sábado, dezembro 09, 2006

O paraíso perdido

Valério Mesquita
Escritor, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do RN
"Aprendi nos compêndios de geografia no colégio Marista que "o Brasil é um país essencialmente agrícola". Essa teoria mudou radicalmente nesses últimos quarenta anos. Principalmente no Nordeste, grande produtor de cana-de-açúcar, banana, algodão, milho, feijão, mandioca etc. Particularizando o Rio Grande do Norte, podemos dizer, sem medo de errar, que o produtor rural está falido. Quem faliu a atividade agrícola? Ora, o governo federal, através dos seus próprios instrumentos: o ministério da Agricultura, os juros bancários e o calote de algumas usinas de açúcar aos produtores de cana.
O produtor rural é hoje um refém permanente dos bancos oficiais. Além das dívidas padecem as dúvidas do tempo, da ausência de uma política agrícola definida que objetive a produtividade. Quem cair na arapuca do empréstimo agrícola em bando do governo se arrisca a perder a propriedade. Nesses tempos alternativos, para sair do buraco, ou o proprietário rural faz acordo com os sem-terra para invadirem sua propriedade, ou, quem te nome ; sobrenome arranja um gancho de um financiamento a fundo perdido, tipo "reflorestamento", que já salvou, pelo "ladrão", muita gente boa. O mais, ser produtor rural é padecer num paraíso perdido. E a SUDENE? Pergunta um idiota chapado. Sumiu-se nas vagas vazias e vadias da incredibilidade, da inconseqüência e da incomprtência. Moreu de inanição sem se aperceber que a próxima crise mundial será a da escassez de alimento.
No Rio Grande do Norte, se não fosse o programa do leite todos os produtores rurais, sem exceção, já teriam se enforcado. Desde o Governo Sarney, quando foi extinto o subsídio agrícola a atividade rural nesse país entrou em colapso. Na ANORC (Associação Norte-rio-grandense de Criadores) ou fora dela, a maioria dos agropecuaristas está vendendo o rebanho para pagar o banco.
Para se viver honestamente, tirar da terra o sustento, acreditar que somos essencialmente um país agrícola, sem bandalheira, sem maracutaia, sem empréstimos dadivosos a fundo perdido com o dinheiro do contribuinte, o que fazer? Só há dinheiro para a atividade industrial urbana, fábricas, pólo-gás-sal etc. e o campo vai se esvaziando, se erodindo... Dir-se-á que o país todo se urbaniza e as propriedades rurais vão ficar mesmo para os sem-terra que irão se decpecionar e constatar que o trabalho agrícola é mesmo uma atividade marginal nesse país. Aí virá o Evangelho e Cristo dirá novamente: "Naquele tempo...". O Nordeste será a Galiléia..." (Publicado no JH 1ª Edição de 04.12.06. Ver página do escritor, aqui.)

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