domingo, novembro 04, 2007

Uma idéia no lugar

"Andam nos dizendo todos os dias que o péssimo salário dos professores não tem nada a ver com a péssima qualidade de ensino. Até o diretor de "Tropa de Elite" [José Padilha] jura que pobreza não tem nada a ver com violência. A realidade é mais "complexa".
Mas o que é "realidade" para a elite e para a tropa? Uma pesquisa mundial da consultoria Nielsen mostrou que o Brasil (ao lado das Filipinas) é o país que mais acredita no que a publicidade diz que as coisas são. Somos fanáticos fundamentalistas da imagem manipulada: acreditamos nos comerciais assim como os talebãs acreditam em Alá.
Segundo a pesquisa, o "consumidor" brasileiro acredita mais na referência vinda da TV do que na de um amigo. Nossa cordialidade foi transferida para o departamento de marketing. A propaganda é o ópio da tropa e da elite (a pesquisa foi feita com internautas, e não com desdentados analfabetos).
E foi esse espetáculo, essa máquina de criar super-realidades, que vimos sacramentar em Zurique o casamento do nacionalismo da Copa de 50 com aquele da Copa de 70.
Uma pergunta "estrangeira" sobre violência quase estraga a festa. Mas tínhamos Ricardo Teixeira para defender as honras nacionais. Violência tem em qualquer lugar, ele responde a uma jornalista canadense (sic).
Mas o que ele não disse, e nem precisava, é que nosso novo nacionalismo se legitima de outra maneira: temos a elite pura (ainda que cansada), bem-pensante e democrática, a elite ex-sindical no governo, a elite do futebol mundial e agora também a "tropa de elite" da elite. O Brasil agora é um país de elite, e a nossa combinada ação elitista irá nos levar para dentro da elite mundial.
Mas e a realidade de Terceiro Mundo? Isso a propaganda não vende, portanto não existe, é só uma permanência do pensamento de esquerda que também já morreu.
Crença nas imagens da propaganda, nas virtudes da elite rica e letrada e nos deméritos do povo ignorante: tudo isso mais o nacionalismo tresloucado que assistimos na TV, altar da nossa fé, constituirá a lona que cobrirá esse circo de horrores e delícias que será o Brasil daqui até 2014."
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FRANCISCO ALAMBERT é professor de história contemporânea e de história social da arte na Universidade de São Paulo. Especial para a Folha, FSP, São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007. (Acesso, para assinantes.)

Um comentário:

Anônimo disse...

uau! uma "porrada" nas zelites!!! tertu