domingo, novembro 04, 2007

A FM-Solidariedade derrubará aviões?

A FM-Solidariedade derrubará aviões?
Mas voltemos a Menocchio. Que mal esse camponês – com seus pensamentos "fora da lei" — na sua pequenina aldeia causaria à poderosa igreja católica romana? E, passados mais de três séculos, continuamos perguntando: Qual o perigo que a FM-Solidariedade, com seus 25 watts de potência e sua antena de 12 metros fincada no solo pantanoso da maré do bairro do Porto do Roçado, na pequena Macau, poderia causar à sociedade? E ainda mais se verificarmos que faz apenas transmitir programas de musica popular brasileira, educacionais, religiosos, campanhas contra o uso de drogas, de vacinação, contra a dengue, além da divulgação de comunicados oficiais da Prefeitura Municipal, do Governo Estadual e do Governo Federal?
Vamos entender isso no âmbito de Macau. O município tem 26.000 habitantes, aproximadamente 20.000 na sede e cerca de 5.000 no Porto do Roçado, onde está a FM-Solidariedade. A cidade tem somente uma rádio AM comercial, que cobre toda a região e que é conhecida como "a rádio de Zé Agripino" [senador José Agripino Maia –DEM]. Se o seu nome consta da razão social da emissora não vem muito ao caso, o que vem ao caso é a preferência da emissora pelo senador, retransmitindo diariamente seus raivosos discursos contra o Governo Lula.
Desde meados da década de 90, foram várias as iniciativas de se fazer rádio comunitária em Macau. Algumas verdadeiramente comunitárias, outras nem tanto, mas muitos cidadãos de Macau foram condenados por tentar quebrar o monopólio da rádio AM em Macau. Concorreriam com ela? Acho muito difícil, pois além de não fazer comerciais, seus trabalhadores eram todos voluntários e não percebiam salários. E com relação a problemas técnicos, não há como interferir na emissora AM.
Descartados os aspectos técnicos, analiso pelo lado econômico. Estarão os barões da mídia com receio de perder os milhões de reais que recebem anualmente dos governantes para a propaganda quase pessoal de seus governos? Por aí também não vejo ameaças, pois rádios e TVs comunitárias não se prestam a servir governos. Servem a comunidade, servem o Estado. Resta então o fator ideológico e a necessidade de cumprir uma lei da ditadura, coisa que não é nada razoável para uma nação que viveu a maior parte da sua história republicana sob governos ditatoriais.

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