terça-feira, dezembro 05, 2006

Operação Lupanares

Ao pegar o livro, diante de dois companheiros que o visitavam, teve um estremecimento, numa comoção entre a alegria e o assombro. Tratava-se de um romance-reportagem, de festejado autor potiguar, Cristóvão Pezza, que narrava situações passadas no meio político estadual. Ao abrir por acaso uma página, deu de cara com uma reprodução da foto dos principais atores que atuavam na política em 2006, entre personagens do Poder Executivo e do Legislativo. Estavam numa sala, em Brasília, e urdiam maquinações para tirar proveito do Orçamento Geral da União para o ano seguinte.
Dessa vez seu Juvêncio não se dirigiu diretamente a Rosalinda, que usufruiu da narrativa, dirigida, num discurso inflamado, aos dois amigos do avô.
Longe dos olhos e dos narizes do eleitorado, ali, naquela sala acarpetada e luxuosa do Congresso, se reunia, mais uma vez, o mesmo grupo de senhores bem vestidos e senhoras do mais fino trato que se diziam representantes da população. Quem os visse entrar, cerimoniosos e cheios de salamaleques, podia imaginar tratar-se de pessoas do mais alto escalão da república. Quiçá membros de uma aristocracia, tal a impressão impecável de suas vestes e o decoro de suas composturas. O que não se via, contudo, era o peso da alma de cada uma daquelas criaturas, pesando toneladas de culpa, por saberem do que tratava a agenda daquela tertúlia.
Com efeito, ali estava expressiva porcentagem do PIB do Estado do Rio Grande do Norte, gente, como se diz na gíria, "grossa" – embora traduzindo em linguagem popular quisesse dizer "do mais grosso calibre". Na verdade, trocando em miúdos, eram aqueles senhores membros da mais escolada, perigosa e perversa das quadrilhas que o Estado jamais tivera a graça de reunir em seus 117 anos de história republicana.
Oriundos de um estado acostumado a exaltar-se como pioneiro nas mais diversos aspectos, não eram, contudo, nenhum daqueles senhores, marinheiro de primeira viagem. Nem no que diz respeito ao país, de maneira geral, nem se referindo a eles próprios. Eles eram, ali, o Império do Mal.

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