sexta-feira, novembro 16, 2007

Zona Norte: a auto-exclusão como escolha

Agora mesmo, acabados os festejos de inauguração da Ponte Newton Navarro, e finalizadas as comemorações da Padroeira de Natal, Nossa Senhora da Apresentação, que aparentemente não abençoa os moradores da Zona Norte de Natal, se poderá assistir, ao vivo, e em cores, à discriminação dos órgãos públicos municipais, quando dos trabalhos de decoração da cidade para o período natalino. Anualmente, a população vai à ruas, reclamar da completa ausência de uma atenção mais aguda para as ruas dos bairros do setor. Poderá se verificar que a melhor decoração será direcionada para os corredores onde passam os turistas e a elite da Zona Sul da cidade, ficando a decoração da Zona Norte a cargo de suas associações de classe.
Está-se em Natal, comemorando o Natal, mas nem todos os bairros da cidade merecem o mesmo respeito, nem se procura elevar a auto-estima dos moradores dos setores residenciais por igual, durante os festejos da comemoração do nascimento do Menino Jesus, que também, muito certamente, na cartilha dos gestores do município, apenas teria nascido para os de berço de ouro, com seus pedigree maialves.
Mesmo com a chegada de supermercados e hipermercados, de lojas de griffe, do Sesc e do Senac, de escolas de renome e até faculdades, persiste a carência de emprego e de ofertas de serviços. Sabe-se que, diariamente, cerca de 44,39% da população da Zona Norte se desloca para a Zona Sul com destino aos locais de trabalho, ou em busca de serviços, sendo que essa migração também acontece para outras áreas da cidade, como as Zona Leste e Oeste.
O padre de origem belga, Tiago Thiesen, em entrevista à Tribuna do Norte, alinhou algumas de suas atividades diárias em prol da população da Zona Norte, onde reside desde que chegou ao Brasil, em 1969. Padre Thiensen pode ser considerado como uma das pessoas que muito contribuiu para o crescimento da Zona Norte de Natal. Engajado no programa "Padres para América Latina", padre Tiensen recorda de como a área era "um mato só", em plena década de 70, e desde então acompanha e ajuda no que pode para a melhoria e o bem-estar dessa região.
"Quando cheguei aqui, Natal não tinha 200 mil pessoas. A Zona Norte era só mato. A única forma de se comunicar com os moradores do outro lado era atravessando o rio de barco", contou padre Thiensen. Ele informa que todo o desenvolvimento da região data da década de 1970, quando, governo do Monsenhor Walfredo Gurgel (1966-1971), se construiu a Ponte de Igapó.
Tanto o padre quanto os moradores compreendem que, apesar de toda a evolução da Zona Norte, ao longo do tempo, e mesmo agora, com a inauguração de mais uma ponte, construída em local errado, pois irá beneficar outras freguesias, mais endinheiradas e poderosas, existem áreas que realmente necessitam de grandes investimentos básicos de infra-estrutura. Padre Thiensen é um dos que observam que a população poderia usar seu poder de pressão e seus votos a favor dos seus interesses e da região, mas que acaba se iludindo com falsas promessas e com os espetáculos excessivamente caros e soberbos ao som de Cavaleiros de Forró e de outros artistas nacionais que pouco se lixam com o dia-a-dia da população.
"Existem alguns lugares na Zona Norte em que a situação dos moradores é lamentável", cofnrima o padre Tiago Thiensen. "Se escolhessem gente de bem, com seu poder de voto (cerca de 220 mil votos), a região poderia encher metade da Câmara dos Vereadores com gente de bem, que realmente quer ajudar", adverte o padre. Ele, contudo, conhece as dificuldades que se avoluma quando o assunto é administrar a região da cidade que mais cresce. "Em menos de 40 anos, a Zona Norte quadruplicou. É um desafio quase insolúvel para qualquer gestor tomar conta da região, mas a verdade é que não dá mais para tratar a Zona Norte como uma região à parte, separada de Natal", sentecia o padre.

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