroporto de São Gonçalo do Amarante só merece destaque no decorrer das campanhas eleitorais; a fábrica de barrilha, em Macau, continua sendo um elefante branco de 200 milhões de dólares; a Termoaçu está com as obras desaceleradas; a duplicação do Terminal Salineiro de Areia Branca, para que sirva ao escoamento de outros granéis, não passa de uma idéia na cabeça de alguns técnicos e empresários; o saneamento básico não chega às cidades no ritmo prometido; o turismo, setor mais dinâmico da economia, não recebe a atenção merecida, a ponto de quatro anos de governo não terem sido suficientes para que se concluísse uma simples reforma do Centro de Convenções de Ponta Negra...
Nesta segunda-feira a governadora Wilma de Faria será reempossada; disporá de mais quatro anos à frente da máquina pública. Se continuar competente como foi no primeiro quadriênio na sua política de cobrar impostos (inclusive de forma antecipada) e mantiver o ritmo de crescimento registrado na arrecadação nos últimos anos, certamente disporá de, no mínimo, uns R$ 20 bilhões para gastar ao bel-prazer no segundo mandato.
Infelizmente, o mesmo filme parece que vai se repetir, já que até agora -- faltando pouco mais de 72 horas para a cerimônia de posse -- ainda não se conhecem os planos administrativos para os próximos quatro anos. Sobre o governo Wilma sabe-se, com larga margem de certeza, apenas de uma coisa: ela será candidata ao Senado em 2010. Com vitória assegurada!”
(Coluna Hoje na Economia, Marcos Aurélio de Sá, Jornal de Hoje, Ano IX - Nº 2733 - Sexta-feira, 29 de dezembro de 2006.)

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