domingo, abril 13, 2008

Brasil: valor da anormalidade

Alunos da UnB dão aula sobre valor da anormalidade
Vice-reitor da universidade também pede afastamento
Blog do Josias
13/04/2008
Perversão e rotina convivem no Brasil sob atmosfera de cordial normalidade. A cordialidade é tamanha que o brasileiro mal consegue distinguir, na administração pública, as imoralidades perversas das providências rotineiras.
Na UnB, a rotina da perversão tornou-se uma emergência no instante em que se descobriu que os gestores da universidade haviam jogado no fundo de lixeiras de R$ 1.000 o vocábulo recato. O magnífico reitor e sua turma esqueceram de maneirar.
Nada dizia mais sobre a UnB do que o estado a que chegara o seu corpo docente. Em fevereiro, quando o escândalo se insinuava no noticiário, os professores foram instados a se manifestar. Afundados num pântano de rotineira normalidade, aprovaram, entre risos, a permanência do reitor.
Súbito, os alunos se deram conta da falta que lhes fazia o anormal. Decidiram virar a rotina de pernas pro ar. Ocuparam a reitoria. Deram de ombros para uma ordem judicial de desocupação. Amargaram o corte de água e luz. Resistiram.
Depois de uma semana, o anormal começou a prevalecer sobre o normal. A estudantada insurreta obteve o escalpo do reitor Timothy Mulholland, agora já desprovido do apoio dos professores.
Neste sábado (13), depois de lavar a reitoria e as rampas de acesso com água e sabão (foto), os estudantes obtiveram o segundo troféu: a cabeça do vice-reitor Edgar Miamya. Em tese, reitor e vice afastaram-se por 60 dias. Na prática, não reúnem condições de voltar aos cargos. Cabe agora ao Ministério da Educação indicar um gestor temporário para a UnB.
O que fica de todo o episódio e dos desdobramentos que estão por vir é uma inestimável aula dos estudantes ao resto do país: o que envenena o Brasil é a normalidade que impregna o ar. Às vezes, algo de profundamente anormal precisa acontecer para que a perversão não seja confundida com a rotina."
(Ilustração: Revista Caros Amigos.)

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