sexta-feira, novembro 16, 2007

Zona Norte: a auto-exclusão como escolha

Basta lembrar que, de três pesquisas encomendadas pela construtora Ecocil, quando da construção do primeiro shopping da Zona Norte, ficou a comprovação de que o potencial econômico-financeiro dos moradores aponta para uma movimentação, em dinheiro sonante, de cerca de R$ 80 milhões por mês, dinheiro este que, lambem os beiços os empresários que ali aportaram com seus super e hipermercados, "a população da Zona Norte tem para gastar em shoppings e hipermercados".
Junte-se a esse potencial econômico, o quadro apreciável de seus equipamentos urbanos, que hoje reúne jardins de infância, creches, escolas da rede pública e particular, cursinhos pré-vestibulares, faculdades, unidade do Cefet, bancos, hospitais, clínicas, supermercados, hipermercados, shoppings e, agora, a chegada da Ponte Forte-Redinha, que fazem da Zona Norte, com seus 108 mil domicílios e uma população de 407 mil pessoas, a área que mais tem crescido na capital, apresentando uma taxa de 4,36% ao ano nos últimos 10 anos, contra a média de 1,78% de Natal.
A população costuma dizer que o maior sinal de desrespeito e desprezo ao povo da Zona Norte por parte dos políticos, essa choldra de espertalhões, que em sua maioria nada têm de identificação e sentimentos com o setor, é a atitude de esperar o ano de eleição, quando então lançam suas novas e estapafúridas promessas.
Se algum adolescente ou qualquer estudante dos cursos de primeiro e segundo graus se der ao trabalho de acompanhar o desenvolvimento e a evolução do setor, desde os seus primórdios, haverá de comprovar que as soluções para a Zona Norte, quando se fala em Poder Público, mantido com os impostos dos seus trabalhadores e assalariados, são sempre desprezadas, preteridas, dilatadas, ficando a população na eterna espera de dias melhores, que só chegam na metáfora dos discursos altissonantes e ornamentais dos candidatos - grande parte vigaristas - em épocas de eleição. É preciso que a população faça valer os cerca de 220 mil votos que a Zona Norte tem desperdiçado a cada eleição.
Pela ordem, ou pela desordem de sua hierarquia, pode-se seqüenciar todos esses eternos problemas, pois estão nos mesmos lugares, há mais de 40 anos, desde que a Zona Norte deu seus primeiros passos na explosão populacional e urbana que sofreria, a partir da década de 60, quando virou "depósito" de pobres e esquecidos, enquanto a indústria do turismo chamava atenção para o outro lado da cidade.
Como a principal, dentre outras zonas que são objeto de discriminação por parte dos órgãos públicos, na Zona Norte, que abriga quase um terço da população da capital, ainda se verificam pouquíssimas ruas pavimentadas, esgotos correndo a céu aberto nas inúmeras ruas carroçáveis, grande parte da infância e adolescência entregue à sanha do tráfico, o registro de acentuada violência, que atinge, em especial a juventude, carente de ocupação, escola e emprego, e os idosos, sem aproveitamento de seu potencial.
Sem falar naquele que talvez seja o mais visível, irritante, irrevogável, imanente e inalterável problema, que se conforma na ausência de uma engenharia de tráfego, que venha em socorro dos que precisam de usar sua malha viária para trabalhar "do outro lado do rio". Nesse caso, a Ponte de Igapó, estrutura pênsil desgraçadamente instalada numa estrada federal, a BR-101, cujas reformas ou substituição só podem ser negociadas no nível de ministério, na Corte, em Brasília, construída ainda na década de 50 e duplicada no governo do usineiro Geraldo Melo (1987-1991), hoje com suas modestas, parcas, minguadas feições, tornou-se no principal instrumento de tortura de quem precisa sair ou chegar a esta parte da cidade, devido aos engarrafamentos-monstro, em especial no momentos de pique e de rush no trânsito.
Como sabem os moradores da ZN, a maioria dos problemas do trânsito na área seria de fácil solução. Muitos compreendem que ainda persistem devido à incompetência, omissão e conivência dos ocupantes desses órgãos de trânsito, que preferem resolver problemas estruturais com algumas vistosas lombadas e gelos-baianos, de mais a mais presentes em toda a cidade. Haja vista a inoperância e os riscos potenciais vividos pela população trabalhadora ao subir ou descer dos coletivos, em direção ao centro ou em seu retorno, com a solução encontrada para uma das mais importantes via de escoamento de tráfego - a Estrada da Redinha - onde os gênios dos órgãos de trânsito aplicaram suas ações desqualificadas, colocando lombadas e mais lombadas na lombada do povo, sem se dar ao trabalho sequer de sinalizar as lombadas criminosas que lá já existiam.

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