quarta-feira, junho 13, 2007

Uma cena política e seu viço

Confesso que me veio à memória, de imediato, diante daquela cena que acabáramos de protagonizar, o filme "Operação França" (The French Connection, 1971), de William Friedkin, que ganhou cinco Oscars, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Gene Hackman), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Recebeu ainda outras três indicações, nas categorias de Melhor Ator (Roy Scheider), Melhor Fotografia e Melhor Som.
William Friedkin foi o mais jovem diretor a conquistar o Oscar de melhor direção. O filme impressiona até hoje a quem venha assisti-lo, figurando, entre as suas curiosidades, os seguintes aspectos: "O filme é uma adaptação do romance policial de Robin Moore, baseado em uma história real; Os personagens Popeye Doyle e Buddy Russo são inspirados nos policiais, atualmente aposentados, Eddie Egan e Sonny Grosso, que fazem ponta no filme como supervisores da polícia."
No momento, sem qualquer modéstia, evidentemente me senti na pele de Gene Hackman, que interpreta o policial Jimi ‘Popeye’ Doyle, personagem baseado na figura de Eddie Egan (que no filme faz o chefe dos dois detetives), enquanto podia ver na figura do nobre deputado Álvaro Dias o mafioso vivido pelo ator Fernando Rey (O Discreto Charme da Burguesia), que serviu como uma luva para seu personagem, hoje inesquecível.
Quem quiser entender porque coloco a situação da política como uma luta entre uma Máfia encastelada no poder e os cidadãos, como eleitores inúteis, desprezados, ironizados e ridicularizados, enriquecerá seu cabedal de conhecimento ao assistir ao filme. Entenderá a falta que faz, no Brasil, em termos mais modestos, a presença de um elemento que possa funcionar, na política, como um Ombudsman. Todos sabemos e disto temos a mais nítida certeza da boa vida que damos a pessoas – e não estou me referindo ao distinto deputado líder do PDT – que hoje se transformaram em verdadeiros bandidos e desprovidos de sentimentos, para quem só vale a Lei do Gerson. Basta observarmos um político, na sua grande maioria, para compreendermos que, desde a sua estréia na política, através de nossos votos, e para a eternidade, com as reeleições consecutivas, até sua decadência física e sua morte por velhice ou doença, seremos nós a sustentar a sua vida de espertalhão, seu far niente, seu luxo, suas cuecas, sua comida, seu uíque, suas casas de campo e de praia, suas viagens, suas idiossincrasias, seus caprichos e suas bizarrias e esquisitices, suas roubalheiras e sua impunidade perpétua, sem que haja qualquer modo de fazê-los desistir de nos "representar".

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