quarta-feira, março 26, 2008

Nós somos o público

Desde seu surgimento, no início do século 20, os cineclubes foram os únicos a advertir sobre o mal uso do cinema. Desde logo, atuaram no sentido de organizar o público. Há cerca de 90 anos, trabalham e confundem-se com este.
"Não queremos consumidores de comunicação. Queremos um público ativo, consciente, responsável, capaz de propor e conhecedor de seus próprios direitos inalienáveis"
Constroem uma experiência única de inclusão e representatividade, já que "cremos que o público deve ser considerado como tal, e não ser visto como incapaz de autonomia e liberdade, destinado a assumir e aceitar o papel de consumidor passivo, mudo, que apenas assimila tudo o que se lhe oferece das mais diversas maneiras. Depois esse consumidor é consumido pelos mesmos meios de comunicação: porque paga como assinante de televisão; paga como espectador na bilheteria do cinema; paga ao comprar o jornal; paga os produtos que a publicidade, infiltrando-se com uma freqüência vertiginosa e absolutamente intolerável nas transmissões televisivas, lhe propõe e impõe... Mas nós não queremos consumidores de comunicação, queremos um público sujeito ativo, consciente, responsável, capaz não apenas de propor – porque deve propor – mas igualmente conhecedor de seus próprios direitos que, para nós, são inalienáveis e essenciais, para que o cidadão cresça e possa alcançar os níveis do autogoverno." [1]
A degradação do conceito de direito autoral, manipulado por corporações de porte planetário, expõe a fragilidade de direitos fundamentais do público, consagrados nos maiores textos constitucionais [2]. De fato, as corporações apropriam-se indevidamente das obras e produtos do conhecimento e das artes, não apenas restringindo economicamente seu acesso a uma pequena "elite", mas reprimindo ativamente iniciativas culturais e educativas sem finalidades lucrativas. Exemplo recente e notório é o do Cineclube Falcatrua, [3]atividade de extensão universitária, exercida no recinto da Universidade Federal do Espírito Santo sem cobrança de qualquer taxa, processado pela exibição de dois filmes disponibilizados publicamente pelos seus autores/realizadores. Em todo o Brasil, cineclubes, prefeituras, até cidadãos privados recebem notificações e ameaças quanto à exibição de obras audiovisuais sem intuito de lucro – contradizendo diretamente o art. 184 do Código Penal.]]. (Foto: olho.)

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