quarta-feira, março 26, 2008

Nós somos o público

Le Monde Diplomatique
março 2008
CINECLUBISMO
Nós somos o público
A questão dos direitos do público tornou-se inadiável. As enormes transformações que estão ocorrendo nos meios de comunicação e circulação e intercâmbio da cultura exigem o estabelecimento de normas que nos garantam a condição de sujeitos — muito mais do que consumidores
Felipe Macedo
A 1ª Conferência Mundial de Cineclubismo, realizada na Cidade do México, no final de fevereiro de 2008, recuperou a Carta dos Direitos do Público, um verdadeiro manifesto e um esboço de programa de defesa do público e de luta pelo reconhecimento de seus direitos e das entidades que os representam.
A Carta foi aprovada em 1987, na cidade de Tabor, na Tchecoslováquia (hoje República Tcheca), quando apenas se reconheciam os grandes traços da transformação dos paradigmas de comunicação e informação, assim como da generalização em escala inédita dos meios e produtos audiovisuais. Mantém-se absolutamente atual e, mais que isso, urgente. Com base nela, o Conselho Nacional de Cineclubes está lançando uma campanha em defesa dos direitos do público.
Nunca os meios e produtos de comunicação audiovisual — da televisão ao cinema, dos DVDs aos celulares — tiveram tanta disseminação em todo o mundo. Por outro lado, especialmente nos países "em vias de desenvolvimento" ou mesmo "emergentes", o acesso à qualidade e pluralidade das formas de comunicação e expressão do conhecimento e da arte estão cada vez mais restritas. São restringidas pela privatização e controle da circulação das obras de arte e dos bens culturais. Houve uma incrível diminuição de distâncias de comunicação e uma inédita diversificação de meios e produtos culturais. Mas a "otimização" de segmentos de mercado, o controle dos "direitos de propriedade intelectual" e, enfim, os preços abusivos relegam a quase totalidade das populações de países como o nosso à periferia do conhecimento e da cultura universais. É uma posição colonial diante da circulação da cultura, uma proletarização no acesso à comunicação, à cultura, à cidadania. (Foto)

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