domingo, novembro 04, 2007

Uma idéia no lugar

Uma idéia no lugar
Espetáculo em Zurique criou super-realidade
que fundiu nacionalismo democrático da Copa de 1950 com o ufanismo de 1970
FRANCISCO ALAMBERT
Especial para a Folha
FSP, São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007
"Paulo Coelho, Dunga, Ricado Teixeira, dona Marisa, Aécio, Martha Suplicy, Lula e Globo. Vai ter tanta simbologia assim em Zurique!
Para a alegria da galera e o deleite dos empresários e empreiteiros nacionais, a tropa da elite da nação trouxe a Copa de volta. Era o que precisávamos para acreditar que a modernidade nos deu uma segunda chance e que seremos amanhã a China que fomos anteontem.
O mito JK renascido em FHC e transmutado em Lula reviverá no mesmo Maracanã construído pelo sonho desenvolvimentista.
Com o milagre de Dunga (jogador cascudo que num passe de mágica se fez "professor" da maior seleção que este país terá) e a fé refeita no progresso dessa terra em que o Cristo Redentor é uma das maravilhas do mundo, o anjo vingador mudará a história.
Teremos a vingança de 1950, aquele momento em que o Brasil ia dar certo, mas perdeu a Copa por "culpa" de um brasileiro pobre, negro e de codinome Barbosa. O mago Paulo Coelho e o "baixinho" (ah, as maravilhas da proximidade) Romário -este o mago dos pequenos espaços (e das negociatas vascaínas) e craque globalizado- estavam lá para garantir que a mágica será completa.
Pelé não estava lá, mas você há de convir que ele é meio "modernista" demais (digamos que restará como uma das relíquias do getulismo). Nunca antes na história deste país o nacionalismo foi tanto uma idéia no lugar.
Desde o "gente que faz" tucano, passando pelo brasileiro que não desiste, pelas minisséries da Globo, pela alegria de Galvão Bueno, pelos índices em alta do Banco Central, pelos índices em baixa de criminalidade do governo paulista (sempre tão questionados, mas quem se importa?), pelo sucesso de Kaká e dos ronaldos, até a retomada do cinema "de qualidade": passadas as privatizações, voltamos a aceditar em nós mesmos de tal maneira que até empresários andam sacando a honra da nação para deter uma certa "invasão espanhola".
Mas quem somos nós? O livro "A Cabeça do Brasileiro" [de Alberto Almeida, ed. Record] e a revista "Veja" nos mostram que somos dois.
A elite educada é democrática (não sei se Luciano Huck fez faculdade, mas ele é educadinho e democrata), e o povo é um poço de atraso e preconceito (seria o caso de Ferréz, que é escritor, mas não fez faculdade, e escreve o que passa na cabeça de gente ignorante e bárbara) -e a esquerda não sabe de nada disso." (Ilustração)

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